Mistérios da Meia-Noite escrita por LadyWolf
Maurício estava sentado na janela da velha cabana observando o céu estrelado. A lua era minguante, por isso não podia ser vista. O homem estava pensativo sobre os últimos acontecimentos: o novo trabalho, Ana Luísa, Vovô e seu braço quebrado, o ômega quase ninja... Há quanto tempo não tinha uma vida tão movimentada? Talvez desde que era adolescente e aprontava poucas e boas na escola, ficava até tarde na rua e quando fugia com Rosa a noite para olhar as estrelas... Exatamente como fazia agora.
– Pensando na morte da bezerra, Maurício? - perguntou Vovô saindo do pequeno laboratório, o braço ainda pendurado.
O lobo somente olhou o velho, mas nada respondeu.
– Você está muito melancólico ultimamente. - disse o velho tocando sua testa com o indicador. - Por que não chama a menina Ana Luísa para sair? Acho que vai te fazer bem.
– Chamar a Luísa pra sair? Duvido que ela vá aceitar. Sou só o professor de biologia, um homem de trinta e poucos anos... Velho demais para uma mocinha como ela.
– Ah, não “sair” do jeito que você imagina. Mas por que não a chama para tomar um sorvete depois da aula? Não é nada demais!
– Vou pensar nesse caso. - disse Maurício pulando para o lado de fora da casa. - Vovô, vou andar um pouco.
. . .
A semana passou voando e já era sexta-feira. Maurício dava a última aula, que era para a turma do Primeiro Ano A. Uma turma pequena, fácil de controlar.
– Vamos lá pessoal, me ajudem. Como fica esse cruzamento? - perguntou Maurício já com o giz preparado para montar a tabelinha.
– AA, Aa, Aa, aa. - responderam os alunos enquanto o professor anotava as respostas no quadro.
– Então, qual a chance do filho desse casal ser homozigoto dominante para a característica olhos azuis?
– Vinte e cinco por cento!
– Muito bom, pessoal! Estão de parabéns. - disse Maurício sorridente. - Bom, chega de matéria por hoje né? Agora vamos anotar o dever de casa. Façam todos os exercícios da página trinta à trinta e cinco, ok?
– Vale nota, professor? - perguntou um menino moreno.
– Aluno é um bicho complicado hein. Só funciona à base de nota.
Todos riram. Logo em seguida o sinal bateu e Maurício liberou os alunos. Quando saiu da sala viu Luísa passar no corredor e se lembrou das palavras de seu velho mestre. Ele respirou fundo, estufou o peito e foi até a menina.
– Senhorita Luísa. - disse tocando seu ombro. Ela, Eloá e Clarisse se viraram
– P-Professor? - peguntou ela ficando totalmente vermelha e confusa.
– Bem... Ér... Queria conversar um pouco com você. Gostaria de tomar um sorvete?
Eloá e Clarisse riram, deixando Luísa mais nervosa.
– Ér...
– É claro que ela quer, professor! - disse a ruiva empurrando a amiga.
– Ei! E–eu... Tá...
Maurício levou Luísa até a lanchonete do outro lado da rua. Era um lugar bastante colorido comparado com o resto da cidade. Eles se sentaram a uma mesa e passaram a folear os menus, porém Ana Luísa estava um pouco acanhada por ter pouco dinheiro.
– Pode pedir qualquer coisa, eu pago.
– Mas... - ela olhou o professor já querendo dizer algo, mas ficou encantada demais por aqueles belos olhos escuros.
Os dois ficaram calados por alguns instantes apenas se olhando. Porém o silêncio foi interrompido pela garçonete.
– O que vão querer?
Aluna e professor voltaram a Terra.
– Então, já se decidiu, senhorita? - perguntou Maurício.
– Eu quero... Vou querer um milk-shake de morango com calda de chocolate.
– E o senhor?
– Vou querer o mesmo. - respondeu Maurício sorrindo.
– Obrigada. Com licença. - a garçonete anotou os pedidos e se retirou.
– Professor, posso te perguntar uma coisa?
– Claro, senhorita.
– Pode me chamar de Luísa, tá? - a menina disse um pouco sem jeito.
– Está bem, Luísa. O que quer perguntar?
– É que... Por que me chamou para tomar um sorvete?
– Bem, é que você é uma de minhas melhores alunas!
– Não parece isso.
Maurício engoliu seco.
– Como assim?
– É que... Nada, deixa pra lá.
Não demorando muito os seus pedidos chegaram. Enquanto tomavam os milk-shakes professor e aluna conversavam. Luísa havia se soltado um pouco na conversa e Maurício tinha um sorriso muito bobo no rosto.
– Sabe, Luísa. Você me lembra alguém...
– Quem?
– Minha noiva.
– Você tem uma noiva?
– Eu tive, há muitos anos atrás... – disse com o olhar agora um pouco entristecido.
– O que aconteceu com ela?
– Ela morreu, foi assassinada...
– Nossa, que triste... - disse Luísa. - Meus pêsames.
– Mas isso já tem muitos anos, sabe. - disse forçando um sorriso. - Já me conformei...
– Desculpa perguntar, mas qual era o nome dela?
– Ah, era Rosa.
– Rosa? Já ouvi esse nome em algum lugar. - disse tentando se lembrar. Mas não vinha nada em sua cabeça.
– É um nome comum. - Maurício sorriu e olhou o relógio. Já ia dar sete horas da noite. - Poxa! Olha a hora! Moça, pode trazer a conta, por favor?
Após pagar a conta os dois saíram da sorveteria e o homem fez questão de levá-la até em casa. Os dois continuaram a conversa de forma animada até que finalmente chegaram a porta da casa de Luísa.
– Pronto, está entregue. - disse sorrindo.
– Obrigada por tudo, professor.
– Não precisa agradecer. Bom, até semana que vem.
– Até.
– AH! E não saia a noite. Essa cidade está muito estranha ultimamente.
– Está bem.
Maurício acenou e saiu andando com as mãos no bolso. Luísa ficou o olhando se afastar, reparando em um tipo de tatuagem negra em sua nuca que ela não conseguiu ver direito o que era.
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No próximo capítulo teremos ação! Fiquem ligados! :3