Como um Patético Filme Americano escrita por God Save The Queen


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Eu amo as conversas entre Phelipe e Isabelle, são cheias de existencialismo.



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>>o Ponto de vista: Isabelle
— Isabelle? - Justin me encarava com completa confusão. Eu tinha vindo direto do Central Park pra casa dele e Phelipe foi pra casa da Allison, eu queria conversar, queria que ele me abraçasse e me dissesse que tudo ia ficar bem.
— Eu posso entrar?
— Claro, claro. Eu ainda nem comecei a me arrumar, não sabia que horas o almoço ia começar.
— Não, não foi por isso que eu vim.
— O que aconteceu, então?
— Podemos conversar?
— Tudo bem... - sua voz estava controlada, eu não queria assustá-lo, mas eu realmente precisava dele.
Peguei a sua mão para ele ter certeza que eu não estava preocupada com a gente, mas sim que precisava dele mais do que nunca. Entrei no seu quarto e tirei os sapatos antes de deitar na sua cama, meio relutante Justin fez o mesmo.
— Aconteceu alguma coisa, Isabelle? Você parece um pouco perdida.
— Antes de tudo eu queria que você me abraçasse. - ele sorriu e me abraçou firme. Fiquei um tempo em silêncio ouvindo as batidas do seu coração e sentindo seu peito subir e descer com a respiração.
— Isabelle, agora pode me explicar o que está acontecendo?
— Assim que vocês saíram hoje fui ao Central Park com meu pai e meu irmão.
— E o que aconteceu?
— Bom, as coisas estavam meio tensas entre eu e meu pai porque tínhamos discutido antes de sair de casa e...
— Espera, vocês discutiram? Por quê? Isabelle, comece do começo.
— Ah desculpe, ele tentou dar a entender que eu estava com você por causa do seu dinheiro e acabamos discutindo.
— Mas isso é ridículo. Começamos a sair antes de você descobrir a respeito dos meus pais e você não é assim. - eu sorri.
— Eu sei disso, mas de qualquer maneira acho que ele entendeu que não pode nos separar. A questão toda é que ele nos contou a história da separação.
— Como assim? - respirei fundo e contei pra ele. Palavra por palavra.
Ainda estava um tanto perdida sobre o que fazer, sobre como agir diante disso. Eu não conseguia entender, se ele a amava por que a traiu? Por que ele insistiu nisso? Por que ele simplesmente não manteve o casamento?
— Ah, Belle, eu sinto muito. Você está bem?
— Mais ou menos. Eu não consigo entender porque ele fez isso se ele a amava.
— Acho que ele não sabia que a amava. Ele estava tão acostumado com a presença dela todos os dias que esqueceu que realmente a amava.
— Mas isso não faz sentido.
— Não pra você, mas parecia fazer pra ele. - eu me virei para olhá-lo.
— Justin, você... - eu não quis terminar a frase.
— Eu te amo, Isabelle e tenha total certeza disso. Não te trocaria por ninguém, você deveria saber disso. - sorri.
— Eu sei, eu sinto muito. Acho que essa história mexeu um pouco comigo.
— Tudo bem, eu entendo. Quero que você tenha certeza de que estarei sempre aqui, sempre.
— Eu tenho.
Eu o beijei devagar curtindo cada momento, seus braços ainda estavam em volta de mim, podia sentir seu peito contra o meu se movimentando como um só, uma só respiração. E eu não podia, nem queria, pedir nada além disso.

 

>>o Ponto de vista: Phelipe
— Phelipe? - Allison parecia um pouco surpresa com a minha presença, seu cabelo estava preso em um coque alto, ela provavelmente estava lendo porque estava usando seu óculos preto que estava na ponta do nariz. Ela vestia uma blusa minha de manga e short, estava linda.
— Oi, Alli. Podemos conversar?
— Claro, quer entrar?
— Tudo bem.
Ela pegou a minha mão e me guiou até seu quarto, eu não vi se os pais dela estavam em casa, mas também não perguntei. Eu só queria ficar com ela e mais ninguém.
— Aconteceu alguma coisa? - sua voz estava preocupada.
— Só quero conversar. - ela me olhou com completa incredulidade, mas mesmo assim abriu a porta.
Seu quarto era azul e tinha várias fotos nossa coladas na parede, uma foto se destacava e eu me lembrava perfeitamente dela. Isabelle tinha tirado aquela foto, nós estávamos olhando um para o outro sem dizer nada, mas tinha muita paixão naquela foto.
— Eu também amo essa foto. - falou Allison sorrindo quando me viu encarando.
— Ela é linda.
— Sim, é mesmo. Vem, senta. - tirei os sapatos e sentei ao seu lado na cama. Encostei as costas na cabeceira e relaxei.
— Eu sou louco por você. - ela sorriu.
— Eu sei disso, eu também sou louca por você.
— Conversei com meu pai hoje.
— E como foi?
— Ele traiu a minha mãe. - ela me encarou surpresa.
— Ele te contou isso?
— Contou, por isso eles se separaram.
— Eu sinto muito.
— Eu também. Mas isso não é tudo. - contei tudo o que tínhamos conversado e ela ouviu tudo atentamente.
— Então ele a ama?
— É o que parece. - Allison me analisou por um momento, ela parecia olhar dentro da minha alma com aqueles olhos azuis.
— E o que te perturba? Tem medo de ser como ele? - foi a minha vez de ficar surpreso.
— Como você consegue isso? - ela sorriu.
— Phelipe, isso não vai acontecer. Simplesmente porque você não vai fazer isso comigo e nem eu com você. Eu confio em você. Além do mais, você não é o seu pai, o fato de ter vindo aqui prova isso.
— Você é incrível. - eu a beijei com cuidado. Queria ficar com ela mais do que tudo, queria ela bem perto de mim, queria cada segundo da minha vida com ela e nada podia mudar isso.

>>o
     Assim que abri a porta de casa vi minha mãe e minha irmã conversando sobre alguma coisa. Isabelle parecia um pouco distante, mas minha mãe parecia não perceber.
— Que horas é o almoço? - perguntei.
— Daqui a uma hora. - respondeu minha mãe sem nem se virar pra me encarar.
— Tudo bem. - falei indo para meu quarto, mas Isabelle segurou meu braço.
— Espera, quero falar com você.
— O que foi? - ela olhou rapidamente pra minha mãe pelo canto do olho.
— No seu quarto. - assenti sem jeito.
A minha cama ainda estava bagunçada e o travesseiro ainda estava com o cheiro da Allison, Isabelle percebeu e sentou na poltrona.
— Qual é o problema? - perguntei.
— Não contei pra minha mãe que a gente sabe.
— Hum...
— Ela me perguntou o que conversamos, mas eu desconversei e não disse.
— Por quê?
— Porque acho que meu pai deveria contar. - fechei os olhos e cocei a cabeça.
— Bel, tira essa ideia da cabeça. Meu pai e minha mãe não vão voltar.
— Eu acredito em amor verdadeiro e acho que se ele realmente sente isso não custa tentar.
— Isabelle, isso é coisa da Disney. Aceita isso.
— Phelipe, me diz por que ele não deveria tentar? Não pode piorar, ela já o odeia.
— Mas, Isabelle... isso é... - eu tentei achar um bom motivo pro meu pai não fazer isso e não achei nenhum.
— Viu? Por que não?
— Porque minha mãe o odeia. Ele só vai se magoar. - pra minha surpresa, ela sorriu.
— O ódio e o amor andam muito juntos, bem perto. Ela só o odeia porque foi magoada por ele, acho que ela ainda gosta dele. A raiva é só auto proteção.
— Como pode saber?
— Não sei se você já reparou, mas eu sou mulher. - revirei os olhos.
— Talvez eu tenha notado.
— Acho que devíamos dar uma chance para nosso pai. - suspirei.
— E eu acho que não é a gente que tem que dar uma chance pra ele.
— Estou esperançosa. - era exatamente isso que eu temia.
— Bel, preste atenção. Para de criar expectativas. Isso só magoa você.
— Mas pode dar certo.
— Se der e eu disse se, vai ser muito bom. E aí você pode ter o gostinho da surpresa, só não cria expectativas. - ela respirou fundo.
— Tudo bem, tudo bem.
— Ótimo, agora vai se arrumar. Temos um almoço emocionante pela frente.

>>o
— Mãe, você está pronta? - perguntei e ela apareceu na sala.
— Estou quase.
— Não precisa se arrumar toda.
— Sim, eu preciso. Nunca se sabe quem pode encontrar. - eu sorri.
— Quem você planeja encontrar? - ela deu de ombros.
— Nunca se sabe, é Nova York.
— Já podemos ir? - perguntou Isabelle saindo do quarto.
— Vou só passar um batom, volto em um minuto. - respondeu minha mãe sumindo dentro do quarto de novo.
— É melhor ela andar logo, Justin ligou e já foi buscar a Allison. Eu sei que meu pai já está aceitando melhor, mas não quero que eles cheguem lá antes de nós. - falou Bel.
— Acho que o pior já passou. - falei e ela deu de ombros.
— Nunca se sabe.
— Pronto, vamos logo. Seu pai já saiu do hotel? - perguntou minha mãe procurando alguma coisa na bolsa.
— Já sim, ele já deve estar lá.
— Ótimo. - eu peguei a chave do carro e joguei pro Phelipe.
— Sem discussões hoje sobre quem deve dirigir?
— Acho que não. Fique à vontade.
Não conversamos muito no caminho, minha mãe parecia um tanto irritada por estar indo e eu e Belle não queríamos discutir sobre isso com ela. O restaurante não era muito longe do apartamento, mas não era perto o suficiente para ir andando.
— Chegamos, podem ir andando enquanto estaciono. - rapidamente avistei o carro de Justin estacionando mais a frente e estacionei ao seu lado.
— Achei que vocês fossem chegar primeiro. - falei e Justin sorriu.
— E íamos, mas tivemos que voltar porque Allison tinha esquecido o celular. - ela deu de ombros.
— Não saio sem meu celular, não tem jeito.
— Vamos, Isabelle e minha mãe já entraram.
Peguei a mão da Allison e seguimos em direção a porta com Justin ao lado, ele parecia apreensivo. Suas mãos estavam no bolso e ele piscava muito.
— Relaxa, Lancaster. - falei e ele deu um meio sorriso.
— Quero que seu pai goste de mim. Sei que não tem muita importância pra Isabelle, mas mesmo assim...
— Fica tranquilo, depois que Belle conversou com ele acho que ele não vai te incomodar... muito.
— Espero.
Isabelle e minha mãe estavam sentadas lado a lado, mas estavam quietas. Meu pai estava sentado na frente da minha mãe e parecia inquieto e sorriu quando nos viu.
— Ah vocês chegaram.
— Estava estacionando. - falei.
— Sim, Isabelle falou. - sentei ao lado do meu pai e Justin ao meu lado, para não ficar muito estranho, Isabelle trocou de lugar com Allison.
— Vocês já pediram alguma coisa?
— Ainda não. Estava esperando vocês, que tal frango? - perguntou meu pai pegando o menu.
— Bom, por mim pode ser. - falei e Isabelle também.
Todos concordaram e meu pai fez os pedidos, o almoço estava irritantemente silêncio, todos estavam incomodados, mas ninguém arriscava falar alguma coisa. Depois de uns 20 minutos de silêncio constrangedor, meu pai resolveu puxar assunto.
— Então, Justin, você joga com o Phelipe? - Justin primeiro pareceu surpreso de o primeiro comentário depois de um longo silêncio tenha sido pra ele.
— Sim, é... somos do mesmo time.
— E você é...
— Quarterback.
— Hum... interessante. Você vai jogar pela faculdade?
— Pretendo, mas ainda não sei. Estou na dúvida sobre o que fazer.
— Normal, nessa fase dúvida é constante.
— Exatamente.
— E você, Allison. Se candidatou para as mesmas faculdades que Phelipe?
— Sim, menos pra California University.
— Algum motivo especial pra você e sua irmã se candidatarem pra lá? - perguntou meu pai olhando pra mim.
— Ah, a California tem um clima parecido com o Rio.
— Isso me lembra, está gostando da Flórida, Natalia? - minha mãe levantou a cabeça, abriu e fechou a boca duas vezes. Mas para minha surpresa quando respondeu sua voz não tinha a habitual raiva de quando falava com meu pai.
— Estou, estou sim. É um lugar interessante, de vez em quando eu encontro brasileiros por lá, estou gostando do calor.
— Se eu tivesse que morar aqui nos EUA com certeza seria na Flórida ou na Califórnia. Não sou muito fã de frio.
— Depois de um tempo você nem sente mais. - falou Allison.
— É, talvez. Você e Justin deveriam ir ao Brasil para descobrir o que é calor de verdade.
— Como é lá, o Rio? - perguntou Justin e meu pai tomou um ar sonhador.
— O Rio é incrível. Você tem lugares de calor extremo, mas ao mesmo tempo tem lugares com frio de verdade na serra. As praias de lá estão entre as mais lindas do mundo, e tem o carioca (quem nasce no Rio) que é simpático e maravilhoso por si só.
— É que por aqui a gente escuta falar tanta coisa do Rio... - falou Allison e meu pai suspirou.
— Não ligue para a visão dos americanos sobre o Rio, eles estão errados. Não somos todos bandidos e não existe só favela por lá. Os americanos só conseguem se importar com seu próprio país, pra eles o mundo podia se explodir que eles não iam estar nem aí. - Justin sorriu.
— Talvez nem todos sejam assim. - meu pai deu de ombros.
— Pode ser que vocês dois realmente não sejam, mas uma coisa vocês não podem negar. São arrogantes por natureza, é algo cultural.
— Isso é verdade. - falou Allison, antes que alguém respondesse o almoço chegou. Depois de todos se servirem percebi que aquele clima tenso tinha se dissipado, o que na verdade era um alívio.
— Mãe, vai embora quando? - perguntei
— Amanhã de manhã. Não consegui folga pra ficar muito tempo.
— Sei como é, eu só consegui ficar por mais um dia também. - falou meu pai.
— Mas você é seu chefe. Você é o dono da empresa, poderia ficar mais se quisesse.
— Na teoria, não gosto de deixar outras pessoas tomando conta do que é meu.
— Sim, eu me lembro disso. - a voz da minha mãe parecia um pouco distante.
Pela primeira vez em muito tempo meus pais se olharam nos olhos. Foi uma cena esquisita de se ver, por alguns minutos eles ficaram diferentes, mas minha mãe voltou a encarar o prato e não falou mais nada.

>>o
— Acho que nosso pai vai falar com nossa mãe hoje à noite. - falou Isabelle com um sorriso no rosto.
Assim que chegamos do restaurante, minha mãe resolveu que ia ao mercado comprar algumas coisas pro apartamento, de acordo com ela íamos morrer de fome. Justin e Allison foram pra suas respectivas casas e como era domingo eles iam passar o resto do dia com a família.
Eu e Isabelle pegamos o pote de sorvete e sentamos na cama dela, afinal era o único lugar arrumado da casa.
— Tem certeza disso?
— Claro que tenho, já que ela vai embora amanhã de manhã.
— Ou ele pode ter desistido dessa ideia.
— Depois daquele olhar que ele e minha mãe trocaram? Duvido que ele desista.
— O que foi aquilo exatamente? - perguntei e Isabelle me olhou como se fosse óbvio e eu, um idiota.
— Phelipe é claro que minha mãe lembrou de alguma cena da história deles, algum momento em que eles se encararam de modo apaixonado... - franzi a sobrancelha.
— Você não pode ter certeza.
— Por que tenho que te lembrar toda hora que eu sou uma mulher? A gente sempre sabe essas coisas. - olhei pra ela com pura incredulidade.
— Sabem?
— Lipe, as mulheres sabem. Sabem sempre. Mesmo quando não sabem, elas sabem. Talvez você não entenda isso porque é homem, mas as mulheres sim. Porque sabem. - fiquei encarando ela por um momento tentando entender a estranheza dessa conversa, mas simplesmente ri. O que eu podia dizer? Sou homem, não sei de nada.
— Da próxima vez que você resolver dar um discurso desses, me avisa. Alguém tem que traduzir. - ela sorriu, mas logo depois seu rosto ficou sério.
— Phelipe, você acha que você e Allison vão durar pra sempre?
— Como assim?
— Acha que vão ficar juntos pra sempre? Até o fim da vida? - pensei sobre isso um pouco. Não sabia exatamente qual era o motivo da repentina mudança de assunto, mas pelo jeito isso passou pela cabeça dela o dia todo.
— Não sei, Belle. Não faço ideia.
— Não era essa resposta que eu queria ouvir.
— Por que essa pergunta agora? O que tem te incomodado?
— Ultimamente tenho pensado em uma coisa. Se Justin passar pra Oxford, o que eu faço? Vou atrás dele que nem uma louca? Ou fico aqui e sigo a minha vida? Vale a pena seguir alguém que você nem sabe se vai ficar pra sempre com você? - eram tantas perguntas que eu não sabia qual resposta, então optei por não responder nenhuma.
— Isabelle, você gosta dele? Gosta dele de verdade?
— Sim, eu gosto.
— Não vou reformular a pergunta. Você o ama? - ela parecia pensar, ficou um tempo em silêncio encarando o teto.
— Mas o que é o amor? - sorri.
— "Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer." - Belle sorriu e continou.

— "É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;"

— "É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade."

— "Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo amor?"
Assim que Isabelle terminou, começamos a rir. Quando eramos crianças, não importava qual fosse o trabalho da escola usávamos esse soneto. Nossa mãe sempre declamava pra gente antes de dormir, em vez de histórias, era Camões.
— Achei que não lembrasse mais. - falou Belle.
— Como poderia esquecer?
— Camões tinha um jeito todo peculiar de falar, não acha? Mas mesmo assim, acredito em cada palavra. - eu sorri.
— Então, Isabelle, a pergunta ainda está de pé. Você o ama?
— Amo, amo sim. Do meu jeito, mas amo.
— Então já tem a resposta para todas as suas perguntas.
— Tenho que ir atrás dele, não é?
— Tem? Não acho que não. Mas deveria. Você não tem que fazer nada, mas não sei se conseguiria ficar em paz deixando ele ir para o outro lado do oceano. - Isabelle passou alguns minutos em silêncio, depois me olhou dentro dos olhos.
— Você é um idiota, mas ás vezes é bem espertinho.
— Obrigado.
— Você ama a Allison, Phelipe? - estava esperando que ela fizesse a pergunta, mas sinceramente não queria respondê-la.
— Não sei. Acho que ainda não sei a resposta pra pergunta.
— Espero que você descubra.
— Eu também. - ficamos em silêncio comendo o sorvete e encarando a parede cheia de livros do quarto de Isabelle. Me perdi dentro dos meus próprios pensamentos, entrei uma guerra civil: eu contra mim. Sem esperanças de vitória.

 

>>o Ponto de vista: Isabelle
— Mãe, se eu fosse você colocava uma roupa melhorzinha. - falei e ela me olhou curiosa.
— Porque nosso querido pai, vai chegar a qualquer minuto. - ela me encarou com raiva.
— E por que você não me avisou?
— Estou avisando agora.
— Isabelle!
— Natalia!
— Isabelle, eu vou trocar de roupa e tenta ser breve com seu pai.
— Acho que não, Phelipe já pediu pizza.
— O que é isso? Formação de quadrilha?
— Estamos em Nova York, acho que aqui é gangue.
— Engraçadinha. - mesmo assim ela voltou pro quarto, acredito eu pra trocar de roupa.
— Como ela reagiu? - perguntou Phelipe saindo do quarto.
— Melhor do que eu imaginava.
— Ela está mesmo progredindo.
— Acho que vai dar certo. - Phelipe me encarou por um momento.
— Isso era um plano seu, Isabelle?
— Mas é óbvio. - ele jogou os braços pra cima em sinal de rendição.
— Lembre da minha voz falando "Eu te avisei" quando der errado, okay?
— Lembrarei.
— Ótimo.
Nessa hora a campainha tocou e Phelipe apontou pra porta como se estivesse me mandando ir. Antes que eu pudesse protestar, ele foi em direção ao sofá e ligou a Tv, o que significava que ele não ia sair dali tão cedo. Revirei os olhos irritada e abri a porta.
— Oi, pai. - falei com um sorriso.
— Isabelle. - ele me abraçou com um sorriso de volta.
— Entra aí, Phelipe já pediu a pizza.
— E cadê ele?
— Sofá. - gritou ele da sala.
— E sua mãe? - perguntou e ela apareceu no corredor.
— Roberto.
— Natália.
Eles ficaram se encarando por um tempo, mas quando o idiota do Phelipe tossiu minha mãe seguiu em direção a sala. Meu pai estava um pouco apreensivo, não parava de estalar os dedos.
— Vamos pra sala enquanto a pizza não chega? - perguntei.
— Claro. - sentei ao lado de Phelipe obrigando meu pai a sentar do lado da minha mãe e senti o olhar dela na minha direção, mas não me virei para encarar.
— O que você está vendo? - perguntei.
— Nada ainda, estou apenas passando os canais. - respondeu Phelipe.
— Pode colocar no jornal? - perguntou minha mãe, meu irmão olhou pra ela como se fosse louca.
— Claro que não, por que você quer ver jornal?
— Pra saber o que está acontecendo no mundo.
— Inventaram uma coisa recentemente muito boa, chama-se internet. Você deveria experimentar qualquer dia.
— Você e sua irmã estão muito engraçadinhos ultimamente.
— A culpa é de vocês dois na verdade. - falei.
— Exatamente, Isabelle é assim por causa da criação e eu por causa da criação e DNA. Ou seja, sou duplamente engraçadinho.
— Vou nem responder a essa constatação. - falou minha mãe.
— E eu vou ignorar totalmente. - comentou meu pai. Antes que eu pudesse lançar qualquer comentário "engraçadinho" a campainha tocou.
— Pai, você pode pegar lá? - ele sorriu.
— Isso é sinônimo para "você pode pagar lá?" - sorri.
— O fato de entender as coisas com rapidez é uma qualidade sua que eu admiro muito.
— Sua mãe tem razão, você está muito engraçadinha.
Enquanto ele pegava/pagava a pizza, eu e minha mãe arrumamos a mesa e Phelipe continuou assistindo Tv, provando algo que eu já sabia, sua completa inutilidade.
— Pronto. - falou meu pai colocando a pizza na mesa.
— Phelipe, aproveita que você não fez nada e pega o refrigerante.
— Nada? Querida mãe, eu pedi a pizza. - ela revirou os olhos.
— Grande coisa.
— Ah é? Se não fosse por mim, o trabalho de todos vocês seria inútil.
— Vocês dois são irritante. - falou meu pai sentando na mesa.
— Agora conta uma novidade. - falou minha mãe para minha surpresa. Na verdade olhando a minha volta, todos ficaram surpresas com o tom natural que ela usou.
Eu estava cada vez mais esperançosa para a conversa dos meus pais, eu queria tanto que voltassemos a ser uma família. Eu sei que pode parecer loucura, mas mesmo assim criei expectativas. Ia dar tudo certo.


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