Azul para Carmesin escrita por Medusa


Capítulo 4
On a Plain


Notas iniciais do capítulo

Agora é o momento para deixá-lo confuso
Escrever linhas que não fazem sentido
Eu me amo melhor do que você
Sei que é errado, então o que devo fazer?
E mais uma mensagem especial antes de acabar
E depois terei terminado, e poderei ir para casa
Eu me amo melhor do que você
Sei que é errado, então o que devo fazer?? (8'



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Eu sabia que já devia ter me levantando para ir à escola, havia acordado meia hora antes do que precisava, e já tinha passado quinze minutos da hora de tomar banho, esfreguei meus olhos e respirei pesadamente repassando mais uma vez todo o do dia anterior.

Depois de ter passado a tarde inteira chorando ao lado de um cara que eu mal conhecia, tive a maior discussão de toda a vida com a minha mãe. “Pelo menos” ela havia dito “Seu irmão sabia o que fazer da vida” Depois daquilo, a maior parte foram gritos, e eu pensei que choraria muito mesmo, mas descobri que havia secado todo o meu estoque de lágrimas, por muito tempo.

Sentei na última fila como todos os dias, pus os fones de ouvido e fechei os olhos, depois dos primeiros acordes me dei conta que meus colegas de classe soavam mais alto que qualquer uma das playlists no meu celular então simplesmente fingi que prestava atenção nas palavras da minha melhor amiga quando ela tagarelava sobre uma briga entre seus dois irmãos mais novos. Eu não conseguia tirar as palavras da minha mãe da cabeça, e toda vez que Alana dizia a palavra “irmão” eu sentia uma punhalada, eu chegava a ficar impressionada em como ela conseguia ser apática às vezes, fazendo uma lista mental de sua personalidade me peguei observando seu cabelo vermelho cereja, era bem diferente do ruivo sóbrio e original de Lucas, mas me lembrei dele instantaneamente, eu deveria me desculpar com ele pela tarde anterior, ou simplesmente agradecer... Ou não? De qualquer jeito, eu não sabia como encontra-lo, todas as vezes em que nos vimos havia sido ocasional.

– Ela não está prestando a mínima atenção – Fernanda falou puxando meu cabelo pra me “acordar” de meu devaneio. Observei minha outra amiga olhar-me com expectativa enquanto tentava lembrar quando ela tinha chegado, mas eu realmente não havia percebido.

– Diz pra ela – Alana pediu apontando para Fernanda – Que todo esse cabelo loiro ficaria lindo num rosa pastel.

– Não, não ficaria – Ela respondeu sem me dar tempo de pensar sobre o assunto e, em pouco tempo, a sala estava cheia. Me peguei novamente perdida em pensamentos quando o professor de história explicava algo sobre Trotsky.

Comecei a pensar em Laura com tristeza, e então resolvi que precisava ficar com pena dela, para não ter pena de mim. Eu estava mortalmente cansada de tudo aquilo.

Quando as aulas terminaram quase fiquei surpresa em perceber que meu caderno estava vazio, Fernanda havia nos convidado para passar a tarde em sua casa para estudar qualquer coisa, eu não estava realmente animada sobre isso, mas eu não queria voltar para casa e brigar com minha mãe, então simplesmente aceitei com um sorriso morto.

Eu tentava sorrir para tudo o que diziam, e elas realmente pareciam animadas com algo em que eu não tinha prestado atenção. Nós deveríamos estar estudando, como dizia a mensagem que havia mandado a mamãe, mas aquilo sempre acabava na abertura dos cadernos. Eu estava deitada na cama de Fernanda com meus fones de ouvindo em The Strokes com os olhos grudados à tela da minha câmera repassando as últimas 20 fotos e tentando entender porque o céu que eu via pela janela não se parecia em nada com aquele.

As duas, estavam rindo sentadas no chão à minha frente de alguma piada que eu tinha perdido quando os gritos começaram.

“Você não pode fazer isso. Por favor você não...” uma mulher gritou e logo o barulho de coisas sendo arremessadas sobrepôs sua voz.

” Eu disse que seria a última vez” Um homem gritou sem seguida “Você disse que ia ficar longe dessas merdas”

“Você é um merda” ela gritou numa voz chorosa “E eu não estou longe por isso”

“Mas devia, devia ficar longe de todos nós” Ele devolveu e então uma sequência de sons perturbadores e gritos ecoaram. Eu não sabia se moveis estavam sendo arrastador ou se vidros se quebravam, era que impossível distinguir os sons sob aquelas vozes.

– O que está havendo? – Alana perguntou assustada. Fernanda suspirou enquanto o resto de nós a olhava com expectativa, e medo.

– São os vizinhos, vivem brigando.

Saltei da cama e quase corri para a porta levando minha câmera perto.

– Ei louca. Onde você vai?

– Eu? – Sorri – Vou tentar tirar fotos sem que me vejam.

– Você perdeu o juízo? – Alana quase gritou quando já estávamos na metade das escadas, mas ela e Nanda continuavam a me seguir. Espreitei-me pelo jardim até uma área que me dava uma boa visão de uma janela lateral da casa ao lado. Lá dentro eu só conseguia ver bagunça, coisas reviradas e afins, mas quando posicionei a câmera notei que havia um me menino lá, não devia ter mais e doze anos ele parecia terrivelmente triste e assustado encolhido num canto da cama. Tirei duas fotos antes das minhas amigas se pendurarem aos meus ombros.

– Quem é? – Perguntei num sussurro ainda escutando sons da briga lá dentro, aquilo estava ficando feio.

– Quem? – Fernanda perguntou tentando enxergar ao longe.

– Bem ali– Apontei pra elas – Ele parece... triste.

– Você parece triste – Alana ralhou – Ele parece um zumbi.

– Ele sempre está triste – Fernanda disse – Ele...

O quarto se iluminou de repente, nós três ficamos mudas o menino assentiu lentamente pra quem quer que estivesse lá, mas depois começou a chorar. Eu adoraria saber o que estavam falando, mas haviam abaixado o tom. Eu ainda ouvia a mulher chorar em algum lugar da casa, sem demora ela apareceu no quarto e segurou o rosto do menino entre as mãos, a voz dela estava mais descontrolada que as dos outros mas ainda não dava para distinguir todas as palavras.

– Já chega – o homem gritou e a empurrou. Agarrou o braço do menino e então, saíram do nosso campo de visão.

– Droga, isso é ruim. – Fernanda sussurrou.

– O que? O que está acontecendo?

A porta da frente bateu e depois outra vez, ouvimos um grito, e então passos, Fernanda pareceu assustada e então a campainha soou nervosamente cinco vezes seguidas, ela correu para porta e nós fomos atrás.

Quando ela abriu a porta meu ar se foi. Foi uma daquelas cenas de filmes que correm lentamente com efeito preto e branco e som mudo.

– Nanda você pode cuidar do.... Do... – Ele ficou mudo quando seus olhos me encontraram, e eu, só consegui olhar de volta sem saber o que pensar, ou falar.

– Lucas? O quê... – Fernanda olhou pra trás, pra mim, e depois de volta pra ele.

– Eu... – Ele passou a mão pelo cabelo franzindo o cenho, seu olhar oscilava entre mim e ela, e sua feição parecia devastada.

A mulher que antes estava gritando chegou até nós, tinha uma aparência perturbadora. O cabelo era ruivo como o dele, pouco abaixo dos ombros e estavam um tanto desgrenhados, ele não devia ter mais de trinta anos, tinhas os braços e o colo cheios de tatuagens brilhantes e sua maquiagem preta estava totalmente borrada escorrendo junto à lágrimas pelo rosto.

– Você não pode fazer isso. Não pode – A voz dela estava afetada, bem mais baixa que antes, o menino começou a chorar e Lucas o empurrou pra dentro, ele se abraçou a Fernanda e continuou chorando.

A mulher tentou chegar a nós, mas Lucas a puxou para trás.

– Você não pode! ele e meu filho, você não pode, não pode – Ela continuou chorando languidamente, ele me direcionou um olhar dúbio e então disse à Fernanda:

– Cuida dele pra mim? Vai ser.... Só um instante – Ele nem sequer esperou uma resposta. Segurou o braço da mulher e a arrastou pra longe.

– Não!! Para com isso. Para onde estamos indo?

– Pra casa – Ele respondeu num tom amargo, e ela chorou mais alto que antes.


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