Save me escrita por Vany Myuki


Capítulo 19
A promessa


Notas iniciais do capítulo

Hey, Sky People!
Passando rapidão para deixar um novo capítulo.
Estou na reta final da semana de provas, então acredito que as coisas vão ficar melhores na próxima semana ;)
Um grande abraço e obrigada por tudo :*



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P.O.V Autora

_Você deveria tentar, Monty. Não está ajudando a melhorar sua imagem com essa careta._Octavia sorriu para o amigo, a mão coberta com sangue, enquanto estripava um pequeno cervo que haviam encontrado perambulando pela floresta.

Monty percebera, no momento em que a faca atravessou o abdômen do animal, que carnificina e brutalidade não eram sua praia, apesar de estarem em constante perigo e numa guerra sem fim.

_É nessas horas que penso o quanto amo a tecnologia._reclamou o rapaz, tentando tapar o nariz e não vomitar ao mesmo tempo.

Octavia riu. A garota parecia um pouco mais animada e mais como a antiga Blake de outrora. A última semana na mata, mesmo com a escassez de alimentos, pareciam ter-lhe concedido um humor melhor, menos amargo.

_Vai ter que se acostumar com a caça e a coleta, amigo. Pelo menos até descobrirmos um lugar seguro onde não queiram nos matar a primeira vista._brincou Octavia, embora suas palavras fossem verídicas, uma vez que na última semana dois encontros surpresas com grounders tenham provocado certo alarde no grupo.

Monty virou o rosto para o outro lado, afim de respirar ar puro e não observar as coisas nojentas que a Blake retirava de dentro do animal.

_Precisamos de um plano.

_Sim. E bem rápido._concordou a garota, enquanto passava a se ocupar com a pele do bicho.

_Acho que é bem óbvio._tentou Monty, os olhos cautelosos, procurando interceptar a raiva nos olhos de Octavia.

Por um momento a garota apenas continuou trabalhando, fazendo com que Monty apenas deixasse o assunto morrer. Mas a voz de Octavia despertou o rapaz logo em seguida, embora seus olhos ainda se detivessem no trabalho de arrancar a pele do cervo.

_Você tem razão.

_Tenho?_aquilo parecia novidade para Monty, o que fez com que a pergunta parecesse ainda mais fora de cogitação.

Octavia estagnou a faca sobre um punhado de pele que já se descolava, enquanto voltava sua atenção totalmente para Monty.

_Minha oposição quanto aos atos impulsivos de Clarke não mudaram, Monty._esclareceu a garota_Mas sei que precisámos dela, assim como sei que encontrarei Bellamy e Jasper onde a Clarke estiver. Por mais que tenhamos divergências agora, ainda assim é ela que possuí a liderança para nos guiar. E, principalmente, é com ela que Bellamy está. Não posso ignorar esse fato tanto quanto gostaria.

A boca de Monty pendeu um pouco e, por um segundo, ele imaginou que tivesse fantasiado as palavras da Blake.

_Deveríamos tê-la soltado na floresta antes, pouparia tantas discussões._brincou o rapaz, fazendo Octavia arquear a sobrancelha e jogar propositalmente um pedaço de pele de cervo sobre os pés do garoto.

Monty pulou para trás e recostou-se numa árvore, a cabeça baixa, enquanto os punhos apertavam com veemência os lábios.

_Isso...é nojento._reclamou o rapaz, os olhos bem fechados, tentando diluir a imagem de carne, pelo e sangue.

Octavia riu, limpando as mãos na calça puída.

_Meu irmão estar apaixonado pela Clarke também é, mas nem por isso tenho que vomitar todo o meu almoço.

Monty não estava em condições de rir, mas foi impossível não fazê-lo, principalmente quando constatou um velho brilho impregnar os olhos da Blake.

Quando a noite já se aproximava, Monty e Octavia voltaram para o acampamento provisório onde os demais se encontravam. Naquela noite a comida foi farta e a conversa acalorada, ainda mais com o novo plano que se formava.

Monty percebeu que, embora a noite parecesse incrivelmente tranquila e confortante, ainda assim discordava da opinião unanime: a carne de cervo não parecia apetitosa o bastante.

***

_Você não está nem tentando!_reclamou Milah, enquanto um Jasper desajeitado escorria por entre os arbustos de um robusto tronco.

As mãos de Jasper estavam arranhadas e com pequenos resquícios de madeira dentro delas. A vergonha em não conseguir escalar se misturava com a raiva que o tom de voz de Milah estava causando.

_Nem todos somos pequenos e engenhosos com os pés._retorquiu o rapaz, a face corada por conta do cansaço.

Nas últimas semanas Jasper começou a perceber que, entre todas as pessoas que já odiou desde que chegou na Terra, Milah era, de longe, a que mais se enquadrava na vaga. Sua altura diminuta e suas feições dóceis apenas escondiam uma teimosia e impaciência ferrenhas, as quais Jasper adorava salientar. Eram de dar nos nervos.

_Achei que sua forma desengonçada e alta teria serventia nesse quisito._contra argumentou a garota, as feições tão retorcidas quanto conseguia.

_Ficar zombando de mim não vai ajudar em nada.

_Assim como continuar agindo como um palerma não vai alimentar nossos estômagos._Jasper podia sentir as vibrações negativas que emanavam da garota, ele mesmo sabia que estava tão furioso quanto.

_Me desculpe se..._a resposta afiada que viria não se formou. O som do farfalhar de folhas sobre o solo indicava que algo se aproximava.

Jasper agarrou a arma sob os pés e se posicionou, os pés afastados para se equilibrarem com o impacto do gatilho. Milah, apesar da insistência de Bellamy e Clarke, não ousou aderir a arma de fogo. Sua vida inteira foi treinando com facas de pequeno porte, o boldrié sobre o peito, um presente de Callen, acolhia diversas pequenas lâminas, de formatos distintos, mas todas leves e fáceis de usar, tão afiadas quanto a língua da dona.

_Fique atrás de mim._ordenou Jasper.

Milah o ignorou e se colocou ombro a ombro com rapaz. Em ambas as mãos lâminas brilhantes apareceram, preparadas para entrarem em ação.

O barulho ficou mais alto, como se estivesse a centímetros deles.

_Eu não vejo ninguém._sussurrou Jasper, embora a mata estivesse banhada com a luz do sol.

_Isso não me admira._Jasper se preparou para retrucar Milah, mas percebeu que a garota não estava sendo irônica, apenas confirmando um ponto.

Jasper estava pronto para perguntar se Milah sabia quem era, mas a pergunta morreu antes de ser formada.

Um machado afiado voou por cima da cabeça de Milah, em direção à Jasper. A garota mal teve tempo de se jogar contra ele, então apenas lhe deu uma rasteira, fazendo com que o Jasper se estirasse no chão.

O machado se fincou na árvore de forma precisa. Jasper, no chão, estava com os olhos esbugalhados, enquanto percebia que sua cabeça é que deveria estar empalada junto ali.

_LEVANTE-SE!_ordenou Milah, os olhos vasculhando a mata a frente, enquanto Jasper se recuperava do golpe e se postava de pé novamente.

_Eu não vejo nada._grunhiu Jasper, a voz elevando alguns decibéis.

Um zunido passou por Milah e se cravou no chão. Uma flecha.

_Corre._a voz de Milah mal passara de um sussurro, mas foi o suficiente para Jasper engatar numa corrida desenfreada.

Assim que seus pés se moveram as flechas zuniram em maior volume.

_Me siga!_gritou Milah sobre o ombro.

A garota trilhou um caminho dificultoso, fazendo curvas repentinas e derrapando vez ou outro, para evitar que morressem pelas lanças pequena e afiadas das flechas.

Jasper imitou Milah o melhor que pode, embora sua altura dificulta-se a manobra. O garoto tentava não pensar no medo de ter as costas expostas, apenas reuniu todo o pavor em adrenalina, correndo feito um louco para se salvar.

As flechas cessaram em determinado momento, mas Milah não parou de correr. Queria ter uma boa vantagem de seus inimigos. Jasper concordava com ela, mas, assim que percebeu para onde corriam, teve vontade de estapear o próprio rosto.

_Milah, pare! É uma armadilha!_as mãos de Jasper detiveram Milah, puxando-a para trás.

Milah trincou os dentes quando percebeu um grupo de grounders surgir entre a folhagem, as feições tão distorcidas quanto conseguiam. A garota odiou-se por não ter participado mais das caçadas fora de Condor, pois ali estavam predadores, terra-firmes diferentes daqueles que habitavam sua antiga aldeia.

Jasper pensou em correr novamente de onde vieram, mas os arqueiros já formavam uma barreira atrás deles.

_Alguma ideia?_perguntou Milah num fio de voz.

_Não sou suicida o bastante para isso._a resposta de Jasper fez Milah rir. O garoto não soube dizer se era a histeria tomando conta de Milah ou apenas seu senso de humor desordenado.

Jasper estudou os terra-firmes rapidamente. Estavam num grupo de oito, armados com lanças, flechas e machados. O rapaz não quis nem contabilizar as espadas afiadas que pendiam ao lado de cada grounder, era apavorante demais.

_Larguem as armas!_a voz retumbante veio de um grounder grande e robusto. Milah nunca tinha visto tanta maldade contida num rosto humano. A garota recuou dois passos. A ideia de deixar que aquele homem se aproximasse a corroía por dentro. Jasper se pôs na frente de Milah, fazendo com que o seu corpo alto escondesse sua figura diminuta. Em outro momento a garota teria reclamado, mas agora estava terrivelmente apavorada para pensar em qualquer coisa.

_Eu mandei largar as armas!_a voz ficou mais estridente e violenta.

Jasper pareceu ponderar a situação. Milah enroscou os dedos na camisa do rapaz, chamando-lhe a atenção. Se Jasper pensava em desistir sem lutar, os olhos de Milah gritavam o contrário.

O cenho de Jasper franziu, mas o rapaz assentiu em seguida.

_Desculpe, mas isso não vai acontecer._a voz de Jasper saiu alta e poderosa, desprovida de medo.

O grounder pareceu fuzilá-lo com os olhos, a mão já concentrada na espada ao lado do corpo.

_Então seus destinos serão ainda pior do que a morte._ameaçou o grounder, sua voz um sibilo.

Jasper sentiu Milah endireitar-se às suas costas, as mãos segurando com força o cabo das facas.

O rapaz sabia que aquele era seu fim. Não pode deter a raiva pelo seu desfecho. Ele esperava algo mais grandioso, considerando tudo que já havia enfrentado até ali e vivido para contar a história. Mas, por um lado, Jasper estava feliz. A voz de Maya parecia ecoar baixinho em seus ouvidos, como se estivesse chamando-o para si. Para onde quer que tivesse ido.

Os grounders avançaram e Jasper preparou o rifle.

_Boa sorte, Jasper._a voz de Milah estava entrecortada. Ela também previa seu fim.

_Leve muitos deles juntos conosco, Milah._pediu o rapaz.

A arma de Jasper foi engatilhada, mas antes que o rapaz fizesse qualquer outra coisa o corpo de um dos arqueiros foi ao chão. Jasper achou que o grounder tinha descido da árvore para matá-los, mas ficou surpreso quando o mesmo não se movera.

Não houve muito o que pensar. Milah falou aquilo que parecia se ordenar na mente de Jasper.

_Callen!

O homem loiro, cujo os cabelos estavam menores e mais aparados, surgiu na clareira, derrubando outro arqueiro e perfurando com sua espada um terceiro.

Jasper queria continuar apreciando a técnica de Callen, mas colocou-se a interceptar os demais grounders que corriam em sua direção.

O rifle derrubou dois de seus caçadores. Milah conseguiu enfiar uma adaga no peito de outro com facilidade. Callen se ocupava do grounder maior, aquele que parecia ser o líder do grupo.

Um último grounder, percebendo que estava em desvantagem, colocou-se para correr, mas Jasper e Milah seguiram em seu encalço por entre a mata.

Callen, vendo que estava sozinho, interceptou a espada do seu oponente com maestria, encostando a lâmina da mesma na garganta do grounder.

_Para quem você trabalha?_pressionou, a lâmina rasgando tiras do pescoço do homem.

_Lexa. Nossa líder é a Lexa._grunhiu o grounder apavorado, enquanto assistia o descontentamento de Callen.

_Por que ela os mandou aqui?_Callen era inteligente o suficiente para saber que Lexa não se desfaria de seus homens se não fosse uma missão importante.

O grounder pareceu ponderar se respondia ou não, mas a pressão em seu pescoço ficou mais forte, fazendo-o mudar de ideia rapidamente.

_Ela quer a líder! Está atrás da líder do povo do céu!_as palavras saíram abafadas. O homem mal respirava, tamanho era seu medo de ter a cabeça decapitada.

_Clarke?_insistiu Callen.

O grounder assentiu, os olhos esbugalhados.

_Seria bom destruí-la também, caso eu não tivesse uma maldita promessa para cumprir.

Callen não pensou duas vez quando atravessou a lâmina no pescoço do grounder, desvencilhando a cabeça do corpo do homem.

Sangue jorrou, enquanto os olhos perversos ficavam vagos, enxergando o nada.

Milah e Jasper reapareceram na clareira segundos depois, ambas as respirações alteradas.

A faca ensanguentada na mão de Milah indicava que nenhum grounder havia sobrevivido para relatar a história à sua líder.

_O que está fazendo aqui?_a voz de Milah aparentava confusão, embora não houvesse nenhum vestígio de raiva nela.

Jasper não tirou a mão do rifle um só segundo, gesto o quão não passou despercebido por Callen.

_Eu perguntaria o mesmo à você se não fosse tão óbvio._respondeu o rapaz.

Callen estava feliz de ver Milah bem. Dentre todas as pessoas que amava, Tristan e Milah estavam no topo da lista. Enquanto Tristan era aquele que preenchia a outra metade de Callen, Milah era aquela a qual ele poderia dividir seus maiores pesares.

_Veio atrás de mim?_a surpresa na voz teria magoado Callen, se realmente ele não estivesse mentindo sobre isso.

_Sim. De você e do Lars.

_Por quê?

Em outra situação seria para achá-los e trazê-los vivos para Condor, mas aquela situação era totalmente diferente. Callen veio até eles porque o levariam até ela e, consequentemente, até aquele cujo o coração lhe pertencia. Era uma equação simples, se tudo não fosse tão complicado.

_Tristan está morto._Callen não queria envolver o irmão em sua mentira, mas também não poderia ignorar o fato que ambos perguntariam do rapaz.

Milah levou a mão a boca. Seus olhos ficaram marejados, enquanto o impacto da frase lhe estilhaçava por dentro.

Mas não foi os soluços de Milah que ecoaram na aldeia.

Callen se virou e deparou-se com três figuras paradas atrás de si.

Lars parecia derrotado, como se a certeza que precisava nunca fosse se tornar real até alguém fala-la em voz alta.

Callen queria continuar sustentado o olhar de Lars, mas não conseguiu. Havia tanta dor ali que temia que se continuasse a olhá-lo algo poderia ruir dentro de si também.

Os olhos do grounder se detiveram nas duas figuras ao lado de Lars.

Callen teve de trincar os dentes para não rosnar para a líder do povo do céu.

Ela estava chorando.

Os soluços ecoavam dela, enquanto se aninhava no peito de Bellamy, as mãos circundando sua cintura, enquanto o rapaz a protegia com os braços.

Callen poderia ter sentido pena dela.

Poderia sentir a mesma dor que emanava de Lars se estabelecer sobre a Griffin.

Mas não o fez.

Naquele segundo ele soubera que apenas uma promessa mantinha Clarke respirando.

Só não sabia dizer até quando seu auto controle aguentaria honrá-la.


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Notas finais do capítulo

Bjs. pessoas!
Até a próxima!



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