As cores do meu mundo escrita por Lice Tribuzy


Capítulo 2
A praia


Notas iniciais do capítulo

Ainda estou no incio, mas tentarei postar um capítulo por dia ou, pelo menos, um por semana :)



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No outro dia, acordei sem o despertador, então fiquei deitada na cama com os olhos fechados aguardando o barulho de o despertador me fazer levantar. Minutos depois, percebo que não havia escutado nenhum mero som e fui ver a razão de tal ocorrido: era domingo. O único dia da semana que não tenho aula alguma. Nenhum compromisso. Senti meu corpo feliz ao saber que não teria de ir à escola ou a qualquer outro lugar. Tentei dormir novamente, mas não obtive sucesso. Fui então tomar meu café da manhã e depois arrumar meu quarto. Quando finalmente acabo, deito na cama e minha mãe passa por meu quarto:

–Já acordou filha?

–Bom dia, mãe. Infelizmente já. Tomei meu café também, antes que pergunte.

–Hm... –diz ela – Bom, já que terminou, por que não vamos à praia?

–Praia? – perguntei olhando para a janela.

–Sim, por que não? O céu está azul. É uma linda manhã.

–Mas mãe, está sol...

–Elena, as pessoas costumam ir para a praia quando está sol, querida. Não sei se você sabe disso – diz ela condenando-me com os olhos.

–Está muito quente e não faz bem se expor à radiação – digo tentando argumentar com ela.

Minha mãe me olha reprimindo minha fala. Ela estava com um olhar que pude logo decifrar: “não me faça repetir”.

–Vamos, se vista. Vou apenas tomar café da manhã com o seu pai e já sairemos.

Não posso contrariar minha mãe. Por mais que meus argumentos sejam mais fortes e mais convincentes que os dela, estou sempre errada. Portanto, vesti meu biquíni branco contra minha vontade, por cima um short jeans com estrelas brancas desenhadas na frente e em cima uma blusa verde água de malha. Coloquei meus óculos escuros no rosto, um chapéu na cabeça, enchi meu corpo de protetor e fui arrumar a bolsa: uma toalha, prendedor de cabelo, celular, fone de ouvido, protetor corporal e enfim estou preparada para ir. Minha mãe reclamou de meu modo de ir para a praia, pois não estava com “roupa de praia”. O problema é que ela quer que eu use uma saia de banho de malha fina e em cima apenas o corpete do biquíni. Bom, este definitivamente não é meu modo de ir à praia, então continuei com a roupa que estava.

Quando finalmente chegamos, sentamos próximos ao mar em cadeiras de praia debaixo de dois guarda-sóis coloridos que cobriam todos nós. Minutos depois, meus pais vão para o mar:

–Vamos dar um mergulho, Elena. Não quer vir conosco? – pergunta meu pai inocentemente.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, minha mãe fala:

–Querido, não sei por que ainda insiste.

Faço apenas uma cara de orgulho e aguardo eles virarem as costas e irem em direção ao mar. Fico ali sentada na cadeira de praia escutando música, apenas observando o geral. Observei as cores ao meu redor. Vi os conjuntos de cores simplesmente maravilhosos e como as pessoas gostam de estar expostas ao sol. Eu gostaria de ter esta vontade, mas não consigo. Definitivamente, meus gostos eram outros. Continuo olhando ao redor até que viro meu olhar para a direita e vejo um garoto de cabelos ruivos um tanto quanto longos e olhos pretos. Ele estava usando um calção azul claro de banho e nada mais. Tinha um corpo bem moldado. Assim que terminei de analisa-lo, voltei meus olhares para outros, mas não encontrei nada muito diferente do padrão. Quando volto meus olhares para ele, ele está me olhando, então rapidamente viro a cabeça para o outro lado. Segundo depois, olho novamente e ele continua olhando para mim. Assusto-me um pouco. Ele também está sozinho. Viro novamente minha cabeça para o lado oposto. Não tenho mais coragem de virar minha cabeça para a direita. Não depois de vê-lo me encarando.

–Oi – diz uma voz.

Viro meu rosto e vejo o rapaz ruivo sorrindo para mim com sua cadeira de praia próxima a minha

–Seus pais deixaram você aqui sozinha ou você já veio sozinha? –pergunta ele.

Eu desconfio um pouco, mas acabo cedendo minhas respostas. Afinal, estava sozinha também.

–É, meus pais me largaram aqui minutos depois de chegarmos. Foram para o mar e eu, bom, eu fiquei.

–Sabe –diz ele puxando sua cadeira para mais perto – Meus pais me deixaram aqui também. Assim que voltarem, voltarei para casa.

–Bom, mas eu vim obrigada.

–Não é meu caso. Eu quis vir. Ás vezes é bom se isolar do mundo ao seu redor e ouvir seus próprios pensamentos e opiniões. Observar a realidade do seu próprio jeito – diz ele.

–Concordo com você. Observar as cores do mundo não é?

–Exatamente. É simplesmente fascinante.

A conversa para por um breve momento, mas acabo continuando:

–Como é o seu nome? –logo após ter perguntado, arrependo-me.

Quando ele estava quase respondendo, uma voz feminina grita um tanto quanto desesperada:

–Tomás! Vamos, meu filho. Já está na nossa hora.

–Bom, como você já pôde perceber, este é o meu nome: Tomás. E qual o seu?

–Elena.

–Elena... –repete ele – Muito prazer, Elena. Vemo-nos pela cidade então quem sabe – diz Tomás pegando sua cadeira e indo embora.

Quando ele saiu de meu campo de visão, voltei a minha realidade sem nada de especial. Minutos depois, meus pais chegam e vamos para casa.

Chegando, fui tomar meu banho. Perdi muitos minutos no banho, pois gosto de sentir a água em meu corpo, gosto de refletir sobre tudo sozinha e gosto de sentir como se só existisse um mundo e ele era todo meu, onde posso fazer o que quero, posso pensar o que bem entendo e dizer além do limite.

Quando acabei, não fiz nada extraordinário ou algo que saísse dos meus limites de rotina – o que eu simplesmente detestava. Deitei-me na cama, continuei a ler meu livro, minha mãe o dela e quanto a meu pai, trabalhava. Horas se passaram – ao ponto de já estar quase que totalmente escuro – e eu não me contentava em ficar em casa lendo, estudando, dormindo e comendo – ao contrário dos meus pais, que ficariam o ano todo dentro de uma casa saindo apenas quando for extremamente necessário. Não aguentando mais, troquei o pijama que havia vestido por um short jeans, uma blusa regata preta simples e uma sandália que minha tia havia me dado de presente de aniversário deste ano. Avisei a minha mãe que estava saindo para a padaria – lugar onde posso estar segura, confortável e sossegada.

Andei apenas duas quadras para chegar à padaria. Estava levando nada além de meu celular com um fone para ouvir minhas músicas, um pouco de dinheiro para o caso de querer algo e uma revista qualquer que acabei achando no meu quarto.

Chegando, sentei-me em uma pequena mesa e coloquei meus fones de ouvido. Fiquei ali sentada sozinha pensando e ouvindo minhas músicas preferidas até que sinto uma vontade de comer. Fui então comprar uns pães para agora e outros para o caso de sentir fome mais tarde em casa. Entrei na fila que estava um tanto quanto grande. Vale salientar que eu era a última. Estava impaciente ali naquela fila que não andava, aguardando para comprar apenas alguns pães. Aguardo ali no sofrimento por cinco minutos. Quando chega minha vez, o pão acaba.

–O que? –exclamo – Como pode uma padaria sem pão? –digo indignada.

De repente, escuto uma risada. Olho. Era ele. Will. O menino da festa.

–Irônico, não? –Diz ele – padaria, local onde vende pão, não ter.

Encaro-o com um olhar estranhamente agradável. Não consigo dizer nada a ele, então continuo ali como uma estátua.

–Você está bem? –pergunta ele.

–É... –gaguejo – Eu... Hm... –Tento continuar.

–Espera, você é a menina da festa. A garota com quem conversei a noite toda, não?

–Sim! –Exclamo feliz – Sou eu mesma. E você é... –digo já sabendo seu nome.

–Will. William, na verdade, mas pode chamar de Will. Você é Elena, não? Não pude esquecer você. Nome lindo, rosto lindo e personalidade maravilhosa.

Rio. Sinto minhas bochechas corarem.

–Sim, meu nome é Elena. E, obrigada.

Ele gargalha.

–O que houve? –pergunto.

–Estou rindo ainda pelo fato de você brava por não ter pão.

–Bom, eu entrei em uma fila por cinco minutos em uma padaria ­–vale salientar – para comprar pão. Esperava que ao menos houvesse algum.

–Quem sabe é o destino.

–Destino? –pergunto sem entender.

Torcia para que ele dissesse algo como “nós dois juntos”.

–Sim. O destino não quer que você coma pão. –diz ele sorrindo.

Isso é o que eu chamo de ser imprevisível.

–Bom, de qualquer forma, estou sentado naquela mesa. Gostaria de me acompanhar, senhorita Elena? –pergunta Will apontando a mão para a mesa com posição de cavalheiro.

Acabo rindo. Não estou acreditando no que está havendo. Não creio que esta possa ser a realidade.

–Senhor William, creio não poder negar o convite.

–Ótimo! –diz ele – Acompanhe-me.

O segui até a mesa na ponta da padaria, onde sentamo-nos um de frente para o outro. Sinceramente, eu não sabia o que dizer ou fazer. O garoto que não pude esquecer por todos esses dias estava bem ali na minha frente. Talvez meu maior desejo estivesse ali, ironicamente no mesmo local que eu.

–Então... –tento começar a conversa.

–Lembra-se da festa? Você quem começou a conversa. Bem como está fazendo agora. Irônico, não é mesmo? Sabe, naquele dia eu estava com um pouco de medo de você. Achei que fosse me enxotar ou algo assim. –diz ele rindo – Parecia tão durona. Tão... Não sei bem como explicar.

–Então eu não sou durona?

–Não. –diz ele – definitivamente não.

O olho com uma cara desconfiada

–Você é a garota mais meiga que já conheci. Simpática – termina ele ainda me olhando.

Sorrio novamente. Abaixo a cabeça. Este é meu método de fugir do problema: não olhar para ele. E naquele momento, o problema era Will. O problema eram seus olhos, seu sorriso, seu modo de falar, seu jeito de agir, enfim, ele. Segundos depois, levanto a cabeça. Ele continuava a me olhar.

–O que foi? –pergunto.

–Como assim? –questiona ele ainda me olhando profundamente com seus olhos brilhantes, completamente o oposto dos meus.

–Por que você está me olhando desse jeito? –pergunto.

–“Desse jeito”? Que jeito?

–Por que você está me encarando? Você está me encarando!

–Não consigo parar de olhar para você, Elena.

–Por que não?

–Porque você é linda – diz ele.

Acabo rindo da situação em que me encontrava. Era uma piada. Não podia ser realidade

–Você está curtindo com a minha cara?

–Não... Apenas acho você linda. E você é. É a menina mais legal, meiga e linda que já vi.

–Você por acaso foi pago por alguém para fazer isso?

–Não – diz ele rindo.

–Então eu sou o que?

–Linda!

–Tem certeza? Tem tantas mais bonitas que eu.

–Não para mim –diz ele – Em minha opinião, você barra todas. Você é divertida e linda. Tudo que um garoto deseja.

–Bom, se for assim, eu agradeço – desta vez, ele sorri e logo depois acabo esboçando também um sorriso.

A conversa para.

–Fale-me da sua vida, Elena – diz ele mudando de assunto e retomando a conversa.

–Não há nada demais. Eu vou para a escola, estudo e também...

–Escola? Você está na escola? – ele me interrompe aparentemente assustado.

–Sim, estou no último ano. Você não?

Ele ri.

–Não, não. Terminei meu colégio ano retrasado.

–O que? –exclamo.

Como pode? Ele não aparenta ser tão velho, quer dizer, como eu posso ter conhecido alguém tão velho assim? Estou assustada.

–Quantos anos você tem? – pergunta ele também assustado.

Acabo rindo.

–Dezessete. E você?

–Dezenove.

Rimos. Houve um pequeno choque de realidades.

–Não acredito que você tenha dezenove. Não pode.

–Por que não? Você não tem dezessete?

–Sim, mas é que eu nunca pensei que pudesse conhecer alguém com dezenove.

Ele ri.

–Bom, aqui estou eu, bem à sua frente provando-lhe o contrário.

–Sei que vai parecer bem infantil de minha parte, mas você dirige?

–Sim –diz ele rindo –eu dirijo. Assustei você com essa resposta?

–Não, não me assustou. Já havia previsto que dirigia. Isso é muito maneiro, mas você não acha que somos muito diferentes? –termino minha frase totalmente envergonhada.

Não sei como explicar este ocorrido, mas parece-me que ele pode ter as cores perfeitas. Parecia ter as cores que meu coração necessita mesmo com meu cérebro não querendo crer que um garoto daquela idade pudesse conversar tão naturalmente comigo. Vivemos vidas diferentes e até onde eu sei, temos também pensamentos diferentes.

Fico paralisada por um tempo e ele ri pelas minhas atitudes.

–Escuta, Elena. Eu não quero saber quantos anos você tem. Não quero saber o que você faz ou muito menos seu passado. Tudo que me importa é sua personalidade amável e seu modo divertido de falar. Tudo que importa é que acabei conhecendo você e descobri em poucas horas que você é uma ótima garota.

Nesse momento confesso que estava vagarosamente morrendo por dentro e por fora. Meu corpo estava a mil por aquelas palavras. Eu estava em guerra: não sabia se aquilo era realidade ou um sonho. Não sabia se continuava conversando com ele ou saia correndo. Fiz o que meu coração mandou. Continuei ali sentada firme e forte ansiando que aquilo fosse realmente uma chance da realidade. Querendo que aquelas cores que via fossem reais.

–Eu confesso que estou um pouco assustada com a sua idade. Você parece ter uma vida diferente da minha, mas eu gostei de você também apesar de nos conhecermos a algumas horas, Will.

–Bem, já que você também gostou de mim, queria dizer que esta padaria fecha cedo e eu não acho que você vá conseguir comprar pão a esta altura.

–O que você está insinuando?

–Apenas que não nos veremos mais se você não permitir.

–Então acho melhor nos vermos mais vezes – digo sem acreditar no que disse.

Pela primeira vez em toda minha vida fui capaz de ser tão direta.

–E como você sugere?

–O número do seu telefone, por favor – digo ainda sendo direta.

Anotamos um o número do outro e nos levantamos das cadeiras. Aquilo seria uma atitude de mais um de nosso “adeus”.

Assim que acabamos, minha mãe liga para meu telefone. Ela avisa que está vindo me buscar. Acabei não percebendo, mas já estava mesmo bem tarde. Sabendo que minha mãe estava vindo e conhecendo a mãe que tenho, sei que ela provavelmente demoraria alguns minutos para chegar, então sento-me novamente. Will me olha.

–Vou aguardar minha mãe vir me buscar – digo respondendo ao olhar dele –É que eu não dirijo –digo ironizando o fato de Will dirigir.

Ele ri.

–Eu vou indo de carro então, porque eu dirijo e está tarde. E eu presumo que você não queira apresentar para sua mãe um garoto de dezenove anos que dirige que você conheceu em uma festa infantil. De todo jeito, você está segura aqui – diz ele dizendo adeus e retirando-se.

Não deixou ao menos eu retrucar algo. De qualquer forma, ele estava certo. Além de eu realmente estar segura aqui, não acho muito válido apresentar para minha mãe um garoto que acabei de conhecer. Nem sei se ele é boa índole.

Surpreendendo-me ao ver que minha mãe não demorou muito para chegar. Entrei no carro, falei com ela e contei que não havia pão, então apenas fiquei sentada na cadeira de bobeira com a vida. No meio do caminho, ainda dentro do carro, recebi uma mensagem dele:

­–Vou aperrear você por muito tempo ainda, Elena.

–Tudo bem, não me incomodo com isso. Qualquer coisa é só eu não responder você.

Conversamos por um bom tempo. Na verdade, conversamos até eu chegar em casa. Até vestir meu pijama e escovar meus dentes. Conversei com ele até eu acabar dormindo já deitada na cama. Dormi muito bem, por sinal.

Vendo aquela simples mensagem que dizia “Adeus, Elena. Boa noite” já me fazia esboçar rapidamente um sorriso no rosto. Agradecia pelo destino a cada segundo que passava pelas cores que estavam sendo proporcionadas a mim e todas as suas misturas inusitadas. Will era uma delas.


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Notas finais do capítulo

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