Nenhuma das duas mulheres poderia dizer com precisão quanto tempo havia passado, Andy ainda não tinha parado com as palavras de carinho, mas Miranda, as poucos, havia parado de chorar. Delicadamente Andy foi afastando Miranda do abraço, para que pudesse olhar para ela, Miranda retribuiu o olhar de Andrea apenas por um segundo e depois voltar a olhar para o chão.

— Você pode andar? Andy perguntou em voz baixa.

Miranda acenou positivamente com a cabeça. Andy, em um movimento rápido tirou o único sapato que Miranda ainda usava. Miranda tentou levantar, mas parecia ser doloroso demais.

— Miranda? Andy disse, muito suavemente, e esperava que Miranda entendesse o que ela estava realmente tentando perguntar.

— Minhas costelas. Miranda falou enquanto passava a mão sobre o local dolorido.

— Tudo bem, deixe-me ajuda-la?!... Andy disse, demonstrando uma confiança que ela não sabia se realmente tinha.

Andy pegou umas das mãos de Miranda, que não a afastou. Miranda apoio a outra mão no ombro de Andrea, e assim ela pode ficar de pé, mas a dor era evidente. Andy passou umas das mãos em torno da cintura de Miranda.

— Você precisa tomar um banho e depois vamos cuidar dos seus machucados. Andy disse, muito suavemente.

Miranda olhou para Andy, profundamente, que começou a ficar um pouco desconfortável. Parecia que Miranda queria dizer alguma coisa, e estava estudando se deveria ou não, Andy queria saber o que era, mas não se atreveria a perguntar. Miranda se aproximou ainda mais de Andrea. As duas começaram a andar. Miranda estava tentando não transparecer a dor que estava sentindo, ela não gostava da ideia de parecer fraca, principalmente na frente de Andrea. De repete ela se viu muito preocupada com a opinião da sua assistente, não que um dia ela fosse admitir isso. Miranda colocou a mão em cima da mão da Andrea, que estava em sua cintura. Elas desceram as escadas até o segundo andar, Miranda as guiou até um quarto, Andy estava deduzindo que seria o seu quarto. As duas entraram e se dirigiram até o banheiro, Andy abriu a porta, Miranda suavemente tira a mão de Andrea de sua cintura e entra no banheiro, sozinha, mas Andy a segue de perto, mesmo ela sabendo que não era exatamente o que Miranda queria que ela fizesse. Andy fica entre Miranda e a porta, elas se olham, dessa vez Miranda não desvia o olhar, mesmo o silêncio não sendo desconfortável Miranda desejava ter algo para falar.

Miranda queria poder ler os pensamentos da outra mulher, saber o que ela estava achando sobre tudo isso, saber o que ela estava pensando sobre ela, e o mais importante, saber por que Andrea estava fazendo tudo isso. Miranda continuou olhando para Andrea, e tudo o que ela conseguia ver em seus olhar era compaixão, carinho, amor, AMOR?

‘Amor? De onde eu tirei isso? Agora eu estou vendo coisas? Talvez eu esteja ficando louca? Ou, só velha mesmo, foi o que o Stephen disse afinal. Por que ela está aqui? Por que eu estou permitindo que ela esteja aqui? Por que eu estou aqui parada olhando para ela? À quando tempo estamos aqui? Ela deve achar que eu estou caducando! Por que eu não tenho nada a dizer? Eu sempre tenho algo a dizer.” Miranda estava confusa, ela não estava acostumada a ter pessoas se preocupando com ela. Miranda passou a mão pela sua saia, limpou a garganta. Andy ficou esperando que ela falasse algo, mas isso não aconteceu.

— Você precisa de ajuda? Andy perguntou.

Miranda olhou para Andrea como se ela tivesse desenvolvido uma segunda cabeça.

Andy ficou esperando por uma resposta, que não veio.

— Miranda... Ela iria tentar de novo, mas foi interrompida.

— Você já pode ir agora Andrea, isso é tudo. Miranda disse firmemente.

— Tudo bem, eu vou esperar ali fora. Andy já se virava para sair.

— Acho que você não entendeu, é para você ir embora! Miranda estava começando a ficar irritada.

— Isso não vai acontecer Miranda! Andy voltou a encarar Miranda.

— Andrea... Miranda começou.

— O que? Andy interrompeu.

— É sexta-feira à noite, você não tem nada melhor para fazer? Miranda disse, secamente.

— Não. Eu estou exatamente a onde eu deveria estar. Andy continuou, olhando nos olhos de Miranda.

— O que você quer Andrea? Miranda falou um pouco mais alto do que o normal.

— Nada. Miranda... Ela não conseguiu terminar.

— Você deve estar gostando de me ver assim, não é? Miranda disse, abusando do sarcasmo.

— NÃO!

— Vai ser uma ótima história, não é Andrea?...

— Miranda...

— Para os seus colegas de trabalho, para os jornais!

— Miranda, eu não...

— “A quebra da Rainha do Gelo” eu posso até ver as manchetes Andrea...

— Miranda! PARE! Andy gritou.

Miranda finalmente parou e voltou a olhar para Andrea. Miranda podia ver nos seus olhos que as suas palavras haviam magoado Andrea.

— Eu não irei falar sobre isso com ninguém, eu nunca irei usar isso contra você. Não se preocupe, segunda-feira quando você chegar em Runways eu já terei limpado a minha mesa, mas agora, não há nada que você possa fazer que irá me fazer ir embora. Bom, eu vou esperar que você tome o seu banho, se você precisar de mim, basta chamar. Andy disse, muito calmamente.

Andy não esperou que Miranda respondesse, ela se virou, saiu do banheiro, sem se preocupar em fechar a porta. Ela não sabia o que ela deveria fazer agora, era óbvio que Miranda não queria a sua ajuda, se ela precisava ai já era outra história. Andy não iria embora, ela estava certa disso, ele jamais deixaria Miranda sozinha agora. Desde Paris toda a dinâmica entre elas havia mudado, no início ela tentou negar isso, mas ela sabia que não podia. Andy tinha esperanças de que não fosse unilateral. Ela nem sabia o que era exatamente, ela não tinha um nome para isso, talvez não fosse nada de mais, mas, haviam sorrisos, esbarrar de ombros, Miranda pressionava os dedos sobre os seus sempre que Andy iria entregar o seu café, por muito mais tempo que necessário, e os passeios de elevador, pelo menos era assim que Andy chamava, ela se sentia muito boba por se achar especial por poder andar com Miranda no elevador, afinal, Miranda só permitia isso porque era mais prático, era isso que Andy dizia a si mesma.

Andy viu uma elegante cadeira de madeira envernizada ao lado de um criado mudo, e resolveu se sentar lá para esperar por Miranda.

Miranda não sabia como agir agora, Por que? Era a pergunta mais persistente na sua mente. Ela deu um passo em frente, em direção à porta, mas depois desistiu. Ela começou a se despir, foi quando ela começou a ter noção dos seus ferimentos, até o mais simples movimento lhe causava dor. Ela se olhou no espelho e viu os hematomas e cortes em seu rosto, os hematomas em seu pescoço, em sua barriga, agora ela entendeu o porque doía tanto andar, ela esperava não ter quebrado nenhum costela. Todo o seu corpo estava dolorido, ela parecia destruída, ela não conseguia parar de pensar sobre o que Andrea estava pensado a seu respeito agora.

Miranda entrou na banheira, primeiro limpou seus machucados, deixando todo o sangue ir embora. Depois, sentou-se, e deixou a água encher a banheira, enquanto o nível da água subia, Miranda parou e pensou em tudo o que estava acontecendo em sua vida, seus casamentos fracassados, a quase perda de Runways, tudo o que ela sacrificou para mantê-la, tudo o que ela tinha deixado Stephen fazer a ela, e Andrea... Tudo o que dizia respeito a Andrea era sempre confuso, muitas vezes Miranda não consegui entender a menina, tudo que ela fazia, desde aquela noite em Paris, quando Miranda se abriu para Andrea, ela ainda não entendia o motivo de ela ter abaixado a guarda na frente da sua assistente, ela não devia ter feito aquilo, não devia ter deixado Andrea entrar tanto.

‘Ela deve me achar patética!’ Miranda pensava. Miranda começou a chorar, ela não podia se controlar, ela estava chorando descontroladamente, soluçando, Miranda não queria que fosse assim, ela queria que Andrea se importasse com ela, que ela gostasse dela, ela queria que Andrea fosse real e que permanecesse com ela.

‘Espere! Ela ficou, ela viu o meu pior, muitas vezes, mas ela ainda está aqui, ninguém presencio tanto , ninguém ficou por tanto tempo.’ O pensamento esperançoso fez o choro diminuir, mas Miranda sabia que não deveria se entregar tanto a esperança, poderia ser perigoso. Mas não importava o quanto a sua razão dissesse que tudo aquilo parecia muito errado, ela não conseguia deixar de se sentir muito feliz por Andrea ter ficado.