The Last Taste - Season 3 escrita por Henry Petrov


Capítulo 4
Family Ties


Notas iniciais do capítulo

Hey oh de novo :3
Como vocês tão? Pois é, mais um capítulo. Esse capítulo é o que vocês esperavam: o capítulo das explicações. Daqui em diante, vocês vão saber 90% do que vocês precisam pra entender como o mundo de The Last Taste funciona, explicando os eventos das temporadas anteriores e algumas coisinhas extras que aconteceram entre a segunda e terceira temporadas. Espero que gostem. Enfim, era só isso. Boa Leitura :)



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Clair Montgomery

— Oi? Você só tem um irmão. E sou eu. Uma irmã!

Ele virou o rosto para longe.

— Ryan?! — puxei seu queixo para mim. — Do que está falando?!

— Tá! — exclamou, irritado. — Eu conto. Mas você ouviu o que a mulher disse. Quando você sabe de uma coisa, não pode “desaber”.

Respirei fundo e encarei-o, indicando para continuar.

— Eu tinha oito anos — começou.

“Eu estava assistindo televisão na hora, enquanto minha mãe preparava um copo de leite para dormir. Ela derrubou a jarra, gritando de dor. Sangue começou a escorrer de suas pernas. Gritei, chamando meu pai, avisando que o bebê estava nascendo. Meu pai correu escada a baixo e nos jogou dentro do carro, voando feito louco para o hospital.”

— Ryan, você já me contou essa história — falei.

— Só...! — ele começou irritado, mas se acalmou. — Escute.

“Foi quando o carro bateu. Na verdade, meu pai pegou um atalho. Um atalho por uma rua contramão. Normalmente, era uma rua deserta, mas um carro veio em nossa direção naquela noite. Meu pai não viu, estava ajudando minha mãe a aguentar as contrações. Quando ela viu que ia bater, escancarou a porta do carro e se jogou. Enquanto isso, papai urrava, tentando desviar do carro. Ele acabou subindo a calçada, fazendo o carro capotar três vezes.”

“Eu vi tudo. Lembro do carro sacudindo, enquanto eu era segurado pelo cinto. Quando o carro parou de capotar, chutei o vidro da janela e saí, correndo atrás de minha mãe. Ela estava no meio do asfalto, gritando. Eu já via a cabeça do bebê. Segurei sua mão, enquanto ela gritava. O suor pingava de seu rosto. E aí, a criança saiu e minha mãe não mediu esforços para tomá-la em seu braço.”

— Era eu — lembrei.

Ryan suspirou.

Tony nasceu quase morto. Havia sangue por todos os lados. Eu esperava que mamãe corresse para o hospital ou algo do tipo. Mas ela pressionou o pescoço da criança, sufocando Tony até que ele morresse por asfixia. Então, ela beijou o corpo do bebê, olhou pra mim e disse: 'Ele está melhor assim, Ryan.'”

Minha boca se escancarou em choque. Uma lágrima caiu do olho de Ryan. Ele me olhou, cerrando os dentes.

— Eu a odiei por aquilo — continuou. — Ela matou seu filho a sangue frio. A terapeuta me ajudou a superar, mas nunca a perdoei. Alguns meses depois, papai apareceu com você no colo, dizendo que você agora era a minha irmã. Ele começou a me dizer que era melhor esquecer Tony e seguir em frente com Clair. E eu aceitei. Era melhor do que a verdade.

Apoiei a cabeça nas duas mãos, abismada.

— Eu sinto muito, Clair. Mas essa é a mais pura verdade — disse Ryan. Ele enxugou as lágrimas.

Suspirei.

— Então... Onde eu nasci?

— Em um lugar longe.

Era Sarah. Ela estava com o ombro apoiado no portal. Ela entrou e sentou no lugar de Kaitlyn.

— Consegue imaginar a distância da Terra para Júpiter?

Assenti.

— Multiplique isso pelo maior número que conhece. — continuou, séria. — Não está nem perto do quão longe. Claro que pegamos um atalho para chegar aqui.

— Então eu nasci em outro mundo ou o quê? — dei de ombros.

Ela tombou a cabeça, com os lábios comprimidos.

— Sério? Outro mundo?

Ela deu de ombros.

— É de lá que eu venho — ela disse. — É de lá que todos nós viemos. Vem, estamos lá embaixo.

Ryan e eu nos levantamos e descemos para a sala. Outra mesa havia sido colocada, ainda maior. Aliás, bem parecida com a outra. Tomamos nossos lugares. Ryan estava paralisado. Eu ainda processava a informação. Kaitlyn me olhou, analisando minha expressão.

— Não fique assim — disse. — Vai ficar tudo bem.

— É o que ela diz há vinte anos — resmungou Gale.

— Cala a boca, Gale — ordenou Kaitlyn.

— É mentira? — disse ele, olhando pra Sarah.

Sarah deu de ombros.

— Quem são vocês? — repeti a pergunta.

— Eu sou um Anjo. Sarah é uma bruxa e Kaitlyn é um Demônio — cuspiu Gale.

— Cala boca, Gale! — gritaram Kaitlyn e Sarah, em coro.

Meu queixo caiu.

— Eu posso explicar — disse Kaitlyn.

— Por favor! — exclamei, estática.

— Clair, eu preciso que você me escute com atenção — começou. — Eu vou te contar tudo. Tudo o que você precisa saber. Desde o início. Mas eu preciso que você me prometa que me escutará com a mente aberta, não me interromperá para me chamar de louca e dará o seu máximo para entender e acreditar no que eu digo, porque é a mais pura verdade.

Assenti, relutante.

— Vamos começar, então.

“No começo, era o nada. Então, veio Deus, uma união de nada com coisa nenhuma. Ele teve quatro filhos: Miguel, Lúcifer, Gabriel e Rafael. Todos quatro eram feitos de partes dele. Com o tempo, Deus criou o mundo. Ele criou os quatro elementos: Água, Terra, Fogo e Ar. Com eles, criou uma enorme bola de pedra, onde Ele e Seus quatro filhos viveram, juntos. Mas, com o passar dos séculos, Deus achou que estava na hora de melhorar o mundo. Assim, cada um dos quatro filhos foi encarregado de presentear o mundo com uma criação.”

“Miguel criou os Anjos, a partir da bondade de Deus. Eles são seres imortais, mágicos, poderosos, guerreiros... Uma criação muito bonita, mas além de bonita, também útil e eficiente. Para dar origem a seu poder, Miguel usou a bondade de Deus para criar a Graça, uma energia que move os Anjos. Deus gostou tanto que, além de tornar os Anjos seus guerreiros e protetores do mundo, ordenou que cada um de Seus filhos fosse abençoado com a Graça. Logo, todos se tornaram a maior raça de Anjos: Os Arcanjos.”

“A partir da maldade de Deus, que era mantida em uma caixa escondida nos confins do mundo, Lúcifer criou os Demônios, seres cruéis, frios e sem piedade. De acordo com Lúcifer, eles eram seres perfeitos, pois desprezavam qualquer sentimento, qualquer barreira e sobressaiam seus obstáculos com a mesma facilidade com que Ele levantava pela manhã. Lúcifer usou a maldade de Deus para criar o Poder, a energia que move os Demônios. Deus detestou o presente, achou que estava mais para uma maldição do que para presente.”

“Gabriel criara Ameriel, um humano, capaz de tomar qualquer forma que desejasse e capaz de usar magia. Porém, ele não achava que era digna o bastante para ser o seu presente para Deus, então a escolheu como filha. Assim, a partir de ambas bondade e maldade de Deus, decidiu criar os humanos. Ele construiu os humanos a partir da imagem de seu Pai, de sua imagem. Eles sim eram a criação perfeita, pois eles não eram feitos só de bondade como os Anjos, ou eram feitos só de maldade como os Demônios, o que lhes dava uma escolha: ser bom ou mau. Eles podiam ser qualquer um dos dois, era só escolher. Seu destino era traçado por eles mesmos. Gabriel usou a maldade e bondade de Deus para criar a Humanidade, a energia que move os humanos, também a mais poderosa e secreta energia de todas. Deus amou aquela criação, decidindo tornar os humanos, seus protegidos para o todo o sempre.”

“Rafael criou os animais, seres semelhantes aos humanos, com uma humanidade um tanto reduzida, mas às vezes, mais poderosa do que a possuída pelos humanos. Deus gostou da criação, mas não tanto quanto os humanos. De qualquer maneira, Rafael espalhou os milhares animais que criou em volta do mundo, satisfazendo Deus com toda a alegria que tomava conta de Sua criação.”

“Lúcifer não gostou de como seu Pai recebeu o presente, se sentindo ofendido. Uma guerra começou, entre Miguel, os Anjos, Gabriel, Rafael e Deus, contra Lúcifer e seus Demônios. Gabriel teve sua Graça, sua alma, reduzida a pedacinhos nessa guerra. Mas no fim, houve uma grande explosão com o encontro da Graça e do Poder, explodindo o mundo em vários pedaços desiguais. Assim nasceu o Universo, milhares de planetas e estrelas. Lúcifer foi jogado em um planeta longínquo, enquanto Deus e os que estavam ao Seu lado, ficaram na Terra. Lá, Ele criou o Éden, um lugar onde moraria com todas as criações, todos os presentes, protegidos por Ameriel, a filha de Gabriel, e Gadreel, um dos Anjos de Miguel. Lá, viveram Adão e Eva, os primeiros humanos, imortais com o fruto da Árvore da Vida, centro do Éden.”

“Lúcifer, com o passar dos séculos, conseguiu encontrar seu Pai, se mostrando arrependido pelo ocorrido. Deus o acolheu de braços abertos, enquanto os Demônios foram jogados na Terra, para viverem em volta do Éden, sem nunca penetrá-lo. Porém, quando Deus lhe disse para se curvar diante dos humanos, como todos os Anjos e Arcanjos fizeram anteriormente, Lúcifer se recusou. Como punição, a Graça lhe foi arrancada e ele foi jogado na Terra. Suas asas queimaram com a velocidade e força de sua queda, se tornando o primeiro Anjo Caído, sem asas ou graça. Ele as recriou à base de Poder e ordenou ao Demônio principal do seu grupo de Cavaleiros do Inferno, Lilith, a entrar no Éden e corromper a humanidade.”

“Lilith tentou seduzir Ameriel, mas ela foi forte. Gadreel nem tanto e acabou deixando a serpente penetrar o Paraíso. Ela ofereceu o fruto proibido à Eva, que o compartilhou com Adão. Quando Deus soube, Sua ira tomou conta de Seu julgamento. Ele arrancou a Graça de Gadreel, tornando-o o segundo Anjo Caído. Além disso, arrancou o Éden do Universo, transformando-o em um segundo mundo. Assim, os humanos começaram a viver, de fato, na Terra, junto com metade dos animais que estavam no Éden, e com os Demônios, enquanto os Anjos, Arcanjos e Deus, continuavam no Éden, observando tudo de longe e intervindo quando necessário. Para proteger o Éden, Deus criou os Querubins, quatro seres imortais com asas e espadas de fogo que protegeriam o Éden até o fim dos tempos.”

“Com o passar dos anos, Anjos e Demônios tiveram relações pacíficas com humanos, chegando a cruzar com eles. A cruza de um Anjo com um humano, é um nephirim, nascido com sua alma repleta de Graça e Humanidade, unidos em uma energia só. A cruza de um Demônio com um humano, é um bruxo, nascido com sua alma repleta de Poder e Humanidade, unidos em uma energia só.”

“Um dia, um bruxo amaldiçoou uma tribo indígena, por venerar a Deusa Lua, e não Lúcifer. Assim, essa tribo foi amaldiçoada se transformar toda Lua Cheia no ser que eles mais veneravam: o lobo. Assim nasceram os Lobisomens, peça chave pra tudo ter ocorrido dessa maneira. Vou voltar a eles depois.”

“De qualquer maneira, milhares de anos depois, por volta do ano de 1850, o Apocalipse começou. Miguel e Lúcifer estavam prontos para a batalha final. Porém, um bruxo e uma nephirim temiam o apocalipse, pois sabiam que a Terra seria destruída no processo. Em um dos raros momentos de paz entre Poder e Graça, eles juntaram forças e jogaram Miguel e Lúcifer em tumbas, lacrando-as com seis selos. Infelizmente, o sexto selo não foi erguido a tempo, sendo arrebentado com o tempo, deixando cinco selos apenas.”

“Miguel e Lúcifer ainda estavam sobre a posse da maldade e da bondade de Deus. Isso significava que, agora com eles presos, qualquer ser que dependesse disso, perdia sua magia. Deus, especialmente, não sobreviveu, pois suas metades haviam sido separadas de vez. Além disso, os Anjos e os Demônios perderam metade de sua alma, caindo nos corpos humanos. Permanentemente. Apenas Arcanjos e Cavaleiros do Inferno permaneceram com seu Poder e Graça intactos, pois seu Poder e sua Graça eram únicos. Mas todos os Anjos e Demônios comuns se tornaram humanos, com sua Graça e Poder 'adormecidos', sendo obrigados a absorver a humanidade de seus corpos. Logo, a alma destes Anjos e Demônios se tornou dividida: metade Graça/Poder, metade Humanidade. Antes que tudo acontecesse, Deus trancou o Éden, entregou a chave para Ameriel e ordenou um Demônio e um Anjo a criarem dimensões-cidades, onde os Demônios e Anjos adormecidos viveriam até a quebra dos selos. Kraktus se tornou a cidade dos Demônios e Anakyse, a cidade dos Anjos, mas duas famílias permaneceram na Terra: Os Whitlight, Anjos, e os Roman, Demônios.”

“Alguns anos antes, o Arcanjo Gabriel se apaixonou pela única vez com uma humana. Logo, ele descobriu que ela era uma bruxa. Ele cortou relações com ela, mas prometeu proteger sua família para todo o sempre. Alguns séculos depois, em Kraktus, nasceu a filha do Rei e da Rainha: Sophie Hough. Ela nasceu com uma parte de seu Poder faltando, o que lhe impedia de viver em Kraktus, uma vez que seu Poder não era o bastante, tornando-a mais humana do que Demônio. Ela morreria, se não fosse por Gabriel e sua promessa. A Rainha, descendente da amante de Gabriel, rezou para o Arcanjo. Ele colocou Graça no sangue da criança. Sophie era um Demônio com sangue de Anjo. Ela cresceu e se tornou Rainha de Kraktus, após sua mãe aceitar sua própria vida como preço pela salvação da menina, e depois de seu pai se suicidar de tristeza.”

“Alguns anos depois, Peter Roman, filho de Genevieve e Mark Roman, conheceu Hanna Whitlight e a beijou, quebrando o quinto selo. Com a quebra do quinto selo, eles acordaram suas partes adormecidas e partiram em uma busca para destruir os selos, uma longa história... O que importa é que eles quebraram os selos, libertaram Lúcifer e Miguel e batalharam contra os dois. Durante a batalha, Sophie foi assassinada com a Lâmina de Cain, uma faca capaz de destruir sua alma, apenas com um ataque no coração. Peter, que após a quebra de todos os selos, descobriu que ela era a mulher que ele amava, rezou para que alguém a salvasse. Cumprindo sua promessa, Gabriel surgiu, tornando Sophie completamente Arcanjo e salvando sua vida. Lado a lado, Peter e Sophie batalharam contra Miguel e Lúcifer por uma última vez. E venceram quase sem esforço.”

“Ameriel surgiu, entregando a chave do Éden para Sophie, assim como Deus dissera para ela, que entregasse o Éden para o vencedor da guerra. Assim, Sophie, Arcanjo, Peter, Cavaleiro do Inferno, e todos os Anjos, Demônios, bruxos, nephirims e Lobisomens simpatizantes da ideia de paz entre as espécies, contrária às de Lúcifer e Miguel, partiram para o Éden, que agora se chama Aslyn, onde Peter e Sophie foram coroados Rei e Rainha.”

— Nós quatro fomos recrutados por Peter antes do início da guerra — continuou Kaitlyn.

— Quatro? — perguntou Ryan. — Vocês são três.

Kaitlyn olhou para Sarah, preocupada.

— Desculpa — disse. — Eu não queria...

Sarah ergueu uma mão, em um gesto de calma. Aquele era um ponto sensível, pude notar.

— Éramos quatro — contou ela. — Mas Will foi assassinado na guerra. Ele morreu por nós.

Houve silêncio por alguns instantes, como se todos dessem um minuto de silêncio ao tal de Will.

— E o que aconteceu depois? — perguntei, tentando não ser indelicada com Sarah.

— Foram quatro anos de pura paz e felicidade — contou Kaitlyn. — Mas faz vinte anos que isso aconteceu.

— O que aconteceu nos outros 16? — perguntou Ryan.

— Tudo começou há dezesseis anos — continuou Kaitlyn.

— O que aconteceu? — perguntei.

Kaitlyn suspirou.

— Você — respondeu. — Você nasceu. A Princesa de Aslyn, filha de Peter e Sophie Roman.

Ela sorriu pra mim. Ela continuou sorrindo pra mim, por alguns instantes. Eu me senti ridícula, não vou mentir.

— Kaitlyn...? — chamei.

— Sim, onde estava? Ah, você — ela disse, acordando.

“Quando foi anunciado que a Rainha engravidara, foi a maior festa. Ninguém falava de outra coisa, só em como você seria. Claro que não tem muita tecnologia lá, então não dava para saber se era homem ou mulher. Se fosse menino, se chamaria Tyson. Se fosse mulher, se chamaria Clair.”

— Ficou Clair — deduzi.

Sarah franziu o cenho.

— Mais ou menos.

Ergui uma sobrancelha.

— Ficou Clair — disse Kaitlyn. — E Tyson.

— Gêmeos?! — exclamou Ryan.

Nós nos entreolhamos, rindo.

— Eu tenho um irmão! — ri.

— Clair... — começou Kaitlyn.

— O quê? — perguntei, o sorriso quase desfeito.

— Tyson...

— Foi sequestrado e depois foi encontrado morto dentro de um saco de lixo. — disparou Gale.

— Gale! — gritou Kaitlyn.

— Tá, eu calo minha boca — disse, levantando da mesa.

— Ele ficou com raivinha — zombou Sarah.

— Não me amola, Kurt — retrucou Gale, subindo para o quarto.

— Continuando...

“Com a morte de Tyson, todo o povo ficou abalado. Mas não foi só isso que mexeu com o povo. Uma vez, você fez chover no seu quarto. Noutra, você fez seu vestidinho rosa se tornar vermelho. Ninguém sabia explicar o que acontecera. Tudo parecia ir do jeito que você queria. Então, Peter e Sophie te levaram para uma antiga amiga, que poderia saber o que havia de errado: Paris.”

— Ela não sabia — respondeu Sarah. — Mas disse que a menina era algo diferente de qualquer coisa que um dia já andara na Terra. A cruza de um Demônio e de um Anjo... Ela disse que apenas Deus seria mais poderoso.

— Mas claro, você é uma versão reduzida — continuou Kaitlyn. — Existe uma barreira dentro de você que a impede de ter o poder que você realmente tem. A própria Paris disse isso.

— E não para por aí — continuou Sarah. — Alguns lobos ficaram possessos quando descobriram. Acharam que te usariam para dominar o mundo ou algo do tipo. Nem eu entendi direito o que eles pensavam. Ao fim da guerra entre Lúcifer, Miguel e Aslyn, as matilhas haviam se unido em uma única: Terra Nova. Com a divergência de opiniões sobre você, eles se dividiram. No meio da noite, a metade contra você, atacou os castelos e as casas de Aslyn, sem avisar. Eles estavam turbinados. Uma mordida e qualquer brutamontes caía. Eles conseguiram chegar até seu berçário, Clair.

— Eu estava lá — lembrou Kaitlyn, encarando a superfície da mesa. — Te colocando para dormir.

— Você era minha babá ou algo do tipo? — perguntei.

Ela assentiu.

— Eles invadiram o quarto. Você riu na cara deles — continuou, me olhando com lágrimas nos olhos. — Eles pularam em cima de mim e você voou. Quando me dei por mim, você estava engatinhando para longe, enquanto os lobos eram barrados por uma rajada de vento. Paris te encontrou, com os lobos ainda em seu encalço. Ela te levou até seus pais, que fizeram a decisão mais difícil que eles poderiam fazer.

— Os lobos que estavam atrás de você foram facilmente despistados. — contou Sarah. — Mas eles não tinham coragem de contar isso para a Alpha, então pegaram um bebê aleatório morto e inventaram uma história de que aquele era Clair. Sophie e Peter caçaram esses lobos e os mataram, fingindo vingança. Na verdade, eles estavam se certificando que ninguém soubesse que você ainda estava viva. Os dois fizeram memorial e tudo, fazendo os lobos acreditarem que você tinha... partido pra sempre. Você tinha. Mas não pra sempre.

— Na verdade, Paris te mandou para a Terra, onde ficaria a salvo até que Aslyn fosse um lugar seguro novamente — continuou Gale, aparecendo nas escadas. — Sophie não queria que você crescesse no meio de uma guerra. Além disso, você seria um alvo fácil. Paris iria junto, mas não pôde. Um dos lobos que havia te perdido de vista, viu Paris lhe colocando para o outro lado do portal entre os mundos. Eles lutaram e ela jogou a chave dentro da lareira, para que nunca conseguissem te alcançar. Irado, o lobo a mordeu. No fim do dia, ela estava morta.

— Sophie e Peter choraram por meses, pela morte da amiga, pela sua falta e pela preocupação de como você viveria — contou Kaitlyn. — Mas eles sabiam que tinham feito a coisa certa. Você estava mil vezes mais protegida aqui, na Terra, do que lá, com aqueles lobos atacando a cada instante. Os sobreviventes do ataque foram obrigados a viver em um vilarejo escondido nas profundezas de uma caverna, na Grande Praia. Vivemos por quinze anos lá, sobrevivendo a planos fracassados, até que Ameriel surgiu, nos alertando que algo perverso estava surgindo, e que você era a única que poderia nos proteger.

— Peter e Sophie ficaram loucos — continuou Sarah. — Eles te mandaram pra cá, para que vivesse a salvo. Arrastá-la pra tudo aquilo era como trocar seis por meia dúzia. Os quinze anos sem você seriam jogados fora. Eles ordenaram que você deveria permanecer onde estava.

— Mas, pelo que vejo, vocês desobedeceram — concluiu Ryan.

Kaitlyn assentiu.

— Como eu disse, não podíamos nos apegar às chances de que venceríamos esse inimigo sozinhos — explicou ela. — Então, há mais ou menos um ano, desobedecemos às ordens de Peter e Sophie. Ameriel, que se tornou Líder de Proteção de Aslyn, arranjou um jeito de nos trazer até aqui.

Ela hesitou.

— Tenho tentando manter um olho me você desde que te encontramos — disse, séria. — Quando aquele Demônio causou o acidente, estávamos lá. Todos nós lutamos contra ela, mas Gale acabou ferido demais para que continuássemos.

— Bom, agora é a parte problemática — disse Sarah, se arrumando na cadeira. — Foi fácil nos trazer aqui. Difícil vai ser voltar.

— Calma — falei, respirando por um instante. — Eu preciso... Processar isso.

— Vocês podem processar isso durante a noite — disse Gale, surgindo no topo das escadas. — Já preparei o quarto de hóspedes e coloquei duas camas lá.

— Obrigado, Gale — falou Kaitlyn.

Voltei-me para Kaitlyn e Sarah.

— Obrigada por tudo. Vocês também — falei. — Eu estou tendo muita dificuldade para engolir essa história toda, mas... É a única coisa que faz sentindo na minha mente. Acreditar em Anjos e Demônios e que eu seja uma criatura desconhecida... Enfim, obrigada de qualquer jeito.

Ryan se levantou e me acompanhou até o quarto.

Era um quarto simples. Uma janela de vidro e duas camas. Só isso. As camas eram de madeira, com colchões cobertos por colchas vermelhas e um travesseiro branco. Sentei na cama e respirei fundo.

— Ryan? — chamei.

Ele sentou ao meu lado.

— O que você achou disso tudo? — perguntei.

Ele suspirou.

— Eu não quero acreditar naquilo, confesso — respondeu, encarando o chão. — É loucura. Mas é como você disse, é a única coisa que faz sentido. Além disso, passamos a vida inteira rezando toda noite para Deus. Teoricamente, acreditamos Nele. Teoricamente, isso tudo pode ser verdade.

Pisquei por alguns instantes.

— Estou com medo — falei. — Papai está morto. Estamos em perigo. O que será de nós na mão desses três?

— Não estamos na mão desses três — retrucou Ryan. — Eu estou com você. Eu vou te proteger. Sempre vou estar do seu lado. Onde é que eu sempre vou estar?

Sorri.

— Do meu lado — completei.

— Exatamente.

Ele puxou de seu braço o bracelete vermelho que sempre usava.

— Eu fiz esse quando eu tinha tipo, sete anos — contou, erguendo-o a altura de meu olhar. — Eu quero que você fique com ele.

E amarrou-o em meu pulso.

— Eu sempre vou estar com você, Clair — disse. — Sempre vou te proteger. Quero que saiba disso.

Assenti.

— Minha vez então — falei.

Tirei o colar de meu pescoço. Papai sempre me dizia para nunca tirá-lo, nem para dormir ou tomar banho, era raro demais. Alguém poderia roubar. Mas desta vez, eu estava o dando para alguém.

— Sempre estarei com você — disse, fechando o colar em volta de seu pescoço. — Quero que saiba disso.

Click, fez o colar quando soltei o gancho.

Senti algo me empurrar para trás. De repente, cenas correram em minha mente.

Um sorriso. Um homem, loiro, de olhos azuis, com um sorriso caloroso.

Uma mulher, rindo entre os dentes, me levantando no alto.

Um homem, de cabelos castanhos, longos como os de Ryan.

Ela é linda! — ele disse.

Cuidado com minha filha, Olsen! — o homem louro riu.

Então, um homem colocando o colar em volta de meu pescoço. Seu rosto era sombrio e perverso, mas seus olhos estavam recheados de bondade e amor.

De repente, eu estava de volta no quarto.

— Clair?! — chamou Ryan, preocupado. — Está bem?

Suspirei.

— Ryan, eu...

Ele me segurou, pois eu estava quase desmaiando.

— Eu me lembro.


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Notas finais do capítulo

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