Narração de: Eric

A marca dos dedos de Agnes ficou tanto no meu rosto quanto no meu coração. Carl riu, mas eu nem me importei, só observei Agnes ir embora chorando. Tudo o que eu mais precisava agora era do sorriso dela, mas eu fiz ao contrário do sorriso, eu a fiz chorar. Agnes jamais voltaria a confiar em mim. Carl abriu uma latinha de cerveja para mim e sorriu, com seus dentes estremelados e sujos. Peguei a latinha com força das mãos dele e joguei todo o álcool em seu rosto, depois peguei a latinha e a joguei no chão, e a pisei com força.

A chuva me molhava, mas eu não ligava. Não me importava com nada, só ligava de como eu feri Agnes e como eu sou um monstro. "Meu irmão tinha razão. Você é um monstro Eric!", foi o que ela disse antes de me dar um tapa. Passei na rua da casa de Agnes e deixei a bicicleta de Wesley no portão.

Fui para casa e vi Luiz deitado de pança para cima no sofá, e minha mãe lavando a louça. Eles nem perceberam que eu cheguei. Subi para o meu quarto e abri o frigobar, tirando uma latinha de cerveja. Bebi tudo de uma vez, engolindo os meus erros, e bebendo o meu arrependimento.

Quarenta e uma latinhas de cerveja. Eu bebi quarenta e uma latinhas de cerveja em uma noite. Meus olhos estavam vermelhos e minha cara estava horrível. Eu acho que eu só não me matava agora por conta da minha mãe. Cara, que tipo de homem eu sou?! Enganei a garota que eu amei, a única, em tantos anos de vida. Espera... Eu a amei. Eu senti de verdade. Corrigindo, eu a amo, eu sinto de verdade. Agnes pode me perdoar! Ela disse que me amou! Eu posso mudar, e eu quero provar isso à ela! O meu despertador tocou nesse exato momento. Já eram seis horas?

Fui para o colégio e vi Agnes conversando com Karine, segurando um panfleto nas mãos. Quando ela me viu, jogou o panfleto no lixo e andou às pressas no corredor. Peguei o papel do lixo e li. Acampamento? Biologia? Agnes com certeza ia para esse lugar, então eu também vou. O feriado já começa amanhã, então estarei lá.

—Eric!— chamou Carl— Que merda foi aquela que você fez?! Jogar cerveja em mim? Já estava bêbado?!

—Fique com as suas bebidas pra você Carl. Não quero mais meu prêmio.

—Cara, você está apaixonado por ela mesmo?! Você está muito tenso. Precisa de diversão.— disse Carl

Comecei a sentir nojo de Carl. Ele disse que garotos não se apaixonavam, satisfaziam seus desejos carnais. Aquilo deve ter sido uma bomba para Agnes.

Peguei o meu celular e pesquisei: "como fazer para a garota se apaixonar por você?". Porque sinceramente, nem sei por onde começar. Dizia algo sobre bombons e flores, mas acho que isso não serviria nem em um milhão de anos.

Agnes sentou longe de mim na aula, nem sequer quis me ver. Me sentia péssimo, e ela conseguia contribuir bastante nesse meu humor. No fim da aula, esperei Agnes no portão de saída, mas para falar o quê? Só para ver sua cara de desapontada? Carl veio até mim com uma garota bem... recheada, até mim.

—E aí Eric... Quer conhecer minha nova amiga?

A garota se encostou em mim e quase esfrega os seios na minha cara. Nesse momento, Agnes passou pelo portão e viu essa garota se esfregando em mim. Agora sim ela deve pensar que eu sou um depravado.

—Por que não se diverte com ela hoje à noite?— perguntou Carl

Era tentador admito. Ei! Estou amando, mas ainda sou homem!

Neguei com a cabeça e entrei novamente na escola. Me inscrevi para ir nesse negócio de acampamento. Vou fazer de tudo para Agnes me perdoar.

Saio da escola e encontro Raquel.

—Oi Eric. Queria pedir desculpas sobre o negócio do beco e tal...— falou ela

—Não esquenta. Ainda está namorando Carl?

—Estou, mas ele não liga pra mim sabe... Toma uma cerveja comigo?

Estava tomando umas cervejas com Raquel, até começar a desabafar com ela. Contei sobre meu amor platônico com Agnes e como estou arrependido. Acabei bebendo demais, e nem me lembro o que aconteceu depois.

***

Abri os olhos e estava num quarto, deitado em uma cama. Minha cabeça doía muito. Estava sem roupa por debaixo dos lençóis. Olhei em volta e vi Raquel, ao meu lado, nua. O que diabos está acontecendo aqui?! Assustado, caí da cama, batendo a cabeça no chão. Minhas roupas estavam espalhadas pelo quarto. Raquel riu por cima da cama.

—Você não se lembra de nada?— ela desceu da cama e ficou por cima de mim— Eu me lembro muito bem...

—Não!— eu a tirei de cima de mim— Isso nunca aconteceu!— Raquel começou a me beijar nos lábios— Nunca...

Raquel beijou todo o meu corpo. Eu não mereço Agnes. Bebi por uma hora e já deito com a namorada do meu amigo?! Eu nem mereço viver direito!

—Ah Eric... Isso será sigiloso. Vamos mais uma vez...— pediu ela, agarrando minha mão e pousando em suas partes íntimas

De novo?! Não era para ter acontecido nem uma vez! Tirei minha mão e me levantei. Comecei a catar minhas roupas do chão e saí dali. Estava na casa de Raquel.

Eu me sinto péssimo, destruído... Me sinto um monstro. Fui para casa e arrumei uma pequena mala, teria que sair de casa amanhã às sete da manhã para o acampamento de biologia. Cara... Minha vontade agora é de afogar minha cabeça na privada.

Luiz estava dormindo no sofá e minha mãe estava assistindo televisão. Ela me viu entrar e perguntou o que aconteceu, para eu estar tão deprimido. Fiz um gesto para que ela me seguisse. Minha mãe tirou os pés sujos de Luiz de cima dela e foi para o meu quarto.

Sentei com ela na cama e chorei. É! Eu chorei mesmo. Minha mãe fez um rosto surpreso.

—Filho o que aconteceu?— perguntou ela

—Eu fiz muita besteira mãe! Eu magoei a única garota que amei na vida, transei com a namorada do meu melhor amigo... eu me odeio!

Minha mãe me deu um puxão de orelha. Gemi de dor e ela me olhava séria. Ela me soltou e eu toquei na minha orelha, só para ter certeza que ainda estava ali.

—Ai dona Tereza!— falei

—Você é muito idiota filho! Como pode fazer tanta burrada?!— ergui a sobrancelha— Tudo pode ser consertado Eric, então conserte sua ética e seja o mesmo garoto que a garota que você se apaixonou, não mude. Quer dizer, mude, mas de verdade.