Touch, Feel, Use escrita por laah-way


Capítulo 13
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Oi sweeties obrigada por lerem ♥ Se não der tempo de responder todas as reviews do capítulo passado hoje, respondo amanhã, ok? beijos!



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– Leonard? – Pigarreei, sentindo a voz falhar. – Tomei uma decisão.
(...)
Leonard chegou em casa e eu o encarei, encolhida no sofá, como se esperasse uma notícia de algum parente enfermo. Ele parou alguns instantes à porta, suspirou e comprimiu os lábios.
– Agora não tem mais volta, Carol. Vai acontecer amanhã.
Senti um vazio bater de repente, uma espécie de... Desespero. Não tinha mais volta, e isso acabava comigo. Contudo, eu já tinha tomado minha decisão. Ia ficar tudo bem. Claro que ia. Só precisava tirar a morte de uma mulher e de uma criança dos meus ombros. Suspirei, tentando controlar o desespero, e levei as mãos às têmporas. Eu ia ter o homem que amava. Mesmo que outros não me perdoassem, mesmo que ninguém me compreendesse, eu me perdoava, eu sabia por que estava fazendo aquilo. Eu estava mostrando que não havia limites para o amor. E que eu amava Richard, acima de tudo. E, por isso, faria qualquer coisa para tê-lo.
Senti os braços de Leonard envolverem meus ombros e ele dizer, confortadoramente:
– Vai ficar tudo bem, querida, não se preocupe.
Eu tentei sorrir, me convencendo de que realmente estaria tudo bem. Ou talvez não fosse nada disso.
(...)
O assassinato – ou acidente, como preferir chamar – aconteceu pela manhã do outro dia. Os dois morreram, e vi de passagem algo sobre isso no telejornal. À noite, Richard me ligou. Apesar da frieza com a qual conto os fatos, não quer dizer que foi isso que senti durante todo aquele dia. Só não quero me prender a isso, a esses sentimentos que tenho certeza que já deixei claro: Eu sofria.
A voz de Richard, quando me ligou, passava a mesma coisa. Sofrimento.
– Aconteceu alguma coisa?
– Sim.
Tentei parecer surpresa.
– O quê? O que houve, querido?
– Sairemos hoje e conversaremos, tudo bem?
– Certo...
Eu tinha apenas uma leve noção de que ia ser difícil. Ao planejar tudo, nem por um instante passou pela minha cabeça o quanto ia ser complicado ver Richard sofrer, chorar pela morte da família, e ficar sem poder fazer nada. Ele superaria. Claro que sim, esse era o objetivo, eu o faria superar. Entretanto, eu não sabia quanto esforço e tempo aquilo tomaria, o quanto ia ser penoso vê-lo sofrer e saber que eu era a causa daquilo. Saber disso, porém, não tornou as coisas no hotel mais fáceis.
Richard já estava lá, sentado na cama, com a cabeça apoiada nas mãos, mas não chorava, como achei que estaria. Fui quase correndo até ele, sentei-me na cama ao seu lado e passei um braço em torno de seus ombros, mantendo nossos rostos bem próximos.
– O que aconteceu?
Richard levantou a cabeça das mãos e me olhou com olhos marejados de lágrimas e respiração um pouco descompassada.
– Minha... Esposa. E meu filho... Morreram.
Levei uma mão à boca, tremendo. Sabia que aquela tremedeira não me denunciava e podia ser atribuída à minha surpresa.
– Como assim, Richard?
– Morreram, Carol! Simplesmente... Morreram.
– Como? Quando?
– Hoje, pela manhã. Um acidente de carro enquanto Diana levava nosso filho pra escola. – O lábio dele tremeu levemente quando ele disse a palavra “filho”. Eu quis chorar desesperadamente, mas só me permiti uma lágrima silenciosa. Devia estar sendo muito duro pra ele.
– Eu... Não sei o que dizer.
Richard me olhou com tristeza e voltou a apoiar a cabeça nas mãos, e dessa vez, soluçava baixinho. Ele mesmo quebrou o silêncio, sem me olhar.
– A polícia... Considerou a possibilidade de um assassinato.
Dessa vez eu agradeci por Richard não ter me olhado. Eu sabia que tinha empalidecido, meu rosto provavelmente passava certo pânico.
– Mesmo? – Converti todo o meu pânico em surpresa. – E quem faria...?
– Não sei. Essa é a questão. Ele perguntou se eu tinha uma amante ou alguém que tivesse essa intenção, todavia eu disse que não conhecia ninguém... – Richard olhou pra mim, e deixou o resto da frase suspensa, como se passasse alguma dúvida. Vasculhei em seus olhos e foi exatamente isso que eu achei: dúvida.
Eu estava com muito medo, entretanto, novamente, transformei esse sentimento em outro, fingindo indignação.
– Você não... Você não considerou a possibilidade de que eu...? – Deixei o resto da frase subentendido. E, mais uma vez, lágrimas silenciosas caíram.
Richard me encarou por um momento que parecia uma eternidade. Comecei a contar os segundos, e foram cinco. Pode parecer pouco, contudo, acredite, é muito. Então ele olhou pra frente e disse:
– Não.
Talvez com um pouco mais de agressividade do que eu planejava, repliquei:
– Gostaria que olhasse em meus olhos quando dissesse isso.
Richard me encarou, e, com mais agressividade do que a conversa exigia, também falou, em tom rude:
– Não, Carolina, eu não acho que você os tenha matado. E se eu ao menos desconfiasse disso, não estaria aqui agora.
Ele estava convicto do que falava. Mesmo assim eu sabia que, em algum segundo, ele tinha desconfiado. Abaixei os olhos, e ele abaixou a cabeça também. Levei minha mão ao seu cabelo e comecei a acariciá-lo, beijando-o no rosto e sussurrando em seu ouvido que ia ficar tudo bem.
– Eu sei que é difícil, porém seja forte agora, sim? Eu vou estar com você o tempo inteiro.
E então, tudo o que eu menos esperava aconteceu. Richard se esquivou e se levantou, deixando uma Carolina completamente em dúvida sentada na cama.
– A questão é, Carol – Ele se virou e me encarou, rígido. –, que eu acho que... Acho que a gente não devia mais se ver.
Meu mundo caiu.
– O quê? – Levantei-me também, e, sem perceber, já tinha alterado a voz. – Como assim, Richard?
– Acho que deveríamos acabar, Carolina.
– Por quê? Apenas fale-me um motivo, Richard! Por causa do que aconteceu com sua família? Eu sei que é difícil, sei que está sofrendo, só que, Richard, o que tem a ver conosco? Eu vou te ajudar a superar isso, vamos estar juntos e...
– Não, Carol.  – Ele me interrompeu, elevando a voz, logo a abaixou novamente. – Eu não consigo, tudo bem? Eu não vou conseguir.  Estar de luto no enterro daqueles que eu amo, e sabendo que todo esse tempo eu tenho uma amante. Que eu poderia ter sido mais, e agora não tenho a oportunidade de consertar. – Eu tinha deixado os braços penderem ao lado do meu corpo. Estava em transe, apenas o encarava, incapaz de falar o que quer que fosse. – E... Eu sei que você não tem culpa, sei que você não tem nada a ver com isso, Carol. O problema sou eu. Eu não consigo. Sinto muito.
Ele avançou uns dois passos pra tocar em meu rosto, eu me afastei. Teria tudo sido em vão? Todo esse esforço, tudo o que fiz por ele, teria ido por água a baixo?
Apesar de tudo isso, meu mundo não tinha caído completamente. Ele só caiu de vez quando Richard fez isso: Pegou a carteira, e fez aquela maldita pergunta.
– Quanto eu te devo?
Não sei como quatro palavras podiam machucar tanto. Nunca pensei que tais palavras, que já estava tão adaptada a ouvir, pudessem ser recebidas por mim dessa forma. Se passa uma garota na rua e você pergunta a ela quanto é o programa, sendo que ela não é uma prostituta, ela vai se sentir ultrajada de tal maneira que não sei explicar... No entanto, se essa garota sou eu, é completamente inaceitável que eu me sentisse dessa forma, porque eu era uma prostituta. Entretanto, acredite, eu me senti. Doeu, muito. Foi uma tal indignação, um ultraje, uma decepção, que eu não tive nem palavras. Mas Richard leu isso em meus olhos, e num instante se tornou cauteloso.
– Quero dizer...
– Eu pensei – Cuspi as palavras. – que fosse mais pra você do que uma prostituta.
Richard se apressou em explicar.
– Claro que você é! Porém, Carol... Sei que esse tempo que você ficou só comigo, deve ter te custado alguma coisa. Eu sei do que você vive, e te privei disso por um longo tempo, e você... – Meu olhar de nojo o calou. Ele desistiu de explicar e deu de ombros. Tirou um cheque da carteira, assinou e deixou em cima do criado-mudo, em branco – De qualquer forma, está aqui. Se cuide, Carol. Você foi e ainda é muito importante pra mim.
Olhei pela última vez para aqueles olhos verdes. Aqueles olhos que me arrebataram e ao mesmo tempo me deixaram em pedaços. Eu não tinha palavras. Não fazia idéia de quando novamente escutaria tais palavras dele, ou ao menos se escutaria sua voz. Talvez nunca. Todavia era uma confusão de pensamentos, de idéias, que me deixavam sem nem ao menos saber o que pensar. A sensação de fracasso competia com a dor de ter sido abandonada, e tudo se misturava e me deixava cada vez mais perdida.
Sentei novamente na cama, olhando para canto nenhum, tentando absorver todas aquelas informações. Ouvi a porta se abrir e as lágrimas começaram a cair. Até que, antes de sair do quarto, Richard se virou e disse:
– Só peço que... – Fechei os olhos, chorando. – Nunca duvide de tudo que eu disse sentir por você.
Assim ele saiu.
E eu não fazia idéia de como minhas atitudes poderiam ter conseqüências desastrosas até aquele dia.


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Notas finais do capítulo

brigada a todos e à minha beta querida, Jenny