– Você não pode morrer, Ethan. – Sussurrei baixo, tentando mantê-lo calmo e respirando. – Não seria justo...

– Acabou... finalmente, acabou! – Sua voz era como um soar dos ventos contra minha pele, não havia forças suficientes que o mantivesse ali, quieto. – Não se preocupa comigo... estou feliz por você.

– Se não fosse por mim...

– Não, não, não... – Sua mão fria e ensanguentada segurou a minha. – O meu trabalho era esse e se eu morrer agora... vou ficar feliz por ter vivido tudo isso com vocês.

– Você não pode me deixar, dude. – Derik ajoelhou ao meu lado, aos prantos. – Ninguém seria capaz de ser meu irmão, não como você é...

– Somos uma equipe... – Ethan sussurrou fechando os olhos. – Lutaremos juntos... – Um último suspiro foi dado até que já não pude sentir nenhum movimento que dedurasse sua vida.

– Morreremos juntos... – Derik me abraçou deixando uma lágrima escorrer de seu rosto. Era a primeira vez que vi o rapaz mais corajoso do departamento chorar.

– Como um família. – Jasper se abaixou ficando ao meu lado. Segurou minhas mãos e as mãos de Derik, nos puxando em uma linda oração de despedida, como nos era ensinado no treinamento. Mas existia algo mais forte do que nos foi ensinado. A presença de Deus parecia estar ao lado do corpo de Ethan, nos garantindo que ele ficaria e que seria cuidado pelos anjos que nos orientam a não acreditar. – Eu irei cuidar dela... – O grandalhão sussurrou antes que o corpo fosse levado pelos paramédicos. – Não se preocupe.

Não podemos nos desviar da perda. Ela irá nos perseguir, não importa qual caminho escolhermos na esperança de nos esconder. Um dia alguém lhe dará a notícia de que uma parte sua se foi junto com aquele que tanto lhe ensinou. Um pai, um irmão, um amigo ou até mesmo um animal de estimação, que para muitos não têm significado importante, não importa o motivo ou o porquê, uma perda sempre causará danos ao coração de alguém. Essa noite, sinto que uma parte de mim havia subido aos céus com Ethan. Havia perdido muito mais do que um companheiro de equipe, havia perdido um amigo, havia perdido um irmão que me acolheu nas noites em que as outras perdas escorreram em forma de lágrimas.

~X~

Londres; The West End; Departamento de polícia; 10am.

Estamos em constante mudança. Nada nos fará permanecer estável, financeira e psicologicamente. Nossas vidas são como o tempo. Dependemos de outros meios para saber se haverá sol ou tempestades que nos impeçam de sair de casa.

– O que acham? – Derik deu uma volta no lugar para que admirássemos seu terno azul marinho e seus sapatos brancos. – Está na moda...

– Deixa eu adivinhar! – Jasper pediu atenção. – Essas cores combinam perfeitamente com o seu tom de pele?

– Finalmente alguém que me entende! – Derik deu tapinhas na costa de Jasper, mostrando a língua para mim, que gargalhava sem sair da minha poltrona confortável. – Como o novo supervisor... – Ele conseguiu o tão sonhado cargo no departamento, com uma ajuda minha, diga-se de passagem, que desisti da posição para deixa-la para alguém que realmente mereça. – Quero que peguem pesado com os novos agentes, eles tem que trabalhar muito para serem parte da família. – Piscou apontando para os dois novos agentes, que seriam treinados por Jasper e eu.

O treinamento para agentes não era difícil, mas como Derik mencionou, treinava-os para ser, além de um bom profissional, um membro da nossa família.

Ethan ganhou um quadro de honra em nossa sala. Um bela foto que estampava o sorriso que ele nos proporcionava durante os casos mais difíceis.

– Podemos dar uma volta enquanto eles se preparam? – Jasper segurou minha mão e me puxou para fora da sala, sem me dar a chance de negar o pedido.

Enquanto caminhávamos pelo bairro, indo em direção a uma cafeteria pequena e barata no final da rua, Jasper parecia aliviado por toda aquela loucura ter acabado.

Nosso caso atingiu a mídia internacional e se tornou capa de jornais e revistas de todos o mundo. Familiares que procuravam por suas meninas desaparecidas, todas com as características que foram impostas por Harrison, entraram em contato com o departamento no mesmo instante em que Theodore foi declarado morto. Todos os corpos foram identificados, havia mais uma pilha enterrada no quintal da casa de Red Velvet. No total, contando os corpos desde o início do caso anos atrás, foram declaradas quarenta e nove mortes e três diamantes, que foram destruídos com certa dificuldade pelo esquadrão de evidências toxicas.

Ficamos conhecidos por ter salvo milhões de mulheres de um triste fim, ganhamos medalhas de honra que diziam, em letra maiúscula, que salvamos o mundo de um capitalismo obscuro, onde o sangue valeria milhões, o que nos levaria a terceira Guerra Mundial, ou quem sabe, retrocederíamos voltando aos anos em que democracia e bem social não eram prioridade.

A verdade é que Red Velvet foi mais uma lição, aquelas lições em que a única coisa que aprendemos é como não agir, e que sempre dá certo. Vidas foram tiradas e, infelizmente, não podemos mudar o passado. Mas através disso podemos modificar o futuro.

– Amanhã é o grande dia. – Jasper segurou minhas duas mãos e virou meu corpo frente ao dele. – Tem certeza de que quer entrar nessa comigo? – Aquele sorriso, sim aquele mesmo sorriso torto que fazia meu coração disparar enlouquecidamente, voltou a sua face ainda mais bonito.

– Eu seria louca se não quisesse. – Deixei um sorriso escapar, puxando-o para perto de mim para que um abraço fosse concretizado. Jasper havia mudado algumas coisas desde o fim do caso, ou para ser mais especifica, desde a morte de Ethan. Ele prometeu ao meu velho amigo que cuidaria de mim e que me manteria segura, tenho certeza que haviam discutido isso em algum instante antes da tragédia acontecer. Era evidente o amor que Ethan sentia por mim e mais evidente ainda a paixão que Jasper demonstrava em seu olhar toda a vez que me olhava. Seus gestos se tornaram carinhosos ao extremo, me mantendo sempre aconchegada e com a sensação de que ele era meu escudo. Nada poderia me acontecer se ele estivesse perto, ele era a arma que eu não precisava esconder em baixo do casaco. Jasper era os sentimentos em forma de pessoa, e a essência em forma de sorriso. – Caso não me encontre amanhã, eu serei a de branco.