Como um Patético Filme Americano escrita por God Save The Queen


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Eu adoro ficar chocada, vocês não?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/601302/chapter/26

— Eu esperava uma recepção mais calorosa. - meu pai abriu os braços e sorriu. Ele era a cópia exato do meu irmão, só que mais velho, com alguns cabelos grisalhos que lhe caiam perfeitamente bem.
— Ah, é desculpe. - falei indo abraçá-lo. Eu sempre fui apaixonada pelo abraço do meu pai, não tinha como não se sentir segura.
— Como você está? - perguntou ele e eu sorri meio sem jeito.
— Estou ótima. - eu me afastei devagar e Phelipe foi abraçá-lo. Eu me virei e encarei Allison e Justin. Ambos encaravam a cena meio sem graça, sem saber direito o que fazer.
— Como vai, filho? - perguntou ele com um sorriso.
— Tudo okay. E você? Não sabíamos que você vinha. - falou Phelipe sem esconder a confusão.
— Eu quis fazer uma surpresa.
— Que bela surpresa. - murmurou minha mãe e meu pai a ignorou.
— Então, eles são? - perguntou ele olhando para Allison e Justin que estavam parados no lugar que tínhamos deixado eles.
— Ah, pai. Esse é o Justin Lancaster, meu... namorado. - falei meio sem graça.
— Ah, então é você. Roberto Dantas. - meu pai apertou a mão dele talvez com uma força excessiva e um olhar ameaçador.
— Prazer. - falou Justin meio sem graça.
— Pai, essa é a Allison Freire. Ela é minha... hum... namorada. - falou Phelipe. Silêncio. Meu pai encarou Alli com uma completa incredulidade e ninguém soube muito bem o que fazer.
— Bom, é... por essa eu não esperava. - falou meu pai totalmente surpreso. Phelipe deu um sorriso fraco e abraçou a cintura da Allison.
— Prazer. - falou ela esticando a mão que meu pai apertou meio sem saber o que fazer.
— Agora que estão todos devidamente apresentados, vocês poderiam falar comigo? - falou minha mãe e eu me assustei, tinha esquecido que ela estava ali por causa da novela mexicana que eu estava assistindo.
— Mãe. - falou Phelipe sorrindo, ele levantou um pouco ela do chão. Minha mãe soltou uma gargalhada.
— Vocês não sabem a saudade que eu senti de vocês no último mês. Isso inclui vocês dois. - falou minha mãe apontando para Justin e Alli.
— Também sentimos falta da senhora, Mrs. Ribeiro. Phelipe e Belle não sabem fazer nenhuma comida decente. - falou Alli sorrindo. Minha mãe a abraçou com carinho e meu pai estranhou a intimidade.
— Mas eu tenho me esforçado. - falei a abraçando em seguida.
— Mais ou menos. Eu tenho trazido comida do restaurante do meu pai quase todo dia. - falou Justin a abraçando também. Meu pai encarou aquela cena com imensa incredulidade.
— E os seus pais, Justin? Como estão? Encontrei os dois faz duas semanas em frente a uma loja na Flórida.
— Meu pai tem uma filial lá. - falou Justin.
— Ah, sim. Qualquer dia eu vou lá. E os seus, Allison? Conversei com a Joanne outro dia pela internet. Pelo jeito você anda dormindo muito aqui. - Allison ficou sem graça, mas o olhar da minha não era acusador, era totalmente zombeteiro.
— Meus pais estão bem. - respondeu apenas.
— Bom, agora que todos nós conversamos. Podemos dormir? - perguntou minha mãe.
— E onde eu vou dormir? - perguntou meu pai.
— Bom, pai, não temos muito quartos. Ou você dorme na sala ou no quarto com a mamãe. - nossos pais se encararam e minha mãe fez uma careta.
— Acho que o sofá está de bom tamanho. - respondeu ele.
— Ótimo. Mãe, será que teria como pegar alguns lençóis para o meu pai? - perguntei e ela me olhou como se preferisse fazer qualquer outra coisa no mundo.
— Claro. - seu sorriso era extremamente falso, mas mesmo assim ela foi ao quarto que era dela.
— E você, vai dormir aqui? - perguntou meu pai apontando para Justin.
— Bom... - começou ele, mas eu o cortei.
— Vai, ele vai sim. Vai dormir comigo como sempre. - falei e meu pai levantou uma sobrancelha.
— Como sempre? - Phelipe percebeu o perigo eminente e entrou na conversa.
— Então pai, vai ficar quanto tempo?
— Na segunda a noite, mas vou dormir aqui só hoje. Amanhã mesmo eu vou para um hotel.
— Ah certo. - antes que ele pensasse em alguma coisa pra dizer, minha mãe chegou com alguns lençóis e um travesseiro.
— Pronto. - falou ela praticamente jogando as coisas em cima do meu pai.
— Obrigado. - falou ele, mas ela apenas resmungou alguma coisa.
— Boa noite, meus amores. - falou minha mãe com um sorriso e entrou no quarto fechando a porta.
— Hum... boa noite. - falei pegando o Justin pela mão.
— Boa noite, gente. - falou Allison. - Boa noite, Mr. Dantas.
— Boa noite, querida. - respondeu meu pai e Phelipe entrou no quarto dele seguido por Allison, logo em seguida entrei arrastando Justin.
Fechei a porta e fiquei encarando o nada por um tempo. Eu nunca ia imaginar que meu pai ia aparecer em Nova York. Ele estava sempre tão ocupado e ainda tinha a minha mãe, mas talvez tenha sido isso o que o fez vir. Minha mãe não estava mais em Manhattan, só que ele não contava com o fato dela vir.
— Isabelle... - falou Justin sentado na minha cama, me encarando com completa confusão.
— Eu sei, eu com certeza não esperava por isso.
— E agora? Acha que com o seu pai aqui as coisas vão mudar? - sentei ao seu lado.
— Eu não sei se pra melhor ou pra pior. Mas vai com certeza mudar alguma coisa.
— Agora que as coisas estavam bem. - falou e eu respirei fundo.
— Isso é só mais uma barreira que temos que superar. Mas de uma coisa tenha certeza, ele é mil vezes pior do que o Phelipe quando chegou em Nova York.
— Sinto que vem discursos por aí... - sorri.
— Acho que discurso é bem pouco.
— Jamais imaginei encontrar seu pai assim. - abracei ele pela cintura.
— Eu já sinto muito por qualquer coisa que ele possa fazer.
— Tudo bem, não tem problema. - seu olhar era um pouco triste, não resisti. Levantei e tranquei a porta, Justin me encarava com curiosidade. - Belle...
Sorri pra ele e tirei a blusa com rapidez, sem nem pensar.
— O que estava dizendo? - perguntei e ele levantou também.
— Nem lembro mais.

>>o Ponto de vista: Phelipe
De todas as pessoas que eu queria ver no meu aniversário, meu pai estava com certeza entre elas, mas somente se as circunstâncias fossem outras. Tudo estava indo muito bem entre mim e Allison, e infelizmente a única coisa que podia estragar isso estava dormindo no sofá.
— Phelipe... - Allison estava sentada na cama mordendo o lábio, sem dúvida estava nervosa.
— Eu sei o que está pensando.
— Então sabe que eu estou preocupada com seu pai, né? - assenti meio sem jeito e sentei ao seu lado.
— Eu realmente não esperava que ele viesse...
— Ele ficou realmente surpreso quando me viu. - dei de ombros.
— Na verdade, ele ficou surpreso com o fato de você ser a minha namorada.
— Mesmo assim, não gostei do olhar que ele lançou pra mim. - respirei fundo.
— Allison, meu pai deixou de acreditar no amor faz muito tempo, não vou julgá-lo, mas isso refletiu muito em mim...
— Sei disso, sei de tudo isso. Eu até consigo entender o seu pai, mas o problema está se ele resolver interferir no nosso namoro. - dei um sorriso sem humor.
— Se ele não se meter, não é o meu pai.
— E o que nós vamos fazer? - peguei Allison e aninhei no meu colo, acaricei o seu cabelo perdido em pensamentos.
— Por enquanto, nada. Mas pode ter certeza que eu não vou deixar nada afastar a gente, inclusive meu pai.
Allison não respondeu, talvez assim como eu, estava tentando acreditar nas minhas palavras. Eu conhecia meu pai perfeitamente e sabia que ele não ia desistir tão fácil.


>>o
— Está pronto? - perguntou Allison e eu sorri.
— Estou sempre pronto. - ela abriu a porta e juntos fomos tomar café da manhã.
Já estavam todos na mesa, Justin estava estranhamente quieto e era nítido o porquê. Meu pai lançava olhares fulminantes de cinco em cinco minutos na direção dele, Isabelle fingia não perceber e minha mãe parecia que preferia morrer a ficar em algum lugar com o meu pai.
— Bom dia. - falei e todos olharam pra mim.
— Bom dia, filho. - respondeu meu pai com uma animação forçada.
— Está tudo bem? - perguntei e ele deu de ombros.
Eu e Allison sentamos de frente para Isabelle e Justin, meu melhor amigo parecia aterrorizado e trocou olhares parecidos com a minha namorada.
— Vocês têm algo planejado pra hoje? - perguntou meu pai.
— Ainda não. - respondeu Belle.
— Eu gostaria muito de almoçar com vocês, todos vocês. - seu olhar foi de Justin a Allison e parou na minha mãe.
— Claro. - respondeu Alli com um sorriso, e para minha surpresa meu pai retribuiu.
— Eu também vou. - falou Justin que não recebeu um olhar tão amigável.
— Não conta comigo. - falou minha mãe encarando meu pai nos olhos. Senti a bomba chegando e Bel também porque encolheu no assento.
— Por que, Natalia? Algum problema?
— Você sabe muito bem, Roberto, que o meu problema é você.
— Já faz três anos, podemos virar amigos. - minha mãe soltou a melhor risada irônica da história.
— Amigos? Não confio em você o suficiente pra isso.
— Não quero brigar com você, Natalia.
— Mãe, por favor... - a voz de Isabelle era um sussurro, minha mãe ficou encarando ela por alguns segundos depois revirou os olhos.
— Tudo bem, eu vou. Pelos os meus filhos e nada mais. - mesmo assim meu pai sorriu.
— Fico muitíssimo feliz. Vai ser divertido. - ninguém respondeu, mas acho que todos pensavam a mesma coisa. Divertido não seria a palavra que eu usaria. Acho que desastre se encaixa melhor.
Depois de terminar o café da manhã, Justin e Allison resolveram ir pra casa e eu prometi que ligava pra ela pra confirmar o horário do tão esperado almoço. Meu pai levantou uma sobrancelha de surpresa assim que viu Justin entrar no Porsche seguido por Alli no banco do carona.
— Acho que ele não é pobre. - falou meu pai em português, meus ouvidos estranharam a língua no início.
— Na verdade a família dele é bem rica. - falei e meu pai olhou pra Isabelle.
— Pelo menos isso, né Isabelle? - ela revirou os olhos.
— Eu não estou com ele por causa do dinheiro.
— Mas é um ótimo bônus. - Belle fechou os olhos e quando abriu eles estavam ferozes.
— Qual é o seu problema? Eu gosto dele está entendendo. Eu estou perdidamente apaixonada por ele, e quanto mais você insisti nisso mais eu vou ser obrigada a me afastar de você. - silêncio, ninguém respirava, troquei olhares chocados com a minha mãe, mas para minha surpresa ele sorriu.
— Isabelle não seja ridícula, isso é coisa de adolescente. Depois de algum tempo você vai perceber que não gosta tanto dele assim e vai me agradecer por ter aberto seus olhos e...
— Pai...
— Não, escuta, Isabelle. Isso não vai durar, não é sério e quase...
— A gente faz sexo! - minha mãe engasgou, eu arregalei os olhos e meu pai parecia que estava sufocando. Ele começou a ficar vermelho e depois roxo.
— O que você disse? - a voz dele era um sussurro.
— Eu disse que eu e Justin fazemos sexo, isso prova que pra mim é sério o suficiente. - Isabelle olhou pra mim buscando apoio, mas eu estava surpreso demais pra falar alguma coisa.
— Mas eu pensei que... eu achei que... Isabelle! - ela cruzou os braços e ficou olhando pro meu pai de modo desafiador.
— Pai, eu sei que você se preocupa comigo, mas eu tenho 18 anos. Eu já moro sozinha, daqui a pouco eu vou estar na faculdade e eu já tenho minha própria vida. Você me criou, agora deixa eu tomar conta de mim.
Não sei quanto tempo se passou até meu pai responder, eu só sei que eu estava muito orgulhoso dela e que invejava sua coragem, embora eu tivesse certeza que uma hora ou outra eu ia ter que enfrentar meu pai também.
— Quando foi que você ficou tão adulta? - perguntou ele.
— Acontece quando as pessoas vão amadurecendo. - meu pai respirou fundo.
— Não estou dizendo que concordo, muito menos que aprovo. Mas acho que você tem o direito de ter a sua vida. - Isabelle sorriu e correu para abraçá-lo. Era quase como voltar a infância, quando morávamos todos juntos.
— Essa cena foi comovente. - falei e todos olharam pra mim.
— Está com ciúmes, Lipe? - perguntou Belle e eu sorri.
— Claro, esqueceu que sou uma criança carente de atenção?
— Agora que resolvemos tudo... - falou minha mãe.
— Eu já vou procurar um hotel, Natalia.
— Perfeito, eu vou dormir de novo porque estou exausta. Sim, Roberto, de novo. Vocês podem fazer o que quiserem. - e ela saiu batendo a porta do quarto.
— Querem andar comigo pelo Central Park? Pelos velhos tempos? - perguntou meu pai com um sorriso.
— Claro, será um prazer. - falou Belle.
— Vamos lá. - falei meio sem jeito. Eu tinha plena certeza de que o assunto "namorada" ia vir a tona nesse passeio.
— Ótimo. Vamos andando?
— Vou ser pegar um casaco. - falou minha irmã.
— Eu também. - falei a seguindo de perto.
— O que foi? - perguntou ela em um sussurro.
— Estou sentindo que meu pai vai questionar a Allison.
— Bom, qualquer coisa você dá um ótimo discurso como eu fiz hoje.
— Estou realmente orgulhoso de você. Mas você sabe que meu pai sempre colocou aquela pressão para que eu não namorasse nunca.
— Lipe, você tem que viver a sua vida e fazer ele entender isso.
— Vamos ver se isso vai dar certo.
— Esperemos que sim.


>>o
— E como está a sua situação no futebol? - perguntou meu pai.
Estávamos sem rumo certo, várias pessoas andavam de bicicleta e algumas crianças brincavam na grama. Era um clima agradável, o que indicava o final do inverno.
— Estamos indo bem, semana que vem temos a semi-final e estou realmente confiante.
— Eu sei que você não quer pensar nisso, mas você tem pensado na faculdade? - fiquei meio sem jeito.
— Eu me inscrevi para New York University, Princeton, Cambridge, Harvard, Yale e California University.
— Está com planos bem altos.
— Eu sei, confesso que espero conseguir bolsa pelo futebol, mas não sei. Tento não pensar muito nisso.
— E você, Belle? - ela parecia quieta, pensativa e se assustou quando meu pai chamou seu nome.
— Ah, desculpe. O que disse?
— Perguntei sobre a faculdade, quais você se inscreveu?
— As mesmas que Phelipe. - ele sorriu.
— Querem fazer faculdade juntos? - dei de ombros.
— Na verdade, nós quatro nos inscrevemos para as mesmas faculdades.
— Seu... hum... namorado vai te acompanhar onde você for?
— Não sei, vamos descobrir depois que chegar as cartas de admissão.
— E a sua garota, Phelipe?
— Ela é minha namorada, pai. - e foi aí que eu percebi que chegamos no assunto que ele queria.
— Tem certeza que você quer realmente namorar essa menina?
— Pai...
— Ela é realmente muito bonita, Phelipe, mas tem certeza que vale a pena? - respirei fundo. Isabelle olhou pra mim e sorriu, me encorajando.
— Eu sei que namorar não tem muito a ver com o jeito que você me criou, mas assim que eu a vi percebi que ela era diferente. E depois que a beijei pela primeira vez percebi que ela era a garota que eu queria pra sempre. Sei que falando assim parece exagerado, mas eu me sinto assim. Eu estou...
— Amando. Você está amando. - falou meu pai e me pegou de surpresa, sua voz estava distante. Percebi que tinha uma pergunta que eu queria fazer desde dos meus 16 anos.
— Pai, você já se apaixonou de verdade? Amou alguém pra valer? - ele me encarou e depois a minha irmã.
— Já está na hora de contar uma história pra vocês. - ele apontou um banco e fez questão de sentar no meio para olhar para os dois.
— Pai, você...
— Não, Isabelle. Agora é a minha vez de falar. Imaginei que um dia um de vocês me faria essa pergunta, pensei que fosse a Belle, mas ela tem que ser respondida. Sei que vocês se perguntam desde o dia em que sentamos na sala e contamos pra vocês que íamos nos separar se eu já amei a sua mãe um dia. A resposta é claro que sim. Eu ainda amo a sua mãe. Amo mesmo.
Ficamos em silêncio, eu nunca, jamais, em hipótese nenhuma imaginava essa resposta. Eu achei que eles se odiassem, mas percebi que na verdade era a minha mãe que odiava meu pai. De algum jeito parecia estranho.
— Mas então, por quê? Por que vocês se separaram? - Isabelle fez a pergunta de ouro, a que eu realmente queria saber.
— Eu traí a mãe de vocês, repetidas vezes e com mulheres diferentes. - eu fiquei chocado, simples assim. Mas Bel levantou.
— Como você... como... eu pensei que... eu... pai. - ela começou a chorar, meu pai também parecia devastado. Eu só fiquei sem saber o que dizer.
Eu conhecia meu pai e conhecia a sua fama, mas depois de todas as lições que ele me deu sobre traição achei que ele não teria coragem. Toda vez que eu pensava em fazer isso, meu pai me dava um sermão sobre o porquê disso não valer a pena. Eu lembrava perfeitamente da primeira conversa que tivemos sobre isso.
*Flashback On*
— Você vai sair com outra garota hoje? Achei que estivesse ficando com a Juliana. - dei de ombros.
— Ah, pai, sei lá. Já está meio chato.
Meu pai estava mexendo no notebook, mas levantou o rosto e me encarou sério.
— Se você não quer ficar com ela, acabe com isso. Mas ficar com outra pessoa por comodismo é ridículo. Você não quer magoar três pessoas de uma vez.
— Três pessoas?
— Não tem a menor possibilidade de você sair ileso dessa história. As marcas, Phelipe, sempre ficam. Lembre-se disso.
*Flashback Off*
Naquele dia eu não dei muito crédito para aquela conversa, mas depois que Juliana descobriu e eu pude ver o olhar de decepção no rosto dela, percebi que mesmo em casos menores você não consegue sair totalmente ileso de situações desse tipo.
— Eu achei que com aquelas conversas todas... - comecei, mas meu pai deu um sorriso fraco.
— Acho que falamos com mais propriedade quando passamos por situações desse tipo.
— Então foi por isso que vocês se separaram... - Isabelle ainda estava em pé, as lágrimas caiam livremente no seu rosto.
— Isabelle, senta por favor, quero contar tudo. - ela obedeceu relutante. - Não pensem nem por um minuto que eu não amava a sua mãe, eu só tinha uma ideia distorcida do amor e do que ele significava. Quando ela descobriu eu vi a decepção nos seus olhos e foi só aí que eu percebi o que eu tinha feito e quanto eu a amava. Eu pedi perdão e implorei, mas ela não confiava mais em mim e eu entendia, também não confiaria. Quando nos casamos achei que não me interessaria por mulher nenhuma, mas não foi exatamente assim que aconteceu. A fidelidade não está em não sentir atração por ninguém, mas em não ir mais além porque sabe que tem um compromisso com alguém que se importa com você e você com ela. Fidelidade tem a ver com respeito. Infelizmente, eu só descobri isso depois. - ele estava com a voz embargada, talvez fosse a primeira vez que falava sobre isso com alguém. E eu me senti perto do meu pai como nunca antes. Isabelle segurou sua mão e deu um sorriso fraco.
— Pai, eu acredito... - começou ela, mas ele interrompeu.
— Espere, me deixe terminar. Depois que nos separamos já me relacionei com muitas mulheres e vocês sabem disso, mas não é a mesma coisa. Quando vocês vieram pra cá, eu percebi o quanto sentia falta da minha família, de todos vocês, percebi que as consequências das coisas que eu fiz foram muito maiores do que eu imaginava. Por causa do que aconteceu, eu quase não via você, Belle e quase estraguei tudo com você, meu filho. Eu morria de medo que Isabelle encontrasse um namorado como eu e se apaixonasse por ele, e morria de medo que Phelipe se tornasse como eu. Eu tinha medo que ele se apaixonasse, estava tentando evitar que ele se magoasse, ou magoasse alguém. Eu fiquei com medo por vocês. E eu sinto muito.
Pela primeira vez entendi o meu pai, entendi uma parte dos seus defeitos e manias, entendi melhor suas broncas e sermões e percebi que ele se culpava por destruir nossa família.
— Por que nunca nos contou? - perguntei
— Eu queria contar, queria saber se a culpa diminuiria caso eu confessasse. Mas sua mãe não deixou eu contar, ela tinha medo que vocês me odiassem. Ela não queria que o meu relacionamento com vocês mudasse. Então ela me odiou sozinha. A mãe de vocês é uma mulher incrível, eu nunca vou merece-la.
— Nós não te odiamos, certo? - falei olhando pra Bel que apenas concordou com a cabeça, ela chorava mais que antes.
— Eu entenderia se odiassem.
— Mas não odiamos. Nós só te entendemos um pouco mais e fico feliz que tenha nos contado. - ele sorriu e nos abraçou. Eu sempre fui muito próximo do meu pai e nunca tinha pensado se ele realmente tinha sofrido com o divórcio.
— Pai, você já tentou conversar com a minha mãe? Sabe, se você a ama... - Isabelle estava mesmo esperançosa, acho que ela realmente não reparou o olhar que nossa mãe lançou para nosso pai.
— Eu tentei, Belle, nossa como eu tentei. Mas bem, ela não confia mais em mim. Ela não acredita.
— Mas já faz tanto tempo, talvez agora...
— Belle, eu e sua mãe não funciona mais. Acho que ela se acostumou a viver sozinha aqui nos EUA e eu no Brasil.
— Eu só quero que você seja feliz.
— Eu vou ser, Belle. Vou ser.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Como um Patético Filme Americano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.