Os dois em seus quartos deitados em suas camas tiraram o papel um do outro do bolso e abriram:

– Qual serão as verdades por trás dessa pessoa? – disse Gabriel em seu quarto.

– Qual serão as verdades por trás dessa pessoa? – disse Sophia em seu quarto.

# Carta de Sophia

Eu era muito feliz com minha família. Vivia numa mansão aqui perto, éramos meu pai, minha mãe e meu irmão. Minha mãe era a mulher mais doce do mundo e nos amava mais do que tudo, era parte dela, sempre amável e gentil. Meu pai era um pouco exigente, mas era um ótimo pai e nos amava e não escondia isso. Meu irmão e eu éramos gêmeos, não éramos univitelinos ( idênticos ) mas éramos bastante parecidos.

Todos os dias tomávamos café da manhã em família no nosso labirinto de rosas, tínhamos uma criação de coelhos no jardim e brincávamos lá, costumávamos dormir juntos em tempestades, eu os amava demais. Esses foram os meus dias felizes de crianças, mas tudo foi mudando aos poucos.

Eu vi meu tio pela ultima vez aos 12 anos de idade. Sua esposa havia morrido em um acidente de carro na qual ele dirigia e a família inteira se reuniu no velório junto de amigos, não éramos uma família muito grande já que nossos avós morreram e meu tio não teve filhos. Ele era mais novo que meu pai e era muito amado por nossa família, mas no dia em que a esposa dele morreu ele fez uma grade ameaça:

– Eu juro que eu vou destruir a sua família e tomar tudo o que é seu. – disse ele ao meu pai na frente de todos.

As pessoas seguravam-no para que ele não avançasse em cima de meu pai. Ele realmente nunca mais foi o mesmo depois da morte da esposa e meu pai fez com que ele nunca mais aparecesse em nossa frente. Esse era o início do fim e nós mal sabíamos.

No nosso aniversário, de meu irmão e eu, de 15 anos houve uma grande festa. Meu irmão e eu estávamos começando a ter alturas e vozes diferentes e isso foi uma pena, seus cabelos e olhos eram negros, diferentes dos meus, mas tirando isso éramos quase um espelho. Nessa grande festa meu pai revelou que meu irmão e eu tínhamos noivos que ele havia escolhido, pois os nossos noivos eram de famílias de alta classe, era nessa festa que íamos conhecê-los. Uma jovem chamada Maria era a noiva de meu irmão, tinha cabelos longos castanhos e era graciosa e bela, meu irmão logo se apaixonou por ela. Meu noivo era um jovem um pouco mais velho que eu, tinha uma postura elegante e era um galante entre as moças, ele é o Albert. Diferente de meu irmão eu não me apaixonei por ele a primeira vista, pois eu queria conhecê-lo e ainda não sabia nada dele, mas isso mudou longo. Ele era gentil, diferente do que eu pensava, eu achava que ele era superficial, mas assim como eu ele também estava desconfortável com essa ideia de casamento arranjado, mas logo nos apaixonamos.

Todo o dia nos encontrávamos nos fins da tarde no labirinto de rosas do meu jardim, lá foi o lugar das minhas melhores lembranças. Conversávamos sobre o futuro, sobre o casamento e sobre como seria a nossa família.

Um dia, porém, vi meu irmão aos prantos e soube que noiva dele havia morrido afogada na praia. Ela nunca havia visto o mar e meu irmão a levou para conhecer. Ela entrou dentro d´água e foi se afastando dele, ela começou a se afogar e ele tentou ajudá-la, mas quando ele chegou já era tarde.

Ele se afogou na culpa. E foi aí que tudo começou a mudar radicalmente, pois essa foi a pequena brecha meu tio havia encontrado.

Gabriel leu atentamente a carta e não deixava de se impressionar a cada palavra escrita. Pensar que o noivo gentil era Albert o levou a pensar que o que aconteceu para mudar tanta coisa foi realmente sério. Após lê a carta ele a pôs dobrada embaixo do travesseiro e dormiu com a luz do banheiro acesa abraçado com seu urso.

#Carta de Gabriel

Como eu disse, há coisas que não queremos contar a ninguém, pois é doloroso. É doloroso perder o que amamos.

Eu era filho único e era muito amado por meus pais e todos os dias minha mãe ficava comigo até eu dormir, é disso que mais sinto falta. Minha mãe era muito amável e meu pai também, eles se amavam e éramos felizes. Todos os dias eles me deixavam e buscavam da escola e conversávamos no caminho.

Não éramos ricos, mas também não éramos muito pobres. Meu pai era muito inteligente e estava terminando seu curso para entrar na polícia, ele tinha um forte senso de justiça, mas era gentil e piedoso. Todos os dias ele me ajudava com a tarefa de casa.

Todas as noites passeávamos pela praça e íamos tomar sorvete, eu adorava isso, era nesse momento que conversávamos sobre nosso dia. Um dia enquanto passeávamos recebi a notícia de que meu havia terminado o curso e conseguido um ótimo emprego. Soube também que em breve iriamos nos mudar para um lugar melhor. Foi lá onde eu perdi eles para sempre.

Sophia leu a carta com um aperto no coração, queria saber o que aconteceu para que esse garoto tenha mudado tanto. Sophia leu a carta novamente e chegou a conclusão de que não importa o quão diferente ele esteja, ele ainda é uma criança e sente falta dos pais mais do que tudo, assim como ela sente falta do amor da família que perdeu. Após ler a carta a guardou dentro de uma caixa na parte de cima de seu guarda-roupa onde havia outras cartas e fotografias e então foi dormir, pois amanhã tinha que acordar cedo para despertar Gabriel para ele ir a escola.