A Palavra - Guerra e Morte escrita por AoiTakashiro


Capítulo 1
Capítulo 1 - Morte e Direção




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/602081/chapter/1

O que você pensa sobre a perversidade humana?

O que ela pode se tornar?

Davi pensava sobre a sua tenda. Distraído pelos balanços que o teto da tenda cor verde-musgo pelo vento. Pensava constantemente sobre o que deveria realmente acreditar. Mas sabia que não tinha muito tempo para pensar. Deveria partir logo.

O garoto de cabelos castanhos curtos e lisos ouviu barulhos de passos apressados fora da tenda. A cacofonia iria recomeçar. Sem perder tempo, ele ajeitou suas coisas, desfez sua tenda, enrolando-a até ficar compacta o bastante para ser amarrada ás suas costas. Depois de tudo arrumado, ele finalmente deu uma olhada no que estava acontecendo ali. Soldados do reino corriam para todos os lados, gritando a todo momento com os cidadãos daquela cidade pequena. Todos achavam que estariam a salvo, mas Davi era o único que pensava o contrário.

Um dos guardas se esbarrou com o garoto sem querer por causa da correria.

– Ei, garoto. Onde está a sua família? Não pode andar por ai sozinho, está muito perigoso lá fora. – Davi o ouviu, mas não olhou em seus olhos. Quando o guarda se afastou, o garoto olhou para o céu. Nuvens se acumulavam ali, e ele sabia o que iria acontecer, mas não seria uma chuva normal, mas sim uma chuva de sangue.

– Cuidado com a barricada! – Um dos guardas reais berrou aos outros. – Eles estão invadindo!

Davi avançou até onde estava um cavalo solto. Sem olhar para mais ninguém, o garoto montou no potrão marrom e avançou contra a saída. Enquanto os outros cidadãos confiavam nos soldados e permaneciam juntos numa das barricadas. Davi conseguiu sair da cidade bem a tempo para não vir o que aconteceu.

Ao longe, o garoto viu o que em poucas horas viraram um terror naquela pequena cidade. Tudo estava destruído. Fogo e fumaça se alastravam para destruir o que sobrara das moradias. Tudo o que vivia naquela cidade estava morto, nem os cavalos e os outros animais sobreviveram.

– Dessa vez foi quase. – Suspirou. – Lamento por todas aquelas pessoas mortas em vão. – Davi recitava uma oração em nome de todos presentes naquela cidadezinha. – Mas somente os tolos não ouvem. – Ele se virou para o cavalo, que se alimentava da pouca grama que crescia por ali. – Acho que somos eu e você agora, amigo. Somos sobreviventes deste mundo perdido. – Depois de montar novamente no cavalo, ele prosseguiu com a estrada, não queria deixar rastros, muito menos deixar alguém lhe acompanhar.

Tudo estava perdido. O mundo havia caído em desgraça pelos demônios. Um deles, Daemon, era o mais perverso que os humanos conheciam. Havia amaldiçoado a todos a fugirem pelas suas vidas, sem serem totalmente possuídas. Daemon havia posto uma infecção naquele reino, um vírus que corrompia a quem era tocado, e tornava o infeliz num dos servos de Daemon, sem ser mais humano, se tornava um ser irracional. Quando se é infectado, sua pele fica arroxeada, e como consequência, vira um zumbi seminu que caça humanos, passando sua infecção para outros.

Ninguém sabia que tipo de infecção era aquela, mas Davi parecia ser o único a saber. Aquilo era a própria perversidade humana. Que corrompia os humanos tão facilmente quanto mudar de cidade. Naquelas eras, a quantidade de prostíbulos era absurda. Homens não respeitavam seus casamentos e traíam suas mulheres com prostitutas quaisquer fossem. Isso apenas fez com que Daemon fosse atraído para esses locais e possui-se a todos que estavam ali, e foi seguindo para outros locais, até ter dominado praticamente todo reino. Agora os homens estavam sofrendo com a própria desgraça.

Davi ficava nervoso sempre que pensava naquilo. Seus pais foram alvos de Daemon. E por incrível que pareça, o garoto fora o único que vira realmente o demônio. Fora o pior dia da sua vida. Seus pais o aconselharam a fugir e tentar encontrar a cura para aquela doença, antes de serem tomados pela perversidade. Davi procurou e procurou, mas nunca achara realmente algo que destruísse aquela praga de uma vez por todas. A noite estava chegando, e o garoto felizmente achara uma estalagem no meio da estrada deserta. Aquela parte do reino era a provavelmente a mais pobre. O cenário era praticamente uma vasta área de terra, com poucas reservas de água, e plantações fracas. Davi prendeu o cavalo no estábulo e seguiu para o interior da estalagem.

A recepcionista, Madame Loutres, achou estranho uma criança sozinha em plena noite.

– Ora, criança. Não pode andar sozinho por ai em pleno breu. Está sofrendo de abandono?

– Não. – O garoto respondeu amargamente, não gostava de ser chamado de criança. – E não sou uma criança. Tenho 14 anos. Logo mais farei quinze no dia de meu nome.

Madame Loutres quase se engasgou com a maça que estava comendo. Ela era gorda, com um vestido vermelho-escuro. Sua cara maquiada não disfarçava a presença de rugas na pele.

– T – Tudo bem, então. Acho que tenho um lugar para você nos estábulos...

Davi bateu com o punho no balcão.

– Diabos! Quero um quarto para dormir esta noite! Tenho moedas para pagar!

A recepcionista quase que se engasga de novo. Para acabar com aquele assunto, ela lhe entregou uma das chaves de quarto.

– S – Segundo quarto à direita. – Ela indicou o quarto.

O garoto já seguia aborrecido para o quarto quando alguém o havia chamado.

– Ei, garoto. Venha aqui, por favor. – Era um cavaleiro, de cabelos loiros curtos e lisos, portava uma armadura prateada, e sua espada se encontrava na bainha. Estava sentado numa mesa com duas cadeiras bebendo um grande copo de cerveja.

– Hum. O que quer? – Davi resmungou para o cavaleiro.

– Você vem da cidade próxima, não é?

– Sim.

– Pode me dizer o que aconteceu por lá? – O cavaleiro deu um gole de cerveja.

– Bem... Não sei o que aconteceu... Saí de lá bem cedo... – O garoto não se sentira a vontade para comentar aquilo. – Se me der licença, eu me retirarei, senhor...

– Senhor não, por favor. – O cavaleiro limpou a boca de cerveja com a costa da mão. – Sou Sor Rughes, ao seu prazer.

– Prazer, Davi. – Ele apertou a mão de Sor Rughes. – Porquê pergunta sobre isso?

– Ah, queria saber o que são aquelas coisas que destruam tudo o que veem pela frente. – Desabafou o cavaleiro, já um pouco bêbado.

Um fazendeiro próximo puxou a sua cadeira e se juntou à conversa.

– Quer saber que criaturas são? Eu já os vi uma vez. – O fazendeiro era calvo e tinha cara de maluco. Sua barba estava mal feita. – São pessoas roxas, quase seminuas, com olhos vermelhos e garras nas mãos. São ferozes tanto quanto leões. É a própria obra do diabo.

Davi guardou a descrição do fazendeiro. Se distraiu um pouco e quando percebeu, Sor Roghes o havia abandonado da conversa e estava debatendo com o fazendeiro. O garoto se pôs a novamente seguir para o quarto, mas parou ao ver quem estava vindo na sua direção. Era uma garota, que parecia ter a idade dele, e tinham o mesmo tamanho. Seus longos cabelos pretos estavam presos, e suas roupas fediam a gordura, mas mesmo assim isso não escondeu a beleza que a menina tinha. Ela passou por ele com uma bandeja cheia de copos de cerveja.

Madame Loutres deu um berro da recepção.

– Liz! Depois venha limpar o balcão e me traga mais uma maçã!

– Ah, sim, madame. Farei isso agora. – A garota morena passou novamente por Davi. Sua bandeja estava cheia de pratos sujos e ela teve um desequilíbrio, quando ia cair e derrubar os pratos, o garoto a ajudou rapidamente, evitando um desastre público.

– Liz, sua desastrada! Faça as coisas direito! – Madame Loutres berrou novamente do balcão. Alguns bêbados começaram a rir.

– Você está bem? – Davi foi cavalheiro e pegou a bandeja com os pratos e a levou para a cozinha.

– Sim. Eu... Obrigada pela ajuda. – A garota estava envergonhada.

– Já odeio aquela mulher. – Ele se referia à Madame Loutres.

– Ela é mandona, ás vezes. Mas ela deixou eu ficar por aqui. – Liz pegou um pano e uma maçã verde e seguia em direção ao balcão.

– Hum. Você... Vai ficar por aqui? – Davi ficara um pouco constrangido por perguntar aquilo, mas algo o estava preocupando.

– Sim. É para a minha própria segurança.

– Mas eu não... Acho que seja melhor ficar aqui... Você está sabendo dos...

– Olhe, eu preciso trabalhar, senão Madame Loutres ficará zangada comigo. Obrigada por se preocupar, mas não a nada aqui que vá me fazer mal. – A garota o deixou no pé da escada, seguindo em direção ao balcão.

Isso é o que você pensa. Davi subiu as escadas e encontrou o seu quarto. Abriu a porta e deitou-se na cama. Estava tentando relaxar para poder dormir, e dormiu. Mas de madrugada ele sentiu um desconforto e acordara, suando frio e ofegando.

– Eu... Não posso deixar ela aqui... Eles... Eles vão chegar aqui pela manhã e... – Davi suspirou e resmungou. O que estava acontecendo com ele era algo que queria evitar. Ele não queria se preocupar com ninguém, tinha uma missão para cumprir. E ter mais pessoas poderia lhe atrapalhar. Mas não importava se tinha uma mente fechada, seu coração era aberto. E Liz... Parecia valer a pena salvar ela. Pelo menos ela. – Eu devo estar ficando louco... – O garoto voltou a dormir.

A manhã chegava, e a destruição também.

Davi acordou subitamente, como de costume. Sentia que os destruidores estavam vindo. Ele mesmo o chamara de Perversos. Apanhou rapidamente suas coisas e desceu para baixo, pois deveria ser rápido com o que iria fazer. A estalagem já tinha movimento pela manhã, Liz andava de um lado para o outro com bandejas de comida e leite. Davi logo pagou pela estalagem, um saco cheio de moedas. E esperou para que Liz finalmente tivesse um momento para ele.

O garoto a puxou pelo braço.

– Liz, venha comigo. Aqui não é mais seguro.

– O quê? De novo isso? O que quer dizer?

Um barulho de madeira rachada inundou a sala de refeições.

– Não... Não pode ser... – Antes de Davi terminar a frase, uma das paredes da estalagem foi arrombada, e humanos seminus invadiram selvagemente. – Perversos!

O garoto puxou com força o braço de Liz e seguiram para o estábulo, onde o seu cavalo estava. Enquanto a cacofonia de homens gritando e espadas desembainhadas se juntavam com grunhidos e berros. A garota estava aflita e confusa.

– O quê... O que eram eles?

– São Perversos. O Exército de Daemon. – Davi desamarrou rapidamente o cavalo, mas de repente um dos Perversos surgiu de fora do estábulo. Que assustou os dois. O Perverso parecia uma garota, era quase desnuda, mas sua pele estava toda arroxeada, e parecia uma camada que a cobria. Suas garras eram estranhamente enormes, e fortes também.

Liz deu um berro quando o Perverso pulou contra eles. E diante de um segundo, sua cara apavorante, seus olhos vermelhos esbugalhados se tornaram sem vida perante o golpe certeiro da espada de Davi em seu pescoço.

– Venha! – O garoto montou no cavalo. – Rápido, suba no cavalo!

Davi puxou as rédeas e o cavalo cantou galopes sobre a estrada. Ali a estrada já entrava numa floresta. Deixando a paisagem um pouco mais esverdeada. Liz segurava fortemente nas costas de Davi, enquanto olhava para trás.

– P – Porque você me salvou? – Ela ainda estava assustada.

– Eu... Eu não sei. – Davi pressionava as rédeas com mais força para o cavalo correr mais rápido. Eles precisavam fugir dali. – Eu não pensei que eles fossem tão rápidos. Achei que eles demorariam mais.

– Você está fugindo deles?

– E agora você também. – De repente outro Perverso invade a estrada e quase acerta o cavalo, mesmo perante ao susto, Davi pressionou para o cavalo continuar em frente. Mas aquele Perverso não era o único. Logo mais dois se juntaram e os seguiram. Eram rápidos, pareciam leões correndo para pegar suas presas, eles corriam quadrúpedes, e ás vezes se agarravam as árvores para se aproximarem mais.

– Manobre o cavalo. – Davi disse à garota. – Eu cuido deles! – Ele desembainhou sua espada novamente e atacou o que estava mais perto, acertando o seu olho, jorrando sangue por todo o rosto do Perverso e o deixando para trás. Mas havia outros dois, e enquanto Liz controlava o cavalo a toda força que o animal podia, Davi estava na traseira acertando como podia os outros Perversos. Um deles, que estava apoiando ás árvores, deu um salto para tentar pegar o cavalo, mas com um belo golpe de espada, Davi lhe cortou uma das pernas, fazendo-o urrar de dor como um humano comum. Já o último, corria da mesma velocidade do cavalo, e antes que pudesse fazê-lo derrubar, Davi se balançou do cavalo e o acertou com um corte profundo nas costas. O garoto assumiu o controle do cavalo e saíram galopeando o quão rápido poderiam ir.

Os dois chegaram na cidade próxima exaustos. O cavalo quase morrera. Eles ficaram num estábulo para ficarem prontos para partirem no dia seguinte. A noite logo chegou, e Davi montara a sua tenda, era apenas uma, mas dava para os dois ao menos se esquentarem.

– Desculpe, por hoje teremos que dormir juntos. Amanhã eu comprarei uma tenda para ti também.

– Obrigada. – Os dois estavam dentro do estábulo, e estavam se esquentando com uma panela de sopa quente. Davi lhe dera um cobertor para se esquentar. – Você sempre viaja sozinho?

– Sim. – O garoto pegou um pouco da sopa com um prato.

– Você não tem pais?

– Eles morreram perante a maldição de Daemon. Mas me deram uma missão.

– Como? Uma missão? – Liz o olhava incrédula. – Não me diga que...

– Tenho que achar uma cura para acabar com os Perversos. – Davi completou a sua frase. O que era até bonitinho para dois adolescentes.

– Eu não acredito. Como acha que vai conseguir achar uma cura para tudo isso que está acontecendo? Nem o Rei conseguiu esse feito...

– Isto não é uma infecção comum, Liz. Isto é obra de um demônio. – O garoto lhe apontara a colher. – O Rei nada pode fazer.

A garota deu um suspiro.

– Isso é muito pesado para você... – Ela murmurou. – Você não acha isso?

– É por isso que eu queria fazer isto sozinho. Sem muitas pessoas as coisas ficam mais fáceis...

– Hum! – Liz bufara. – Se é melhor fazer as coisas sozinho, porque me salvou então?!

– Eu já te disse. – Davi não se incomodara com o que dissera. – Eu não sei. Só achei que era necessário te salvar...

– Necessário? Você tá jogando na minha cara que é melhor ficar sozinho. – Ela se cobriu com o cobertor.

– Acho que nada é coincidência, sabe? – Davi a olhou de relance. – Tudo acontece por acaso.

– Então que motivo o fez querer com que me salvasse? – Ela não dava o braço a torcer.

– Você é legal. Não quero que morra.

Liz não disse mais nada. Apenas lhe desejou boa noite e se deitou. O garoto a olhou enquanto dormia. Seus pequenos suspiros o deixava meio sem jeito. Nunca quisera salvar ninguém antes. Sempre fora alguém frio e reservado. Mas não soubera realmente como ele havia sido naquela conversa para Liz. O que diabos o deixava tão desajeitado para falar com ela?

Depois do dia amanhecer, Davi acordou bem cedo, antes que Liz, parecia que ela nunca havia dormido tão bem quanto aquela noite. Ele comprou mais uma tenda e mais suprimentos, mas não havia mais dinheiro para comprar um novo cavalo, então deveriam permanecer com aquele mesmo. Depois dos dois tomarem a sua refeição, agradeceram ao dono do estábulo e retiraram o seu cavalo. Galopearam durante toda a manhã, até parar num lindo e grande lago, com água cristalina e árvores com boas sombras contra o sol. Os dois descansaram ali e Liz implorou para Davi para dormirem ali, e mais uma vez o garoto não se conformava de ser tão mole com ela. De fato, as coisas até haviam melhorado com a presença dela, mas será que isso iria durar?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Palavra - Guerra e Morte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.