“Haviam pessoas nas calçadas em estado miserável pedindo qualquer coisa, eu não podia ouvir.De repente há uma luta interminável, há muito sangue, corpos de pessoas mortas no chão, há escuridão, dor, agonia, arrependimento, prazer. A luta retorna, algum tipo de raio me atinge e eu caio no chão.Será que sou eu? Levanto-me rápida e atinjo o homem esdrúxulo que havia me acertado, seus olhos brilham, mas não como os de Jenna.A luta retorna e em seguida a escuridão também, de repente apenas morte, dor, prazer, dor, dor e dor.”

Despertei arfante e suando como sempre, os pesadelos não me deixavam nunca.Hoje havia sido um pouco diferente, geralmente são homens que se transformam em monstros ou monstros, bichos horrendos, verdadeiros demônios, o que sempre me deixava mais atormentada.Olhei para Nathan que ainda dormia do meu lado com seu peitoral dourado e definido descoberto até a sua cueca boxer, levantei-me e fui até o banheiro para molhar o rosto, arfei com o frescor da água no rosto colocando um pouco na nuca também, passei minhas mãos pelos cabelos enquanto observava meu rosto de morta viva no espelho e acabei reparando nos meus olhos, haviam pequenas veias escuras em torno da minha íris e pareciam estar contagiando-a, deixando meu olhar mais escuro.Aproximei-me mais do espelho forçando para que meus olhos abrissem mais com meu polegar e indicador, as veias invadiam minha íris lentamente, ver aquilo se mexendo era muito bizarro, de repente ficou pior, vi olhos totalmente escuros no lugar dos meus, só que com seu redor arroxeados e iluminados.Com o susto cai para trás no banheiro, chocando minhas costas contra a parede.

“Mas que porr..” falei aproximando-me do espelho mais uma vez, meus olhos estavam normais e as veias iam regredindo aos poucos.

Voltei para cama e aconcheguei-me no corpo de Nathaniel, ou pelo menos tentei,ele não gostava que eu colocasse minha perna sob ele.Grunhi frustrada e fui até minha cômoda pegar uma calça de moletom para vestir, perto dela havia minha calça jeans com um papel para fora, tirei-o com curiosidade e me arrependi amargamente.Era um pedaço de jornal que no verso havia foto minha com Jared em Dallas, eu linda em meu vestido roxo e ele terrivelmente bonito em seu terno preto, nos encarávamos não olhando para foto, fora tirada no dia em que assumiu que lembrava-se de nós quando criança, que o fiz se ajoelhar de dor.Respirei fundo para afastar as lembranças, soltei a foto na gaveta e sai do quarto direção á Sarcinulis após colocar meu moletom.

Peguei um livro de feitiços para ler e fui aconchegar-me nas almofadas que tinham na janela, um dos meus cantos favoritos na casa, ali tinha o conforto, a luminosidade e toda a tranqüilidade que eu queria.

O sol frio chegava tímido e brando no horizonte deixando um lindo degradê do azul ao anêmico amarelo , mas já era o suficiente para minha leitura, lá fora ainda caia os resquícios do inverno, mantendo a paisagem branca, fria e morta, tais características que se assemelhavam á Jared, aquele maldito demônio.Grunhi e retornei com minha leitura tentando voltar minha mente para a falta que um chocolate quente de Vernon estava me fazendo naquele momento, mas meus olhos captaram Owen lá fora, andando pela neve em direção ao gazebo no jardim, parecia impaciente ou até mesmo atordoado.Resolvi descer para saber o que havia acontecido.

Calcei minhas botas e um grosso casaco, assoprei minhas mãos assim que sai pelas portas do fundo ao encontro de Owen.

“Hey!” o chamei e ele se virou no mesmo instante, de longe era muito parecido com Jared se não fosse pelos cabelos castanhos escuros, como os de Harahel fora um dia .Aproximei-me mais, mas ele veio ao meu encontro.

“Hey.” Sorriu com a ponta de seu nariz rosada.

“Está tudo bem?” perguntei

Ele deu um riso rápido e esbaforido sem humor, soltando uma bruma branca de sua boca.

“Não, tenho sentido coisas estranhas, uma inquietação, eu não sei explicar.” Falou enquanto subia os degraus do coreto, sentando-se no banco que nele havia. “Um pressentimento de algo ruim vai acontecer, entende?”

Assenti com a cabeça.

“Fora isso é a questão do meu pai, Harahel, ele não me ensina nenhuma arte celestial, está sempre me evitando...o que será que eu fiz de errado?” perguntou com certo drama, até um pouco demais.Revirei os olhos discretamente.

“Ah é complicado, ele passou a vida cuidando do” fiz uma pausa para engolir o gosto amargo que ficava em minha boca antes mesmo de citar seu nome “Jared.” Aspirei ar frio pra tirar a pedra que logo se instalara na minha garganta “Deve ser complicado pra ele, dê tempo ao tempo certo?”

“Aquele bastardo!” rosnou Owen, logo uma gota de sangue escorreu de seu nariz, ele pareceu não perceber “Só de lembrar dele, ouvir seu nome me dá uma raiva tão grande, se ele aparecesse em minha frente aqui agora eu o mataria, por tudo o que ele nos fez, e como se não bastasse, roubou a porra do meu pai!” seus punhos estavam tão cerrados que os nós de deus dedos estavam brancos que nem a neve.

“Essa raiva não faz bem para você.Acalme-se.” Falei, mas uma parte de mim ironizava e duvidava muito que ele fosse capaz de matar Jared, querendo me fazer rir quando ele disse tal coisa.

“E você como está? Por que está acordada á essa hora?”

“Não consigo dormir.”

“Pesadelos hoje?”

“Pesadelos há 3 meses.” Murmuro impaciente.

“Nossa Kate isso é péssimo, é devido á tudo que aconteceu?” seu sotaque britânico se sobressaiu nessa frase o que me fez sorrir um pouco, tirando-me do mau humor que vinha se instalando em mim. “Está rindo?”

“Sim, seu sotaque voltou um pouco, gosto, acho engraçado.” Apertei a ponta do meu nariz

“Ah sim, que bom que eu te divirto.” Ele deu um sorriso simpático, e meu mau humor estava de volta.

O que há comigo?!

“Bem, vou entrar e tentar voltar á dormir.Bom dia Owen.” Falei levantando-me.

“Bom dia Kate.” O ouvi antes de fechar a porta.

Um cheiro inebriante de waffles veio da cozinha até mim, o que me fez sorrir e correr até a mesma.Vernon já pilotava os fogões á toda preparando o café da família, nosso chefe de cozinha e meu primo de algum grau.Era filho da filha do irmão de meu avô Amodoro, vinha morando aqui nos últimos 30 anos por adoração á Genevive e a França, e todos os dias de manhã e á noite eu agradecia por essa sua decisão, era um maravilhoso chefe de cozinha o que era aceitável com tantos anos de experiência na cozinha, embora só aparentasse ter 25 anos com seus cabelos negros como azeite balsâmico que lhe batiam até a orelha agora amarrados para trás, vestia um suéter verde musgo arregaçado até os cotovelos enquanto chupava um dedo provando algum tipo de calda.

“Hmm, posso provar?” perguntei fazendo com que levantasse seus olhos incrivelmente azuis para mim, abrindo um sorriso em seguida.

“Claro! É uma calda de maçã caramelada, hortelã e amoras.” Falou enquanto colocava um pouco numa colher para mim, em seguida dando-me para provar. “O que acha?”

O gosto era incrivelmente bom, doce e meio refrescante.

“Uma delícia Vern, assim como tudo o que você faz.” Dou-lhe um sorriso e provo mais um pouco da calda, ele esboça um sorriso satisfeito e surpreso que lhe chega até os olhos.

“Obrigado Kat, você sempre muito doce, tão doce quanto esta calda, sim?” assenti e ele sorriu voltando ás suas tarefas no balcão “O que faz acordada á essa hora?”

“Hm, pesadelos.” Digo pegando um waffle e encharcando-o com calda.

“Entendo, faz tempo que não tenho um.A última vez que tive foi que meu restaurante pegava fogo comigo dentro, acordei sentindo as chamas dentro de mim, um as sensação horrível.” Bufou e sacudiu a cabeça provavelmente tentando afastar a ideia de sua mente enquanto mexia na panela deixando deus braços torneados flexionados.

“Bom dia.” Cantarola Genevive aproximando-se de nós.

Passa por Vernon dando-lhe um beijo na bochecha e pegando um pedaço do bolo de rolo que ele havia feito, então aproximou-se de mim dando-me um beijo em minha testa.

“Aah, precisa-se de ar novo nessa casa.” Resmungou divertida e elevou as mãos, movimentando-as lentamente enquanto murmurava algo quase inaudível, fazendo com que todas as grandes janelas da cozinha se abrissem um pouco, um sopro frio adentrou a cozinha arrepiando-me.Ela aspirou o ar e respirou fundo esboçando um sorriso. “O frio logo vai embora, e minhas belas plantas estarão de volta.” Murmurou consigo mesma enquanto olhava por todo o balcão “Katherine!” falou assustando-me enquanto pegava em meu rosto “Mas que cara de morte é essa? Dizem que o amor faz bem, mas parece que seu menino não está fazendo direito, olhe essas olheiras!” acariciava meu rosto com suas mãos enrugadas e macias quase fazendo-me deitar meu rosto sob seu toque.

“Não é culpa dele, Nathan se esforça, me sinto bem ao lado dele, o problema é meu ex.” murmuro revirando os olhos.

Genevive estuda-me carinhosamente com seus olhos acinzentados, então pega em meu queixo forçando-me olhá-la nos olhos.

“Sabe, eu posso lhe fazer um chá de uma planta... mística que tenho em meu orquidário que lhe faria muito bem...” falou dando-me um sorrisinho cúmplice o que me fez rir.

“Oh vovó, já oferecendo chás ilícitos á minha filha á essa hora da manhã?” surgiu minha mãe enrolada em um grande e grosso xale, os cabelos negros e despenteados presos num coque despojado.Aproximou-se de Genevive dando-lhe um beijo no rosto e desejando-lhe bom dia, um beijo no ombro de Vern e por último um em mim, com um abraço.

“Bom dia meu amor.” Falou beijado meus cabelos.

“Bom dia mãe.” Abraço-a de volta.

Não demorou muito para que todos se juntassem a nós, Isaac e Jenna ficaram trocando discretas e afetuosas carícias próxima a porta, Emma e Fleur atacavam a mesa na copa, Harahel tomava seu café distraído, Tolec voltara de sua corrida matinal e comia algumas frutas, Vourgan desfrutava de seus cereais coloridos, Amodoro que, curiosamente havia acordado tarde, lia um jornal á pequena mesa da cozina e Nathan conversava comigo sobre coisas aleatórias antes de partir pra sua “Missão”.

“Podíamos mais tarde pegar um cinema” falou acariciando minha coxa sobre a calça enquanto bebericava mais um pouco de seu café.Estávamos sentados um de frente para o outro no corredor do segundo andar.

“Vamos, embora eu não vá entender nada” ri “Meu francês está uma bosta.” Revirei os olhos.

Revirei os olhos e ele me roubou um beijo afetuoso que me fez sorrir em seus lábios.

“Essa é a melhor tradução entre duas línguas.” Falou sorridente e próximo de mim com seus olhos lindamente caramelados, seu nariz fino e seus lábios carnudos.Dei-lhe um sorriso e retomei nosso beijo onde eu depositava todo o carinho e respeito que sentia por ele, mas a falta daquela chama da paixão me frustrava.

Terminou o beijo com um selinho casto e um suspiro satisfeito, despediu-se de mim e partiu para sabe-se lá onde.

Suspirei tediosa, observando aquela imensa casa, todos com seus devidos afazeres, satisfeitos com elas, enquanto eu quando não estava irritada ou frustrada morria de tédio.Fui a Sarcinulis e busquei mais conhecimento, li coisas interessantes as quais eu podia treinar em nosso jardim gelado.

Limpei o balanço coberto de gelo, sentei-me para continuar a leitura e iniciar o treinamento até que levei uma bolada de neve na testa.Olhei para cima irritada já pronta para matar um, mas seria impossível ficar irritada com o sorriso infantil e arteiro do hiperativo Vourgan.

Abaixei-me lentamente e comecei a fazer minha bola de neve para contra atacar, mas ele fora mais rápido já me atirando outras duas bolas, então a guerra havia começado.Encenei uma cara de malvada que o fez arregalar seus incríveis olhos âmbar, quase tapados por seus cabelos castanhos, e começar á correr, atirei a bola de neve e com um feitiço de levitação a comandei para pegá-lo de frente, o que o fez gritar com a surpresa e cair numa gargalhada.

“Ah Kat!Assim não vale!” gritou enquanto preparava mais bolas.

“Vem cá então que eu te ensino como fazer isso.” Falei e ele se aproximou curisoso.

Nunca o vi tão calmo e parado por tanto tempo, mas o fez enquanto lhe explicava como conjurar o feitiço, tentou várias falhas vezes, até se cansar e querer voltar á brincadeira, que me tomou a tarde inteira até me levar ao cansaço.

Depois do jantar, o qual Nathaniel não compareceu e nem ligou para me dar satisfações, fui direto para minha cama, na tentativa de ter um sono limpo.

“Quatro homens andavam á minha frente acompanhados por 2 mulheres ou possivelmente meninas com poucas roupas.Pareciam estarem embriagados, um até deixou a cerveja cair, todos riram até entrarem no beco próximo, de repente uma menina saiu correndo gritando, corri para o local e vi os homens na tentativa, quase com sucesso de tentar estuprar a menina. Sou vista. Eles começam á gritar e xingar, sabia apenas por suas bocas exageradamente abertas e as veias realçadas no pescoço, pois não conseguia ouvir.Houve um flash e de repente a luta começa, a menina corre com suas roupas rasgadas e eu por algum motivo estranho olhei para seu traseiro o que me trouxe um soco no rosto e quase me derrubou, então os 4 homens vieram para cima de mim.”

Acordei ofegando e suando no escuro, o quarto estava num breu, tateei Nathaniel na cama, mas não consegui encontrá-lo. De repente minha garganta estava muito seca e decidi tomar um copo d’água, porém quando fui pisar no chão não houve sequer atrito, senti meu corpo cair num buraco, um arrepio percorreu todo meu corpo e senti brevemente como se minha alma estivesse sendo sugada e eu estivesse sendo sugada por inteira num breu sem fim.

Debati-me com alguns paralelepípedos duros e frios, o choque térmico arrepiou todos os pelos do meu corpo e percebi que estava na rua que havia visto minutos atrás em meu sonho vestindo apenas uma calça de moletom e a parte de cima de um baby doll de alças justa ao meu corpo.Comecei a tremer, meu queixo batia freneticamente devido ao frio, bruma branca saia de minha boca á cada bater de dentes, meus lábios ressecaram rapidamente, quando levantei-me finalmente reparei que não estava sozinha, haviam os 4 caras do meu sonho no beco e para meu maior desprazer, eles estavam com Jared.