Save me escrita por Vany Myuki


Capítulo 21
Mount Weather


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas do meu Brasil!!!
Tudo bem com vocês? Eu espero, sinceramente, que sim!
Eu sei que a maioria deve estar querendo minha cabeça pela demora, mas eu tive boas justificativas para demorar tanto a postar, por isso eu peço, humildemente, mil e uma desculpas.
Agora: falando de The 100. Quem viu os três primeiros episódios levanta a mão o/
Gente, o primeiro episódio, eu acredito que para todo o Bellarke de coração, foi um terror na terra. Sério, me decepcionei muito, apesar de ter gostado do enredo de uma maneira geral.
O segundo ep. eu surtei. Acho que todo o Bellarke shipper surtou legal. Gente, eu achei que não ia me recuperar daquela cena, daquela atitude ♥ (para quem não viu, isso não é um spoiller, fiquem tranquilos).
O terceiro ep ferrou com meu psicológico. De verdade. Eu terminei de ver há algumas horas e, até então, não consegui parar de pensar nele.
Li a sinopse do 03x04 e fiquei furiosa. Sério. Eu queria churrasquinho de Jason Rothenberg agora!
Mas, num todo, vamos torcer para que, nessa temporada, o escritor de The 100 tenha uma alma boa e pense em nós, bellarkes, que continuamos sofrer por um shipper existente apenas nos livros :'(
Agora, depois de falar sobre toda a minha frustração, vamos as boas novas: o capítulo de hoje é um pouquinho maior do que os habituais, talvez não impactante, mas necessário para os próximos que os seguiram.
Estou com os novos capítulos prontos e a ideia toda formada, mas vou segurá-los mais um pouquinho, só pra fazer charme kkk (não me matem, em imploro).
Agora falando sobre os comentários lindos que recebi: meninas, vocês são incríveis. De verdade! Eu me animo tanto lendo seus reviews que é como se eu conversasse pessoalmente com cada uma, então eu só tenho a agradecer, de verdade. Muito, muito, mais muito obrigada mesmo ♥
Pessoal, minhas leitoras lindas de plantão, eu queria deixar aqui um agradecimento especial à três pessoas:
Icequeenbr: por recomendar a fic de uma forma linda, exaltando elogios que eu nem imaginava receber. Muito obrigada, Flor, de verdade ♥
BellamyCrush: primeiro porque eu amei seu user (Bellamy Forever♥). segundo porque Gio é uma sofredora como nós: Bellarke shipper o/ gente como a gente kkk E terceiro: por amar tanto Save Me que me deixou maravilhada com o resultado da fic; muito obrigada pelos elogios, Gio. De verdade ♥
E por último, mais não menos importante, a Ana Beatriz Zuniga: obrigada por recomendar a história de forma tão bela, me deixando com um sorriso bobo de felicidade. Muito obrigada mesmo ♥
Às três autoras das recomendações eu só tenho que agradecer por:
a) Se darem ao trabalho de criar perfis aqui no Nyah apenas para comentar, favoritar e recomendar a fic ♥
b) Por perder horas importantes de sono, no intuito de ler "só mais um capítulo" ♥
c) Por acharem que minha fic, minha humilde e desconhecida história, deveria ser lida por Jason Rotherberg e incrementada na 3 season (eu sei, é muita viagem sonhar com isso, mas bem que podia, né? kk ♥).
Abaixo eu vou deixar o link da minha página do facebook. Essa pág pode servir paar vocês virem conversar comigo sobre o capítulo, dar opiniões, críticas, conversar sobre a série ou, apenas, para puxar minha orelha kkk
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Aproveitem o capítulo ;)



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P.O.V Bellamy

Depois de conseguir escapar tantas vezes da morte certa, ainda assim eu nunca havia testemunhado um estado de espírito tão gratificante quanto o de agora. Meu coração parecia responder com igual entusiasmo; palpitando forte a cada breve sorriso de Clarke sob a luz resplandecente do sol. Por mero segundo eu me vi querendo ter uma máquina fotográfica, apenas para registrar aquele momento, como prova de que a felicidade realmente existia e que eu, finalmente, havia descoberto a minha.

Milah andava na frente, ao lado de Clarke, conversando animadamente, como se não houvesse notado nossa ausência durante as últimas horas. Clarke parecia tentar controlar os cantos de sua boca que, insistentes, se curvavam involuntariamente. Aquele pequeno reflexo aquecia meu coração de uma forma jamais imaginada. Agora éramos um só. Completos por corpo e alma, tão fundidos um no outro que eu não conseguia descobrir onde ela começava e eu terminava.

Ao meu lado, puxando o prisioneiro por uma grossa corda, estava Lars, tão quieto e concentrado que conseguia fingir muito bem o que estava bastante claro. Sua confidencialidade era algo agradável, me fazia depositar uma quantidade incrível de confiança nele, uma quantidade que Clarke deixava claro ter. Jasper vinha em nosso encalço, seus olhos sem vida vasculhando a floresta com o mesmo desinteresse típico.

Tudo parecia estar em seu lugar, mesmo em meio a guerra e aos problemas que estávamos enfrentando. Apenas a presença de Callen, líder de Condor, conseguia desviar as coisas do caminho. Seu interesse mortal em mim e em Clarke era um sinal legítimo que sua busca até nós não foi infundada, sem propósitos. Lars era o único que parecia defender o mesmo ponto que eu: Callen não era de segurança, portanto um perigo para todos, principalmente para Clarke.

Agora, enquanto caminhávamos rumo ao Acampamento Jaha, eu me via mais cauteloso quanto ao nosso prisioneiro. Seus olhos encaravam abertamente Clarke, tão cheios de ódio e fúria que me vi tentado a findar sua vida naquele segundo. Mas eu sabia, por experiência própria, que Clarke não era uma assassina por escolha. As mortes que causou tiveram um propósito, ela nunca matou sem que houvesse outras alternativas. Mesmo que Callen falasse em alto e bom som o que estava tramando, ainda assim ela não o mataria, não até que ele a pressionasse a tomar essa decisão. Essa capacidade de olhar a humanidade de todos, mesmo em momentos assim, era uma característica única dela e a qual eu teria de aprender a utilizar também, uma vez que não pretendia tirá-la de perto de meus olhos nenhum segundo mais.

—Foi uma noite agradável?

Meus punhos se fecharam automaticamente, enquanto ao meu lado Callen olhava sem pudor para Clarke, forçando-a a encará-lo.

—Cale a boca._grunhi calmo, embora por dentro uma avalanche descesse sobre mim.

Clarke não parou de andar, embora seu desconforto estivesse claro em sua postura. Milah, ao lado dela, se calou de imediato. Até mesmo Jasper parecia prestar atenção.

—Deve ter sido um reencontro encantador, levando em consideração todos os infortúnios que os jovens amantes tiveram de passar._recitou ele com um sorriso maldoso.

Lars deu um puxão na corda, claramente irritado com Callen.

Clarke continuou calada, olhando para a frente como se sua vida dependesse daquilo. Meu instinto protetor gritava mais do que nunca, impulsionando-me a calar a boca de Callen antes que ele ultrapassasse os limites, mas eu tinha plena consciência da força de Clarke e, principalmente, de sua paciência.

—Pena que Tristan não estivesse aqui para presenciar essa cena. Com toda certeza ele ador...

Callen se calou assim que o punho de Clarke subiu de encontro com o seu queixo. Me joguei entre os dois, empurrando Callen para longe, enquanto Lars fazia seu melhor para detê-lo.

—Nunca mais fale de Tristan dessa maneira!_a voz de Clarke saiu como um rugido, tão em fúria quanto o próprio líder parecia estar.

—O quê? Agora que o matou quer que o nome dele seja enterrado junto com suas cinzas?_gritava Callen, descontrolado.

Antes que eu pudesse impedir, Clarke passou por mim e ficou face a face com o prisioneiro, seus olhos emanando dor e raiva ao mesmo tempo, enquanto os de Callen apenas fumegavam.

—Como pode falar assim dele? Como pode usar o nome dele depois de tudo que causou à ele?_gritou ela. Meus braços envolveram sua cintura, prendendo-a no mesmo lugar, enquanto a Clarke pacífica dava lugar a uma pessoa descontrolada e com sede de sangue.

—Suas ações tiraram a vida do meu irmão._retorquiu Callen com o mesmo tom ameaçador.

Jasper, atrás de Lars, encarava Clarke de forma estranha, enquanto Milah parecia ponderar entre intervir ou ficar calada.

O corpo de Clarke relaxou, enquanto ela soltava um suspiro pesado, os ombros cedendo um pouco.

—Mas foi nas suas mãos que ele encontrou a morte.

O impacto daquelas palavras pairaram no ar ao redor de nosso pequeno grupo. O dia ensolarado e contagiante de outrora deu lugar a um sentimento sombrio e devastador. Callen, pela primeira vez, pareceu ficar sem fala, mesmo que em seus olhos o ódio ainda consumisse tudo em seu ser.

Dizendo isso, Clarke se soltou de meus braços e voltou a caminhar, agora com mais ansiedade que antes, como se andar fosse apagar a dor que a morte de um amigo lhe causara.

Envoltos em um silêncio fúnebre, todos começamos a segui-la. Lars, a cada passo, puxava a corda de Callen com mais força, como se para puni-lo de suas palavras.

A morte de Tristan era superficialmente conhecida por mim e por Jasper. Sabíamos que ele havia traído sua aldeia e o irmão no sentido de nos libertar. Lars e Milah haviam agido como cúmplices, cientes das consequências que o amigo estava prestes a assumir ao nos conceder a fuga. Aquilo era motivo mais do que suficiente para mim respeitar e ser eternamente grato a quem quer que fosse Tristan. Ele não salvou apenas à mim, mas aquela que para mim era tão preciosa. Até então acreditei, ou pelo menos quis acreditar, que a relação de Clarke com Tristan era apenas amigável, mas, ao testemunhar a ira de Callen, eu soube que os sentimentos ali haviam sido mais complexos do que eu poderia ter imaginado. Possivelmente tenha sido unilateral, considerando que Clarke parecia cultivar apenas um carinho de amigo para com ele, e isso era egoísta da minha parte, pois mesmo que ele já estivesse morto ele ainda parecia confrontar meu futuro junto de Clarke.

Por mais que o corpo de Tristan não estivesse mais ali ele estava presente nas lágrimas de Milah, na solidão de Lars, no sofrimento de Clarke e, preocupantemente, na postura irritadiça do líder de Condor. Tristan se fora, mas Callen ficara e sua raiva era suficiente para me fazer temer pela vida de Clarke.

P.O.V Callen

Faziam apenas dois anos desde a morte de nosso pai. Dois anos que Condor passou a se curvar à mim; dois anos que passei de irmão mais velho à pai e líder. Por algum motivo, até então desconhecido por mim, Tristan parecia mais aliviado desde a morte de nosso pai. De alguma maneira, a presença dele era como uma constante pressão para meu irmão. Tê-lo ali fazia de Tristan mais vulnerável e fadado ao fracasso. Mas agora, quando seu espírito havia se libertado da Terra, uma aura de alívio rodeava não apenas à Tristan e à mim, mas também aos habitantes de Condor.

Os demais clãs criticavam minha postura como líder, incitando minha deposição toda vez que uma nova reunião do conselho era formada. Lexa, nossa comandante que estava há tempo demais na liderança, apesar da pouca idade, parecia certa de que eu estava onde deveria estar. Qualquer pessoa que fosse contra sua afirmação poderia se considerar morta e isso, de certa maneira, era reconfortante à mim e a Condor que, de um jeito bastante surpreendente, parecia feliz com as transformações que meu mandato havia causado a aldeia.

Há gerações Condor havia sido chefiada pelos meus ancestrais de modo tão firme e rude que éramos verdadeiros homens da caverna, sempre em busca de vingança e sangue, como se não houvesse outro objetivo a ser alcançado em nossas vidas. Meu avó agiu da mesma forma durante seu reinado como líder, sendo seguido fielmente por meu pai. Minha educação e a de Tristan haviam sido moldadas na mesma brusquidão de todos os outros habitantes dos demais clãs. Condor viveu dias sombrios durante muito tempo, quando, enfim, me vi tendo que ocupar o lugar de meu pai, eu quis mudar essa forma de semi-vida.

Tristan e os demais pareceram felizes com as transformações que causei durante meu percurso como sucessor. Eu mesmo me vi satisfeito com o modo de vida que levávamos, embora nossa luta por sangue ainda não fosse escassa, uma vez que atendíamos à comandante, mas, ainda assim, nossa situação estava melhor do que outrora.

Tão rápido quanto eu me recordo, eu havia passado da adolescência prematura para a vida adulta; assumindo com totalidade todos os deveres de líder e irmão mais velho. Algumas poucas vezes me via exausto, desejando a normalidade da vida de Tristan ou a de qualquer outro habitante de Condor, mas, quando via o quanto havíamos progredido como sociedade, todas essas vontades eram derrubadas pela satisfação do que meus olhos visualizavam.

A vinda do povo do céu foi o meu maior infortúnio durante esses longos anos de mandato. Eu me vi pego em minha própria armadilha: enquanto eu insistia em tornar Condor um lar à todos, eu acabei por colocá-la como alvo mais próximo de nossos inimigos. Todos os demais clãs sabiam da vulnerabilidade de Condor; a crítica às minhas decisões nunca tiveram tanto peso quanto naquele momento. Eu sabia que precisava fazer de tudo para proteger meu povo e impedir que os novos habitantes da Terra utilizassem de nossa fraqueza para nos tomar as terras e as vidas.

Foi nesse momento que comecei interferir de forma autônoma além das terras de Condor. Minhas escapadas, as quais Milah sempre insistia em me questionar, não eram sem propósitos. Desde a chegada do povo do céu eu fui seus olhos e seus ouvidos. Eu sempre os espiei, primeiramente por medo, depois por pura curiosidade, uma vez que percebi que, de fato, eles não representavam mal algum a Condor, quem dera aos demais clãs que eram mais fortes e mais bem preparados.

Em muitas vezes, tantas que mal consigo me recordar o número exato, eu me vi prestes a ultrapassar a fronteira entre o meu mundo e os dos novos moradores da Terra. Minha real intenção era trazê-los para junto de Condor, colocá-los sob minha proteção em frente à comandante e, desta forma, conseguir, não apenas aumentar o número de  nosso exército, mas aumentar nossas chances na terra, como sobreviventes do desastre que fora a quase certa despovoação da mesma.

Eu sabia que eles tinham tanto a nos ensinar quanto nós à eles. Ambas as partes sairiam ganhando, principalmente levando em consideração seu domínio sobre a tecnologia, algo que apenas os homens da montanha, nossos eternos inimigos, detinham. Não era uma acolhida, em sua mais pura definição, mas sim uma troca de favores: nós o ajudávamos; eles faziam o mesmo.

Meus planos estavam bastante claros para mim. Antes que qualquer outro clã se dispusessem a aproveitar o melhor que o povo do céu detinha, eu gostaria de ter a chance. Talvez meus cálculos estivessem errados; talvez eu estivesse apostando alto demais; talvez, até mesmo, a comandante fosse contra meu pedido, mas, naquele mísero período de tempo, eu apenas sentia sede pelo conhecimento, pelo conhecimento que eu não detinha.

Foi nesse ínterim que a oposição dos clãs cresceu sobre os novos desconhecidos. Vi líderes cair, traições se tornarem um grito de morte, enquanto um verdadeiro caos tomava conta de todos. Com os reforços vindos do céu tudo  se complicara ainda mais. Condor, seguindo as ordens da comandante, se aliou aos Sky People em detrimento de um único objetivo: derrubar nosso maior e mais preparado inimigo, Mount Weather.

Achei, inocentemente, que a paz estava selada entre os novos habitantes e os grounders. Mal supunha eu que tudo aquilo era uma mero engano, uma fachada bem armada para entregá-los como oferenda, enquanto nos livrávamos deles e recuperávamos nosso povo.

Tristan me perguntou, assim que a ordem de recuar foi anunciada, se eu não me sentia um lixo agindo daquela maneira; seguindo as ordens de Lexa sem enxergar o quanto a mesma prejudicava dezenas de vidas. As palavras que respondi naquele dia ainda ecoam baixo em meus ouvidos, tão mentirosas quanto minha devoção pela comandante.

Após a queda de Mount Weather, a restauração dos Sky People e o sumiço de sua líder, minha curiosidade apenas formigava. Uma guerra, em minha perspectiva, parecia ser tudo que Lexa almejava, podendo, desta forma, tomar o poder que a líder dos céus conquistou e reinar absoluta pela primeira vez, sem ter de se preocupar com seus inimigos da montanha.

Foi por isso que há semanas, talvez meses atrás, eu encontrei quatro corpos na floresta, mortos pelas mãos firmes de grounders, abandonados ao acaso. Minha chance de me embrenhar no território "inimigo" não poderia ter sido melhor calculada: ninguém, entre tantos rostos, pareceu reconhecer que não se tratava de um soldado, mas sim de um grounder disfarçado, decido apenas a entender o inimigo, antes que ele o decifrasse primeiro.

O modo de vida do povo do céu, a forma como se tratavam e se respeitavam apenas aguçou ainda mais minha curiosidade. Meu recado, sobre o perigo iminente que corriam, foi dado diretamente a Chanceler, sem restar mais o que eu pudesse fazer por eles.

Como o esperado, eu voltei para casa, a salvo, sem saber que aquilo que eu tanto escondia de meu irmão, estava bem embaixo do meu nariz, morando em sua cabana e tendo seus cuidados, tão preciosa que mal conseguia entender seu valor.

Hoje me pergunto se, caso eu soubesse sobre o paradeiro de Clarke, enquanto a mesma vivia sob a proteção de Condor, eu teria abrigado a líder do povo do céu e, talvez, conseguido um acordo entre ambas as partes, uma que beneficiaria Condor, livrando-a de sua submissão à Lexa, e aos Sky People, culminando em sua primeira aliança em Terra.

A resposta à minha pergunta ainda é desconhecida. Toda a curiosidade que um dia me permiti ter por aqueles estranhos seres se esvaiu no dia em que tive de ver o corpo de Tristan queimar até virar cinzas. Hoje nada mais me consome, apenas uma sede de vingança ardente e descomunal, tão sufocante quanto as cordas que prendem meus pulsos.

A traição de Lars e Milah também se tornara um fardo o qual eu não estava preparado a carregar. Observando agora, após todos os acontecimentos excruciantes dos últimos meses, eu me dei conta que nada de bom pode vir do povo do céu. A única coisa que eles conseguiram trazer para a Terra foi a destruição; o medo; a tristeza e a dor.

Se eles não houvessem pousado, várias vidas haveriam sido poupadas; nossas terras não estariam um caos e, possivelmente, Tristan estaria ao meu lado, assim como Milah e Lars. Nada haveria sido modificado; ainda estaríamos sobre o julgo de Lexa, mas, ainda assim, era melhor do que a atual situação.

Nesse momento, por mais estranho que pudesse parecer, a morte de Tristan não era a única coisa que me fornecia essa certeza. Tudo parecia apontar contra os Sky People, cada sangue derramado e cada lágrima.

Tristan morreu com um pedido; um pedido ridículo e sem cabimento, mas o qual eu estava fadado a cumprir até o último dia de minha existência. Mas, quanto ao resto, eu já nada poderia assegurar. Porque, para mim, essas pessoas eram a escória da humanidade; uma praga que se manteve em silêncio por quase cem anos, enquanto quase sufocávamos em terra tóxica.

A comandante estava certa em querer detê-los: nossa terra, nossas regras. Não havia espaço para novos moradores e essa, eu agora jurava à mim mesmo, era uma promessa que eu faria à mim, a qual cumpriria com a mesma intensidade que estava fadado a cumprir a de Tristan.

P.O.V Clarke

A noite estava dando seus primeiros indícios, enquanto as cores do crepúsculo se misturavam sob nossas cabeças. Milah, que agora se aproximava com alguns gravetos aninhados nos braços, se sentou ao meu lado, enquanto eu insistia em raspar um cascalho no outro, no intuito de acender uma pequena fagulha de fogo.

—Eu posso fazer isso para você._ofereceu com um sorriso contido. Eu sabia que minha tentativa de acender uma fogueira deveria estar parecendo bastante patética para Milah, mas não me importei, havia tanta felicidade e eletricidade percorrendo meu corpo que eu temia que se me mantivesse parada pudesse explodir numa bolha de entusiasmo.

—Está tudo bem. Eu já fiz isso diversas vezes._garanti, embora soubesse que, as poucas vezes que consegui, poderiam ser contadas nos dedos de uma única mão.

Milah sorriu em concordância, observando minha concentração voltar aos cascalhos.

—Acha que eles vão nos aceitar?_a voz de Milah se tornou mais baixa e serena, diferente da costumeira Milah animada.

Meus olhos se voltaram para ela e percebi que ela encarava a floresta à frente, os pensamentos parecendo fervilhar a medida que seu olhar se perdia entre as árvores.

—Você e Lars são como se fossem eu. Se eles forem contra a permanência de vocês no acampamento, eu lhe garanto que arranjaremos outro lugar para nós, fique tranquila.

Dizer que eu nunca havia pensado nessa possibilidade era mentira. Eu sabia, sem nem precisar confrontar minha mãe e Marcus, que a Arca seria fortemente contra a permanência de Lars e Milah no acampamento. Por medo, tanto as pessoas da Arca, quanto os grounders, pareciam não aceitar que ambos os povos pudessem viver juntos e em perfeita harmonia. Era como se houvesse uma etiqueta em cada um que deixasse claro a diferença entre ambos. Como se uma característica, além de nossa humanidade, conseguisse rotular cada um.

—Você não deve se distanciar do seu povo por nós, Clarke. Eles precisam de você._a voz de Milah, embora triste, ainda era bastante firme. Ela parecia acreditar cegamente nas próprias palavras.

—Não é dessa forma que eu vejo, Milah._garanti.

—Mas é dessa forma que tem que ser._retorquiu ela.

Suspirei alto e deixei os cascalhos rolarem de minha mão, repousando ao lado dos meus pés, enquanto eu me virava para encarar Milah.

—Não vou deixar que a Arca tenha domínio sobre a minha vida de novo, Milah. Fiz isso uma vez no espaço, porque não tive escolha; aqui na Terra tornei a ser submissa para salvar meus amigos de Mount Weather, mas, agora, eu não tenho mais nada que me prenda à eles. Se insistirem em se opor à você e ao Lars eu não vou pensar duas vezes antes de seguir os dois sem olhar para trás. Está claro?

Os olhos negros de Milah me encararam emudecidos, talvez pela firmeza que eu depositara em cada palavra que pronunciara.

—Líderes não pensam em si mesmos, Clarke. Seu povo vem em primeiro lugar._insistiu ela, embora parecesse muito voltada a se agarrar em minha afirmação.

—Vocês são meu povo. Todos aqueles que resolverem me seguir são o meu povo. Não se trata mais de sangue, Milah. Se há uma coisa que eu aprendi aqui na Terra é que a lealdade é o teste final para se escolher um lado. Enquanto vocês forem leais à mim serão parte do meu povo.

E, pelos Céus!, aquela era a afirmação mais verdadeira que eu presenciara sair da minha boca há semanas. Eu defendi os cem quando pousamos em Terra firme; eu estive ao lado deles quando estavam cativos de Mount Weather e, ainda assim, recebi mais críticas do que agradecimentos. Poucos foram os que conseguiram compreender o fardo que fora livrá-los da morte certa. De agora em diante eu estava assumindo outra postura, uma que me colocava a mercê daqueles que fossem dignos de lealdade.

Milah sorriu fraco, embora seu semblante ainda se impregnasse de preocupação.

Me voltei para os cascalhos à minha frente, batendo os mesmos com força em suas superfícies irregulares. Para me total espanto, pequenas faíscas jorraram, fazendo meus olhos se esbugalharem em admiração. Olhei para Milah que me incentivou a continuar.

Cerca de dez segundos devem ter se passado até que as chamas se transformassem numa pequena fagulha de fogo, consumindo os pequenos galhos que Milah havia juntado no centro do espaço.

—Eu pareço pateticamente animada com essa minúscula fogueira?_perguntei com um sorriso tosco no rosto, enquanto Milah exibia uma longa fileira de dentes brancos para mim.

—Não, pelo muito o contrário. Eu diria que foi sua pequena grande vitória, depois de todo esse tempo.

Eu sorri ainda mais, enquanto encarava as chamas se enroscarem, consumindo tudo ao seu redor.

A visão das labaredas multicolores ganhando tamanho foram interferidas por um pequeno pedaço de madeira horizontal em frente ao meu rosto.

Olhei para cima e me deparei com o sorriso estonteante de Bellamy, enquanto ele segurava em frente aos meus olhos um lápis de escrever; herança dos meus dias de enclausuramento dentro da solitária da Arca.

Meus dedos se precipitaram até o pedaço de madeira, acolhendo-o entre os mesmos, enquanto o estudava meticulosamente.

—Como conseguiu isso?_perguntei afobada, sabendo que meu rosto estava transparecendo tanta perplexidade quanto eu imaginava.

Bellamy se sentou ao meu lado, enquanto passava um dos braços sobre meus ombros; aconchegando-me à ele.

—A arca trouxe mais do que apenas sobreviventes, Clarke.

Não era a primeira vez que eu ganhava algo relacionado ao meu antigo hobby. Finn, assim que Wells partiu, também me presenteou com um lápis, dando cor a um dia que, para mim, havia se tornado sombrio. O fato de Bellamy me surpreender não diminuía em nada o apresso que o presente de Finn havia causado em mim, mas conseguia se sobressair ao mesmo.

Talvez fosse egoísmo da minha parte dizer isso, mas, no momento, era o que eu sentia. Finn foi um sonho bom, calmo e reconfortante. Mas Bellamy sempre foi aquela tempestade sem destino, incontrolável em sua melhor forma, incitando-me a compreendê-lo e amá-lo do modo que era. Finn foi a escolha fácil; Bellamy foi meu desafio no tempo de tormenta, um desafio que eu aprendi a entender durante o percurso.

—Obrigada, por tudo._aquelas simples palavras se estendiam a mais coisas do que aquele pequeno objeto. Dizia respeito sobre confiar em mim; sobre sempre se manter ao meu lado e, principalmente, deixar que eu enfrentasse as coisas do modo mais difícil, me fazendo crescer durante o trajeto.

Bellamy me encarou por longos segundos, o entendimento de minhas palavras o atingindo gradativamente. Era essa a conexão entre nós dois: não se necessitava de muitas palavras, não quando um conhecia o interior do outro com a mesma intensidade que tinha conhecimento do seu. Me perguntei como havíamos chegado a esse ponto, mas percebi que não importava. Eu gostava do modo que era.

—Eu que agradeço._e em seus olhos eu vi por tudo que ele agradecia: por ajudá-lo com os cem; por ser seu apoio; por desafiá-lo de maneira recíproca; por entendê-lo e por permitir-me amá-lo.

Se Milah não estivesse ali eu poderia muito bem ter demonstrado minha gratidão de outra forma, mas o momento não parecia oportuno. O sorriso de canto de Bellamy denunciava o mesmo pensamento, mas prometia novas oportunidades num futuro próximo.

Permanecemos assim, sentados confortavelmente ao redor do fogo por longas horas. Perdi a conta de quantas piadas Milah contou durante o jantar, enquanto implicava com Jasper repetidamente, embora seu cenho se franzisse quando olhava para Callen, o qual continuava amarrado a uma robusta árvore. Lars também interagiu durante todo o jantar, conversando amigavelmente com Bellamy, deixando transparecer aquele rapaz forte e de bom humor que salvara-me de mim mesma quando eu não estava disposta a fazê-lo. Jasper não falou muito, mas estava visivelmente mais confortável, menos oprimido dentro de sua própria bolha de solidão. Vez ou outra Bellamy insistia em arrancá-lo de seus pensamentos, se unindo à Milah e, surpreendentemente, conseguindo fazer Jasper sorrir.

Aquela nova sensação era boa. Eu gostava dela. Gostava ainda mais de sentir Bellamy ao meu lado, envolvendo-me em seu amor e em sua proteção, era como se, finalmente, eu pudesse respirar depois de muito tempo trancando o ar em meus pulmões.

Me deparei encarando duas íris cinzentas, confusas quanto ao azul que possuíam e o negro que as rodeava. Por longos segundos mantive meus olhos presos em Callen, enquanto ele sustentava meu olhar com igual veemência. A raiva de Callen era clara em seu olhar e, apesar disso, eu compreendia seu lado. De um modo bastante ruim, só estávamos aqui e agora graças à Tristan, o qual abdicou de sua vida sem pensar duas vezes.

Callen tinha todo o direito de me odiar e me querer morta. Eu havia, mesmo que de maneira inconsciente, matado Tristan. Mesmo que eu tivesse atravessado uma espada em Tristan não teria o mesmo impacto que sua decisão teve. Era fácil eu ver minha culpa na morte de Tristan, a minha mão interditando seu futuro, um que seria, indiscutivelmente, brilhante. Mas se eu realmente queria viver novamente, se eu desejava me dar uma segunda chance, uma em que Bellamy seria presença constante ao meu lado, eu teria de me perdoar por mais essa morte, embora Callen, eu soubesse, nunca pudesse fazê-lo.

Não sei quanto tempo ficamos encarando um ao outro, lendo tudo o que estava nítido em nossas expressões. Talvez tenham sido segundos, ou, mais precisamente, minutos. Callen era muito parecido com Tristan em muitos aspectos, seus gênios refletiam um do outro: forte e destemido.

Callen, para minha surpresa, foi o primeiro a desviar o olhar, sua expressão, antes neutra, agora se vincava de escárnio.

—Precisamos decidir o que fazer com ele._a voz de Bellamy ressonou baixo em meus ouvidos, atraindo minha atenção.

Olhei ao nosso redor, só para constatar que ninguém estava prestando atenção à nós dois.

—Eu sei. Não podemos mantê-lo por muito mais tempo assim.

O braço de Bellamy apertou-me ainda mais à ele.

—Eu tenho medo do que ele pode fazer à você._sua voz saiu baixa, mas cheia de preocupação, enquanto seu cenho se franzia.

Olhei para Bellamy; para tudo que ele passara a representar para mim nas últimas semanas.

—Você não precisa se  preocupar. Nada vai me acontecer._garanti, embora não estivesse totalmente certa do caráter do irmão de Tristan.

—Ele veio aqui com um propósito, Clarke e, eu lhe garanto, não foi pra ver a mulher a qual o irmão cultivava sentimentos se safar da morte ao lado de outro.

Os olhos de Bellamy queimavam em Callen, tão concentrados que senti os pelos de meu braço se eriçarem.

—Não vou mentir pra você: também acho que ele está aqui para vingar o irmão._confessei pela primeira vez em voz alta. Por algum motivo, falar essas palavras tornavam o medo mais palpável, como se Callen fosse uma bomba relógio prestes a explodir e destruir tudo que estivesse na sua frente.

Bellamy engoliu em seco, seus dedos apertando-me mais firmemente contra ele, como se tentasse me esconder dentro de si e me manter em segurança. Não pude evitar sentir meu coração aquecer àquele pequeno gesto.

—Não vou deixar que nada lhe aconteça._sussurrou para mim e, em suas palavras, eu vi uma promessa oculta.

Eu estava pronta para tranquilizá-lo, mesmo que na realidade eu não estivesse confiante de minhas próprias palavras, mas, assim que a cabeça de Callen voltou a se erguer e encarar Bellamy, totalmente alheio de meus olhos, eu senti meu sangue gelar.

Estava tão claro agora que eu mal conseguia entender como não havia notado isso antes. Não era à mim que Callen parecia certo em depositar sua fúria; não era meu sangue que ele desejava derramar; eu era, em outras palavras, uma peça sem utilidade em seu tabuleiro de morte.

A realidade me golpeou forte e certeira e, por um instante, temi não conseguir esconder de Bellamy minha descoberta.

Callen não mataria a mulher a qual o irmão se sacrificara, isso seria quase como desonrar sua morte, desonrar a causa pela qual ele morrera. Mas Callen era esperto e prudente, sutil como uma cobra, encontrando uma forma de vingar Tristan me desestabilizando mais do que se atravessasse uma faca em minha garganta: ele queria Bellamy morto.

Os olhos de Callen se desviaram em minha direção e, ali, vi a afirmação muda do que, para mim, era mais do que claro. O medo em meus olhos deve ter me denunciado, pois, naquele segundo, Callen sorriu, um sorriso selvagem e assassino; o sorriso de alguém que já arquitetara seu homicídio; o sorriso de alguém que apenas estava a espera de uma brecha.

Dessa vez foi meus braços que se prenderam aos de Bellamy, tão desesperados em protegê-lo que me senti uma garotinha novamente, incapaz de fazer qualquer coisa além de esperar.

Bellamy interpretou meu gesto com carinho, abraçando-me com doçura, sem de fato entender o pânico que me consumia a medida que os olhos de Callen me encaravam de forma mordaz.

No topo de minha cabeça um beijo foi depositado, simbolizando uma devoção que era recíproca. Callen arqueou as sobrancelhas, incitando-me. Meus olhos ferveram em sua direção, um aviso muito claro neles: se quiser ele, terá de passar por mim.

O sorriso que me foi lançado era uma resposta clara; um desafio aceito com satisfação. Pela segunda vez, para a minha infelicidade, as palavras de Lexa ecoaram em minha mente, tão afiadas como uma adaga: "amor é fraqueza".

P.O.V Autora

Monty e Miller montavam a vigília daquela noite quando o primeiro grito cortou o ar.

—O que foi isso?_gritou Octavia já de pé, olhando para todos os lados, a espada em punho.

Monty, com uma expressão cansada, indicou Harper com a cabeça, enquanto a mesma se debatia, presa dentro de mais um de seus pesadelos.

Raven e Wick ainda ressonavam baixo, um pouco mais afastados do grupo, enquanto Lincoln se sentava ao lado de Octavia, os dois encarando a figura horrorizada de Harper.

—Não seria melhor se a acordássemos?_perguntou Lincoln, um olhar penalizado recaindo sobre a garota.

—Não é apropriado, principalmente em situações como essa._aconselhou Miller, massageando a testa como quem estava tendo uma leve enxaqueca.

—Por que não?_tornou a perguntar Lincoln, enquanto Octavia se encostava nele, se aconchegando ao calor que emanava do corpo do grounder.

—Harper ainda não conseguiu superar a tortura em Mount Weather. Ela foi uma das que mais sofreu nas mãos daqueles miseráveis e viveu para contar a história.

Monty olhava impotente para a garota, incapaz de se sentir útil numa hora como aquela, quando a única forma de acalentar Harper seria apagar cada horror vivenciado nos seus dias de confinamento e tortura.

—Cada um tem os seus fantasmas a encarar, Monty. Harper vai ter de encontrar um jeito de conviver com eles. É a lei da vida aqui na Terra._falou Octavia solidária, tentando passar  algum conforto para o amigo.

—Ainda não consigo acreditar que conseguimos sobreviver até agora. É um milagre e tanto, se querem saber._salientou Miller com um misto de risada e perplexidade.

Monty se ajeitou em seu posto, as costas eretas contra à arvore, enquanto os gritos de Harper se tornavam mais e mais agudos.

—Eu nem sei como interpretar essa coisa que chamamos de vida. Acho que, com todos os pesares, a vida na Arca era menos complicada, mesmo estando preso._soltou Monty, divagando em suas memórias.

—Fale por você. Eu não tive vida naquela maldita Arca._argumentou Octavia com amargura na voz.

Todos voltaram a encarar o silêncio, os gritos de Harper rasgando o ar vez ou outra.

—Será que um dia conseguiremos viver em paz aqui?_perguntou Monty do nada, o olhar distante_Viver sem que nossa vida esteja em constante perigo?

A resposta veio de Lincoln, tão seca e concreta quanto a terra que os sustentava.

—Não. Sempre vai haver obstáculos e sede de poder. Sempre foi assim. A chegada de vocês apenas reacendeu a fagulha.

—Isso não é muito reconfortante._anunciou Miller.

—Quem disse que era para ser?_retorquiu Lincoln, enquanto trocava um sorriso de camaradagem com o outro.

—Que se dane. Me dêem apenas cinco minutos de paz._falou Octavia voltando a se deitar.

Lincoln sorriu para a namorada e deitou-se ao seu lado, abraçando-a enquanto adormecia.

Harper, no seu canto, parou de se debater, retornando a um sonho estável. Monty suspirou aliviado, era difícil para ele observar tudo sem poder fazer nada.

Um farfalhar não muito distante chamou a atenção de Miller que se colocou em posição, enquanto Monty o seguia no gesto.

Antes que eles dissessem alguma coisa, Octavia e Lincoln já estavam preparados ao lado de ambos, a atenção redobrada.

—O que é isso?_sussurrou Octavia ao lado de Monty.

O rapaz olhou para amiga com uma expressão carregada.

—Algo que veio para atrapalhar seus cinco minutos de paz.

Uma figura abriu caminho entre as folhagens, ficando frente a frente com o pequeno grupo. Octavia levantou a espada, encarando o oponente quando algo a intercedeu por trás com eficiência.

—Não deveria levantar a mão contra seu irmão mais velho._falou Bellamy, abrindo um sorriso e sustentando o corpo da garota, quando a mesma se arremessou em seus braços.

—Clarke!_Monty correu até a amiga e a envolveu com ansiedade em um abraço apertado. A Griffin recebeu o gesto com igual entusiasmo, sorrindo abertamente, como a tempo não se lembrava fazer.

—É bom ver você também, Monty._disse rindo.

Jasper surgiu ao lado de Clarke, cumprimentando Monty com um aceno de cabeça. O garoto asiático pareceu ponderar se abraçava Jasper ou se correspondia ao seu gesto; antes que mudasse de ideia, Monty jogou os braços ao redor do amigo, ignorando a incredulidade de Jasper.

—É bom ver você, amigo.

Por alguns segundos todas as atenções se concentraram nos dois, até que Jasper imitou o gesto de Monty, os olhos fechados firmemente, como se uma parte de seu passado ressurgisse para lembrá-lo que nem tudo estava perdido.

Atrás de Clarke surgiu Milah, um pouco acanhada, enquanto segurava com firmeza a corda que envolvia Callen.

—Que barulho é esse?_resmungou Raven, surgindo entre as árvores, Wick em seu encalço, pronto para ajudá-la caso sua perna falhasse.

Os olhos de Raven estudaram o grupo apenas por um segundo, antes que ela saísse em disparada até Clarke, afundando seu rosto no ombro da mesma.

—Como é bom ver você._falou baixo, sua voz evidenciando o alívio de ver a amiga sã e salva novamente.

Os olhos de Clarke lacrimejaram. De todas as pessoas que deveriam odiá-la, Raven era a que mais tinha o direito de fazê-lo. Clarke havia lhe tomado Finn e, então, o matado como oferenda de aliança, sem, de fato, pensar, nem se quer por um segundo, no que aquela perda significaria para Raven. Saber que a amiga, por algum milagre, a havia perdoado, mesmo depois de tudo, era razão o suficiente para continuar lutando.

—Senti sua falta._respondeu a Griffin, tão emocionada com o reencontro quanto a morena.

—É bom ver vocês vivos._salientou Wick, cumprimentando Bellamy com um sorriso amigável.

Raven e Clarke se separaram, ainda com um sorriso brincando em ambos os lábios.

—Quem são eles, Bellamy?_a pergunta veio de Lincoln que, até então, se concentrara unicamente no grupo singular que fazia sombra à Clarke.

—São amigos._respondeu Bellamy. Seus olhos vagaram até Callen, duros_Pelo menos a maioria._acrescentou.

—Ei! Eu conheço você._disse Monty encarando Callen.

A feição do prisioneiro não se modificou nenhum centímetro, era a mesma coisa que encarar uma estátua.

—O mentiroso deu suas caras mais uma vez._ajudou Raven, olhando de soslaio para Monty, o qual assentiu.

—Do que vocês estão falando?_perguntou a Griffin, encarando Callen com olhos confusos, enquanto a adrenalina e o medo brincavam em seu interior.

—Ele fingiu se passar por um dos soldados do acampamento. Eu sabia que ele não era de lá!_salientou Raven.

Clarke sentiu o coração estagnar. Se Callen havia conseguido entrar no acampamento, quer dizer que seus propósitos iam além de apenas vingá-la.

A líder se virou para Callen, os olhos ardendo em sua direção.

—Por que estava lá? O que você quer?_as perguntas jorraram com tamanho desespero que viu Lars se mover em sua defesa, como um verdadeiro soldado.

Callen encarava Clarke com o semblante ainda inalterado, como se ser pego em sua própria mentira não alterasse em nada seus planos.

As mãos de Clarke, agindo de forma impulsiva, se apressaram até o pescoço do rapaz, uma pequena lâmina brincando na pele do mesmo.

—Me responda._ameaçou.

Milah, ao lado de Callen, parecia prestes a deter a líder, não porque não acreditasse nela, mas porque não podia assistir Callen morrer na sua frente sem, de fato, poder se defender.

—Clarke, não._pediu numa voz quase inaudível.

Os olhos da Griffin transitaram de Milah para Callen, enquanto ela sentia os olhares queimar em suas costas.

—Por favor, Clarke._pediu a garota.

Clarke viu a imagem de Milah tremeluzir e transformasse em Jasper, enquanto, à sua frente, Callen se transformava em Maya. A imagem sumiu tão rápido quanto apareceu. A líder olhou para Jasper ao seu lado e constatou que ele também estava pensando a mesma coisa, os olhos atormentados com as lembranças.

A faca na mão da garota desceu, impotente.

Ao seu lado surgiu Bellamy, retirando cautelosamente a lâmina de suas mãos. Um olhar de entendimento sustentando-a, mesmo que o pânico continuasse a fluir por sua corrente sanguínea.

Até o momento Callen havia se prometido não falar nada; ignorar qualquer coisa que a líder lhe perguntasse; até mesmo a lâmina em sua garganta era algo tolerável, mas, no momento em que Bellamy entrou em cena e pareceu devolver a razão à Griffin, o monstro dentro de Callen, aquele que o lembrava a cada segundo que Tristan estava morto por culpa deles, ganhou vida.

—Você sabe o porquê fui lá._as palavras, mentirosas apesar de tudo, jorraram com facilidade por sua língua, tendo o efeito esperado em Clarke, que, simultaneamente, empalideceu.

Clarke,  pela primeira vez, recuou. O temor pela vida de Bellamy agindo de forma estranha em seu interior, como se, finalmente, percebesse que a morte estava próxima.

Bellamy encarou Clarke perplexo. Nunca havia visto, nem mesmo quando sua vida corria perigo, Clarke recuar amedrontada. Um calor estranho subiu pelos braços do Blake, centralizando-se em seu peito, como se fosse o corroer. Por meros segundos ele não soube identificar o que era, mas ao olhar mais uma vez o medo lampejar nos oceanos dos olhos de Clarke ele soube que a raiva inflava-se dentro de si.

—Você quer morrer?_grunhiu, agarrando o pescoço de Callen, enquanto Jasper tentava o deter.

O sorriso que cresceu no rosto do líder de Condor deixava claro que ele não tinha medo da morte; estava suficientemente familiarizado com ela para temê-la tão covardemente.

Lars se intrometeu entre eles e tirou Callen do campo de visão de Bellamy, enquanto o mesmo ainda se debatia nos braços de Jasper.

—Bellamy...não._pediu Clarke baixo, tentando recuperar a compostura_Não vale a pena.

O Blake suspirou pesado, tentando regular a respiração. A realidade é que Bellamy odiava ver a Griffin com medo; odiava ver o quão poder Callen exercia sobre ela; o quão a enfraquecia e a deixava vulnerável. Não podia permitir que isso continuasse por mais tempo. Ele sabia o que tinha que fazer, mesmo que odiasse o fato de ser o responsável.

—Se não matá-lo._falou ele, dirigindo-se à Lars, o qual segurava com força a corda de Callen_Eu mesmo o faço.

O grupo ficou quieto, tentando entender a situação que se desenrolava ali.

Milah olhou para Lars, os olhos duas grandes esferas amedrontadas. Ela confiava em Bellamy e em Clarke, mas sabia que não poderia confiar em Callen, embora desejasse. Estava entre a cruz e a espada, fadada a perder alguém que se importava.

—Ele não vai fazer de novo. Eu prometo._garantiu se pondo na frente de Bellamy.

—Você não tem garantias, Milah._falou Bellamy o mais delicadamente que conseguira. Ele tinha consciência que Milah nada tinha a ver com os propósitos de Callen; descontar sua raiva nela não seria apropriado e nem certo.

Jasper olhou para Milah e, pela primeira vez, se sentiu apiedar de alguma coisa além de sua própria dor.

—Eu e Milah cuidamos dele, Bellamy. Pelo menos até decidirem como proceder._voluntariou-se a contragosto, percebendo que sua inutilidade, pela primeira vez, parecia uma coisa boa para alguém.

—Deixe, Bellamy. Temos assuntos mais urgentes a tratar no momento._incentivou Lincoln.

Bellamy ficou em silêncio, um que Milah interpretou como um sim ao seu pedido.

—O que é tão importante?_questionou o Blake.

—Acho que a pergunta certa é: por que vocês estão aqui?_perguntou Clarke, as mãos fechadas em punhos, tentando esconder o leve tremor que ainda as cercava.

—Por sua culpa, ora.

—Octavia..._repreendeu Lincoln, enquanto a outra dava de ombros_A Chanceler resolveu banir todos aqueles que abandonaram o acampamento sem consentimento._explicou Lincoln cautelosamente.

—Todos?_perguntou Bellamy dando um passo a frente, a pergunta evidenciando seu verdadeiro questionamento.

—Inclusive você, Clarke._finalizou Raven com uma careta_Eu sinto muito.

As palavras de Raven deveriam ter tido um impacto muito maior em Clarke do que realmente tiveram. Por algum motivo, algo dentro da Griffin parecia esperar por alguma atitude desse tipo vindo da Arca e, mais precisamente, de Abby.

—Vocês foram banidos?_perguntou Jasper perplexo.

—Até que é uma história engraçada._comentou Miller, sorrindo apesar de ninguém o fazê-lo.

—Acho que a coisa certa a decidir agora é saber para onde vamos._informou Clarke, a mente trabalhando de forma mecânica, ignorando os olhares que lhe eram lançados.

—Mas e a Arca? Não vamos fazer nada?_o semblante de Bellamy estava vincado, a incredulidade se estendendo por cada linha de seu rosto.

—Não acho que eles acatarão meu pedido, Bellamy. Sou uma traidora para eles, de certo modo.

—E por isso você não vai nem tentar?_pressionou ele. Bellamy sabia que Clarke, normalmente, raciocinava de forma certa, sempre ponderando os pontos. Desistir do acampamento sem defender sua posição não parecia uma coisa que a antiga Clarke faria.

—Clarke está certa, Bellamy. Abby e Kane não vão mudar de ideia. Acredite em mim.

O Blake olhou para a irmã, percebendo a expressão dura dela se estender à Lincoln e Raven. Os três pareciam convictos do que falavam.

—Ainda assim...

—Nós podemos decidir isso depois, Bellamy. Antes precisamos de um lugar seguro para ficar._argumentou Clarke.

Bellamy, mesmo a contragosto, assentiu. Começar uma discussão quando, obviamente, estava em minoria, não era esperto de sua parte.

—Na verdade..._começou Raven, andando de forma trôpega até onde Wick estava_Eu e Wick estivemos conversando sobre isso. Acho que tenho o lugar certo, pelo menos até que encontremos um melhor._a voz da morena não parecia certa do que dizia, como se sua opção não fosse agradar muito os ouvintes.

—Estamos escutando, Raven._incentivou Clarke.

A morena mordeu o lábio e desdobrou um pequeno pergaminho que Wick lhe passara, o qual uma planta de uma construção subterrânea se desenhava meticulosamente.

Os olhos de Clarke se arregalaram a constatação.

—Você só pode estar brincando._falou Octavia descrente.

—É nossa melhor opção, eu já disse.

—Não espera que voltemos para aquele lugar como se nada tivesse acontecido, certo?_resmungou a Blake indignada.

Houve um breve silêncio, o qual foi cortado pela pessoa menos prevista.

—Raven está certa. Dizer o contrário é ridículo._resmungou Jasper, mesmo que seus olhos novamente tivessem perdido o foco.

—Jasper, você não tem que..._começou Octavia.

—Sim, eu tenho._cortou ele olhando-a com intensidade.

Octavia se calou. Não havia porquê testar Jasper daquela forma. Seu estado deixava claro que ele não estava bem, mas pressioná-lo a dizer o contrário também não o ajudaria a melhorar.

—Clarke, tem certeza do que está fazendo?_perguntou Bellamy, seus olhos se detendo nos dela.

—Não, eu não tenho. Há muito tempo eu não tenho certeza de mais nada, Bellamy. A única coisa que sei é que quero protegê-los de qualquer mal. Agora se vou fracassar ou não eu não posso garantir._ressaltou com uma nota elevada na voz.

—Você não é responsável por nós, Clarke. Sabemos muito bem o que fazer, já estamos crescidos._brincou Miller, tentando quebrar a tensão.

Bellamy se sentiu culpado por pressioná-la, fazê-la reviver o horror de meses atrás novamente, mas ele não conseguia se segurar. Clarke agia melhor quando colocada em situações assim. Não era apenas porque agora estavam envolvidos em um relacionamento que Bellamy deixaria de tratá-la como uma igual.

—Ok. Então vamos. Precisamos chegar lá o quanto antes._falou o Blake voltando a segurar com firmeza o rifle nas mãos.

—Acha que ninguém tomou o lugar até agora?_perguntou Monty, ajudando uma sonolenta Harper a se colocar de pé.

—Não fariam isso._a voz de Lars quebrou o conforto do conhecido, lembrando-os que não estavam sozinhos.

—Sabe do que estamos falando?_perguntou Lincoln desconfiado.

Lars assentiu, sua postura não fraquejando nenhum segundo.

—Nosso povo não tomaria algo que não lhes pertence, pelo menos não sem lutar._garantiu.

—Como pode ter tanta certeza disso?_perguntou Raven interessada.

—Porque foi Clarke que destruiu os homens da montanha, portanto é à ela que Mount Weather responde. Você está certa em achar que lá é nossa melhor opção, porque é._falou com simplicidade.

—Eu espero que você esteja certo._falou a Griffin, olhando de soslaio para Callen e seu olhar fumegante.

Se Mount Weather era a opção mais viável no momento, ela não sabia dizer; mas que era a opção mais dolorosa, isso todos pareciam concordar sem nenhuma hesitação. Mesmo com a névoa de desconfortou se apoderando do grupo, ainda assim eles começaram a se mover, sentido Mount Weather, onde tantas vidas haviam sido ceifadas e almas torturadas.

Mesmo sem falar nada, Clarke sabia que Bellamy estava pensando a mesma coisa que ela: ambos nunca conseguiriam atingir o sossego naquele lugar, não com ambas as mãos manchadas de sangue, enquanto moviam a alavanca final. Mas, se havia algo reconfortante, era saber que, apesar de tudo, não estava sozinha. Não era apenas Bellamy que estava disposto a enfrentar os fantasmas do passado ao seu lado. Era o seu povo. Um povo cheio de cicatrizes, muitas ainda não curadas, mas, ainda assim, tão confiantes ao seu lado quanto ela sabia estar com eles.


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Notas finais do capítulo

Bjs e nos vemos no próximo capítulo ;)



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