As cores do meu mundo escrita por Lice Tribuzy


Capítulo 15
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Comentem tudo, pessoal! Está quase no fim :'(



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Depois de horas deitada na cama tentando dormir e pensando no futuro próximo, uma enfermeira entra. A mesma que um dia atendeu Will em sua primeira “visita” ao hospital. Ela veio para perto de mim sorrindo. Meus pais haviam saído para trazer minhas coisas.

–Oi – disse ela calmamente sussurrando.

Apenas sorrio. Não dizia nada.

–Como você está? –pergunta ela.

Eu olhava fixamente para a cama com a cabeça baixa, simplesmente sem reação. Respirei fundo e respondi.

–Nada bem... meu mundo caiu.

–Você quer vê-lo?

Levanto a cabeça com o susto e olho profundamente em seus olhos.

–O que? –gaguejo.

–William... Seu namorado, Elena. Você quer vê-lo?

–Ele... ele... está vivo?

–Bom, para ser sincera, ele não está muito bem e a qualquer momento pode... Você sabe, mas seu coração ainda bate.

Choro mais uma vez, mas dessa vez de alegria e esboço um sorriso. Aquela foi a melhor notícia de todas. Limpo as lágrimas do rosto. Mal posso esperar para vê-lo.

–Eu vou pegar uma cadeira de rodas e já volto – diz ela animada.

Will, como você é forte. Meu Deus, como eu te amo. Você não é como os outros. Você é tudo pra mim. É a cor do meu mundo. Eu pude aprender com você o sentido da vida, aprendi que podemos sempre superar os problemas, aprendi a nunca desistir. Eu nunca desistirei de nós. E mesmo se o destino não nos aceitar, eu botarei meu futuro no seu.

–Vamos Elena? –pergunta a enfermeira entrando no quarto com a cadeira.

Ela então se aproxima da cama e coloca minhas pernas para fora da cama. Confesso que aquela ação me doeu. Ver que eu, do dia para a noite, não movia mais minha pernas. Sofria ao ver aquilo, mas tudo passava em pensar que verei Will vivo. Tudo simplesmente ia embora ao saber que o verei por uma última vez vivo.

Quanto mais perto do quarto dele, mais me emocionava. Quando a enfermeira abriu a porta de seu quarto, por mais que já soubesse o que esperar, por mais que estivesse calma, senti meu coração apertar. Não pude conter as emoções. Não era capaz, novamente, de dizer nada. Minha garganta estava seca. A vontade que tive foi de levantar da cadeira e correr para ele, mas a tragédia não deixou porque perdi minhas pernas, perdi minha vida e muito provável, perderei meu namorado. Conseguia vê-lo de longe, deitado na cama com os olhos fechados, todo machucado, com tubos de oxigênio, com máquinas para todo lado.

Quando pude finalmente chegar ao lado dele, encostei minha mão à dele. Estava em estado de choque e tremendo. Soluçava por ver que ele daquela forma. Tentava ainda criar expectativas, mas não conseguia. Por isso meu coração estava despedaçando; por perceber que o William, o meu William não mais estaria ao meu lado, não mais abriria os olhos.

Tentando conter o choro e a dor, encostei minha cabeça sobre seu peito e fechei bem os olhos. Ouvi o melhor som da minha vida: o coração dele bater. Lembrei-me de todos os momentos que passamos juntos. O modo como conhecemo-nos na festa e revemo-nos na padaria. Todos os sentimentos e conversa que tivemos. Todos os nossos sorrisos e superações de barreiras. Aquele som me acalmava, fazia eu me sentir viva de uma maneira que nunca havia sentido antes.

Fiquei ali ouvindo seu coração e ignorando os barulhos externos, como o bipe repetido da máquina cardíaca. Passei dois ótimos minutos ali, tocando em seu corpo, ouvindo seu coração e relembrando nossas lembranças.

Foram os dois mais encantadores e rápidos minutos de toda minha vida. Tudo estava bem. Tudo poderia ter melhorado. Eu poderia agora dizer que ele abriu os olhos e que pude ouvir sua voz dizendo “Oi, Elena” ou até mesmo um movimento corporal, mas não. Nem um milagre. Aquilo não era imaginação. Aquilo não era filme. Era minha vida afundando cada vez mais. A única coisa que ouvi foi a máquina começar a fazer um som fino e contínuo. Nada mais. Seu coração havia parado.

–Will! –Gritei tocando em seu corpo cada vez mais triste e desesperada– Não querido! Por favor, não me deixe sozinha. Eu te amo muito, William. Por favor, não vá! Não! –continuei gritando.

Imediatamente vieram cinco pessoas acolhê-lo. A enfermeira havia me tirado da sala. Estava gritando como se não fosse mais ter voz, chorava como se aquele fosse meu único momento de felicidade. Nunca havia sentido aquela dor antes, nunca fiquei tão paralisada e agoniada. Estava com falta de ar e tonta.

–Elena, calma. Você precisa se acalmar – diz ela.

–Acalmar? –digo soluçando – Eu não movo as pernas e acabo de perder meu namorado para a morte. Acabei de perder o maior amor da minha vida no nosso aniversário de um mês de namoro em segundos! Minha vida foi embora em segundos! –grito chorando cada vez mais. Coloco as mãos no rosto e abaixo a cabeça – Isso não pode estar acontecendo. Não pode – digo balançando a cabeça negativamente – simplesmente não pode. É uma piada. Diga-me que é brincadeira. Diga-me! Por favor, me diga que ele vai voltar. Diga que ele está vivo e vai voltar... -abaixo o tom de voz ainda soluçando com o rostos inchado e lágrimas escorrendo -Por favor... -termino não querendo crer. A enfermeira me olha com dor nos olhos:

–Elena, eles vão fazer o possível. Não há nada que você possa fazer agora a não ser esperar.

Olho bem nos olhos dela e a abraço. Abraço para que nada daquilo tivesse realmente acontecido. Abraço querendo que Will estivesse vivo. Queria apenas.

Voltei para o quarto olhando fixamente para minhas pernas, pensado naquela parte do corpo que não era mais minha, pensando no meu namorado, pensando na morte. Na realidade.

Meus pais entraram segundos depois já sabendo o que havia acontecido. Tudo que podiam fazer é sofrer e consolar. Por mais que eu tentasse aceitar a verdade, era impossível ignorar. Sentia a morte bem ao meu lado, esperando para dar seu ultimo golpe físico, porque meu psicológico já estava destruído, mas parece que a dor de uma pessoa é maior quando está viva, até porque, infelizmente, o maior defeito da dor é que ela se apega aos vivos para com os mortos.

Estava soluçando e chorando muito. Aquela não era uma dor qualquer, não era um sentimento que possa ser descrito com palavras. A dor da perda fazia meu coração ficar confuso por querer de volta aquele que um dia foi meu e não compreender o porquê de não poder tê-lo. Fazia meu cérebro não acreditar no destino e na vida. E fazia meu corpo não querer mais se mexer porque sua felicidade foi arrancada pela morte, porque ela levou embora a única pessoa que levava pra você a alegria de viver. Will levou meu amor, minha paz, minha alegria. Ele levou consigo as cores do meu mundo e suas belas combinações. Meu mundo agora está escuro e sombrio.

Mais tarde saio quarto do hospital com a minha mãe empurrando a cadeira de rodas. Meu pai havia saído antes para pegar o carro. Chegando ao salão principal, encontrei Tomás com os olhos cheios de lágrimas quase rolando em seu rosto.

–Olá Tomás – diz minha mãe.

–Bom dia, senhora – responde ele levantando-se da cadeira, limpando os olhos e engolindo o choro.

–Bom, eu vou deixar vocês dois a sós por um tempo – diz minha mãe se afastando. Seu rosto ainda estava triste e seu olhar sem brilho.

Olhei para Tomás que estava sentando-se a cadeira. Ele usava uma calça jeans clara e uma blusa branca. Senti imediatamente uma lágrima rolar por minhas bochechas. Tomás me olhava com dor nos olhos e tristeza no coração. Ele abaixa a cabeça e sorri movendo sua cabeça negativamente. Percebi que ele chorava.

–Eu perdi tudo... –diz ele.

–Tomás...

–Eu perdi meu melhor amigo, perdi família e agora também perdi você.

–Você não me perdeu. Nós vamos ficar sempre juntos e...

–“Sempre juntos”? Foi isso que disse a Will? “Sempre juntos”? Onde está o “para sempre”, Elena? Não me faça promessas estúpidas.

–Tomás, não é porque Will se foi fisicamente que ele tenha ido também embora do meu coração. A morte pode ter levado ele para longe, mas o amor que tenho por ele é de tamanha grandeza que jamais e eu repito ja-mais iremos nos separar. O nosso “pra sempre” continua vivo. O nosso amor continua vivo e eu nunca irei esquecê-lo. Sabe, eu sofro a cada segundo que passa, lembrando que Will não está mais aqui ao meu lado, tentando convencer a mim mesma que ele não poderá mais tocar em mim, que eu não poderei mais desfrutar de sua presença, ouvir sua voz, olhar em seus olhos e receber seus carinhos. Sofro muito por perceber que não movo minhas pernas e eu lhe garanto Tomás, não quero perder mais nada na minha vida, inclusive você.

Esse parecia ser o pior momento da minha vida. Parecia que as horas não passavam. Tudo que eu queria nesse momento era poder voltar no tempo e poder senti-lo vivo, poder ouvir sua voz suave, viver o tempo que me restava com ele e simplesmente esquecer o acidente e não lembrar nunca mais da morte que levou meu amado, levou minhas pernas, levou minha felicidade, minhas cores do mundo. Mas, infelizmente, por puro ódio do destino, não posso fazer isso. Devo conter-me com a realidade e sobreviver com este fardo.

Ficamos ali, eu e Tomás, chorando pela verdade da perda de um amigo muito querido, William. Minutos depois minha mãe aparece para me levar pra casa.

–Você não vem? –pergunto a Tomás.

–Não. Clarice vai me dar carona. Ela está falando com a enfermeira agora. Não sou capaz ainda de me mover. Ainda não caiu a ficha. Acho que nunca vai cair.

–Mãe, eu vou falar com a Clarice. Posso?

–Claro filha, eu levo você até lá.

Perguntei a Tomás onde ela estava e minha mãe levou-me até ela. Estava usando uma calça jeans clara, tênis vermelho e blusa preta.

–Elena! –gritou ela. Seu rosto estava tão inchado quanto o da minha mãe – Meu Deus, como é bom vê-la viva! Eu sinto muito pelo Will. Sei que não passamos muitos momentos juntos, mas percebia o quanto vocês se amavam. Sabe, eu não estou aqui para te deixar mais triste e eu sei que nem imagino a dor da perda, mas eu posso imaginar e quero que você saiba que pode contar comigo a qualquer hora, em qualquer lugar! Ah Elena... eu sinto muito por ele... –diz ela pulando na cadeira de rodas, já chorando novamente – todos sentimos muito.

Não podia, mais uma vez, dizer nada. Tudo que fiz foi abraça-la, recebendo seus pêsames e fechar os olhos com força, para ter coragem para o futuro.

–Tudo bem Clarice. Obrigada.

–Você sabe, não sou boa com palavras, mas... –ela enxuga as lágrimas mais uma vez – Desculpa. É que eu fico imaginando e... tudo bem, eu vou parar de falar – ela sorri.

Rio também.

–Tudo bem, Clarice. Não se preocupe você está fazendo o que uma amiga faria nessas horas. E sabe, não precisa se desculpar pelos pêsames, eu estou sofrendo tanto quanto você e é bom ver que posso contar com você.

Abraçamo-nos mais uma vez e fomos para perto do Tomás. Clarice abraçou-o com força. Olhei para eles com amor. Meus olhos brilharam ao ver neles, o que existia entre mim e Will. Ao ver aquele novo casal que se formava, pude rapidamente imaginar os ótimos momentos que passaram e passarão bem como passei com Will, e vários outros mais que não pude vivenciar. Naquele instante, por incrível que pareça, pude sentir uma felicidade crescendo. Felicidade por ver que ainda havia amor, por ver que não havia perdido tudo. Por sentir, por um breve momento, que tudo poderia ainda melhorar. Ao ver aquela simples cena, mediante a tanto cinza, eu vi um pingo azul no céu. Meu mundo coloriu-se um pouco apesar da dor.


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Notas finais do capítulo

A dor da perda fazia meu coração ficar confuso por querer de volta aquele que um dia foi meu e não compreender o porquê de não poder tê-lo.



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