Ok,eu confesso.O caminho até o restaurante foi calmo.Calmo demais...Parecia que ele tinha prática naquilo.Isso me deu um pouco de medo,porque eu não sabia há quanto tempo ele dirigia.

Ele desligou o carro.Olhou pra mim e perguntou,brincalhão:

-Doeu?

Não olhei pra ele ao responder,não queria dar o braço a torcer.Era meio orgulhosa:

-Não,não doeu.

Olhei pra ele:

-Satisfeito?

Ele apenas chegou mais perto de mim e sussurrou no meu ouvido "Muito" e deu um beijo na minha bochecha.

Eu fiquei meio tonta,tentando entender a situação...

Não deu tempo,pois no segundo seguinte ele já tinha aberto a porta do carro e sorria pra mim convidativamente:

-Vamos?

Ele me ajudou a sair do carro com tanto cuidado que era como se eu fosse feita de cristal e pudesse quebrar a qualquer momento.Admito,eu gostava quando ele fazia isso,ele era o único que me tratava assim.

Caminhamos alguns metros de mãos dadas,dedos entrelaçados,até chegarmos ao nosso destino.

Eu parei admirada com a beleza do lugar.Era uma simples casa de pedra,florida,com um ar bem italiano.Na placa o dizer:Toscana.

-Uma cantina italiana...

-É...Eu achei que seria legal você conhecer um pouco sobre o país de onde eu venho,a culinária.Então eu pesquisei na cidade e achei esse lugar...Lindo,não?

-Perfeito.

Ele me guiou pra dentro da cantina onde,ao fundo tocava uma das alegres músicas típicas italianas.Então uma senhora gordinha,simpática veio até nós e nos cumprimentou.Depois disso eu não entendi mais nada.Ela começou a falar num italiano carregado com o Alec,que parecia entender tudo e respondia numa frequência equivalente.

Era muito estranho vê-lo falando italiano,e muito fofo também.Apesar de ele falar muito bem o português,eu ainda preferia ele falando seu idioma nativo.As palavras fluíam perfeitamente.

A senhora nos guiou até nossa mesa e nos deu o cardápio.Eu pedi um spagguetti e quando ela se virou pro Alec,este disse:

-Ah,não obrigado.Estou sem fome...

Ela se foi.

-Espera aí,Alec!Você me chama pra jantar com você e não vai comer!

-Estou sem fome,Amanda.-repetiu.

-Eu vou comer sozinha?!

-Você prometeu...-me lançou um olhar sugestivo.

Estreitei os olhos:

-Você está usando minha promessa contra mim!Isso é chantagem,sabia?

-Contanto que a gente não brigue de novo,por mim tudo bem...

Minha boca se abriu de indignação:

-Você é impossível!

-E você é linda.-disse com simplicidade.

Meus Deus porque ele fazia isso comigo?!

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O ar era gélido quando saímos do restaurante.Coisa anormal pro verão quente daquele ano.Apesar de ter ao meu lado o garoto mais lindo do mundo,eu me perguntava porque eu me sentia tão inquieta.Cruzei os braços tentando me proteger do frio e dos sentimentos ruins..Já havia algum tempo que o Alec não dizia uma palavra.Parecia nervoso,preocupado.Caminhamos em silêncio até o carro,mas,pra minha surpresa,ele avançou,como se tivesse outro destino em mente.

Eu hesitei por alguns segundos e depois o segui,relutante.Eu não me preocupei em me perguntar o que ele pretendia,pois eu já sabia.Aquele jantar não era uma simples trégua,havia algo de grandioso nas entrelinhas,mas eu só fui perceber isso um pouco tarde...

Ele me levou até uma viela escura,caminhando até o final do beco.Eu parei.Que diabos o Alec tinha em mente?Eu sabia que ele ia me contar algo importante.Mas daí a fazer isso num beco?Começei a ficar com medo.

O tempo todo ele estava de costas pra mim,sem falar uma palavra.Assim que ele parou de andar,começou a respirar rápido e profundamente.Seus músculos começaram a se retesar.

Dei um passo pra trás.Qual é o problema dele?Se queria me assustar estava conseguindo...

Ele agora estava absurdamente calmo:

Disse numa voz gélida e controlada,ainda de costas:

-Amanda eu tenho te omitido algumas coisas ao meu respeito...

-Alec,do que está falando?Vamos embora...

-Não...Está na hora de você saber quem eu sou verdadeiramente...Acho que você conquistou esse direito.

-O quê?

-Eu não sou humano,Amanda.

Foi aí que ele se virou.Agora,de frente pra mim eu podia ver.Mas não queria acreditar.Os olhos dele...eram de um vermelho-sangue tão intenso,que meu estômago se revirou de medo.Emanavam ódio,mas eram frios,não...eram gélidos.

Meu sangue escapou do meu rosto.Eu hiperventilava...

Então ele veio até mim com uma velocidade tão grande que eu só pude sentir o vento resultante do movimento.Ele me olhou com aqueles olhos mortais e eu me vi presa deles.Eu era a vítima.Então eu entendi tudo num súbito clarão de entendimento.

-Vampiro...-disse num sussurro estrangulado.

Ele tirou o cabelo do meu pescoço e pôs a mão.

-Sim...Senti sede pelo seu sangue desde o primeiro momento em que te vi.-confidenciou.

Parecia uma criança triste que foi apanhada no meio de uma travessura.

Então eu começei a chorar.Pelo fato de ter um vampiro sedento,prestes a me matar e pelo o que aquilo significava.

Eu o amava.Tinha me arrependido por tê-lo magoado tanto...Enquanto isso,ele nunca tinha dado a mínima pra mim.Só tinha se aproximado por uma coisa óbvia agora:meu sangue.E ele estava justamente tão perto de conseguir o que queria que isso me deu raiva.Num ato de fúria eu o empurrei pra longe e começei a gritar com ele,pondo tudo pra fora.

Ele nunca me amara.Só tinha cuidado de mim e fingido se importar,porque me queria e eu estava bem onde ele queria.Desprotegida.

Os gritos,combinados com o choro o assustaram,mas eu não me importava.Ele tinha me enganado.

Começei a jogar tudo ao meu alcançe nele e caminhando de costas pra saída da viela.Continuei gritando:

-EU TE ODEIO,ALEC!NÃO VEM ATRÁS DE MIM!VOCÊ É UM MONSTRO!

Uma vez na saída,começei a correr.Quando me certifiquei de que ele não viria atrás de mim,me sentei na calçada,tentando me acalmar e parar de chorar.Foi um trabalho árduo,mas,por fim,eu consegui.

Liguei pra mianha mãe.Ela não demorou muito pra chegar e,ao ver meu estado,perguntou o que tinha acontecido e eu apenas sacudi a cabeça.Ela não discutiu depois disso.

Fui pro meu quarto correndo.Pus minha camisola,prevendo a longa noite que eu teria.Quando saí do banheiro de volta ao quarto,meu coração parou.A luz do quarto estava apagada e só a luz da lua iluminava tudo.

Os olhos dela combinavam quase perfeitamente com os dele.Vermelhos-sangue.A única diferença era que seus olhos brilhavam de ódio.Ela estava furiosa.

Ela disse num sussurro de desaprovação:

-Eu pensei que você fosse confiável.Que você fosse boa pra ele...Mas eu vejo que me enganei.-dei um sorriso de deboche.

Vendo minha inércia,ela continuou:

-Você o magoou demais.Ele está mal de um jeito que eu nunca vi...E o que ele fez pra merecer isso?Amar e cuidar de uma humana estúpida!

-Mas ele é...

-Eu sei o que ele é...E isso não facilitou as coisas pra ele.Ao contrário.Manter você viva saiu muito caro...Eu disse que humanos não eram confiáveis!Mas ele não me escutou...

-Espera...me manter viva?Eu pensei que ele queria meu sangue!

-Seu sangue?Ele quer desesperadamente.Mas o nega a todo segundo.Ele te ama e é por isso que tem tentado te proteger da necessidade dele...

-Me proteger...?

-É claro,Amanda!Porque você acha que ele não te beijou quando você o atacou?...Sede...

Então a ficha caiu.E quanto mais eu entendia,mais eu ficava horrorizada.Ele me amava.Tentara me proteger dele mesmo.Andara preocupado,com medo do que eu ia pensar quando descobrisse tudo.

EU.SOU.TÃO.BURRA...Como pude magoá-lo desse jeito?!!

Levei as mãos à boca.

-Ah,meu Deus!Jane,eu sou um monstro!

Caminhei até ela e supliquei:

-Jane,você precisa me levar até ele!

Ela parecia satisfeita,mas desconfiada.

-Você não vai fazer nenhuma besteira,não é?

-Não...

-Promete?

-É claro que não...eu o amo...

Então,com um movimento rápido ela me pôs nas costas e se pôs a correr.A velocidade era tão grande que eu tive de fechar os olhos pra não vomitar.

Por fim,ela parou.Estávamos na cobertura de um prédio.

-Obrigada.

-Disponha...Sónão cometa mais um erro.

Assenti.Ela se foi.

Me virei pra ele..Ele estava sentado na beirada do prédio,olhando a Lua.Ela dava um brilho prateado na sua pele se marfim.

Hesitante,me aproximei.Ele não se virou.Mas eu sabia que ele podia me sentir perto dele.

Parei ao lado dele e o contemplei,sem saber o que dizer.

Meu Deus,como ele era lindo!Como eu pude ter medo dele?Meus medos agora me pareciam patéticos.E eu sabia a causa da mudança.Agora eu tinha certeza de que ele me amava.Olhei pra lua,ainda sem palavras.Oque eu diria pra ele,que o faria me perdoar?

Joguei tudo pra fora,num jato de palavras:

-Alec,eu fui muito idiota!Mas é claro que você já está cansado de me ver falar isso tempo todo!Porque eu sou um monstro.Eu te magoei de uma forma tão completa que eu não consigo nem imaginar!Eu não te mereço!Nunca mereci que você quisesse estar comigo.Pode embora se quiser...Não mereço que fique aqui.Mas,por favor,me perdoa...-eu começei a chorar de desespero.

Ele veio até mim e me abraçou.Continuei:

-Agora eu entendo.Você nunca quis me machucar,so me proteger...

-Sim...-ele parecia aliviado ao me ouvir.

Ali nos braço dele eu me sentia segura,em paz.Eu percebi que ele entendia.Mas não totalmente.Ainda faltava uma coisa..Me estiquei,tentando encontrar o ouvido dele:

-Eu te amo...

ELle me olhou intensamente.Eu retribuí o olhar.Ele deu um sorriso radiante,pôs a mão no meu pescoço e me beijou com intensidade.

Meus lábios se moldaram aos dele e eu senti que agora tudo parecia certo pra mim.

Minha língua passaeva por cadacanto da boca dele.Do meu pescoço suas mãos encontraram minha cintura e me colou ao corpo dele.Minhas mãos se entrelaçaram nos cabelos dele,e eu o puxei pra mim e o beijei ferozmente.

Ele ficou rígido.Se afastou um pouco.

Percebendo o que fiz,fiquei chocada:

-Desculpe,eu não...

Ele sorriu um pouco,ainda ofegante,tentando se acalmar:

-Não,tudo bem...Eu so preciso me acostumar...

-Mas eu...

Ele me deu um selinho,me impedindo de falar.Estreitou o aperto na minha cintura.Pousou sua testa na minha  me beijou de novo.Dessa vez eu teria controle,ele me deixou comandar o modo como nos movíamos.

O beijei devagar,suavemente.Aproveitando cada toque nos seus lábios macios.Depois roçei de leve os meus lábios nos frios e macios dele,sentindo a eletricidade de cada toque.

Ele quis tentar isso também,só que no meu pescoço,subindo e descendo seguidas vezes,roçando os lábios...Eu não senti medo por ele tocar meu pescoço,pela primeira vez na noite,eu confiei nele.Estremeci quando ele encontrou meu ouvido e sussurrou:

-Você é tudo o que eu andei procurando...Eu quero você pra sempre...

O frio fo demais pra mim.Eu estava na cobertura de um prédio,com o vento frio varrendo meu corpo todo.Estava abraçada ao Alec que não era exatamente quente  e eu estava só com uma camisola fina de seda...

Interrompi o beijo e tremi de frio.

Assim que pudesse piscar,Alec já tinha tirado o terno e o colocado sobre os meus ombros.

Depois sentamos no chão e ele me abraçou por trás.Ali nos seus braços era tão aconchegante que eu acabei adormecendo ali mesmo...