All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 18
One of Us


Notas iniciais do capítulo

Hei!

E aí pessoal, como anda a vida?

Retornei para mais uma atualização da fic mais querida dentre as menos queridas! Hahaha... Brincadeira!

Queria agradecer a Menta, que segue comentando regularmente por aqui, sempre opinando de forma magnânima... Você é foda Imperatriz! Como sempre, gostaria de ressaltar que apesar do número baixo de leitores, All Out War possui uma visitação regular, em uma boa média, o que me deixa muito feliz... O maior presente que um leitor pode receber é ter uma história lida por outros, portanto, quero agradecer formalmente a todos que um dia leram pelo menos o primeiro capítulo... Obrigado!

É claro que se você deixar um comentário eu ficarei ainda mais feliz! Hehehe... Não se acanhem galerinha!

Esse capítulo é um POV único, acho que vocês irão gostar... Apenas uma introdução para um Mundo Maior!

Boa Leitura!



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A van seguia firme, cortando o chão de asfalto a uma velocidade mediana. O combustível precisava ser poupado já que não havia como saber com precisão, quanto tempo a viagem até a comunidade desconhecida iria durar.

As primeiras três horas e meia de percurso já haviam sido ultrapassadas, o tempo ainda claro, entremeado a poucas nuvens que ainda insistiam em dar um leve toque de penumbra ao céu, ajudavam com que os obstáculos em meio à pista fossem facilmente ultrapassados. Decididos a seguir o percurso com o nível de cautela no máximo, Rick, que no referido momento executava a função de copiloto de Glenn, decidira que o melhor seria encontrar um lugar para passar a noite, prosseguindo nas primeiras horas da manhã vindoura.

Escolhendo um posto de gasolina abandonado como porto seguro, o grupo concordou que aquele poderia ser um local adequado para acampar, recarregando as energias e seguindo assim que o sol raiasse.

O enorme letreiro empoeirado e enferrujado mostrava em letras garrafais o nome TEXACO, indicando que provavelmente o local era muito frequentado por caminhoneiros e motoristas de outros estados. A loja de conveniências, pomposa, com um grande restaurante aparentemente bem equipado, também ajudava a demonstrar que aquele lugar já possuíra um mínimo de qualidade.

Atualmente o local não passava de um emaranhado de lixos, sangue seco nas paredes e carcaças de carros nas dependências. Os vidros quebrados e as portas arrancadas, também eram um indicador de que o grupo do xerife não fora o primeiro a aportar por ali, e provavelmente todos os suprimentos lá contidos já haviam sido saqueados. Ainda assim era um bom lugar, o melhor com o qual haviam se deparado nos últimos quilômetros.

Estacionando em frente a uma das bombas, Glenn, assim que desligara o veículo, visando à economia de combustível, fora o primeiro a descer do carro, seguido por Grimes e Michonne, logo em seguida.

— E então? – Questionou Glenn, observando o perímetro a seu redor – Acho que aqui pode ser um bom lugar!

Rick dirigiu-se até uma mochila localizada sobre um dos bancos do veículo. A bolsa que continha munição e alguns suprimentos emergenciais, estava muito bem suprida para o tipo de missão que haviam se deslocado.

Michonne, cautelosa como sempre, retirara sua katana das costas, deixando-a pronta para qualquer imprevisto. Com os olhos voltados para o horizonte, dirigiu-se calmamente até o xerife, sem descuidar-se da segurança do local.

— Vamos dormir na van, ou aqui fora? – Indagou a samurai.

Sem retirar o olhar de seus afazeres, Grimes respondeu.

— Vamos ficar o mais próximo possível da van... Temos que estar preparados para qualquer coisa que possa ocorrer!

Rick estava sereno, parecia ter tudo sob controle. O xerife que vivia constantemente sob muita pressão ultimamente, parecia ter conseguido racionalizar todas as situações, focando-se de imediato em sua missão, esperando que tudo o que o forasteiro lhe dissera fosse realmente verdade.

Grimes não queria admitir, mas já estava delineado a confiar em Jesus. O barbudo homem lhe passava segurança em suas frases, além de não parecer fazer o estilo ‘mentiroso profissional’. É claro que o policial também sabia que todo o cuidado era pouco, principalmente vindo dele, considerado por todos o líder de uma comunidade com quase sessenta pessoas. A cautela precisaria estar sempre presente, e a confiança teria que ser um benefício cedido apenas após um apurado crivo.

Caminhando lentamente até a traseira do veículo, Rick sentiu-se ser seguido por Michonne, que sempre com a guarda armada, tentava não descuidar da segurança em momento algum. Cobrindo as suas costas, a samurai, que seguia tensa em suas feições, questionou-o ao achegar-se ainda mais próxima ao xerife.

— Precisa de ajuda com o prisioneiro?

Rick Grimes sorriu brevemente enquanto destravava a porta traseira da van.

— Claro! Não dá pra brincar com ele... Não lembra o que ele fez com você e Abraham?

Após abrir a porta, o xerife e a samurai depararam-se com o barbudo homem deitado sobre duas mochilas de camping, cochilando em meio a um emaranhado de lonas e outros diversos equipamentos, guardados na traseira caso precisassem utilizá-lo posteriormente.

— Acorda! – Bradou Rick, travestindo as feições em uma imagem séria.

O homem piscou brevemente, balançando a cabeça enquanto tentava lentamente acomodar-se melhor em sua nada confortável “cama” improvisada. Os longos cabelos caindo parcialmente sobre o rosto, ajudavam a ampliar a imagem cansada do refém forasteiro.

— Já chegamos? – As mãos amarradas o impedia de modificar a sua posição, permanecendo então deitado.

Grimes bufou ironicamente, tentando ignorar o jocoso questionamento.

— O seu senso de humor é bem singular... – Comentou Rick minimamente amistoso.

— Já me disseram isso... – Respondeu Jesus, piscando brevemente.

Antes que pudessem prosseguir com a breve conversa que se iniciara, uma estranha movimentação em meio há alguns cobertores e parte das lonas dobradas, bem ao lado de onde o prisioneiro se encontrava, chamara automaticamente a atenção de Grimes. Como de costume, a primeira ação do xerife fora levar a mão a arma, comumente resguardada em seu coldre.

Não fora preciso nenhuma medida brusca. O mistério logo fora revelado, assim que Carl, aparentemente escondido em meio aos equipamentos, mostrara-se a todos, levemente assustado, talvez temendo a reação do pai.

Com o curativo cobrindo o enorme ferimento do lado direito do rosto, o pequeno Grimes tratara de se explicar, ou pelo menos tentara, antes que Rick pudesse dizer alguma coisa.

— Desculpa pai... – O olho arregalado do garoto fitava o pai – Eu precisava ver essa comunidade, não conseguiria ficar em casa...

Imediatamente, enquanto o filho ainda tentava se desculpar, Rick Grimes retirara o seu revólver da cintura, direcionando-o para a cabeça de Jesus, que espantado com o gesto repentino, rolou para os fundos do veículo, em uma pífia tentativa de evitar ser alvejado.

— Carl, sai da van, agora!

Os olhos do xerife seguiam firmes, tesos.

— Calma aí chefe, eu não fiz nada com o seu moleque!

Jesus conseguira sentar-se, ainda com as mãos presas, olhando agora diretamente para o seu possível algoz.

— Fui eu pai... Eu me escondi! Ele não fez nada...

O xerife encarou o filho. A expressão em seu rosto denotava a verdade em suas palavras. Rick deixara Carl sob a proteção de Maggie, justamente por não querer que o garoto, que vivia momentos conturbados psicologicamente, fosse exposto novamente a situações perigosas. Grimes sabia o quanto fora doloroso todas as semanas em que esperou pela recuperação do filho, preso a um coma profundo. Ele não queria e não merecia passar por aquilo outra vez.

Porra Carl...

Rick abaixou a arma lentamente, bufando em seguida. O garoto lentamente caminhou para o lado de fora da van, ainda evitando o olhar de seu pai, que aparentemente encontrava-se decepcionado com o ocorrido.

Não era a primeira vez que o filho do xerife demonstrava ações temerárias de pura rebeldia, atitudes impulsivas e desmedidas. E provavelmente aquilo ainda se repetiria muitas e muitas vezes. Rick temia pela vida do filho, que representava tudo para ele, sua grande razão de viver. Ao mesmo tempo, ele também sabia que o menino estava crescendo, amadurecendo e se adaptando cada vez mais ao novo mundo.

Isso o assustava, inevitavelmente. Que adulto o seu pequeno se tornaria?

Eu sempre disse que ele havia puxado mais a você... Eu sempre fui o lado sensato do casal...

A voz de Lorie reverberava em sua cabeça. Imediatamente o policial lembrara-se das inúmeras conversas que tivera com um antigo telefone vermelho, logo após a morte de sua esposa e da pequena Judith. O telefone que ele ainda guardava em sua casa em Alexandria. Certas manias nunca morrem, de tão repetidas tornam-se perenes.

— Vamos levá-lo de volta? – A voz de Michonne interrompera os devaneios criados por Rick.

Não houve tempo para resposta, a samurai nem sequer terminara a frase por completo quando um já conhecido alarme disparara. Os sons guturais de grunhidos, misturados as lamentações mórbidas de quase três dúzias de errantes, colocara todos os batedores em alerta máximo.

— Carl, entra na van e se tranca lá dentro!

O xerife ergueu de imediato a sua pistola, disparando contra o primeiro cadáver ambulante que já se encontrava há cinco metros de distância. Bastara poucos segundos de distração para que a pequena horda quase os pegasse de surpresa. A bala perfurou de forma certeira o frontal da criatura, fazendo com que ela fosse ao solo, eliminada em definitivo.

Michonne logo em seguida partira para o fronte, desferindo golpes precisos com sua espada, decepando cabeças e partindo corpos ao meio. A habilidade adquirida com o tempo mostrava-se impressionante. A imponente mulher realmente sabia o que fazer com a arma que carregava.

Glenn abrigou-se ao lado da van, tomando espaço suficiente para acertar os monstros mais distantes, atirando com precisão e evitando que um cerco se formasse. Após tanto tempo de estrada, o grupo liderado pelo xerife já havia adquirido verdadeiras táticas de milícias, compreendendo-se em poucos gestos, e sabendo exatamente como se posicionar em um combate contra os mortos.

Surpreendo a todos, mais uma vez, assim como fizera em sua chegada a Alexandria, Jesus partiu em disparada, saltando pela van e se dirigindo ao epicentro do ataque. Grimes arregalou os olhos, esboçando um disparo contra o aparente fugitivo, mas refutando em seguida assim que percebera a real intenção de sua estranha atitude.

Mesmo com as mãos amarradas, o forasteiro passara a utilizar-se de chutes para evitar uma aglomeração de monstros, que poderia deixar os combatentes imprensados contra o próprio veículo. Girando no ar e saltando de forma impressionante, Jesus conseguira derrubar cinco errantes, apenas desferindo pontapés violentíssimos contra a cabeça e o tronco das criaturas.

Com os mortos no solo, ficara mais fácil eliminá-los com certeiros disparos, evitando assim a perda desnecessária de munição. Após breves dez minutos, o combate cessara, e a vitória, mais uma vez, ficara com o time dos vivos.

Levemente dispneico, ainda tentando recuperar o fôlego perdido, o barbudo ajoelhara-se ao chão, tomando fôlego enquanto reencontrava as forças. Rick, caminhando na direção no homem, ainda de arma em punho, estava visivelmente admirado com as habilidades demonstradas por ele. Jesus realmente poderia ser nomeado como um sobrevivente, no melhor e mais amplo sentido que a palavra possa demonstrar.

— Isso foi impressionante... – Rick não conseguira resistir, precisava declarar verbalmente sua incredulidade.

O homem sorriu. Os dentes escondidos pelos lisos e maltratados fios que a essa altura já cobriam toda a dimensão de seu rosto. Um tanto afônico, Jesus não tardou em responder à sincera declaração de seu carrasco.

— Só to fazendo a minha parte... Não quero trazer problemas pra vocês... – Sua profunda tomada de ar ficara visível – A questão aqui é sobrevivência chefe... Sobrevivência...

Grimes olhou atentamente para o homem, guardando bem as palavras por ele ditas. Jesus estava certo, toda e qualquer atitude tomada àquela altura, tinha como único objetivo a preservação do maior bem que as pessoas poderiam possuir... As suas vidas.

Carl saiu do carro lentamente, deixando a parte traseira onde se abrigara, atendendo ao pedido do pai, assim que vira que o sangrento confronto havia sido finalizado. Desconfiado, o menino passara a observar os cadáveres jogados ao solo, caídos de forma degradante sobre os próprios fluidos. As peles apodrecidas, além do odor fétido emanando de suas carnes enegrecidas pela decomposição, faziam com que aqueles monstros se assemelhassem a tudo, menos a um ser humano.

Pensar no que um dia fora todos aqueles errantes, mesmo que por poucos segundos, fazia com que toda a matança perdesse sentido, fazia com que a vida perdesse sentido. De certo modo o mundo continuava seguindo a mesma regra que movera civilizações por milênios nesse planeta... Pessoas matando pessoas. Só o que mudara agora fora a proporção e motivação.

— Pai... Tá tudo bem? – O olho do garoto encarava o pai com pesar.

Rick seguia firme, não amoleceria ante a mais uma desobediência de seu primogênito. Suas feições seguiam enraivecidas.

— Conversamos sobre isso depois, não temos tempo agora...

Voltando-se a Glenn e Michonne, o xerife prosseguiu.

— Vamos passar a noite na van, eu fico encarregado pela primeira vigília! – Uma breve e necessária pausa fora feita, sua atenção direcionara-se para o seu prisioneiro – Amanhã conheceremos o povo de Jesus...

[...]

A noite chegara junto à chuva, que sem piedade alguma, passara a castigar toda a região adjacente a Washington violentamente. Os relâmpagos cortavam o céu, iluminando a área repentinamente com os seus muitos mil volts de potência, fazendo com que o clima se tornasse ainda mais tenebroso e assustador.

Os trovões, fortes como tambores de guerras, anunciavam de forma altiva que a tempestade se alastraria madrugada a dentro. O frio que trouxera consigo mostrava-se como a cereja daquele amargo bolo, anunciando o quanto a noite seria dificultosa de ser ultrapassada.

Sentado no banco do carona, o xerife observava os pingos d’água escorrendo pelo para-brisa, deixando-o totalmente embaçado e tornando a visibilidade praticamente impossível. A seu lado, Glenn tremelicava os dedos sobre o volante, seguindo um único compasso, provavelmente uma tentativa de fazer o tempo passar de alguma forma, ou apenas um sinal de ansiedade. Michonne e Carl, na parte de trás da van, vigiando de perto o guia da expedição, seguiam calados, olhando para a parte de fora do veículo, em uma pífia tentativa de tentar enxergar as nuvens.

— Isso não é um bom sinal...

Rick estava visivelmente preocupado.

— Sério? Dormir em uma van já não é ruim o bastante? – Indagou o asiático, sem conseguir demonstrar com precisão se estava tentando quebrar o gelo ou apenas sendo irônico.

— Estamos a pouco menos de doze horas do Hill Top...

A voz grave vinda dos fundos do veículo fora logo reconhecida como sendo a de Jesus. O prisioneiro que há horas atrás demonstrara toda a sua habilidade como combatente, seguia sendo visto como extremamente perigoso, já que prosseguia com as mãos impossibilitadas de movimentos.

— Ao menos temos boas notícias... – Glenn forçou um sorriso de canto de boca.

[...]

Como prevista a tempestade durara toda a madrugada. O grupo de exploradores partiu cedo pela manhã, antes mesmo de qualquer resquício de luz solar, quando as últimas gotas de chuva ainda escorriam pelas nuvens densas e cinzentas.

Seguindo pela estrada, sem mais nenhuma parada planejada, já que todos decidiram que seria perigoso demais passar mais uma noite ao relento, os desbravadores objetivaram então chegar ao Hill Top naquela tarde, ainda banhados pela luz do sol.

A interestadual pela qual avançavam, antes um exemplo de asfalto bem cuidado e seguro, assemelhava-se e muito a um cenário de filme de terror trash dos anos setenta. Totalmente esburacada e com as capas asfálticas soltas e envelhecidas, o caminho que escolheram percorrer estava também rodeado por carros abandonados e acidentados, reflexo dos turbulentos primeiros dias de caos, ainda no início do fim dos tempos.

O quinteto já estava rodando durante horas, seguindo a risca o mapa mental de Jesus, o guia prisioneiro que calmamente, como até então demonstrava ser, indicava-os sobre qual direção tomar, dando dicas inclusive de caminhos alternativos, que poderia evitar um gasto maior do já racionado combustível.

Dirigindo a mais ou menos cinquenta quilômetros por hora, Glenn via-se obrigado a reduzir a velocidade cada vez mais, atrasando a viagem em mais alguns minutos, tudo por conta das péssimas condições da pista. A pilha de carros enferrujados, alguns carbonizados, outros apenas destruídos, frutos de explosões, saques e ataque inesperados, atrapalhava cada vez mais o percurso.

Até que finalmente o grupo vira-se obrigado a parar.

Um caminhão tanque chamuscado, provavelmente um transportador de óleo diesel, tombara na pista, impedindo parcialmente o tráfego. Todo o combustível que nele continha já havia queimado e evaporado, porém, a carcaça monstruosa da carreta seguia por ali, como um cadáver abandonado, apodrecendo ao bel prazer do tempo.

Fora isso, outros carros menores, utilitários e veículos de passeio, repletos de malas abertas e roupas jogadas pelo solo, além de um rastro de lixo envolvendo alimentos apodrecidos e garrafas de água e isotônico vazio, completavam o cenário que parecia ter saído de uma obra de arte abstrata, daquelas totalmente caóticas e incompreensíveis.

Não dava pra prosseguir, não com todos aqueles trambolhos na pista. Pra completar a má sorte momentânea, a chuva, que dera uma breve trégua durante o início da manhã, retornara com tudo. A areia que já cobria parte do asfalto começava agora a transformar-se em uma grande camada enlameada. O segundo bolo amargo acabara de ser servido.

— Precisamos desobstruir a estrada!

Apesar das dificuldades o xerife não esmorecera. Ele sabia que se conseguissem tirar dois ou três dos veículos da estrada, a van poderia prosseguir, mesmo que precisasse passar rente a carreta tombada.

— Glenn, Michonne, preciso da ajuda de vocês! Carl, por enquanto quero que fique de olho no perímetro enquanto cuidamos dos carros!

O asiático e a samurai concordaram imediatamente com as ordens dadas por Grimes. Carl, que ainda permanecia calado após ser descoberto por seu pai, acenou positivamente com a cabeça, entendendo que sua função seria de grande ajuda naquele momento.

— Espera... Eu também posso ajudar!

A surpreendente exclamação vinda do barbudo prisioneiro causara novo espanto a todos ali. Jesus parecia prestativo demais, e não demonstrava frustração ou incômodo por estar todo esse tempo amarrado. Certamente essas atitudes poderiam significar algo muito positivo, talvez um novo membro para o grupo de Rick estivesse sendo forjado ali, um diplomata, que poderia intermediar de forma perfeita as relações entre Alexandria e o Hill Top. Ou, tudo se tratava apenas de dissimulação, e nesse caso, Grimes estaria diante de um astuto e poderoso inimigo.

Com Carl como sentinela, os demais integrantes do pequeno grupo de desbravadores deslocaram-se velozmente em sua mais recente missão, tentando rapidamente resolver o problema do bloqueio na pista. O tempo era precioso, quanto mais rápido prosseguissem, melhor.

O solícito apoio do barbudo, de fato, ajudara bastante para que o primeiro carro fosse logo retirado do caminho. Apoiando as costas na parte traseira da velha BMW, Jesus dobrou levemente os joelhos, dando apoio para o corpo enquanto que com os pés forçava-se para trás, tendo impulso suficiente para empurrar o veículo ali abandonado.

Glenn, Michonne e Rick também ajudavam, empurrando pelas laterais, direcionando o luxuoso veículo para fora dos caminhos do grupo. Dirigindo-se então a outro carro, um utilitário prata com diversas marcas de tiro na lataria, além dos vidros dianteiros estourados, provavelmente em meio a uma grandiosa confusão que deve ter se formado a época, a equipe prosseguiu com o plano, desenvolvendo a mesma tática utilizada anteriormente.

A parte mais íngreme do acostamento, localizada na parte esquerda, encontrava-se extremamente escorregadia, fruto da chuva torrencial que insistia em cair. Mal enxergando um palmo a sua frente, o barbudo, totalmente encharcado, passou a realizar os mesmo movimentos que executara com sucesso anteriormente. A força de seus músculos, mesmo que não fossem gigantescos ou muito aparentes, era de fato impressionante. O homem cabeludo carregava uma destreza inerente, natural.

Porém, nem mesmo o que poderia parecer fácil demais, até para alguém com enorme destreza como ele se mostrava ser, deixaria de ser afetado pelo acaso. E o acaso parecia estar presente naquele dia, e atento a todos os movimentos daquelas pessoas. Ao dar o impulso final, caminhando de costas, forçando o peso do corpo contra o pesado veículo e sendo guiado por Rick, Michonne e Glenn, que direcionavam a lata velha até a ribanceira, Jesus não percebeu que pisava em terreno perigoso.

Escorregadio e perigoso.

Assim que o carro fora retirado, o homem que dava sustentação, provavelmente aquele que mais sentia o peso monstruoso do utilitário, acabou derrapando ao entrar em contado com uma poça de lama, um misto de areia, terra vermelha e água, que caía como um dilúvio dos céus. Sem ter como se equilibrar, o corpo de Jesus foi facilmente lançado ao solo, derrapando pela encosta e rolando ribanceira abaixo.

A queda seria feia, no mínimo vinte metros de descida, em um terreno nada apropriado. Pedregulhos e arbustos nada amistosos aguardavam ansiosamente por seu corpo, prontos para rasgar a pele do barbudo durante o máximo de tempo possível, fazendo com que a descida não fosse nem um pouco prazerosa.

Para a sua sorte, não foi o que aconteceu.

Percebendo o destino reservado ao prisioneiro, Rick deslocou-se rapidamente em sua direção, pisando firmemente no solo e estendendo a mão esquerda, catando-o pela camisa e fincando os pés na lama barrenta, na tentativa de fixar-se. Os companheiros de missão logo fizeram o mesmo, impedindo que o pior ocorresse aos dois homens.

Erguendo o assustado e visivelmente estafado homem, Rick percebeu verdadeiros traços de humanidade ao olhar diretamente para os seus olhos. Ele não parecia um traidor, muito menos o sobre humano que diversas vezes aparentava ser. Jesus era um homem, um sobrevivente, alguém que assim como ele já havia visto muito de tudo naquela vida. Os dois já encararam as diversas facetas do novo mundo.

E aparentemente, o novo mundo sorrira para os dois.

— Você está bem? – Grimes respirava fundo, apoiando-se nos próprios joelhos – Você não precisava ter ajudado... Me desculpe por isso!

Jesus, imundo pelo contado direto com o lamaçal, levantara o olhar para o xerife, estudando brevemente as suas feições. Queria saber o motivo da mudança de atitude.

— O pedido de desculpas é por conta da minha queda ou por ter me deixado amarrado esse tempo todo?

Rick erguera o corpo, voltando à posição altiva já conhecida. Os cabelos ondulados encharcados, caídos levemente sobre o rosto, moldava sua cansada face juntamente à barba, rala e mal feita, já tomando conta de toda a extensão de seu rosto.

— Por você ter caído... – O cabelo fora posto para trás, deixando os olhos totalmente a mostra – Por manter você amarrado, bom... Se essa historinha de Hill Top não se mostrar um teatrinho, não sei um pedido de desculpas será suficiente!

O barbudo riu de canto de boca. A resposta já era esperada por ele.

— Será um começo...

O caminho estava liberado e não havia mais necessidade para ficarem ali. Retornando a van, o grupo contornou a carreta lentamente, seguindo sempre as indicações de Jesus, que já apontava a proximidade do destino final.

Observando todo o trajeto pela janela, Glenn observou o quanto estavam se aproximando de Washington, o que provavelmente não seria algo bom. Ele já havia estado lá dentro, em uma das muitas missões junto a Heath, e sabia de todos os perigos que a grande cidade guardava para eles.

Além dos errantes em quantidades descomunais, DC também carregava um ar soturno, algo indescritível, mas facilmente sentido por quem ali estivesse. O asiático não admitia, mas sempre sentira-se muito tenso enquanto esteve por lá, muito mais do que em qualquer outra perigosa missão que concluíra anteriormente. A capital parecia reservar mais perigos do que aparentemente demonstrava, e toda essa misteriosa tensão, ampliava ainda mais todas as sensações ruins que comumente brotavam em seu ser.

As lágrimas jorradas pelas nuvens diminuíam cada vez mais de intensidade, mas ainda assim, a chuva ainda poderia ser considerada muito forte. O tempo parecia ter enlouquecido, e o frio aumentava cada vez que a noite tornava-se mais próxima.

Saindo finalmente da interestadual, que firmemente seguiria agora na direção de Annapolis, a van desviou o trajeto, tomando uma estrada alternativa que, segundo o guia, encurtaria em muito o caminho do grupo. Após mais alguns quilômetros por um caminho totalmente irregular, o veículo dos desbravadores finalmente alcançara a divisa de Washington, no ponto mais próximo a cidade pelo qual haviam passado.

Subindo um pequeno viaduto, era possível observar a magnitude dos prédios, pomposos, ainda exuberantes apesar de não terem mais função nesse mundo. Tais obras passariam a se tornar ruínas, apenas lembranças de uma época que nunca mais retornaria.

Erguendo o tronco na parte de trás da van, Jesus tentou olhar através dos vidros dianteiros, assegurando-se de que aquele era mesmo o caminho. O cabeludo que ainda encontrava-se sujo, com lama pela barba e rosto, parecia não se preocupar com tais detalhes, seguindo com os pequenos olhos fixos no embaçado para-brisa do carro.

Japa, encosta aqui!

Glenn não curtia os estereótipos, ainda assim, preferiu não responder a dose de preconceito velado do prisioneiro.

— Qual o problema? – Questionou Michonne, ainda sem entender o que ocorria.

— Preciso ir ao banheiro dona... Sabe como é!

A samurai apenas arqueou uma das sobrancelhas, mantendo as feições sérias como de costume. Com um aceno de cabeça, Glenn estacionou o carro em frente à porta de uma velha oficina, totalmente pichada e depredada.

Rick abriu a porta do veículo, deixando que o homem descesse e o acompanhando brevemente.

— O máximo que posso fazer é abrir as suas calças, o resto é com você...

Jesus sorriu, fazendo uma careta nada graciosa.

— Não precisa, eu me viro!

Girando rapidamente o corpo, o barbudo conseguiu retirar as mãos das cordas, aparentemente frouxas, provavelmente já desatadas há tempos pelo habilidoso homem. Grimes não parava de ser surpreendido por ele, o que acabava por nutrir um grande incômodo em seu interior. Rick não se sentia confortável em não estar no comando das situações.

— Que porra foi essa Jesus? – O xerife levou a mão à pistola. A voz grave, quase como a de um tenor, indicava o quanto à tensão subira repentinamente.

— Calma chefe... – O barbudo ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo – Você achou mesmo que eu ficaria amarrado todo esse tempo?

As palavras fugiram completamente de sua boca. Dessa vez a arma não seria retirada do coldre, as coisas poderiam ser resolvidas apenas na conversa. Um conflito não seria nada benéfico àquela altura.

— Eu estava te testando... – Manifestou-se o cabeludo novamente, ainda sorrindo irritantemente – E você passou, meus parabéns!

Antes que o xerife pudesse balbuciar um porque, Jesus prosseguiu demonstrando o seu ponto.

— Eu conversei com o seu filho, consegui perceber todos os pontos que cercam a sua comunidade... É por isso que eu estou vivo até hoje, de certa forma acredito que eu tenha um certo dom de detectar o caráter das pessoas... Pelo menos eu nunca errei até hoje!

Grimes respirou fundo.

— Antes de deixá-los entrar em minha casa, precisava ter certeza de que não seriam visitantes inapropriados... – O homem também demonstrava ser habilidoso em seus trocadilhos – Vendo a forma como você educa o seu filho, ou melhor, como vem educando esse garoto em meio a toda essa merda... Não tem como você não ser gente boa!

Ainda absorto, o xerife só pôde pronunciar uma palavra.

— Obrigado...

Jogando as cordas no chão, Jesus passou a caminhar livremente, direcionando-se a lateral da velha garagem onde o grupo estacionara.

— Bom, eu confiei em você... – O barbudo parecia altamente seguro de si – Chegou a hora de retribuir o ato...

Parando exatamente na esquina do estabelecimento, o cabeludo simpático ergueu os braços, apontando em direção ao horizonte.

— Chegamos... Bem vindos ao Hill Top!

Há cerca de cem metros de distância, pequenos focos de fumaça podiam ser vistos despontando no céu, assim como um enorme muro construído sobre firmes trocos de árvores, protegendo um perímetro bem maior do que Alexandria. A construção sobre um vale seguia de forma irregular por uma distância não calculável a olho nu.

O Alto do Morro realmente existia... E era mais impressionante do que Rick ou seu grupo poderiam mensurar.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

O capítulo ficou um pouco menor que os anteriores, mas a ação se mostrou presente... E já fazia um tempinho que ela não aparecia por aqui...

Aguardo os comentários, nos vemos por lá!

Kiitos!



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