Procura-se um garotinho ruivo escrita por Kalena Danvers


Capítulo 2
Capítulo 2




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Foi quase no meio das férias que eu consegui convenser meu pai de me por numa escola de verdade. Ele sempre dizia que o melhor para mim era um professor particular, de que eu poderia estudar em casa onde era mais seguro. Em partes, até entendo que meu pai tem medo do mundo, mas ele é protetor demais. Eu preciso sair de perto dele algum dia, e sabe, fazer amigos também.

Nem consegui dormir direito, estava tão empolgado. Acordei um pouco mais cedo do que deveria, queria que o dia começasse logo. Não via a hora de começar o dia, fazer novos amigos, conhecer outros adultos e aprender de tudo um pouco.

Fiquei deitado um pouco na cama, olhando o ponteiro do relógio andando ridiculamente devagar e batendo os pés um contra o outro. Não aguentava mais um único segundo, pulei para fora da cama.

Estava impaciene, meu pai não acordava então fui até o quarto dele dar um jeito nisso. Abri a porta bem devagar, sentindo um pequeno arrepio ao ouvir a porta ranger, dando uma pequena espiada para dentro. Ele estava deitado de bruços e acho até que ouvi um pequeno ronco. O cabelo dele estava todo bagunçado e a coberta estava mais pra fora da cama do que pra dentro. Acho até que estavam esquentando mais os sapatos do que a meu pai. Era a hora de acordar, então pulei na cama.

–Primeiro dia de aula! Primeiro dia de aula! Acorda, pai! Acorda, pai!

Ele levou um baita susto, até deu um pequeno grito. Seu rosto estava ameaçado e com a marca do travesseiro. Parecia um pouco perdido.

–Nemo! O que foi isso? -Ele disse, e então olhou para o relógio do celular que estava no criado-mudo ao lado da cama. -Ainda são seis da manhã.

–É, eu sei. Mas não consigo dormir e só falta uma hora para você acordar. Da pra acreditar que daqui algumas horas eu vou estar na escola?

–É, eu sei. Acho que não vou conseguir te fazer voltar a dormir, mas eu consigo. daqui a pouco o papai levanta, ok.

##

Deitei e virei a cabeça pro lado, tentando ao menos descansar por mais uns quarenta minutinhos. Sei que por um tempo Nemo me esperou sentado no pé da cama, mas logo senti as molas do colchão relaxarem perto dos meus pés.

Provavelmente ele vai tentar fazer as coisas tudo sozinho, impossível fazer ele esperar mais alguns minutos. Ouvi um barulho vindo da lavanderia, de algo caindo. Meio sonolento, desci as escada e vejo Nemo todo coberto por sabão em pó.

–Precisa tirar as roupas do corpo antes de poder lavar, sabia? -Ele me olhou com uma cara de frustração. -O que estava tentando fazer?

–Eu ia pegar a minha camiseta em cima da maquina de lavar, mas não vi que o sabão estava ali também.

–E como ele foi parar na sua cabeça?

–Preciso mesmo responder?

–Não. Acho que o cabelo azul não era a sua opção para hoje, não é! O que acha de um banho antes do café da manhã?

–Tudo bem.

–Não se machucou, né?

–Eu estou bem.

–Ta, tudo bem. Te encontro na cozinha.

Ele balançou a cabeça deixando um pouco de sabão cair no chão e segui para o banheiro. Não conseguia ficar bravo com ele, muito menos o repreender pela bagunça, mas no fundo até que teve um pouco de graça. Um aspirador de pó deu um jeito naquilo tudo. O café da manhã foi tranquilo, porém um pouco rápido, estava mais animado do que eu esperava. Eu tentava me arrumar e ele me apressava, dizia que era lento demais. Qual é a definição de tempo para uma criança de seis anos?

O vesti com uma camiseta listrada laranja, branca e preta, uma calça preta e All Star vermelho. Andava pela casa como se fosse gente grande, mexia e remexia o material escolar na bolsa e dizia inúmeras vezes:

–Vamos nos atrasar, pai.

No caminho da escola ele não parava de falar. Perguntava mil coisas e andava mais rápido do que eu, apesar de fazer um esforço de tentar mante-lo perto de mim. Seu andar me preocupava, deu umas mancadinhas aqui e ali, mas não eram muito chamativas. Só espero que os garotos daquela escola não o deem nomes bobos como perneta, pirata, ou sei la o que.

–Pai, acha que na escola vai ter um tubarão?

–De onde você tirou essa ideia?

–Moramos perto do mar, lá tem tubarões.

–Você esta indo para a escola, e não para um mergulho.

–Já viu um tubarão antes?

–Não, e nem pretendo.

–Quantos anos vivem as tartarugas?

–Eu não sei. De onde veio todas essas perguntas?

–O nosso vizinho uma vez falou que as tartarugas vivem até cem anos!

–Desde quando você conversa com os nossos vizinhos? Isso não vem ao caso. Se um dia eu conhecer um mergulhador, eu pergunto, depois de nadar com um tubarão. Tudo bem?

Ele revirou aqueles olhinhos e continuou a caminhar.

**

Faltando uns três quarteirões, o papai me segurou. Colocou as mãos nos meus ombros, ajoelhou e falou, com uma cara de preocupado.

–Quer mesmo fazer isso?

–Por que?

–Já conversamos sobre isso. Da tempo de voltar pra casa, e amanhã você já começa com uma professora nova, e em casa. Sabe, onde é seguro.

–Pai, você disse que eu podia estudar aqui.

–É, eu sei. Você quer mesmo?

–Quero!

–Então, é melhor nos apressar. Se não, vamos chegar atrasados.

##

Ele deu um sorriso e segurou na minha mão, como que dizendo "Então, vamos!". Uma preocupação veio de repente e isso apertou o meu peito. Pela primeira vez, eu estava me separando do meu filho. Uma hora ou outra isso tinha de acontecer, mas tinha que ser agora?


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