Mistérios da Meia-Noite escrita por LadyWolf


Capítulo 7
Capítulo III: Sentimentos sob a luz do luar




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Naquele mesmo dia, após dar aulas para as turmas A e B do primeiro ano do ensino médio, Maurício voltou para casa. Já passava das seis horas da tarde quando a porta da velha cabana foi aberta. Vovô estava em seu pequeno laboratório – lembram da porta trancada? É lá! – lendo um livro bem grande. Maurício sabia muito bem o que ele estava fazendo.

– Vovô, cheguei. – disse o homem pondo a maleta sobre o sofá e indo até o laboratório.

– Maurício! – disse ainda com os olhos fixos nas linhas. – Como foi na escola?

A imagem de Ana Luísa veio a sua cabeça no mesmo instante.

– Foi ótimo. – disse disfarçando com um sorrisinho.

Vovô o olhou e se aproximou aos poucos erguendo o par de óculos. Seus olhos foram aos de encontro aos de Maurício, os olhando até a alma.

– E a garota?

– Que garota?

– Você sabe muito bem do que estou falando. – disse o ancião desviando o olhar e voltando para o banquinho.

Maurício odiava com todas as forças quando ele fazia aquilo. Não havia como esconder nada daquele velho!

– Sua telepatia é realmente incrível.

– Mas quem disse que eu li sua mente? Dá pra ver no seu olhar… Maurício, você está se apaixonando outra vez.

– N-Não estou não! – disse o homem corando.

– Uhum…

– Tá, talvez…

– Quem é a moça?

– É uma aluna minha. O seu nome é Ana Luísa Nunes, e a vi ontem pela primeira vez, na igreja. – os olhos de Maurício brilharam. – Ela estava tão linda…

– Quantos anos a guria tem mesmo?

– Dezessete anos.

– Dezessete… – o velho parou pensativo por alguns instantes, mas logo mudou de assunto. – Hum, está com fome?

Maurício se assustou com a mudança brusca de assunto.

– Ér… Estou sim.

– Vamos comer então. Fiz uma sopa de içá deliciosa!

Sempre que Vovô fazia sopa de içá o homem se lembrava do primeiro dia naquela cabana e da sua grande surpresa. Mas com o tempo acabou gostando de comer uma formiguinha aqui e ali. Até que não era tão ruim!

Os dois comeram – milagrosamente – em silêncio. Vovô estava pensativo demais, parecendo tramar alguma coisa. Já Maurício não ousava atrapalhá-lo quando isso acontecia, tinha até medo do que podia sair daquela boca enrugada.

Após o jantar o novo professor de biologia resolveu ir dar uma volta. Quando a porta da sala da casa se fechou, Maurício tomou a forma de um lobo de pelagem negra e saiu caminhando sem rumo refletindo sobre a sua vida.

Maurício POV

“Maurício, trinta e oito anos. Filho de uma lavadeira muito pobre que nunca mais viu e um pai que nunca conheceu. Era apaixonado por Rosa, filha do coronel Borges e pretendíamos nos casar muito em breve, mas… Aconteceu. Fui infectado pelo vírus da licantropia e quando menos esperava tive a primeira transformação. Eu assassinei Rosa. Minha amada Rosa… Nunca mais pude voltar para a casa de minha humilde mãe. Me pergunto o que ela deve ter pensado disso tudo… Foi naquele dia que conheci o Vovô. Ele não é meu avô de verdade, mas é como se fosse. Ele me acolheu em sua casa, me deu comida e roupas, e ensinou tudo o que ele sabia sobre a natureza e mundo. Aprendi a fazer remédios, poções das mais diversas e a me transformar em lobo. Podemos dizer que agora sou animago, ou um licantropo que conseguiu se aproveitar da própria maldição. Devo muito àquele velho, e ele sabe muito bem disso. E como se não bastasse todas as coisas que ele fez por mim, me fez ter menos medo de me aproximar das outras pessoas e acabei voltando a conviver entre elas. Agora sou professor em uma escola da igreja e andar novamente entre os jovens, o meu último contato antes de me transformar naquela coisa. Mas algo me incomoda muito nessa história. A menina Ana Luísa… Por que me sinto tão atraído por tal garota? Não passa de uma estudante como as outras, porém os seus olhos me sugam, meu corpo estremece, as mãos suam… Não, eu não posso me apaixonar outra vez! Ah, por favor, Maurício! Ela é só uma criança! Se procurasse ter uma relação com ela iria ser chamado de pedófilo! Mas… Bem que eu queria tê-la em meus braços agora, nessa noite de lua. Acariciar sua pele branca e com pequenas sardas, beijar-lhe os lábios rosados… Sentir o calor de seu corpo…”

Quando Maurício se deu conta já estava chegando ao povoado. As ruas vazias, as luzes das casas apagadas. O lobo foi andando devagar até que passou frente a uma casa azul muito bonita. Para sua surpresa, na janela estava Luísa sentada olhando para o horizonte.

– Se essa rua, se essa rua fosse minha, - cantarolava a menina baixinho. – eu mandava, eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante para o meu, para o meu amor passar.

Maurício ficou encantado com a bela voz da menina.

– Nessa rua, nessa rua tem um bosque que se chama, que se chama solidão. Dentro dele, dentro dele mora um anjo que roubou, que roubou meu… - ela parou de cantar ao ver o lobo negro na calçada do outro lado da rua a olhando. Porém, como a rua estava escura, Luísa pensou ser apenas um cachorro perdido.

A menina resolveu ir dormir, já era mais de meia-noite. Quando se virou para dar a última olhada no cãozinho, Maurício já havia desaparecido.


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Notas finais do capítulo

[Música: https://www.youtube.com/watch?v=jchWOXe9fp0
Espero que tenham gostado! ]