Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 12
Capítulo XII




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Meu amigo permanecia calado, enquanto eu ainda o encarava, pasma.

– Leonard? O que diabos você quer dizer?

– Você me entendeu.

Eu não esperava tal sugestão de Leonard, e realmente não fazia ideia de que tais pensamentos passassem por sua cabeça, assim como nunca passaram na minha.

– Mas... Como assim, Leonard? O que quer dizer com matar? Eu não poderia! Pelo amor de Deus, já me imaginou matando alguém? Não poderia, Leonard. – Só nesse instante que percebi como minha fala estava embaralhada e os pensamentos desordenados.

– Calma, foi só uma sugestão. Não estou mandando você fazer nada.

– Eu sei que não, mas quero analisar a sugestão, posso?

Leonard suspirou e me encarou.

– Não quero dizer matá-los com as próprias mãos, você sabe... Você não poderia, não teria tanto sangue frio. Nem eu, claro. Mas... Conheço umas pessoas. Você sabe, elas fariam por dinheiro. E são profissionais.

Eu o encarei por algum tempo, tentando assimilar as informações, depois desviei o olhar. Aquilo era ridículo. Meneei a cabeça negativamente e voltei minha atenção à televisão novamente.

– Não. Eu não poderia.

– Tudo bem. – Leonard deu de ombros – Mas me avise se mudar de ideia.

Não respondi. Minha intenção era dizer algo do tipo “não vou”, mas preferi ficar calada. Aquilo era ridículo, mas eu sabia que minha mente ainda estava analisando a sugestão. Eu não estava mais naquela sala. Meu corpo permanecia com os olhos vidrados na televisão, minha mente, porém, muito longe. Eu não poderia, certo? Ai, meu Deus, isso foi uma dúvida?! Eu não mataria ninguém. Mas não era exatamente matar. Era mandar matar, e isso faz toda a diferença. Não, eu não o faria. Queria tanto fazer minha mente se calar. Os pensamentos estavam tão embaralhados, e eu não conseguia nem ao menos seguir uma linha de raciocínio. Eu estava agindo como uma egoísta, sabia disso. Destruiria vidas para ter o homem que amo.  Mas Richard também não tinha sido egoísta comigo? Não tinha mentido para mim apenas para me ter ao seu lado? Mas, por Deus, Carolina, é completamente diferente! Olha só a gravidade do caso.

E então, a lembrança do filho de Richard, por trás das pernas da mãe, me olhando com aqueles olhinhos verdes e curiosos, me veio à mente. Levei a mão ao rosto, cobrindo os olhos e tentando organizar meus pensamentos. Eu não mataria aquele anjinho. Claro que não. Suspirei e voltei minha mente para a sala. Dei uma olhadela para Leonard, apenas para vê-lo vigiar-me pelo canto do olho.

Ele passou o braço em torno de meus ombros e me apertou junto ao seu corpo.

– Está pensando na possibilidade, sim?

– Sim, e... E eu não sei. Sinto-me horrível.

Leonard carinhosamente beijou minha cabeça.

– Desculpe. Não deveria ter sugerido isso.

– Não, a culpa não é sua. Eu só... – Fechei os olhos por algum tempo, respirando fundo. – Nem acredito que considerei a possibilidade. Meu Deus, ele é só uma criança.

– Sem querer piorar sua aflição, mas acho que já estou fazendo isso...

– Continue.

– Quando falo em matá-los, não quero dizer a tiros, a facadas ou algo cruel assim...

Senti um arrepio percorrer meu corpo e devo ter estremecido, porque Leonard percebeu.

– Calma, olha, desculpa. Vamos parar esse assunto por aqui.

– Não, Leonard, continue.

Leonard suspirou, mas continuou.

– Assassinatos assim... É difícil sair ileso. Seria algo como... Simular um acidente, de carro ou coisa assim. É bem fácil, para quem é profissional, você sabe. Não levantaria suspeitas, o caso logo estaria encerrado. – Leonard percebeu meu olhar aterrorizado, e apressou-se em tentar consertar – E eles não sentiriam tanta dor, nem medo, seria um... Um acidente.

Tentei controlar o pânico e a repulsa.

– E se... E se eles não morrerem? No acidente, quero dizer?

– Quanto a isso, não se preocupe. Dando o dinheiro para... Eles, o serviço será feito. Vai dar tudo certo. Você não seria presa. Você nem precisa entrar em contato direto com os assassinos, caso... Não vai ocorrer, claro, mas caso algo dê errado, seu nome não seria nem mencionado.

– Mas, Leonard, sou amante de Richard. Eu seria a primeira a ser investigada.

– Não se Richard souber esconder.

– Eles têm detetives. Descobririam em alguns segundos.

– Mas se ele aceitar como um acidente, não questionar, se o caso for encerrado em poucos dias, como há de ser, não haverá nem ao menos uma investigação.

– Tem certeza? – Eu ainda permanecia cautelosa, e sentia uma sensação esquisita, como se fosse adrenalina, mas não sei ao certo.

– Sim.

Fiquei por alguns segundos fitando o chão, refletindo.

– Não sei, Leonard. Eu não sei.

– Sei o que te deixa assim, com um pé atrás.

Eu rebati como se a resposta fosse óbvia e, admito, com um pouco de agressividade.

– O fato disso nunca ter passado pela minha cabeça, de ser uma coisa tão surreal para mim, como criar asas? Ou o fato de nunca ter me visto nessa situação? Ou pensar que isso nunca me aconteceria? Ou quem sabe, saber que estaria matando a família do homem que amo? É suficiente pra você ou quer uma lista maior? Poderia ficar o dia inteiro aqui.

– Ei, calma! – Leonard disse, levantando as mãos, na defensiva.

Suspirei.

– Desculpa. Eu só estou...

– Eu sei. Mas o que eu ia dizer era... Você sabe, só está assim, com tanto medo, por causa da criança.

Comprimi os lábios.

– Talvez se... – Não tinha motivos para fingir que não, e, finalmente, verbalizei os pensamentos que ficavam escondidinhos em minha mente, aqueles que eu não queria admitir, mas que estavam lá. Só esperando o momento certo de vir à tona. – Se só a mãe dele morresse nesse acidente. Richard criaria o filho sozinho, e quem sabe eu poderia tê-lo e...

– Carol. – Leonard me olhou como se não quisesse dizer isso, mas sabia que era necessário. – Se for pra fazer isso... É melhor mat... – Ele se interrompeu, escolhendo palavras melhores, sabendo o efeito que elas surtiriam em mim. – É melhor fazer completo. Pela metade vai... Vai dar confusão. Tentar deixar o filho ileso vai ficar mais difícil, mais perigoso também. Fora que, você queria que ele crescesse sem mãe?

Leonard não falava como se se importasse, mas não como quem faz chantagem emocional, tampouco. Ele só estava preocupado comigo e com minha integridade. Temia que algo desse errado, e que eu acabasse sendo presa, caso considerássemos mesmo a possibilidade de deixar o pequeno Caio vivo. Apertei sua mão e tentei dar um sorriso, mas não convenci nem a mim mesma.

– Eu vou pensar, Leonard. Prometo que vou.

(...)

Foi um longo mês. Confesso que as coisas haviam mudado, eu já não olhava para Richard da mesma forma. Estava sempre temerosa, como se num segundo ele pudesse descobrir meus planos, como se ele pudesse ficar sabendo apenas se olhasse em meus olhos. Mas claro que não dei bandeira, claro que ainda o encarava e usava todos os meus dons de atriz para que tudo isso ficasse abaixo da camada superficial, onde só eu podia ver.

A indecisão enchia meus dias, o conflito me deixava exaurida. Eu pensava muito, em tudo, até chegar ao ponto em que eu cansava de pensar. Eu tentava deixar o tempo mudar isso, tentava empurrar com a barriga... Mas não dava certo. Os dias com Richard apenas me faziam achar que não teria outro modo. Eu não teria Richard de outra forma. Mas eu não queria tomar essa decisão, não saberia como viver depois disso. Será que algum dia eu me perdoaria? Será que viveria para sempre com o peso dessas mortes em meus ombros? Será que eu não conseguiria ser feliz de novo? Será que eu enlouqueceria, permaneceria reclusa de toda a sociedade, com medo, com raiva? E se Richard descobrisse? E se desse errado? E se eu fosse presa? E se, e se, E SE? Uma voz em minha mente dizia que eu só saberia se arriscasse. Mas eu tinha tanto medo.

E eu não fazia ideia que talvez todos esses meus medos fossem desnecessários... Ou não.


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Notas finais do capítulo

Obrigaaada a todos que leram *---* E principalmente à Jenny,que agora é minha beta! Olha que lindo, eu tenho beta, HAHAE! akopasokpakoa nhawn, reviews? ♥