Save me escrita por Vany Myuki


Capítulo 20
A junção


Notas iniciais do capítulo

Capítulo adocicado...ou talvez não.
Vocês decidem!
Um feliz natal à todas ;)

P.S: a pedido de alguns leitores dessa fanfic e das demais que possuo aqui no Nyah, fiz uma página no facebook para que vocês possam interagir, sendo para fazer perguntas, para puxar minha orelha ou apenas para receber notificações quando novos capítulos forem postados.
Abaixo fica o link para quem tiver interesse:
https://www.facebook.com/Vany-Myuki-186472478371743/

Bjsss ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/601263/chapter/20

P.O.V Murphy

A mansão em que Alie morava estava silenciosa, tão inexistente quanto a massa que deveria compor o corpo do holograma. Caminhei apressado pelo piso de mármore, tentando fazer com que meus sapatos ecoassem o menor barulho possível.

Para minha sorte, a porta do escritório de Alie estava aberta, revelando uma mesa branca ampla no centro do cômodo que acomodava um monitor pequeno. Eu não sabia muito de tecnologia, o que aprendi foi superficial e nada comparado as proezas de Monty, mas, ainda assim, sabia coisas básicas como ligá-lo e teclar nele.

O visor mudou de preto para um branco leitoso assim que o ativei, revelando códigos em cima de códigos, como se estivesse atualizando os arquivos da máquina toda em tempo recorde. Estreitei os olhos, tentando ler as palavras que corriam na tela numa velocidade alucinante.

O monitor voltou a ficar preto e, tão rápido quanto, a tornar-se claro novamente, dessa vez emitindo um alerta sob determinado arquivo. Li rapidamente o nome da pasta, intitulada 59XWT. Cliquei na pasta, mesmo que seu nome não me recordasse nada de grande significado. Com um barulhinho agudo a pasta pediu uma senha, a qual eu certamente não tinha sequer ideia de qual fosse.

Me recostei na cadeira frustrado.

Eu nunca fui de me ater a crenças e presságios, mas, naquele momento, algo me alertava sobre o valor do que estava contido naquele computador, seja na pasta 59XWT quanto em qualquer outra. Meus conhecimentos limitados de informática eram o maior problema ali, o que era extremamente revoltante.

Jaha estava cada dia mais obcecado pelas palavras bonitas de Alie, convencido que ela o havia atraído até ali com um propósito humano, cujo o objetivo envolvia reconstituir a humanidade e a paz entre a mesma. Porém os olhares furtivos de Alie e sua resistência em manter-se calada até o momento, considerado por ela, "propício" me alertavam exatamente do contrário.

_O que você está fazendo aqui?

Quase caí da cadeira ao me deparar com uma figura junto à porta de vidro do escritório. Seus cabelos negros rebelando-se para todos os lados, sua vestimenta puída e os olhos arregalados indicavam pobreza e medo, tudo misturado num único ser.

_Eu fiz uma pergunta._tornou a falar o rapaz, embora não tão desafiadoramente quanto era necessário.

Me coloquei de pé e engoli em seco.

_Estava procurando Alie.

O visitante me analisou com cuidado, as mãos tremendo levemente, enquanto tentava ao máximo manter a postura ereta.

_Não acredito em você.

E eu, se fosse o contrário, também não teria acreditado. Todos os indicativos apontavam para minha culpa visível. Só um tolo cairia naquele truque. Para minha infelicidade, o rapaz parecia bastante centrado.

_Olha, amigo..._comecei dando um passo lento em sua direção, a voz baixa ganhando um tom ameaçador_eu realmente não quero lhe fazer mal. Então vou pedir uma única vez: libere a porta para que eu possa dar o fora daqui.

Vi o pânico se apoderar do rosto do garoto, mas ele não se mexeu. Decidi que ele era realmente corajoso, embora muito tolo.

_Não posso. Ela não aceita que desacatamos suas ordens.

Parei onde estava há poucos passos do rapaz.

_Está falando de Alie, certo?_incitei, percebendo o medo lampejar nos olhos claros do garoto.

O menino ficou calado, seus olhos vidrados no chão, enquanto as mãos começavam a tremer num ritmo mais violento.

_Não posso deixá-lo passar. Se ela descobrir estarei perdido._choramingou ele, me fazendo, pela primeira vez, realmente ficar penalizado com sua situação.

_Ela não precisa saber._garanti.

Os olhos azuis do rapaz me encararam, neles vi medo e loucura, causas legítimas de quem já fora muito maltratado.

_Ela sabe de tudo._a voz dele estava estrangulada, como quem estivesse travando uma luta interna, as lágrimas insistindo em se acumular no canto de seus olhos.

Antes que eu pudesse falar ou fazer algo, as luzes se apagaram em conjunto.

Um grito ensurdecedor rasgou o ambiente, me fazendo cambalear pela sala, tateando as coisas em busca da porta de saída.

Tão logo quanto sumira a luz retornou, mas, dessa vez, eu estava sozinho na sala.

Demorou alguns segundos para que meu cérebro percebesse o óbvio: o grito não fora uma invenção da minha mente, tampouco minha própria voz ganhando espaço.

Voltei a olhar para o lugar em que outrora o rapaz se encontrava, as mãos tremendo se sobressaindo em minhas memórias. Não tive dúvida nenhuma depois disso.

P.O.V Callen

_Precisa mesmo disso, Lars?_reclamou Milah em meu encalço, fazendo menção a corda grossa que trancafiava meus pulsos nas costas.

Lars assentiu, me conduzindo pelo solo maltratado, as mãos firmes em meus ombros, como um legítimo prisioneiro deveria ser tratado.

À nossa frente o rapaz magricela e desengonçado andava sem pressa, a arma firme nas mãos, embora parecesse tão disperso que nada adiantaria se alguém o surpreendesse.

Um pouco mais atrás, agarrada ao seu novo bote salva-vidas, estava a garota que matou meu irmão. Sua tristeza em saber da morte de Tristan parecia não ter durado tanto quanto o amor dele por ela: em menos de cinco dias ela já havia se recuperado, brincava vez ou outra com Milah e sorria de forma carinhosa na direção de Lars.

Minhas mãos formigavam com o pensamento, enquanto eu me via tentado em pegar minha espada e atravessar a garganta dela.

Clarke deveria agradecer Lars por ela e Bellamy ainda estarem vivos e juntos; se Lars não me conhecesse tão bem, com toda certeza já haveria cedido como Milah, achando ser seguro me soltar.

Clarke, por outro lado, resistiu um pouco, talvez pelo fato de eu não ser um bom ator, mas, conforme os dias se passaram, a culpa pela morte de Tristan e os olhares tristes de Milah a deixaram mais vulnerável, fazendo-a repensar sobre o assunto e pedir para que Lars desamarrasse a corda de meus braços. Para minha impaciência, Bellamy e Jasper, tanto quanto Lars, foram extremamente contra. O que apontava meu atual estado.

Mas, conforme mais tempo eu passava como prisioneiro deles, mais aprendia seus pontos fracos. Talvez a morte de Tristan não servisse apenas para uma pequena vingança, e sim em prol de uma revolução contra o povo do espaço que tentava ocupar nossos lugares na Terra, como se tivessem direito legítimo à ele.

Naquela noite, enquanto os demais repousavam, Lars se oferecera para realizar a vigília. Não pude evitar o olhar de raiva que lancei à ele quando enfim abriu a boca para falar alguma coisa diretamente para mim:

_Sabe que ele não iria querer isso.

Eu ri baixo, a raiva corroendo-me como nunca.

_Acho que ele não queria, em primeiro lugar, morrer._meus olhos queimaram na direção do amigo de meu irmão.

Lars manteve o contato com indiferença. Nada parecia ter o poder de abalá-lo depois da recente morte de Tristan.

_Você e eu sabemos que ele escolheu isso. Dizer o contrário seria estar procurando argumentos para fazer algo que você deseja, sem sentir-se culpado de ir contra o que Tristan realmente acharia.

Não respondi. Eu não iria me preocupar em achar desculpas para Lars e muito menos repensar minhas ações. Elas estavam cada dia mais claras para mim.

Lars não falou mais nada depois disso. Ocupou seu posto até determinada hora e trocou com o garoto magricela, a face não demonstrando nenhum cansaço.

Quando, em meio a madrugada, o garoto irrompeu o silêncio não pude deixar de ficar surpreso.

_Você não foi o único que perdeu pessoas próximas à si._seus olhos não me encararam em nenhum momento, estavam tão distraído quanto nos dias anteriores, como se não visse mais razão para focar em nada.

_Sei que não. Mas, diferente de você, eu não vou ficar esperando de braços cruzados a dor me consumir, enquanto o verdadeiro assassino vive como se nada estivesse acontecendo. Há um motivo para nossos antepassados terem sobrevivido à radiação e todos os perigos que dela derivaram. É por esse mesmo motivo que continuamos firmes na Terra, protegendo uns aos outros e descartando os inimigos. Pense nisso, garoto. Talvez a solução de acabar com seus pesadelos seja simples, só basta procurar a forma certa de eliminá-la.

Os grandes olhos do rapaz, sempre tão desconectados dessa realidade, me encararam pela primeira vez, lúcidos como nunca estiveram.

_Pense nisso._incentivei me ajeitando sob a relva, as cordas cortando meu pulso e me deixando numa posição desconfortável.

A caminho do sono, antes de me permitir me embrenhar no mundo obscuro da inconsciência, a voz do rapaz murmurou ao longe:

_Estou pensando.

P.O.V Clarke

_Está bem melhor. Em um ou dois dias estará totalmente cicatrizado._comemorei, tampando novamente o ferimento de Bellamy que, agora, estava com uma aparência indiscutivelmente melhor.

Havíamos nos afastado do resto do grupo pela primeira vez dias. Mal acreditei que estávamos realmente sozinhos até que as vozes se tornaram sussurros e os sussurros se mostraram inexistentes.

Ao meu lado, abraçando-me pelos ombros, Bellamy sorria. Não pude evitar procurar o momento em minha memória, aquele que eu não sabia dizer que havia nos unido de forma mais do que amigável.

_O que você tanto pensa?_perguntou ele parando e me encarando, os braços envolvendo minha cintura de forma protetora.

Me permiti analisar cada contorno de seu rosto: desde as linhas suaves até as mais intrigantes. Tudo nele, agora, parecia um mapa a ser desvendado meticulosamente. E, para minha sorte, ele estava se abrindo para mim cada dia mais, me mostrando uma face do Bellamy, até então, desconhecido para mim.

_Eu me pergunto o momento em que me apaixonei por você.

O sorriso de Bellamy se expandiu e vi seus lábios irem de encontro com os meus, tão suaves e tão apaixonantes que eu mal conseguia distinguir o que era real e o que era fruto da minha imaginação mais do que atraída por ele.

_Não acho que isso seja relevante._concluiu ele, me olhando com um sorriso.

Arqueei as sobrancelhas, um sorriso de lado se instalando em minha face.

_Posso saber por quê não?

O rosto de Bellamy tornou-se sério, como poucas vezes o vi.

_Como sobrevivente do espaço e da Terra, eu diria que nosso maior objetivo deveria ser nos concentrar no agora. O passado não tem importância e o futuro, considerando tudo, é incerto. Nós dois aqui e agora é o que realmente devemos nos preocupar.

Eu sabia que ele estava certo. Bellamy sempre foi mais líder que eu por um motivo: ele via as possibilidades e raciocinava de forma rápida e atípica, sem considerar fatores secundários. Era isso que o tornava tão humano e especial.

Meus dedos se prenderam na barra da sua camisa e alisaram a pele por baixo da mesma. Vi Bellamy se contrair de prazer, suas mãos fazendo o mesmo caminho por minha pele.

Quando me permiti abrir os olhos, a respiração tão descompassada quanto à dele, vi a pergunta muda nos olhos escuros de Bellamy.

Uma sombra atrás de Bellamy me mostrou o rosto de Finn. Diferente do que eu imaginara, ele sorria, concedendo-me a libertação que eu tanto precisava.

Peguei Bellamy pela mão e o levei para longe da figura de Finn, deixando-a para trás junto com o meu passado.

Bellamy me acompanhou sem questionar nada até um pequeno riacho, cujo o lugar estávamos fazendo uso nos últimos dos dias. No céu, o crepúsculo começava a dar lugar à noite, fazendo com que o riacho brilhasse como prata.

Soltei meus dedos dos de Bellamy e caminhei para a água, deixando as roupas na areia durante o percurso.

Eu não sabia o que, de fato, Bellamy estaria pensando da forma como as coisas estavam acontecendo, mas minhas dúvidas ruíram no minuto em que passos na água me alertaram de uma segunda presença na mesma.

Me virei para Bellamy, a água cobrindo-me até a cintura.

Por alguns segundos Bellamy apenas me encarou, nenhuma pergunta permanecia em seus belos olhos negros.

Suas mãos correram pelos meus braços; sua pele morena se destacando na palidez da minha;

Minhas mãos se precipitaram para o peito de Bellamy, nu sob a lua resplandecente. Seus cabelos negros se agitando em todas as direções com a pequena brisa que envolvia-nos.

Bellamy colou nossos corpos de forma suave, levantando-me para ele e me mostrando que a felicidade pode sim ser alcançada até nos momentos mais negros de nossas vidas. Naquela noite, envolvida pelo amor de Bellamy, eu percebi algo que havia perdido com o tempo: minha humanidade ainda existia, mesmo depois de tudo. Quando meu coração se conectou ao de Bellamy; quando nossas respirações aceleradas se tornaram a junção perfeita; eu soube que havia encontrado mais do que merecia: eu havia encontrado à mim novamente; e foi belo, como as estrelas que brilhavam acima de nossas cabeças, testemunhas de um amor que nascera do nada e que não acabaria jamais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bjs pessoal e até o próximo ;D