O menino que colecionava Horcruxes escrita por Maga Clari


Capítulo 10
Profecia


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo!
Bem, não fiquem tristes. Pensei numa segunda temporada, mas não irei garantir. Nem se farei, nem se farei tão cedo. São apenas planos.
Espero que gostem!
Beijinhos e vejo vocês nos reviews



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*"Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... Nascido daqueles que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... E o Lorde das Trevas o marcará como igual, mas ele terá poder o Lorde das Trevas desconhece ... E os dois deverão morrer na mão do outro, pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver ... Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês morrer ... "

Sibila Trelawney, ao profetizar o triste fim de meu menino.

Eu mal havia tomado uma cadeira ao lado dos dirigentes de Hogwarts quando um dos servos de meu menino se levantou.

Estávamos no Cabeça de Javali, um bar-hospedaria nos arredores de Hogsmeade. Eu havia parado ali quando resolvi seguir uma figura peculiar. Suas cores, ou melhor, sua falta de cores, me instigou a segui-lo. Ele era um Comensal da Morte, e, ao meu ver, parecia até mesmo um irmão meu. No entanto, sou sozinha no mundo. Nunca tive parentes.

*Uma pequena observação*

Odiei esse termo. Comensais da Morte. Odeio o fato de eu parecer ter algo a ver com isso. Depois de anos de preocupação, meu menino faz isso comigo! Burra, burra, burra! Nem deveria ter-me dado o trabalho de olhá-lo.

Pois bem. Este homem chama-se Severus Snape. Sua capa esvoaçava atrás dele, como um corvo. Ou um morcego. Não sei ao certo. Mas o fato é que eu o segui e cheguei até ao bar. Lá, observei-o conversar com seus colegas, de modo sombrio, enquanto esperavam pelo então diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore.

Quando o homem por detrás dos oclinhos meia-lua apareceu, percebi uma chuva de sorrisos em sua direção. Até mesmo do servo de Voldemort. E então apoiei-me na mesa para observar.

— Olá, cara Sibila — Dumbledore falou, docemente — Como está?

— Hum... Mais ou menos, senhor...

— Está nervosa? — riu, de modo bondoso, chamando o garçom — Amigo, traz pra mim uma garrafa de hidromel, e para a moça aqui uma...

— Tem xerez? Eu só bebo xerez nesses momentos.

— Que momentos? — Minerva McGonnagal, a vice-diretora, questionou, com a sobrancelha franzida.

— O senhor tem ou não tem? — insistiu a futura professora.

— Já vou trazer.

O garçom revirou os olhos e voltou ao seu balcão. Achei graça no modo como Dumbledore censurou as colegas. Olhava insistentemente para o jovem roqueiro trazendo as bebidas. Quando foi-se embora, não resistiu:

— Não há qualquer motivo para sermos grosseiros com um servente.

— Nós não fomos! — a pobre Sibila bateu o copo de vidro na mesa, assustando aos outros — Só queria a minha bebida.

— Entendo. E onde está a papelada? Precisamos resolver isso o quanto antes. Logo chegará Setembro com nossas crianças.

— Espere, espere, espere!

Eu permiti-me rir daquela pobre bruxinha. Uma jovem extremamente colorida em suas peças de roupas, completamente diferente de Severus Snape. Ela tinha os olhos redondos e gesticulava de modo enérgico.

Sentei-me a seu lado, ansiosa para ouvir o que ela tinha a dizer. Já disse que gosto de histórias? Bem... Pelo menos foi o que pensei que ela faria.

Ao invés disso, Sibila havia feito uma profecia. Seu hálito cheirava a xerez, e seus olhos pareciam em transe. De imediato, ninguém pareceu entender. No entanto, o servo de meu menino levantou-se teatralmente, com a capa esvoaçante atrás de si.

O que eu devia fazer, afinal? Segui-lo outra vez, óbvio!

Naquela época, eu tinha a falsa ideia de que, de alguma forma, eu poderia mudar o destino. Na verdade, eu custava a acreditar que eu não tinha o direito de interferir. Mesmo que isso doesse. E muito.

Mas eu estava certa quando imaginei que Snape estivesse indo contar aquilo a Voldemort. Snape fora o único a fazê-lo de bobo. Um traidor. Duas caras. Agente duplo. Escolha o termo que preferir. Eu só não sei ao certo quando ele decidiu de que lado estava. Parecia mais um bruxinho assustado, sem saber para onde seguir.

Quando chegamos aos aposentos de Voldemort, num acampamento improvisado, ele estava ao redor da fogueira, apreciando o crepitar das chamas. Mal parecia notar nossa presença. Estava ocupado demais pensando em seus planos de guerra.

— Temos uma profecia — a voz funesta e fúnebre do agente duplo soou, de repente — E ela envolve você.

Voldemort virou o rosto, lentamente, até encarar os olhos de seu servo.

— Acredita mesmo nessas baboseiras?

— É melhor prevenir. Antes pecar por muito do que por pouco. Fala sobre um garoto que pode tirá-lo do seu objetivo. Um garoto que nasceu no final de Julho. E cujo os pais lhe desafiaram três vezes.

Voldemort ouvia a tudo sem nada dizer. Digeriu cada palavra com calma. Uma calma que nem mesmo eu estava acostumada.

— Está pensando na mesma criança que eu?

— Não pode ser o Longbottom — Voldemort disse, finalmente, balançando a cabeça — Traga-me o fiel do segredo dos Potter. Partiremos hoje à madrugada.

— Sim, Lord.

Com um aceno, Snape deixou-o sozinho novamente. Estudando a fogueira. E por um breve segundo, tive a impressão de que ele havia me visto. Mas se me viu, não pareceu se abalar. Continuou brincando com sua varinha e testando feitiços no fogo.

Mais tarde, o fiel do segredo dos Potter, Peter Pettigrew, surgiu, com Snape em seu encalço, e o mais puro olhar de temor. Nunca havia conhecido alguém tão medroso e covarde como aquele bruxo.

Não foi preciso mais do que algumas ameaças e faíscas em sua pele para que ele falasse o endereço dos Potter. Voldemort gargalhou de prazer e anunciou para seus servos:

— Estaremos numa missão relâmpago. Deixarei-os sob os comandos de Bellatrix Black.

— Mas... Lord... Eu quero ir também.

— Não! — berrou, sem nem hesitar. Voldemort tinha um voz cortante e sem emoção — Você ficará e manterá a ordem aqui. Comigo só irá Snape, Pettigrew e Malfoy.

— Estou comovido, Lord.

— Não é hora para bajulação, Malfoy. Agora, andem! Peguem suas vassouras. Não temos a noite toda. Precisamos chegar em Godric's Hallow o mais cedo possível.

*Uma breve nota*

James e Lily Potter haviam confiado em Peter. Estavam escondidos de Voldemort, por pura proteção ao bebê de um ano. Tolos! Peter era o único que sabia. E delatou-os sem dó. Mais tarde, sentiu-se especial por ter sido útil. Tornou-se Comensal.

Segui-os até sua aventura atrás da casa dos Potter. Meu coração batia ruidosamente à medida que eu voava com eles. Eu pressentia pelo pior. Minha mente viajava à mil por hora no tempo. Eu visualizava tudo: o sangue, as mortes, a guerra. Seria um caminho longo e tortuoso até o fim oficial daquele terror que meu menino causava.

Eu não podia acreditar. Eu não queria acreditar que aquele menino esquisito e rejeitado não aprenderia com o mau para tornar-se bom. Eu havia confiado nele, tanto quanto James confiava em Peter. Eu torci por ele. Sofri com ele. Orgulhei-me a cada medalha e nota alta que ele tirava. Sorri ao vê-lo arrumar uma namorada.

No entanto, nada daquilo era real. Tudo era uma grande farsa para esconder sua face maligna e cruel. E talvez Tom merecesse tudo o que lhe aconteceu e viria a lhe acontecer no futuro.

Talvez, ele não merecesse as cores brilhantes que eu queria que ele tivesse. Talvez, bastasse o verde-musgo da Sonserina; a cobra em seu antebraço; suas vestes à rigor; o seu nome sendo aclamado; as horcruxes protegendo sua alma incolor.

Ah, as horcruxes! Haviam seis construídas por ele. Meu menino só não imaginava que a sua preciosa e tão esperava sétima apareceria tão facilmente.

— Lily! O Harry! Leve o Harry com você!

Oh, aquela voz! Aquele grito me atormentaria eternamente. O desespero de um pai querendo salvar sua cria. Era o mesmo desespero que eu tinha em salvar meu menino das garras das trevas. Infelizmente, James obtivera mais sucesso do que eu.

— Pode ir, Lily. É ele! Deixa que eu cuido disso!

E lá se foram suas últimas palavras. E a risada macabra de Tom Riddle. O Tom do orfanato. Naquele momento, seus servos apenas observavam através da janela, do lado de fora. Ele estava sozinho. Comigo.

— NÃO!

Lílian Evans Potter jogou-se na frente de seu menino e morreu em seu lugar. Protegeu-o, afinal.

De repente, senti-me num sonho esquisito. Eram muitas cores de uma só vez. Até mais profundas do que na guerra. Eram as cores dos feitiços, as cores de James, as cores de Lílian, as cores de Tom.

Enquanto o amor de Lily transbordava rosa-avermelhado, o ódio e ganância de Tom parecia piche. Um piche nojento e grotesco sendo derramado pelo chão. Entretanto, aquilo não me impediu de jogar-me sobre ele e chorar. Chorar como nunca imaginariam que uma Morte choraria.

A Maldição da Morte — quanta ironia! Não é mesmo? No final, sempre me colocam como a culpada das coisas — ricocheteou no bebê e atingiu meu menino bem no peito. Não houve dúvidas. Ele não havia resistido.

E enquanto eu chorava sobre o corpo de Tom, tomei um grande susto ao ver Severus Snape fazendo o mesmo que eu, com o corpo inerte de Lílian Potter. Pelo visto, ele amava-a. Chorava como um bebê. Ou talvez como eu.

É bem provável que ele pensasse que Voldemort apenas se livraria do garoto e pouparia seu grande amor. No entanto, o Lord das Trevas nunca sentira amor. Nunca soube e nunca saberia o que era. Pessoas eram apenas empecilhos à sua frente.

Infelizmente, Voldemort conquistou sete horcruxes. Ele não viria até mim tão fácil assim como eu pensei que fosse. Aquela cor de piche era apenas temporária.Tudo sempre termina e começa assim:

Primeiro, as cores.

Depois, os humanos.

Tom logo ganharia outra cor. E eu, mais outra história.

Mas essa parte vocês já sabem.


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Notas finais do capítulo

* Profecia feita por Sibila Trelawney. A profecia é mostrada com mais detalhes no livro 5 (A Ordem da Fênix)