A mocinha e o vilão escrita por Tia Lety


Capítulo 9
Capítulo 09- A verdade por trás dele


Notas iniciais do capítulo

Gnt!! Obrigada por comentarem! Assim eu posso saber o que vcs estão achando da história! OBG!!

Tia Lety



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Narração de: Agnes

Contei a ele sobre meu lugar preferido. Ele era iluminado e escuro ao mesmo tempo, e quando eu ia com a minha mãe, caçávamos pequenos amigos. Levei Eric para a porta da minha casa e pedi para esperar ali, não queria que Jorge o enchesse de perguntas ou coisa do tipo. O meu lugar preferido era meio longe, então iríamos precisar de bicicletas, pegaria a de Wesley e a minha.

Entrei em casa e vi Jorge almoçando. Normalmente ele não tem trabalho de tarde, e sempre almoça em casa. Wesley estava no banho. Jorge me chamou, sério. A gravata estava quase saindo do lugar, os poucos cabelos estavam penteados harmonicamente e os sapatos pretos, perfeitamente engraxados.

—Wesley me contou porquê brigaram.— falou ele— Eu não quero que se aproxime desse garoto de novo Agnes. Isso é uma ordem.

—Tá, tá, tá...— falei, resmungando

—Agnes! Isso é uma ordem! As pessoas não mudam! Ele vai te magoar de novo!

—Eu consigo mudá-lo! Eu acredito que as pessoas mudam!

—Mas elas NÃO MUDAM!— Jorge gritou tão forte que meus ouvidos doeram— Agnes... Uma ordem.

—Fique sabendo sr. Jorge, que o senhor não é o meu pai!

Sei que ele só quer me proteger, mas Jorge não controla a minha vida. Ele só é meu... responsável, mas e daí? Subi para o meu quarto, deixei minha bolsa em cima da cama e peguei meu violão. Preparei uma mochila com soda e dois potes de vidro com a tampa bem forte. Desci, apressada, e entrei na garagem e tirei as duas bicicletas por fora. Dei a Eric uma bicicleta e eu fiquei com a outra.

Andamos de bicicleta, meio apressados, apostando corrida e sentindo o vento correr na nuca. Subimos uma ladeira e entramos no meio do bosque que havia na cidade. Eu costumava a vir com a minha mãe de carro todas as noites para cá, mas depois que aconteceu um incidente, passamos meses sem vir.

*Flashback*

Eu tinha dez anos na época. Estava subindo com a minha mãe, Jorge e Wesley para o meu lugar preferido. Estava muito animada, era ano-novo e lá devia ser o melhor lugar para assistir os fogos de artifício. Wesley e eu discutíamos sobre quem pegaria mais amigos-pequenos, que era como chamávamos, e era por isso que sempre que íamos, levávamos potes de vidro com tampas bem fortes.

Minha mãe batia fotos com sua câmera. Lembro-me de como o flash me cegava a cada vez que ela virava do banco do passageiro. Também lembro do seu sorriso doce, dos olhos esverdeados sinceros, e dos cabelos castanhos, soltos e caídos pelo ombro. Tenho boas lembranças de minha mãe, mas também ruins. Lembro que ela não gostava mais de viver, e todas as noites, se trancava no banheiro e se cortava. Ainda era possível ver os cortes em seu pulso quando batia as fotos.

Quando deu meia-noite, vimos os fogos de artificio mais brilhantes, mais felizes. Minha mãe estava bebendo, e quando não estávamos olhando, ela quebrou a garrafa no chão e começou a se cortar.

—Mamãe!— chamei— Venha ver os fogos! Estão muito bonitos!

Mas eu não obtive resposta. Me virei e vi seu corpo caído no gramado, sujo de sangue. Ela tinha se cortado demais, e nossa noite de ano-novo terminou numa sala de emergência do hospital.

*Fim do Flashback*

E lá estava eu. Indo de novo para esse lugar, onde as lembranças não foram muitos boas. Já era mais ou menos seis horas da tarde quando chegamos. Era o morro mais alto da cidade. Ele não era muito alto, mas dava para ver a cidade inteira. A lua e as luzes da cidade iluminavam meus olhos, e lembrei de todos os momentos em que estive aqui.

—Este lugar é incrível.— disse Eric, se sentando no gramado

Sentei ao lado dele e vi as luzes da cidade se mexerem aos poucos. Suspirei e tentei falar:

—Eric... Sobre Wesley, eu queria pedir desculpas e...

—Não tem importância. Ele só estava tentando te proteger do monstro Eric.— ele se apoiou nos joelhos

—Você não é um monstro.

—Sabe qual é o meu problema? É que eu nunca vou mudar.

Eric parecia meio triste. Queria entretê-lo, fazer ele esquecer do que eu acabei de falar. Contei a Eric sobre minha mãe, e como ela me deixou, partindo para uma vida melhor, sem dor.

Eric me contou que sua mãe era agredida por seu padrasto, e sempre que podia, a ajudava. Eu não imaginava que ele passava por isso. Talvez isso explicasse por quê Eric aparecia com o rosto vermelho para as aulas.

—Eles chegaram Eric!— falei baixinho

—Quem?— ele se virou

—Os pequenos...

Um monte de vagalumes apareceram por trás das árvores. Tirei um pote de vidro da bolsa e dei a Eric.

Começamos a pegar vários vagalumes, e acabei de divertindo novamente nesse local. Eric pulou por cima de mim, fazendo nos dois cairmos na grama, rindo. Ele parou de rir e apoiou as mãos na grama, me prendendo.

—Você está me mudando.— disse Eric— Sabe qual é o meu lugar preferido agora?

Fiquei vermelha como um pimentão.

—Eu sei o que você pensou.— riu Eric— Mas não quero ser invasivo. Meu lugar preferido é dentro dos seus olhos...

—Alguém já te disse que você é bom com palavras?— perguntei

—Não. Você é a primeira.

As palavras dele ecoavam no meu coração, que estava mais acelerado do que nunca. Ele disse que eu estava conseguindo mudá-lo...Eric tinha cheiro de hortelã, como se fosse menta. Era bom. Eu gostava. Ele acariciou meu rosto, eu quase senti o beijo que Eric ia me dar, mas um farol de luz tomou conta da minha visão. Eric se levantou e depois me levantou. Era o garoto de moicano e sua turma. O tempo começou a fechar, uma chuva ameaçava a vir.

—É, eu lhe devo cervejas grátis Eric.— disse ele, saindo do carro

—Vai embora Carl.— falou Eric

—Não quer que ela escute não é? Eric, garotos não se apaixonam de verdade. Só realizam seus desejos carnais.— Carl umedeceu os lábios

—Vamos embora Agnes.— pediu Eric

—Não. Eu quero ouvi-lo.

Do que eles estavam falando? "Te devo umas cervejas"?, "garotos não se apaixonam"?, "não quer que ela escute"?. Eric suava feito um porco, e ainda insistia para irmos embora, mas eu queria ficar, queria entender do que eles estavam falando.

—Você não passou de uma brincadeira Agnes.— disse Carl— Uma aposta.

—O quê...?— me perguntei

—Você acha mesmo que ele.— Carl apontou para Eric— Pode sentir alguma coisa? Esse garoto é oco! O-c-o!

A chuva começou a cair do céu, molhando minhas vestes. Minha cabeça começou a girar. Era tudo mentira! Senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu não queria admitir!, mas sentia algo muito forte por Eric! Suas palavras, seu olhar... o jeito de como ele me entendia, o jeito de como ele se via. Nossas brigas... talvez só isso fosse real mesmo.

—O prêmio era cerveja.—completou Carl

O meu coração parou por alguns segundos. Ele fez isso comigo por cerveja?! Sai de perto dele e peguei os potes com vagalumes, meu violão e minha bicicleta. Depois eu pego a bicicleta de Wesley.

—Agnes, espera!— Eric agarrou meu pulso, mas eu soltei com força

—Você me usou!— minha voz estava chorosa— Além de acreditar em você eu também senti! Eu consegui te amar de verdade! Mas agora...— funguei. Eric olhava para mim com os olhos esbugalhados— Eu posso ver que as pessoas não mudam. Meu irmão estava certo. Você é um monstro Eric!

—Agnes por favor! Só me escute!

Bati em seu rosto com força e subi na minha bicicleta sem olhar para trás. Era o dia mais infeliz de toda a minha medíocre vida, de toda a minha porcaria de vida! Desci o morro, tentando não sofrer um acidente, já que as lágrimas tomavam conta da minha visão.

Entrei em casa, chorando e completamente molhada. Jorge se levantou do sofá e me olhou de cima à baixo. Limpei os olhos e falei:

—Você tinha razão Jorge! Teve razão o tempo todo!

Ele abriu os braços e eu corri para ele. Soluçava e tentava esconder minha infelicidade. Jorge amaciava meus cabelos molhados.

—Acalme-se meu bem... Acalme-se.


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