The Last Taste - Season 3 escrita por Henry Petrov


Capítulo 3
Heart Sister


Notas iniciais do capítulo

Arrumei o computador o/
Pois é, agora voltamos para o ritmo normal. Todo dia, provavelmente à tarde, eu postarei um capítulo, pois como eu disse, já escrevi até o 17. Então, são dezessete dias seguidos de capítulos diários.
O que posso dizer sobre o capítulo? Bom, é um capítulo um tanto divertido. Veremos mais da relação que a Clair tem com Ryan e, como todo capítulo, algo bombástico vai acontecer no final. Espero que gostem. Enfim, era só isso. Boa Leitura (:



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Clair Montgomery

Ryan dormia profundamente. Nem se mexeu quando os médicos o levaram do necrotério até o quarto. Eu segurava sua mão com firmeza. Eu não soltaria por nada.

Ele piscou devagar. Levantei da cadeira, ansiosa.

— Hey... — disse, enquanto afastava o cabelo de seu rosto.

Sorri. Na verdade, eu não conseguia parar de sorrir desde que ele voltara dos mortos.

— Hey — respondeu ele, com a voz rouca.

Ryan passou a mão no rosto, tentando acordar. A cor retornara a seu corpo e seus olhos brilhavam sob a luz da lâmpada acima de nós. Na verdade, Ryan parecia mais vivo do que nunca.

— O que aconteceu? — perguntou.

— Do que você se lembra?

— Eu lembro do acidente — respondeu. — E aí...

Ele se interrompeu.

— E aí?

Ele piscou por alguns instantes.

— Nada — concluiu, me olhando com culpa. — Só um preto. Tive uns vislumbres de médicos e coisas do tipo... Mas a última coisa que lembro é acordando em algo frio. Você estava lá.

— Você estava sem ar, certo?

Ele assentiu.

— O que aconteceu? — repetiu.

Mordi um lábio.

— Ryan... — eu não sabia como dar uma notícia dessas, então fui o mais sutil possível. — Você morreu.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Mas de algum jeito, voltou — me apressei para dizer. — Os médicos não conseguem explicar como. Eles estavam certos que você tinha morrido, mas aí você acordou no necrotério.

Ele me olhava como se tentasse encontrar outra interpretação para o que eu dizia, sem sucesso.

— Está aqui apenas por observação — falei.

Ele correu os olhos pela sala, observando os quadros e a vista ensolarada da janela.

— Como está se sentindo?

Ele suspirou.

— Eu me sinto como um peru, — respondeu, me fazendo rir. — a quem tiraram todos os órgãos e depois colocaram de volta. Como se nada estivesse no lugar certo. Acho que é por causa da cirurgia.

— Você sabe? — comecei, indo com cuidado. — Sobre o papai?

Ele assentiu.

— Eu me lembro.

Um silêncio mortal reinou no quarto por alguns instantes. Então, seu olhar caiu sobre nossas mãos entrelaçadas. Ele ergueu a mão sem tubos e pousou em meu rosto, esfregando a área abaixo de meus olhos.

— Quantas horas acordada? — perguntou, repousando a mão na cama.

— Ah... — gaguejei. — Algumas.

Ele continuou a me encarar.

— Vinte e duas até agora — respondi, enfim.

Ele revirou os olhos.

— Vai dormir, Clair. Não quero você acordada desse jeito — ordenou.

— Não, eu vou ficar com você — retruquei, pegando sua mão.

— Já sou crescido, Clair. Vá dormir — insistiu.

Dei um leve sorriso.

— O quê?

Molhei os lábios.

— Lembra quando eu tinha sete anos e caí de bicicleta? — contei, saudosa. — Eu, literalmente, rolei ladeira abaixo, quebrei o pulso e desloquei um braço.

Ele assentiu.

— Foi engraçado — comentou.

Ri levemente.

— Você ficou comigo no hospital o dia inteiro, mesmo com papai querendo te levar pra casa — continuei. — Do meu lado. Não me soltou por um segundo. Deixa eu ficar do seu lado dessa vez?

Por alguns segundos, ele não esboçou reação alguma, até que finalmente assentiu. Devagar, virou seu rosto para o teto e fechou seus olhos, voltando a dormir. Sentei na cadeira, mas não soltei sua mão.

As duas horas restantes de observação se passaram e eu não ousei descansar por um segundo. Eu queria que, qualquer coisa que Ryan precisasse, ele conseguisse. Ele odiava ser mimado, nunca foi. Mas naquele momento, ele era o foco. Eu precisava cuidar dele. Eu queria cuidar dele.

O médico adentrou a sala, um tanto sorridente.

— Bom, Montgomery's, vim avisar que Ryan está livre para voltar pra casa — disse.

Bufei, aliviada. Ryan piscou algumas vezes, acordando com a notícia.

— Eu disse que não precisava ficar acordada por 24 horas seguidas — reclamou Ryan.

Revirei os olhos, ignorando sua rispidez.

— Você fez o que pedi? — perguntou Dr. Witz, enquanto tirava os tubos de Ryan e desligava as máquinas.

Assenti.

— O que você pediu? — perguntou Ryan.

— Obrigado por tudo, Doutor — falei, ignorando Ryan.

O médico deu um sorriso e saiu do quarto. Fui até uma das cadeiras e tirei uma mochila de cima de uma delas.

— O que ele pediu, Clair? — insistiu o rapaz.

— Roupas, Ryan — respondi finalmente, jogando a mochila na cadeira em que passei a noite.

Abri a mochila e tirei as coisas de dentro.

— Obrigado — disse Ryan. — Agora deixa comigo.

— Ryan! — exclamei, enquanto ele levantava da cama. — Cuidado!

— Eu sofri um acidente, não fiquei paraplégico, pelo amor de Deus — replicou ele.

— Cuidado, se cair, vai arrebentar os pontos! — gralhei.

— Eu morri, lembra? Não tenho pontos — retrucou.

Ele permanecia sério. Parecia uma criança teimosa brincando com fogo.

— Vai mesmo me ignorar?

Ele não respondeu. Foi até a mochila e pegou as roupas.

— Um pouco de privacidade, por favor? — pediu, me olhando com simplicidade.

Revirei os olhos e ri com sua teimosia.

— Vou estar lá fora — falei, saindo do quarto.

— Se eu precisar... — disse, por cima do ombro. — Eu grito.

Gelei, encarando-o com medo.

— É uma brincadeira, Clair, pode rir! — ele falou, sorrindo com o canto da boca.

Bufei e passei pela porta. Sentei em uma das cadeiras e cruzei as pernas, esperando por Ryan. Ele apareceu na porta alguns minutos depois, com uma jaqueta vermelha sobre uma blusa branca.

— Viu?

Não respondi, peguei sua mão e levei-o pelo corredor.

— Para onde vamos agora? — perguntei.

Ele deu de ombros.

— Pra casa, claro.

Parei.

— Casa?

Ele se voltou para mim.

— Pra onde iríamos? — disse, dando de ombros.

Suspirei. Eu não podia simplesmente deixá-lo sem saber. Puxei-o para um canto reservado do corredor e contei sobre a mulher loira, sobre o homem no táxi e a ruiva do acidente, enquanto enfermeiras e pessoas apressadas passavam por nós.

— Você acha que estamos mesmo em perigo? — perguntou, cruzando os braços.

Dei de ombros.

— Eu sei que alguém tentou nos matar — respondi. — Não podemos ignorar isso.

Ele assentiu, pensativo.

— Ainda tem o endereço?

Assenti.

— Deixa eu ver.

— Ah... — gaguejei.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Eu meio que decorei — falei, enfim. Ryan me repreendeu com um olhar. — Não consegui tirar aquele momento da minha cabeça. Décima Avenida, 1406. Brooklyn.

— Vamos.

E com essa única palavra, seguiu pelo corredor, enquanto eu o seguia, perguntando a mim mesma o que me esperava no 1406.

Pegamos um táxi. Eu sei, eu deveria estar traumatizada com táxis. Mas fazer o quê? Ficar na calçada, pedindo carona? Claro que não. Ryan ficou no banco passageiro. Aquela situação me trouxe memórias ruins, mas tratei de afastá-las de minha mente. Nada de ruim ia acontecer desta vez.

— Moço, não tem número — disse, olhando para Ryan como se ele fosse um criminoso. — Não tem nada aqui.

Ele estava certo. Dos dois lados, não havia nada, eram campos abertos. Mas lá no fundo, a cerca de trezentos metros, havia um galpão, que mais parecia um celeiro desativado.

— Ali — apontei.

O homem estreitou os olhos, tentando ver algo, mas me olhou como se eu estivesse louca.

— Não vejo nada — respondeu o homem.

Ryan estendeu seu braço, apontando para o mesmo lugar.

— Ali, olhe.

O homem balançou a cabeça, em recusa.

— Desculpe, mas se quiserem, podem ir lá — o homem deu de ombros. — Mas não tem nada.

Ryan puxou a carteira e derrubou vinte dólares sobre o painel do carro.

— Vamos, Clair.

Saí do carro, seguindo Ryan até o galpão. Era noite de Lua Crescente. O homem deu partida e fez um retorno com o carro, deixando Ryan e eu sozinhos na rua. Determinada, segui até o galpão com passos apressados, ajustando a bolsa em meu ombro e Ryan ao meu lado. Quando cheguei à frente do galpão, minha atitude murchou. Era uma construção quadrada, com uma entrada de porta dupla, com dois “x” em branco marcados em cada porta. Empurrei-as e simplesmente não consegui acreditar.

Eu não estava em um celeiro. Eu estava em uma mini-mansão. Havia uma sala de estar, rodeada por uma escada que dava para um corredor superior, onde portas de madeira davam em outros cômodos. Tudo parecia ser branco. Uma bela fonte estava no centro da sala. Sorri, admirando sua beleza.

O sorriso durou pouco.

Tudo ficou preto, como se a luz tivesse sido desligada. Desesperada, corri de um lado para o outro, tentando achar uma saída.

— Ryan?! — chamei.

Não houve resposta. Então, senti algo pressionar minha garganta. Algo afiado. Alguém segurava uma faca sobre meu pescoço.

— Quem são vocês?! — uma voz surgiu atrás de mim. — O que querem?!

— Por favor... — comecei.

— Deixem ela em paz! — ouvi Ryan gritar.

— Pessoal! Cadê a educação de vocês?! — outra voz disse.

Clap-clap.

As luzes acenderam. Eu estava de frente para a porta. Ao meu lado, eu vi Ryan, tossindo, enquanto um homem atrás dele o observava com curiosidade.

— Está louca?! — perguntou a voz atrás de mim, ainda me prendendo.

— Você é que está ficando louca, eu disse que ela viria — respondeu a outra voz.

— Oh — murmurou meu atacante.

Finalmente, fui solta e pude ver quem me atacara. Era uma mulher de mais ou menos trinta anos. Ela tinha cabelos escuros e lisos, que iam até sua cintura. Ela usava uma blusa escura esfumaçada com branco e um colar, com uma esmeralda como pingente. Ela sorriu pra mim.

— Foi mal — riu, um tanto envergonhada.

Aceitei as desculpas e notei algo a mais. Atrás dela, estava a escada. Quase no topo, uma mulher me olhava com um largo sorriso. A loira. Ela usava um longo vestido branco, cheio de detalhes.

— Subam — disse a loira.

Ela subiu os degraus com graça e entrou em um dos quartos. Todos nós entramos. Era pequeno. Tinha alguns vasos de plantas em volta, uma janela de vidro com vista para o nada, uma mesa e quatro cadeiras, que mais pareciam tiradas de um filme da “festa-do-chá”. A mulher se sentou à mesinha de chá. Ela bateu palmas novamente e duas cadeiras extras surgiram e, de algum jeito, a mesa pareceu maior. Ela indicou as cadeiras e todos sentaram, inclusive Ryan e eu.

Alguns instantes se passaram, com tímidas trocas de olhares.

— O chá — lembrou a loira, olhando para a morena.

— Ah, é! — exclamou a morena, fazendo a outra rir.

A mulher olhou pra mim com orgulho.

— Perdão pelo mau jeito dos meninos. Por favor, fiquem à vontade.

Olhei para Ryan. “Fácil falar”, ele parecia dizer.

— Você me visitou na escola, no acidente e no hospital — comecei, apoiando a bolsa em meu colo. — Disse que eu estava em perigo.

— Antes que eu comece a arruinar sua vida, deixe-me olhar pra você — disse.

Eu estava cansada de ser ignorada por aquela mulher, mas não reclamei. A morena chegou com um bule em uma mão e quatro xícaras na outra.

— Está melhor? — perguntou a loira ao homem.

Finalmente, pude dar uma boa olhada nele. Ele tinha cabelos pretos, envoltos em um redemoinho. Ele usava um colete preto de garçom. A morena encheu as xícaras, mas notei que o homem era o único sem xícara.

— Bem melhor. — respondeu. — Nada que uma boa noite de sono não cure.

Tomei um gole do chá. Estava uma delícia.

— Está ótimo — disse, sorrindo.

— Que bom, minha especialidade — disse a morena, sorrindo. — Chá.

O homem riu baixinho. Ela o encarou e tomou um gole, como se precisasse provar algo a ele. Posso jurar que ela fez careta.

— Então...?

A loira suspirou.

— Tem certeza? — perguntou a morena, ignorando minha presença. — Quando você conta uma coisa a uma pessoa, você não pode “desdizer”.

A loira assentiu.

— Sei disso. Mas é nossa única esperança — continuou a loira. — Não podemos nos arriscar às chances.

Ela se voltou para mim.

— Bom, por onde começo...?

— Pode começar dizendo quem é você — respondi.

— Ok. Meu nome é Kaitlyn, Kaitlyn Oliver. Esta é Sarah, Sarah Kurt.

— Gale. Gale Stevens — disse o homem. — Sou um An...

Kaitlyn fuzilou-a com o olhar.

— Foi mal — murmurou Gale.

Ergui uma sobrancelha, um tanto assustada com a reação do rapaz ao olhar de Kaitlyn. A loira tomou outro gole.

— O que vocês sabem que eu não sei?

Kaitlyn se voltou para Ryan.

— Pode nos contar sobre Tony? — investiu ela.

Aquele nome de novo. Ryan parecia ter levado um choque. Ele me olhou com apreensão.

— Vamos embora — disse. — Essa gente é louca.

Ele levantou, mas antes que saísse do quarto, Kaitlyn o fuzilou com o olhar.

— Sente — ordenou.

Ryan me olhou.

— Me obrigue — retrucou Ryan.

Kaitlyn se levantou. Os vasos pegaram fogo. Não era um fogo, tipo, queimando. Um jato de chamas fugia de cada um.

— Sente — repetiu. — Não direi uma terceira vez.

Ryan pensou por alguns instantes, mas obedeceu.

— Não vou falar disso — disparou, um tanto irritado.

— Não pra mim — disse Kaitlyn, me encarando.

Ela ficou me encarando por mais tempo do que eu gostaria.

— Vamos deixá-los a sós — disse, se levantando.

Kaitlyn saiu da sala, com os outros dois em seu encalço, fechando a porta atrás dela. Olhei para Ryan com amargura.

— Ryan, quem é Tony? — perguntei.

Ele engoliu seco.

— Olha, eu vou entender se não quiser me contar — contei, segurando sua mão. — Não quero que se arrependa de nada. Mas nossas vidas podem estar em jogo.

— Por favor, não — ele respondeu, com os olhos marejando. — Não me faça voltar àquela... Noite.

— Ryan? — chamei, enquanto ele mordia o lábio com força. — Quem é Tony?

Ele suspirou e se voltou pra mim, engolindo o choro.

— Meu irmão.


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Notas finais do capítulo

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