All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 30
The Constant


Notas iniciais do capítulo

Hei!

E então, como estão?

Aqui estou para uma dose dupla de AOW, depois de mais um recesso forçado... Seria um capítulo único, mas acabou ficando imenso, então resolvi dividi-lo em duas partes...

Queria agradecer aqueles que seguem acompanhando a fic apesar de tudo! Kiitos! E também dedicar esse capítulo (mais uma vez) a minha amiga Menta... Obrigado por tudo e espero que logo possamos voltar a bater aqueles papos malucos hehehe...

Nesse capítulo teremos POV Rosita e POV Jesus... Um pouco de Alexandria e um pouquinho de ação!

Espero que gostem...

Boa leitura!



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— Nada sabemos sobre o plano de Deus... Não estamos aptos para entendê-lo, mas sim para ter fé na certeza de que esses planos englobam todos nós. Mesmo em meio a atos aleatórios e sem sentido como as mortes de nossos irmãos Bob, Russel, Vic, Heath, Abraham e Maggie... Devemos ainda assim crer que tudo isso faz parte de um plano arquitetado por Deus. Devemos nos unir agora, provendo conforto uns aos outros, pois apenas o amparo mútuo nos ajudará a atravessar tempos tão obscuros quanto esse... Assim como sempre fizemos!

— O que vejo aqui ante mim são pessoas adoráveis, que arriscam-se dia após dia para que todos, como uma grande e próspera família, possamos ver o próximo dia raiar em plena paz... É nesse amor incondicional que devemos encontrar nossas forças! Assim poderemos seguir em frente, sem nunca nos esquecer do que fomos e do que somos... Vamos nos permitir um minuto de silêncio para relembramos de nossos queridos irmãos caídos... Que Deus os receba em sua graça... E que Ele siga olhando por nós...

...

As palavras de Gabriel não paravam de ecoar na cabeça de Rosita Espinoza. O cerimonial conduzido pelo pretenso padre havia tocado o íntimo de todos que o assistiram, até mesmo daqueles cujo Deus já havia abandonado. Os mais próximos aos mortos no ataque a Alexandria e na emboscada em meio à estrada, não conseguiram conter as lágrimas, que o tomaram como uma revolta onda.

Os que de certa forma não possuíam laços estreitos com os irmãos caídos, sabiam que as tão citadas nuvens negras já haviam chegado ao seu ápice, e que logo uma grande tempestade viria a cair sobre a comunidade. Nunca um mal esteve tão presente, e nunca algo aterrorizara tanto aquelas pessoas como as sombras trazidas pelos Salvadores.

Aparentemente ninguém estava a salvo. E aparentemente não existia uma força conjunta no momento que pudesse impedir que essas mesmas sombras se espalhassem e tomassem forma. Rosita sabia disso, o aperto que sentia no peito não era apenas reflexo da perda de Abraham, mas sim um sinal de que ainda não havia acabado.

Na verdade, mal tinha começado.

De cabeça baixa, ainda soluçando de forma incontrolável, a nova enfermeira de Alexandria observava o solo na sala de estar da casa de Eugene, quase de forma catatônica. O companheiro de sobrevivência de longa data, também fora tomado por enorme tristeza ao descobrir o fatal destino ao qual o bigodudo militar fora acometido. Não seria fácil para nenhum dos dois, pois apesar de todos os tropeços em meio à longa caminhada, a ligação entre os três perduraria para sempre. Algo que nem mesmo a morte poderia modificar.

Tocando o ombro de Espinoza, o professor de ciências, com o rosto cansado em meio a olheiras marcantes e a barba por fazer, tentava de alguma forma amenizar o sofrimento da latina, mesmo sabendo que isso seria praticamente impossível naquele momento.

— Eu sinto...

A frase saíra quase inaudível, a voz de Eugene estava fraca, em um tom agudo quase imperceptível. Rosita erguera a cabeça, olhando-o em meio aos soltos fios lisos de seus cabelos negros. Os marcantes olhos da enfermeira gritavam toda a verdade contida em seu interior. Ela não precisaria dizer uma só palavra para se fazer entender, mas ainda assim, juntara forças para conseguir desabafar.

— Eu fazia algumas coisas para sobreviver... – Um nó tomara conta de sua garganta, interrompendo-a momentaneamente – Não era nada demais, apenas... Apenas alguns homens do grupo. Eu descobri que se você desse um pouco de atenção extra para eles... Eles retribuíam o favor te mantendo a salvo, te protegendo mais que os outros.

Os olhos do professor arregalaram-se. A mulher prosseguira, precisava terminar.

— Não olha assim pra mim... Eu não estou com vergonha e pouco me importa o que você pensa a respeito disso... A questão é que quando eu conheci o Abraham, eu achei que seria da mesma forma, que ele era igual a todos aqueles sujeitos... Mas não, ele não era.

Espinoza juntara a última reserva de fôlego em seus pulmões.

— Eu não sabia que ele tinha perdido a mulher os filhos... Ele me disse depois que eles estavam separados, mas ainda assim ele gostava muito dela. Ele me protegeu Eugene, e protegeu você também!

Eugene meneara a cabeça positivamente, cerrando os olhos como se pudesse voltar para o referido tempo relembrado pela latina.

— Ele não fez isso por achar que seríamos úteis para ele de alguma forma, mas sim por ser um bom homem... Abraham era uma ótima pessoa! Depois que ele descobriu que você estava mentindo para todos nós... Tenho certeza que você achava que ele não o ajudaria se descobrisse que você não era um cientista de verdade, mas... Eu sei que ele ajudaria. Ele era um bom homem!

— Ele era sim... – As lágrimas voltaram a escorrer pelos lacrimais do professor.

— Quando as coisas começaram a rolar e nós ficamos juntos... – A latina retomara – Achei que ele me amava de verdade... Achei que o que tínhamos era especial... Eu tentei seguir em frente, fui morar com o Vince... Eu queria convencer a mim mesma que poderia dar certo, mas... O que eu faço agora, Eugene?

O homem sentara ao seu lado, segurando suas mãos com sofreguidão. Os perdidos e entristecidos olhares se encontraram, e suas íris pareciam compreender-se totalmente. A mesma tristeza que despedaçara o coração de um, também atingira em cheio os sentimentos do outro.

— Nós vamos conseguir... – O professor enxugava o pranto com o dorso da mão direita – Vamos encontrar um jeito Rosita... Por nós, e por ele! Não dá pra desistir agora, não agora! As coisas vão ficar feias, eu sei, mas tenho certeza que juntos poderemos passar por mais essa! Eu sei que podemos...

O pretenso cientista estava coberto de razão. Rosita sabia que não poderia deixar-se afundar no oceano de tristeza no qual se encontrava. De uma forma ou outra, apenas o apoio mútuo poderia servir como tábua de salvação. Ela sabia que era forte o bastante para superar mais um baque, mesmo um tão pesado quanto esse. Não seria fácil, mas uma hora tudo iria ser superado.

Eugene ainda tentara convencê-la a permanecer por ali um pouco mais, mas a enfermeira acabara não aceitando. Precisava distrair-se de alguma maneira, mudando o foco para que sua mente não entrasse em pane. Milhares de pensamentos a rondavam, e a maioria deles nada positivo. Apenas o trabalho a ajudaria a manter sua sanidade. Se é que a mesma ainda existia.

Os feridos no ataque dos Salvadores ainda precisavam de cuidados especiais, principalmente Isaiah, que recebera uma flechada pelas costas. A latina não conseguira compreender como o biólogo pudera sobreviver a tal ferimento, mas certamente, dentre todas as maluquices inexplicáveis dessa nova realidade, essa com certeza era a mais fácil de aceitar. Afinal de contas, os mortos seguiam caminhando livremente pela terra.

Antes de retornar a enfermaria, de mergulhar de vez em sua nova função, que lhe gerava cada vez mais pressão, Rosita decidira desviar o caminho, dirigindo-se a uma parte mais afastada da comunidade. Caminhando pelo chão gramado e transpassando algumas macieiras, a latina aproximara-se do cemitério, onde mais de uma dezena de corpos de alexandrinos jaziam.

Douglas, Regina, Pete, Denise, Amanda, além dos simbólicos túmulos de Heath, Abraham e Maggie... Foram muitas perdas desde que a latina aportara à comunidade junto a Rick e os outros. E fora justamente diante do túmulo do ruivo bigodudo que Rosita estacionara. Só que ao chegar lá, vira que não era a única a chorar por Abraham.

Ajoelhada ao solo, Holly chorava em silêncio enquanto fitava fixamente a placa de madeira com o nome de seu ex-companheiro talhado. A mulher de curtos cabelos loiros deixava as lágrimas escorrem livremente por seus grandes olhos claros. Ela que se desesperara com a notícia trazida por Grimes, entrara em negação, sem conseguir acreditar no que o xerife lhes contara.

Durante a cerimônia comandada por Gabriel, Holly parecera começar a digerir lentamente o que havia acontecido. Sentada na primeira fila e distante de Rosita, a loira sofrera sozinha durante todo o discurso do padre. Aquela seria a primeira vez em muito tempo, que as duas mulheres de Abraham trocariam palavras.

Espinoza a olhava de esguelha, abaixando brevemente a cabeça assim que se avizinhara da lápida rústica.

— Holly?

A loira virara-se subitamente, em um único e rápido movimento. A pele clara de seu rosto estava tomada por um tom rubro em uníssono. Os olhos vermelhos, encharcados, encararam a latina sem pestanejar.

— O que foi? O que quer Rosita?

A voz de Holly saíra trêmula, mas forte o bastante para exprimir certa indignação. Ela prosseguira.

— Você acha que eu me sinto bem pelo que aconteceu? Eu nunca quis roubá-lo de você, esse nunca foi o meu objetivo! Simplesmente aconteceu... Você pode falar o que quiser! Pode me xingar, dizer que eu sou culpada, mas... Ele fez tudo o que fez, por acreditar que assim seria mais feliz!

A latina seguia encarando-a, ainda sem nada dizer. O desabafo de Holly precisava ser complementado.

— Ele costumava dizer que a vida era muito curta para hesitações... E pelo visto, ele estava certo pra caralho!

A mulher loira retornara a sua posição original, deixando que uma nova remessa de lágrimas descesse por seus lacrimais. Rosita permanecera em silêncio por mais alguns instantes. Passado esse curto tempo, a enfermeira ajoelhara-se ao lado da rival, estendendo sua mão e tocando levemente o braço de Holly.

— Você tem razão... Eu não poderia ter dito de melhor maneira! – Um breve sorriso amarelo pudera ser avistado no rosto da latina, desaparecendo logo em seguida – Eu amei o Abraham, mas ele amou você – Nitidamente não fora fácil para ela dizer aquilo – Meus pêsames, Holly. Sinto muito por sua perda!

*****

Os três anos de abandono da 66 Road praticamente deixaram-na irreconhecível. As carcaças de automóveis em meio ao asfalto, sendo corroídas lentamente pelas ferrugens que lhes tomavam conta quase que por completo. Os cadáveres decompostos, jogados ao solo como uma simples matéria morta, exalando o seu mortífero odor de carne podre. A vegetação rasteira que pouco a pouco espalhava-se pela rodovia, acumulando-se e aumentando de tamanho, formando por completo o estereótipo de um verdadeiro apocalipse.

O uivo dos ventos e o grunhido dos desgarrados errantes famintos eram os únicos sons que se podia ouvir por aquelas bandas. Isso somado aos passos de Dwight, que aquela altura já havia alcançado Arlington, e tomado o caminho da 20th Rd, até a altura de Danville. Jesus o seguia de perto, tomando o devido cuidado para não ser percebido de maneira alguma.

Ele notara que o Salvador seguira a pé desde que saíra de Alexandria, e que até então não entrara em contato com nenhum dos homens de Negan. Caminhando sempre atentamente, o portador da besta eliminara alguns poucos errantes que ousaram se aproximar, e parara pouquíssimas vezes, basicamente para se hidratar ou aplicar o colírio em seu olho afetado pela enorme queimadura.

Jesus também percebera que Dwight conhecia muito bem o caminho que escolhera seguir, pois além de ser praticamente livre de carniceiros – comparado ao inferno do interior de DC – o motoqueiro não olhara uma vez sequer para nenhum mapa, fazendo cada curva e adentrando cada beco, como se estivesse despreocupadamente indo para casa.

E Paul torcia veementemente para que estivesse certo em sua análise. Se o braço direito de Negan o levasse até a sede dos Salvadores, Rick e todos aqueles que objetivavam derrubar o sanguinário mandatário, teriam finalmente um grande trunfo nas mangas. Monroe conhecia um dos postos avançados dos milicianos, para onde o Hill Top levava os tributos que eram obrigados a pagar, mas nunca sequer teve ideia de onde poderia estar localizado o QG desse verdadeiro exército.

Completar com sucesso sua missão era de suma importância. Ele não poderia se dar ao luxo de cometer um erro.

Com um negro balandrau por sobre suas surradas roupas, usadas e lavadas tantas vezes que já desgastara o tecido a ponto de modificar sua coloração, Monroe arrumara o gorro que cobria seus longos cabelos castanhos, escondendo-se atrás de uma parede, em um dos muitos becos da estreita Arlington.

Ele estava a cerca de dez metros de distância do motoqueiro, e pelo que pudera atestar até então, sua presença ainda não havia sido detectada. Controlando a respiração, Jesus olhara mais duas vezes para o perseguido, decorando cada passo do homem com o rosto queimado. Dwight agora caminhava por sobre um gramado, um matagal rasteiro que se apossara de parte de um estacionamento. Recostando a besta nas costas, totalmente despreocupado, o homem por lá seguiu, aproximadamente dando mais cinquenta passos, antes de interromper repentinamente o trajeto.

Jesus voltou-se imediatamente para o beco, temendo ter sido percebido de alguma maneira. Era improvável que ele tivesse chamado à atenção do arqueiro, já que, assim como em cada missão que já realizara desde que o mundo se transformou em uma sombra de si mesmo, adotara um protocolo que até então jamais falhara. Torne-se invisível.

Respirando quase que de forma anelante, o diplomata do Hill Top recostara-se na parede de tijolos, ao lado de uma grande lixeira de metal. Olhando para o céu, e para as nuvens que pairavam, cobrindo o pouco azul que se permitia ser visto, contara mentalmente até quinze, dando tempo suficiente para que qualquer eventual desconfiança do motoqueiro fosse logo deixada para trás.

Esticando o pescoço e olhando novamente para o velho estacionamento, Monroe notara que Dwight não se encontrava mais ali. Provavelmente seguira em frente, sumindo de sua vista por conta da breve pausa impetrada pelo diplomata. De qualquer forma, o melhor era prosseguir acompanhando-o de perto, para não correr o risco de perder o seu rastro. Ele não viera de tão longe para deixar um trabalho incompleto.

Um som como a de uma moeda quicando no chão fizera com que Jesus ativasse instantânea e instintivamente todos os seus sentidos de alerta e defesa de uma só vez. Virando o corpo em um único movimento, Paul conseguira enxergar duas sombras vindas do lado oposto do beco onde se encontrava, além do som ritmado de botas batendo no asfalto ressecado e quebradiço.

Partindo imediatamente para o lado oposto, Paul deslocara-se, tão leve quanto uma folha revoando no outono, fazendo a curva e deixando aquele estreito para trás. Nos poucos segundos que se seguiram, ele pôde ouvir três vozes distintas, uma delas feminina, trocando palavras que ele não conseguira decifrar. Com as mãos espalmadas tocando a fria parede de concreto, Jesus passara a caminhar para o lado, praticamente com a ponta dos pés, esforçando-se ao máximo para que passasse totalmente despercebido pelas pessoas que se encontram cada vez mais próximo dele.

Um descuido, apenas um breve descuido fora suficiente para tudo se esvaísse. Se tivesse olhado uma única vez para o lado direito, teria percebido que estava sendo atraído para uma emboscada. Por mais que se achasse pronto, por mais que já tivesse feito aquilo mais de um milhão de vezes nos últimos três anos, por mais que fosse tão furtivo quanto um lince em caça, Jesus conseguira ser cercado por cinco homens que, aparentemente conseguiram ser mais espertos do que ele. Ou pelo menos mais cuidadosos.

O cano frio da Glock tocara o seu occipital, causando-lhe de imediato um arrepio na nuca, que logo se espalhara por toda a espinha. Erguendo as duas mãos para cima, em claro sinal de rendição, o diplomata sentira o bafo úmido de seu raptor, antes que o mesmo pudesse proferir as primeiras palavras.

— Se perdeu da mamãe? – A grave voz o desafiara em zombaria. No mesmo instante, os outros quatros sujeitos se avizinharam, cercando-o – Já estávamos na tua cola desde a 22. Você é aquele maluco do Hill Top... Logo vi. – O homem empurrara o cano da arma contra a nuca de Paul, forçando-o a dar dois passos à frente – Tava seguindo o Dwight por quê?

Girando os olhos, Jesus começara calmamente a ler todas as informações que sua visão poderia lhe fornecer. Controlando a respiração e relaxando os músculos, o diplomata começara a rodar em sua mente mil e uma formas de contra-ataque, pesando todos os prós e os contras e analisando cada ponto fraco de cada um dos algozes. Tudo em míseros segundos.

Notara que apenas o Salvador as suas costas portava uma arma de fogo – que poderia nem estar carregada – e que os demais tentavam intimidá-lo com olhares de escárnio, frases jocosas e gestos incisivos.

A sua direita estava um homem negro, cabelos e barba amareladas, uns poucos dentes expostos por entre os seus lábios ressecados, não mais do que cinquenta anos, portava um cano de metal na mão direita. A sua esquerda outro homem, um pouco mais magro, vestindo uma jaqueta pelo menos três números maior do que ele, a cabeça totalmente raspada e tomada por tatuagens tribais e símbolos quase incompreensíveis, nas mãos um machado de lenhador.

A sua frente, os últimos dois Salvadores completavam o cerco que se formara ao redor do diplomata. Uma mulher, trinta e tantos anos, cabelos escuros amarrados para cima como se fosse um emaranhado de palha negra, duas profundas quelóides acima do zigomático, portava uma faca de caça em uma das mãos. O último deles utilizava um bastão de madeira como arma, bastão esse estranhamente ornamentado com uma corrente, enrolada em toda a sua estrutura. Caucasiano, o sujeito tinha os olhos verde-esmeralda, corpo esguio e comprido, provavelmente mais de dois metros. Era com toda a certeza o mais estranho de todos ali.

— Ficou mudo, porra? – Irritou-se o miliciano, engatilhando a Glock.

A única mulher do grupo não tirava os olhos de Jesus. Umedecendo os próprios lábios em um tipo de mensagem corporal que Paul não conseguira identificar o significado, a capanga erguera a faca de caça, passando a língua em sua lâmina, sem desgrudar os olhos do diplomata.

— Me deixa cortar o saco dele... Tenho certeza que ele vai gritar como uma menininha!

Saltitando duas vezes, a portadora da faca parecia atiçar-se ainda mais. O seu desejo por sangue estava mais do que claro, assim como a loucura intrínseca que visivelmente já se instalara em seu interior. Paul sabia que não demoraria muito. Era preciso estar preparado.

— Me diz uma coisa, barbudinho... – A mulher voltara a se manifestar – Como é que você prefere? – Seus orbes desceram de cima a baixo, praticamente fotografando todo o corpo de Paul Monroe – Rápido, ou devagar?

Sem esperar por uma resposta, a insana mulher partira em sua direção, erguendo os braços e fazendo uma parábola no ar, antes de desferir um golpe com toda a força em direção ao abdome de Jesus.

Tudo parecera estar em câmera lenta para Paul. Na verdade, suas habilidades desenvolvidas gradativamente com o passar dos tempos, lhe trouxeram um incrível poder de observação, e desenvolvera nele o dom de estar sempre à frente de seus adversários. Era como se Jesus soubesse o que iria acontecer, antes mesmo que acontecesse.

Tradicionalmente as brigas de rua na América fugiam bastante do que conhecemos como artes marciais. Na Ásia, por exemplo, as lutas mais tradicionais eram baseadas em pilares muito mais profundos do que pancadaria pura e simples. O cumprimento entre os atletas, o respeito mútuo, a filosofia que embrulhava cada modalidade. Nos Estados Unidos, principalmente em bares, pubs e afins, as brigas eram iniciadas por motivos torpes, e geralmente os golpes eram lançados de qualquer maneira em direção ao adversário, sem a menor preocupação com a estética da batalha.

O que se vira na saída daquele beco em Arlington, poderia ser nomeado como uma mistura dessas duas tradições. O que Jesus conseguira fazer em quarenta e cinco segundos era digno de um filme B de artes marciais, daqueles que adoram misturar as filosofias asiáticas com o sonho americano. Se algum cineasta cult estivesse presente, provavelmente filmaria a cena em slow motion, e ainda faria questão de colocar Fur Elise, de Beethoven, como trilha sonora desse bizarro filme.

Antes que a lâmina da faca pudesse tocar o seu corpo, Jesus revidara a investida com uma joelhada no plexo da mulher. Aproveitando que ela dobrara o corpo em dor, o diplomata agarrara o seu pulso, apertando-o com toda a força, cortando o fluxo sanguíneo na região e obrigando-a a largar a arma branca. Ao mesmo tempo em que desferira a joelhada e subjugara a louca miliciana, Paul aproveitara o movimento com a perna direita para chutar potentemente no meio das pernas do Salvador que o ameaçara com a Glock, fazendo com que o mesmo caísse de joelhos, urrando em dor.

Girando nos calcanhares, Jesus dera um chute rodado, acertando a bota com potência contra o temporal do portador da Glock, que caíra de costas, largando a pistola. Uma sombra ao seu lado direito lhe indicara que o homem mais velho lhe tentaria atacar com o cano de metal. Adiantando-se mais uma vez e contratacando com precisão, Monroe esquivara-se, abaixando-se e se erguendo com enorme destreza, chutando o joelho do sujeito com tanta força que pudera ouvir o som de sua rótula partindo, juntamente a um gutural grito aflito.

Tomando o cano de metal em mãos, aproveitando-se que o mesmo fora jogado para cima após ser largado por seu dono, o diplomata açoitara o magrelo mais alto em sua base, provavelmente lhe causando uma fratura na tíbia. Por último, defendera-se de um ataque de machado, travando por alguns poucos segundos uma batalha de força com o último Salvador que permanecia de pé. Muito mais forte que o seu adversário, o barbudo do Hill Top empurrara o capanga contra a parede, desarmando-o e acertando sua testa fortemente com o próprio cabo de seu machado.

Foram quarenta e cinco segundos intensos. Mas o fim daquela épica cena de ação não se dera como o esperado.

— Muito bom... Eu já imaginava que você sacava de luta e tudo mais, mas não fazia ideia de que era tão foda assim na porrada. Meus parabéns!

A voz de Dwight surgira como o ápice da curva dramática após o fim da batalha campal. Com sua besta apontada em direção ao rosto de Jesus, o motoqueiro se aproximara, sinalizando em um gesto de cabeça para que ele largasse as armas que conseguira tomar de seus parceiros. Respirando fundo, e entendendo que qualquer movimento em falso poderia significar sua morte, Paul atendera as ordens do segundo no comando, jogando na calçada o cano de metal e o machado de lenhador.

Erguendo-se rapidamente do solo, ainda tomando fôlego após a voraz joelhada recebida, a Salvadora recuperara sua faca, dando um pulo em seguida, ficando frente a frente com Jesus outra vez. Puxando-o para próximo de seu rosto pela vasta barba, a miliciana direcionara a ponta de sua arma para o olho direito do diplomata, sem deixar de encará-lo com lascívia.

— Eu vou arrancar o seu pau e comer no jantar essa noite, seu filho da puta de merda! – Sussurrara, lambendo o ouvido de Paul logo depois.

— Larga ele Tara... – Dwight ordenara com potência na voz, lançando um olhar de reprovação para a mulher – Vamos levá-lo vivo até o Santuário. Esse cara é um dos negociadores do Hill Top, e eu o vi em Alexandria, logo depois de me soltarem. Provavelmente ele me seguiu a mando do Rick, para descobrir onde fica o nosso lar...

Um sorriso quase que psicótico brotara na face semi-deformada do motoqueiro.

— Negan terá muitas perguntas para te fazer...

Jesus mal terminara de ouvir as palavras do motoqueiro, quando recebera por trás uma pancada violenta em sua cabeça. Cambaleante, conseguira dar dois passos, antes de perder completamente as forças, sentindo sua visão escurecer e sua consciência se esvair. Tocando a lateral do rosto no chão frio, Paul não conseguira enxergar e nem ouvir mais nada. Foram alguns milésimos de agonia antes que apagasse em definitivo, caindo em um profundo desmaio.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Jesus capturado, Rosita se entendendo com Holly...

Lembrando que o próximo capítulo já está postado, é só apertarem nesse botão aí em baixo...

Nos vemos nos comentários...

Moi moi!



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