Mistérios da Meia-Noite escrita por LadyWolf
Os dias foram passando devagar. Maurício continuava a dar aulas durante a semana, sendo um dos professores mais adorados pelos alunos. Quando chegou a sexta-feira, por volta das dezoito horas, o novo professor de biologia saiu da escola e rumou para casa. A lua cheia já surgia no céu, e ele sabia muito bem o que aquilo significava… Noite cruel…
Àquela noite Maurício voltou para casa. Vovô estava novamente no laboratório pesquisando, mas quando perguntou o que tanto procurava como sempre o velho fugiu do assunto. Às vezes era tão misterioso e cabeça dura! Mas gostava daquele senhor, era como um pai que nunca teve. Foi ele que o ensinou tudo sobre a natureza, as energias, um pouco de magia e, é claro, a se transformar em lobo.
Após o jantar – por volta das sete e meia -, Maurício deixou a velha cabana para ir cumprir a sua sina. Com um olhar muito entristecido o lobo caminhava pelo bosque tentando se afastar de tudo e todos. Quando percebeu estar bem longe ele voltou à forma normal e se sentou sobre uma pedra para contemplar a lua enquanto havia tempo. De repente ele ouviu um barulho na floresta e olhou na direção.
– Quem está aí? – perguntou procurando por algum cheiro.
– Opa, você me pegou. – disse o rapaz rindo saindo de trás das plantas.
O rapaz parecia ter por volta dos vinte anos. Tinha cabelos escuros e olhos de um azul muito chamativo. Maurício sentiu um arrepio na espinha quando o viu, percebendo algo de diferente no mesmo.
– O que está fazendo aqui, garoto? Não sabe que a floresta à noite é perigosa?
– Ah, eu estava andando pelo bosque e acabei me perdendo da trilha. – disse rindo. – E você? O que faz aqui?
– Vim caminhar. – disse Maurício suspirando. – Olhar o céu…
– Está uma bela noite mesmo. – disse com um sorriso de canto olhando a lua. – Bom, o senhor pode me dizer pra onde fica a estrada? Está ficando tarde, tenho compromisso.
– Ah, claro. – Maurício apontou. – É só seguir reto nessa direção que você acha a trilha.
– Ahhh! Obrigado, senhor…
– Me chame de Maurício.
– Ok, Maurício. Até algum dia, quem sabe.
– Até. – e o rapaz saiu andando na direção indicada. Maurício ficou o observando atentamente até perdê-lo de vista.
– “Esse garoto não é normal. Aqueles olhos parecem até os de um… Não, não pode ser. Você tá viajando, Maurício!”
A meia-noite chegou voando. O sino da igreja podia ser ouvido ao longe. Maurício ficou nu e se levantou olhando a lua. De repente os seus olhos se tornaram amarelos e cada músculo seu corpo começou a doer. O homem gritou de dor e caiu de joelhos no chão. Os pelos começaram a crescer, a configuração de suas pernas começou a mudar, um focinho surgiu em seu rosto. A transformação estava completa.
– AUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!
O lobisomem correu para dentro do mato indo cumprir a sua triste sina.
~
Na manhã seguinte, Ana Luísa acordou em seu quarto. Como era sábado e não havia aula resolveu ficar um pouco mais na cama. Ela só conseguia pensar em Maurício, em seu sorriso misterioso e olhar entristecido… O que será que ele guardava? Qual a sua história?
De repente ela ouviu vozes na casa. Seus tios com certeza já haviam chegado para uma visita rotineira. Ah, e é claro, não podia esquecer da peste do…
– ANAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! – berrou o garotinho entrando no quarto e pulando em cima de Luísa.
A peste de seu primo Gabriel.
– AIÊ! – gritou a garota levando uma joelhada “sem querer” bem no meio do rosto.
– Ah, Aninha. Já acordou, querida? – disse a mãe aparecendo na porta junto com a tia.
– Querida, trouxe um presente!
– Oi, tia! SAAAAAAAAAAI! – berrou a garota ao receber um ataque de beijos do pirralho. Ah, “pirralho”. Era assim mesmo que Ana se referia a ele.
– DESCULPA, ANINHA! DESCULPAAAAAAA!
Depois que conseguiu tirar Gabriel de cima, Ana foi para a sala com a mãe e a tia. O tio Marcos a cumprimentou e foi para o lado de fora da casa tragar seu cigarro. A tia Isabela pegou sua bolsa vermelha e depois de revirá-la até o último centímetro retirou uma caixinha cor-de-rosa amarrada com um laço extremamente grande para a mesma.
– Aqui, querida. – disse a entregando o presente. – Espero que goste.
Luísa sorriu e desfez o laçarote. Ficou meio receosa de abrir a caixa, pois a última coisa que havia ganhado da tia tinha sido um pantufas de aranha. NUNCA que ela usaria aquilo! A garota olhou para a tia que estava toda sorridente e em seguida para caixa, a abrindo. Dentro dela brilhava um cordão de prata pura com um pingente em formato de uma meia-lua. Ana sorriu de ponta a ponta, estava aliviada.
– É lindo, tia! – disse a abraçando e a dando um beijo na bochecha. – Obrigada! Adorei!
– Que bom que gostou, querida. – Isabela agora parecia satisfeita – É de prata mesmo hein, cuidado para não perder!
– Não vou. – disse já colocando o cordão no pescoço.
– Bem, agora vamos tomar café? – sugeriu a mãe de Ana.
Todos foram para a cozinha – Ana, a mãe, o pai, tio Marcos, tia Isabela e Gabriel. O pai, como de costume, ligou o rádio para ouvir as noticias da manhã.
“… Hoje de manhã, no povoado de Piedade foram encontrados dois homens mortos. Seus corpos estão brutalmente por cortes e mordidas. O coronel Borges sugere a volta do lobisomem…”
– Lobisomem? – perguntou Ana.
– Ah, é… Nunca te contamos? – perguntou o pai.
– Há uns vinte anos atrás o coronel tinha uma filha chamada Rosa. Essa moça era uma jovem muito bonita e todos os homens da cidade a desejavam.
– Mas só um conseguiu a ter. – completou a mãe.
– Me lembro bem dessa história. – disse o tio tendo um ataque de tosse. Isabela deslizava a mão pelas costas do marido preocupada.
– Esse homem se chamava… Xii, deu um branco agora. – disse a mãe envergonhada.
– Eu também não lembro.
– Nem eu.
– N-emm cof cof e-eu!
– Hum… O nome não é importante. – brincou a mulher tentando se esquivar da gafe. – Bem, os dois se amavam muito. O coronel, como sempre, ficava bastante encima deles, porém… Houve uma noite… Não gosto nem de lembrar.
– Era uma noite de lua cheia. – continuou o pai. – Aquele rapaz se transformou em lobisomem e assassinou Rosa. Depois disso ninguém nunca mais o viu…
– AUUUUUUUUUUU! – brincou Gabriel mordendo o braço de Ana.
– SAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI!
~
– O QUE!? – gritou Maurício dando um soco na mesa que quase a fez quebrar.
– Dois homens foram assassinados, Maurício. – disse Vovô lendo o livro.
– Não foi eu! Tenho certeza disso! Não pode…
– Eu sei que não foi. Você estava muito longe da cidade, não é possível…
– Mas então…
Vovô olhou Maurício nos olhos e sorriu, o que o fez logo perceber o que ele queria dizer.
– Não, não pode… Você está querendo dizer que…
– Tem outro lobisomem na cidade, Maurício.
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