— É sério! Eu realmente preciso aprender — Percy disse praticamente implorando para mim — E você é a segunda pessoa mais indicada que eu conheço.

Segunda...A primeira deveria ser Annabeth.

— Na realidade, eu sou o melhor — Eu disse casualmente, tentando não parecer ofendido com suas palavras — Mas eu não posso ensinar você. Isso irá levar o dia todo!

— Não deve ser tão difícil! — Ele disse olhando para mim com brilhantes olhos verdes, procurando por alguma coisa que me fizesse ceder.

Isso não vai ser fácil...Porque eu estou pensando em aceitar isso mesmo?

Fazia alguns dias que Percy estava me incomodando dizendo que queria aprender a jogar xadrez, mas não tinha a quem recorrer e então me pediu para ensiná-lo. Aquilo já estava me irritando profundamente.

— Porque não pede a Annabeth? — Perguntei depois de um longo dia de treinos – Ela não seria a melhor pessoa para te ensinar?

A com mais paciência também.

Percy olhou para baixo evitando me olhar. Ele vestia um jeans surrado e uma camiseta do acampamento, no pescoço o seu inseparável colar de contas. Quando olhou para mim novamente havia tristeza em seus olhos. Senti pena dele.

— Ela tentou mas eu acabei me confundindo — Ele soltou um suspiro — Então ela brigou comigo falando que eu era muito tonto — finalizou soltando um muxoxo.

Minha pena se transformou em raiva, de Annabeth, de Percy e de mim mesmo por permitir que isso acontecesse. Porque eu não conseguia ser corajoso o suficiente como Nico e Will?

— Então eu pensei que se você me ajudasse então eu provaria para Annabeth que eu não sou o tonto que ela pensa — Ele deu um sorriso esperançoso.

Coitado. Se ele soubesse o que Annabeth anda fazendo.

Deixei Percy continuar com o seu monólogo pensando nos prós e contra sobre ajudá-lo. Seria extremamente difícil, mas não impossível e eu poderia passar um tempo com ele, mesmo sendo por algumas horas.

Correção. Dias.

— Okay, venha no meu dormitório amanhã para começarmos – Eu falei sorrindo, mas por dentro estava realmente preocupado. Percy e eu trancados por um dia em um cômodo. Só a ideia já era o suficiente para me deixar animado e apreensivo. Muito apreensivo.

E agora que estávamos aqui parecia impossível me concentrar em ensinar alguma coisa, Percy parecia estar em outro mundo e tinha parado de prestar atenção ao que eu dizia quando mencionei a divisão de 64 quadrados. Quando eu decidi dar uma nova chance para ele, Percy já estava sentado reto em sua cadeira de frente para mim parecendo extremamente concentrado.

— Primeiro, eu irei te ensinar aonde estão as peças, você tem que saber o nome de todas elas, okay? — Ele assentiu de leve com a cabeça – Esses da frente são os peões — Falei apontando para as pequenas peças brancas.

— Peões? — Percy pegou um deles rindo e começou a gira-los em sua mão, jogando para o alto e depois pegando. Ele já tinha perdido todo foco no jogo. Pelo menos consegui manter a atenção dele por um tempo.

10 segundos. Era um recorde até agora.

— Percy! — Gritei com ele para chamar sua atenção, ele parou o que estava fazendo e me olhou — Essas são as torres — Apontei para as peças, tentando voltar sua atenção para o jogo novamente — São peças importantes para montar sua estratégia no jogo.

— Entendi. — Ele abriu um sorriso — Então fazemos assim? — Ele pegou uma torre e movimentou a peça como se estivéssemos jogando dama e "comeu" um dos meus peões.

Ele estava falando sério?

— Isso não vai dar certo — Passei a mão no meu cabelo em um gesto involuntário — Assim não vamos chegar em lugar nenhum! — Eu estava nervoso, extremamente nervoso.

Já não bastava eu estar cansado e ter que me controlar perto de Percy, eu ainda tinha que aguentar ele comparar uma das minhas atividades favoritas a um simples jogo de damas?

É possível alguém achar que dama é igual a xadrez?...Aparentemente é.

— Não vamos chegar em lugar nenhum? — Ele riu como se o que eu tivesse dito fosse realmente engraçado — Porque?

Minha boca foi mais rápida que o meu cérebro e acabou respondendo antes de eu sequer raciocinar a sua pergunta.

Eu deveria pensar mais antes de responder.

— Porque você é — Percy me olhou como se me desafiasse a continuar, soltei um suspiro pesado me arrependendo do que eu ia dizer — Porque você é difícil, Percy.

— Grande maneira de me chamar de burro — Ele disse se levantando e caminhando até a porta irritado. Me amaldiçoei internamente mil vezes antes de tomar coragem para levantar e ir até ele.

— Percy! — Agarrei seu braço no mesmo instante impedindo-o de ir embora, ele me olhou com os olhos vermelhos, provavelmente estava se segurando para não chorar. Me senti o pior semideus que existe naquele momento — Me desculpe.

Ele me olhou parecendo medir a sinceridade das minhas palavras, soltou um suspiro e voltou para a cadeira em que estava se sentando imediatamente.  Fiz a mesma coisa que ele voltando para o meu assento.

Passamos vários minutos em um silêncio constrangedor, tentando escapar daquela situação pensei em voltar para o jogo, mas a ideia não me parecia tão tentadora, olhei para Percy para saber o que ele achava, o jeito que ele encarava o tabuleiro deixava bem claro que ele não estava disposto a uma nova tentativa. Pensei em outros assuntos que desviassem sua atenção, mas não achei nada interessante que fizesse ele sair do estado em que estava. Decepcionado e triste. O silencio foi quebrado quando ouvi sua doce voz falar bem baixinho:

— Vou entender se você não quiser ensinar alguém — Percy olhou para mim extremamente chateado — Alguém como eu - Ele finalizou com o rosto abaixado.

Jason... Tem como você ser mais idiota?

Eu precisava mostrar para ele que eu estava realmente arrependido do que eu disse. Eu precisava animá-lo e fazer algo para trazer o foco dele de volta para o jogo.

Não tenha ideias que depois você irá se arrepender.

— O que você tem a me dar? — Perguntei enquanto encarava seus olhos carregados de tristeza e confusão. Eu não queria ouvir minha consciência nesse momento — Eu vou ter que passar o meu final de semana te ensinando a jogar, Percy, espero que tenha algo para mim depois que acabarmos.

— Você realmente está disposto a me ajudar? — Ele perguntou me olhando com os olhos cheios de esperança — Não vai se importar se eu não entender ou fazer idiotice? Não vai me xingar de tonto? — Ele virou um pouco a cabeça para o lado como se quisesse me entender melhor.

— Me desculpe pelo o que eu disse — Desviei meu olhar do seu não suportando a carga de culpa que me corroía por dentro a cada olhar magoado que ele me lançava — Mas então Percy, o que você irá fazer por mim em troca?

— O que você quer de mim? — Percy me olhou ainda mais confuso e perdido.

Eu quero muitas coisas de você, Percy.

Me levantei da minha cadeira e caminhei lentamente até ele, em nenhum momento desviei meus olhar do dele. Me abaixei calmamente até prendê-lo sentado na cadeira, ficando assim na mesma altura que ele.

— Jason, o que você está fazendo? — Ouvi ele resmungar antes grudar meus lábios nos seus, ele ficou parado durante todo o momento.

Eu ainda tinha meus lábios colados no seu, aproveitei que ele não dava sinais de resistência e continuei a beijá-lo, sentindo a textura de seus lábios, tão macios e suaves. Eu queria aprofundar o beijo mas não tinha certeza se Percy deixaria e eu não seria louco de arriscar o meu momento por isso.

        Eu podia sobreviver sem ter sua língua na minha...Certo?

Quando eu não tinha mais ar em meus pulmões, fui obrigado a me separar dele. Porque ele tinha me deixado fazer isso? Ele gostava de mim? Ele me queria tanto quanto eu o queria? Mas assim que olhei em seu rosto todas as minhas esperanças foram por água abaixo.

Era choque...Puro e genuíno choque.

Percy esta chocado com a minha ação, ele ficou tão assustado que não se movia, demorei vários minutos só para constatar que ele ainda respirava. Quando olhei em seus olhos foi como se tivessem me dado um tiro no coração, Percy me olhava estranho, como se não acreditasse que eu tinha feito realmente aquilo, e aquilo nos olhos dele parecia repulsa. Me apeguei a todos os Deuses pedindo para não ser repulsa.

Me levantei rapidamente e dei todos os passos possíveis para trás, para longe daquele olhar. Eu não estava acreditando nisso, tinha sido um momento tão perfeito, tão mágico.

Talvez só tenha sido tudo isso para mim.

Peguei meu casaco que estava jogado no canto e sai em passos apressados para fora. Eu não conseguia mais ficar ali, não com ele, não com aquele olhar. Andei para o lugar mais distante de tudo e de todos, não respondendo a quem falava comigo e trombando com pessoas que eu não fazia a minima ideia de quem eram, eu estava imerso demais em pesamentos para reparar em detalhes como esse.

Cheguei a beira da praia e me sentei na areia, admirando o belo pôr do sol que acontecia no horizonte. Tomei a liberdade de relembrar o acontecimento de poucos minutos atrás. Por que eu fui idiota o suficiente para fazer uma coisa dessas? Até parece que eu não sei me controlar.

Fiquei sentando por bastante tempo até ouvir as cornetas simbolizando a hora do jantar. Me levantei e caminhei de volta para o meu chalé. Eu queria que Percy ainda estivesse lá, assim poderíamos conversar e esclarecer tudo, eu me desculparia e talvez pudéssemos continuar a nossa amizade.

Mas não foi essa cena que eu tive quando entrei.

Não havia ninguém...Percy havia me deixado.