Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 11
Capítulo XI


Notas iniciais do capítulo

Meus amores! Vocês voltaram Obrigaaaaaaada pelas reviews ♥



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Minha cabeça girava com todos os acontecimentos das últimas horas. Tinha plena consciência, porém, de que em menos de vinte e quatro horas eu tinha sentido uma dor imensa, e logo depois ela tinha apaziguado, mas ainda existia. Levantei-me da minha cama, tentando manter todos os pensamentos que remetessem ao dia anterior trancados em algum lugar da minha mente.  Por que, eu ainda não tinha certeza se tomara a decisão correta. Mas sabia, porém, que não conseguiria viver sem Richard. Não me via voltando àquela vida vazia e sem propósitos, apenas transando com algum homem rico por um preço exorbitante, apenas para não gastar nem metade do dinheiro e juntar o resto sabe-se lá para quê. Gostava de pensar que a quantia enorme de dinheiro que eu vivia juntando numa conta bancária era para caso ocorresse alguma emergência. Porém, cinco anos passou, emergência nenhuma ocorrera, e a quantia aumentava a cada fim de semana. Fui até o quarto de Leonard, mas ele não estava lá. O quarto inteiro estava arrumado e me perguntei se ele ao menos tinha dormido em casa. Joguei-me na cama dele, e fui me arrastando até o criado-mudo com o telefone, que dividia a linha com o da sala. Porém, não tinha certeza ainda, quando peguei o telefone, se ligaria para ele ou para Richard.

Surpreendi-me ao ouvir a voz de Leonard quando peguei o telefone. Então ele estava em casa, na sala de estar, e no telefone. Achei idiota da minha parte, mas me perguntei como não o tinha escutado. Ele devia estar sussurrando. Saber disso aguçou minha curiosidade, claro. Mas daria alguma privacidade a meu amigo. Também não queria que Leonard ficasse ouvindo minhas conversas pelo telefone, e eu sabia que ele não o faria, então faria o mesmo com ele.

Quando ia desligar o telefone, porém, congelei ao ouvir a voz do interlocutor de Leonard. Nem precisava pensar sobre quem era do outro lado da linha. Desde quando Leonard telefonava para Richard? Desde quando eles se falavam? Desculpa Leonard, mas essa conversa, eu tinha o direito de ouvir.

- A questão... É que essa não é a Carolina que conheço. – Leonard disse.

Como assim? Do que diabos eles estavam falando? Tapei o bocal do telefone com a mão, para que nenhum ruído me denunciasse.

- Eu entendo, Leonard. – Richard parecia... Consternado.

- A Carol que conheço, não cederia assim tão fácil. Você a machucou, Richard, machucou feio. Eu entenderia que ela o perdoasse, mas não assim, no mesmo dia. Mas o que eu queria? Afinal, ela te ama.

Então eu entendi. Estavam falando do que Richard tinha feito comigo, que eu tinha contado a Leonard quando cheguei em casa, ontem à noite. E só posso dizer que Leonard estava completamente, certo. Nem eu sei por que cedi tão fácil.

- Só te liguei, porque quero que você me diga. Quero ouvir de você, Richard. E por favor, me diga a verdade. Sabe que me preocupo com Carol, tanto quanto você ou mais. Mesmo que você me dissesse que mentiu, e eu fosse contar a ela, ela não acreditaria em mim. Então, você pode ser sincero comigo, apesar de não nos conhecermos muito bem. Fale-me, Richard. Você está sendo sincero quando diz que a ama?

- Estou, Leonard. E juro por tudo o que você quiser, juro pela minha felicidade que a amo. Muito. Eu fui completamente sincero, acredite em mim. Se escondi de Carol por todo esse tempo, foi pelo medo de perdê-la, porque como eu disse... Ela me faz feliz. Eu preciso dela, e sei que fui um estúpido egoísta, sei que a machuquei. Mas não foi minha intenção. Acho que não pensei nas conseqüências.

Leonard suspirou.

 - E seu casamento...?

- Não posso deixá-los, se é que o quer dizer. Conversei sobre isso com Carol, ontem à noite. Tenho um filho pequeno, não posso abandoná-los. Não agora. – Eu me lembrava de quando Richard tinha me dito isso. Mas, mesmo que ele não tivesse falado, eu não teria pedido. Nunca. Eu me comprometi com isso, a fazer esse sacrifício por Richard.

- Então, Richard... Sabe, se por algum motivo, Carol concordou com isso... Em... Dividir você, foi única e exclusivamente porque ela te ama. Ela não faria isso com qualquer pessoa.

- Eu sei.

- E eu não quero vê-la machucada. Nunca mais. Não como vi quando ela voltou da sua casa. E eu só espero que você não faça isso novamente. Espero que você esteja realmente sendo sincero.

- É uma pena que você ainda não acredite em mim, Leonard. – Richard falou num tom pesaroso, como se realmente sentisse muito.

Dessa vez Leonard parecia impaciente.

- Ponha-se no meu lugar, Richard. Estou vendo uma das únicas pessoas que me importo nesse planeta acreditar num homem que eu nem ao menos conheço, e que é casado, mas que pede pra ela exercer esse papel de amante porque a ama. Eu sou homem, Richard! Posso não ser heterossexual, mas sou homem. Sei o que faríamos para não perder alguém que gostamos, sei também como podemos enganar uma mulher apaixonada apenas com a lábia. Você me entende?

- Entendo. Eu poderia estar mentindo para ela sim, Leonard. Mas não estou. Apesar de tudo, tenho um pouco de dignidade. Eu não enganaria a Carol, não enganaria ninguém que entregasse o coração a mim, apenas por pura maldade. Se supliquei à Carol para que continuasse comigo, como eu já te disse, foi porque a amo. Poderia estar mentindo para você agora, se isso fosse tão fácil para mim, se eu estivesse mentindo para ela também. Mas não estou, queria que você soubesse disso. Queria que você confiasse em mim. Porque, entenda, não sou um homem de ter casos extra conjugais. Não tenho. Nunca tive, mas quando vi Carol naquele bar, pela primeira vez... Vai ficar muito clichê se disser que foi à primeira vista? – Os dois soltaram risadas nervosas, enquanto Leonard escutava atentamente. - Ah!  Não foi amor, mas eu sabia que tinha algo nela, sabia que tinha algo de especial, e que perdê-la seria... Seria uma estupidez da minha parte. Não queria deixá-la ir embora, queria que ela estivesse comigo... E bem, saímos algumas vezes e eu nem ao menos toquei nela, Leonard. Porque pensava na minha esposa, sabia que não era justo, sabia que era errado. Mas isso foi tomando conta de mim, de certa forma que... Não sei explicar, eu estava mais apaixonado a cada dia. Ela tomava conta de mim, dos meus pensamentos, eu não... O que importa, Leonard, é que eu quis contá-la. Mas sabia que isso seria o sinônimo de perdê-la. Quando estamos apaixonados, fazemos besteiras... E bom, eu não pensei nas conseqüências. Não pensei no “quando” ela descobrisse tudo, não pensei em quando a verdade viesse à tona. Só queria estar ali, com ela. Não é que eu não ame mais a minha esposa, também. Amo, sim... Mas... Não sei como explicar. É como se tivéssemos nos transformado em apenas bons amigos. Acha que é fácil para mim encará-la quando chego em casa, sabendo onde estive, com quem estive, o que estive fazendo? Acha que é fácil arriscar meu casamento dessa forma? Inventar desculpas, mentiras... Tudo porque não quero que meu filho cresça com pais divorciados? Se faço tudo isso, Leonard, não é pela emoção, nem pela aventura ou por qualquer outro motivo... É porque a amo, muito.

Leonard ficou calado por alguns instantes que para mim pareceu uma eternidade.

- Vou dar o meu melhor, Richard... Para acreditar em você.

- Obrigado.

- Não a machuque. Por favor.

- Não vou.

- Tudo bem, foi só pra isso que liguei. Vou desligar agora, antes que Carol acorde.

- Tchau, Leonard. Foi bom conversar com você.

- Tchau.

Leonard desligou o telefone, e o mais silenciosamente que pude, fiz o mesmo, estiquei os lençóis da cama dele, e fui para meu quarto, ainda aturdida com a conversa. Eu sabia que tinha cedido fácil demais. Leonard estava certo. Mas Richard me amava. E Leonard nunca podia acreditar nisso, se não visse os olhos de Richard me encarando daquela forma.  Suplicando-me que o perdoasse. Eu sabia que Richard estava sendo sincero quando o olhei nos olhos. Essa conversa... Só fez afirmar mais esse pensamento, e levar a dúvida embora da minha cabeça, do meu coração. Eu tinha feito a coisa certa. Não podia perder Richard, porque nós nos amávamos. E poderíamos ficar assim por algum tempo, pelo menos enquanto Caio, seu filho, fosse pequeno. Ora, não podíamos?

-x-

Eu tinha saído com Richard, durante o dia. Ele me deu um buquê de flores. As coisas não ficaram estranhas. Tensas, talvez, mas não tão estranhas. Ele parecia cauteloso, ansioso... Como se no próximo segundo eu pudesse surtar e mandá-lo para o inferno. Eu não faria isso, nem se não estivesse no meu juízo perfeito. Em algum momento, ele sussurrou a música “Carolina” no meu ouvido, e lembrei-me do nosso primeiro beijo.  Foi perfeito.  Não que Richard fosse um exímio cantor. Mas, aquelas palavras, ditas daquela forma... Eu não tinha dúvidas de seu amor por mim.

E por algum tempo, ficamos assim. Algumas semanas, ou quem sabe, meses. Deixar Richard estava fora de cogitação. Mas... Eu lembrei as palavras de Richard naquele dia, na pousada. Um homem casado não seria o suficiente para mim. Porque o que eu tinha dele, apenas metade de Richard? Não era suficiente. Eu o queria por inteiro, e sabia que não poderia tê-lo. Eu sei que eu sempre o tive dessa forma. Mas eu não sabia. E agora eu sabia que poderia ter mais, sabia que poderia ter Richard inteiramente e exclusivamente para mim, mas não o teria.

Como eu disse, eu não o deixaria. Mas isso me deixava frustrada... E eu guardava esse segredo só para mim, até não agüentar mais. E o dia que eu não agüentei mais... Estava com Leonard, na sala, deitada no sofá e assistindo TV. Ele ouvia atentamente, e parecia compreender. Depois, pareceu pensar por alguns segundos, então olhou adiante, para algum ponto além de mim que eu não podia enxergar. Depois, cautelosamente, com certo receio, talvez, e calmamente, como que escolhendo as palavras, finalmente disse:

- Você quer Richard inteiramente para você. Você não o tem. Você não pediria para ele deixar a esposa. E talvez ele não o fizesse. Você não tem outra opção, a não ser...

Leonard hesitou, e eu ergui as sobrancelhas, surpresa. Havia alguma alternativa que eu não enxergava?

- A não ser...? – Incentivei para que ele continuasse.

Leonard comprimiu os lábios, mas logo um meio sorriso se formou em seu rosto.

- Esqueça.

- Ah não, Leonard! Fale.

Ele fez que não com a cabeça, e tentou me tranqüilizar com um sorriso, mas parecia nervoso. Passou a mão pela juba dourada.

- Leonard! – Lancei meu olhar mais intimador e esperei que ele finalmente falasse.

Leonard foi categórico, e finalmente, sem mais rodeios, disse:

- Mate-os.

Meu choque foi instantâneo, meus olhos estavam arregalados, fiquei sem palavras por alguns segundos, mas Leonard continuava me olhando, com a mesma expressão. Quando finalmente entendi, dei uma sonora gargalhada, jogando a cabeça para trás.

- Ah, qual é, Leonard! – Peguei o controle remoto e voltei minha atenção para a televisão.

Ele ficou calado por alguns segundos, mas disse:

- Eu não brinquei, Carol.

Olhei para ele, o choque e a palidez novamente tomando conta de meu rosto. Finalmente consegui falar:

- O que diabos você quer dizer?


E eu não fazia idéia do quanto que aquela sugestão ia mudar na minha vida.


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Notas finais do capítulo

Amores! Bom, sendo sincera... não esperava dedicar um capítulo inteiro a isso. Não gostei muito dele, mas saibam que foi necessário. Afinal, a história tem que continuar, certo? Reviews? x)