As cores do meu mundo escrita por Lice Tribuzy


Capítulo 14
A dúvida


Notas iniciais do capítulo

Hoje eu consegui postar mais cedo õ/



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Acordei com um barulho fino e repetido. Abro lentamente meus olhos. Estou com meu pulso repleto de agulhas, respirando ainda por um aparelho. Meu corpo parecia todo remendado, como se tivesse sido partido e depois colocado de volta.

Quando pude finalmente abrir por completo meus olhos, percebi que estava em um quarto, no silêncio total. Olhei para frente e vi minha mãe sentada na cadeira com o rosto na mesa. Estava dormindo. Percebi seu rosto inchado como se só tivesse conseguido parar de chorar quando dormiu.

Respirei fundo. Levei minhas mãos ao rosto. Minhas mãos estavam cortadas e perfuradas. Estava quase que totalmente roxa. Assustei-me. Tentei levantar. Não conseguia. Novamente meu desespero volta.

–Mãe? –pergunto tentando conter o susto.

Minha mãe rapidamente acorda. A me ver de olhos abertos, vi sua felicidade.

–Elena... você está bem! Graças á Deus – diz ela segurando minhas mãos sem medo.

Fico olhando para ela. Sem dizer nada. Apenas contendo o choro.

–O que aconteceu comigo? –pergunto.

Os olhos dela se enchem de lágrimas. Percebo sua dor.

–Foi um acidente. De carro, querida. Não se lembra?

Agora podia relembrar o que me ocorreu. Pude também, infelizmente, ter a certeza que aquilo realmente aconteceu. O pesadelo era real.

–Eu me lembro – digo sem querer dizer.

Ainda estava sem conseguir falar direito e continuava fraca. Minha memória foi voltando a cada segundo. Até que chegou a pior parte:

–Onde está Will? –pergunto com medo.

Antes que minha mãe pudesse falar, meu pai entra no quarto.

–Elena! –exclama ele – Você acordou filha.

Eu sinceramente não era capaz de sorrir então continuei calada, usando apenas meus olhos.

–Está se sentindo bem? –pergunta ele.

Minha mãe o olha com lágrimas escorrendo pelo rosto.

–Não muito – confesso a ele.

Não tínhamos muito assunto. Minha mãe não tinha condições de falar uma palavra. Parecia assustada demais. Meu pai, por sua vez, não sabia o que dizer. Eu, por exemplo, nem sei o que supostamente deveria dizer em uma situação como essa.

–Mãe, onde está Will?

Minha mãe olha para meu pai. Preparei-me para ouvir o pior, apesar de já ter vivido momentos terríveis.

–Elena, Will se machucou muito. Ele recebeu todo o impacto do acidente. Eu estava com ele no quarto desde o acidente até agora.

–Ele está vivo? –pergunto com os olhos já cheios de lágrimas.

–Elena, você tem que entender que o Will foi...

–Pai! –exclamo interrompendo-o – Ele está vivo? É tudo que quero saber: se ele está vivo.

Meu pai se cala e respira fundo. Minha mãe se senta na cadeira e abaixa a cabeça. Choro. Sinto meu coração parar, minha vida ir embora de uma vez. As cores que via, sumiram. Pensar em perdê-lo é uma tragédia, vê-lo sem vida um horror, mas viver sem ele, bom, não existe palavra que defina. É como se todas as minhas esperanças tivessem simplesmente ido embora.

–Quero vê-lo – digo segurando o choro.

–Elena, querida... –diz minha mãe.

–Eu desejo vê-lo, mãe. Por favor.

Minha mãe chora mais ainda.

–Elena, é que você... –tenta meu pai.

–Pai, por favor. Eu quero muito vê-lo pela última vez.

–Não é por isso, querida. É que no acidente, bem...

Antes que meu pai pudesse terminar sua frase, entra um homem branco de cabelos loiros e olhos escuros. Era o médico. Ele não está sorrindo. Aparenta preocupado.

–Elena, eu vejo que já acordou e...

–Doutor, onde está Will? Quero vê-lo.

Ele se assusta, respira fundo e se aproxima de mim. Meus pais sentam-se na cadeira, ambos com olhos cheios de lágrimas e dor no peito. Estou confusa. O médico olha para meus pais, senta na minha cama e toca minha mão.

–Elena não é mesmo? –pergunta ele confirmando.

–Sim – respondo.

–Meu nome é Cristian e eu não tenho boas notícias para lhe contar. Eu sei que é difícil para você viver o que está vivendo. Aquele garoto, Will, é seu namorado, certo?

Balanço a cabeça positivamente e ele prossegue:

–Bem, o caso é que antes de se preocupar com ele, você deve se preocupar com você. Seu corpo foi muito ferido. Ainda está em tratamento...

Ele para. Ainda não sei aonde quer chegar. Cristian respira fundo novamente e diz curta e objetivamente:

–Will levou todo o impacto do acidente, mas você também sofreu. É difícil dizer isso para uma garota jovem como você, mas você perdeu o controle das suas pernas. Infelizmente você não poderá mais andar.

Sinto meus olhos incharem, meu coração parar por segundos e meu cérebro explodir. Não era capaz de falar nada. Respiro ofegante tentando mover minhas pernas. Nada.

–O que? Como pode? Não! –Grito.

–Eu sinto muito. Fizemos o possível, tanto que você está viva, mas suas pernas sofreram muito mais. Porém, você passará por tratamentos fisiológicos e talvez possa voltar a andar. Talvez dentre um ano.

Continuo ofegante. Meus olhos deixam escapar lágrimas de dor. Não sabia como reagir, não sabia o que dizer. Ficar sem andar é um fardo que carregarei para toda a vida. Mais uma vez a realidade era inevitável, mais uma vez o pesadelo é a vida, e a dor é real. A cada palavra que ouço, o mundo descolore. O mundo a meu ver vai ficando preto em branco. Pelo menos, ainda há esperança mesmo achando que não havia mais nenhuma.

Depois de ouvir aquilo, não fiz nada, não disse nada, simplesmente fiquei ali, deitada sentindo meu corpo explodir de dor. A única coisa que fiz foi deixar a dor sair de mim derramando lágrimas chorando. Meu rosto já estava inchado e meu corpo tremendo. Estava desesperada fechando os olhos e imaginando que isso nunca aconteceu, criando expectativas para que minhas pernas se movessem. Não obtive sucesso. Tudo de ruim estava naquele dia, naquela noite que inicialmente era perfeita.

O médico se retirou lentamente da sala para dar-nos espaço. O problema é que eu não precisava de espaço, precisava da minha vida de volta.

Meus pais logo vieram para me abraçar e consolar. Sabia que aquilo não tinha sido culpa minha nem muito menos deles, então ficamos ali abraçando-nos. Rezando para que tudo melhorasse.

Depois de horas deitada na cama tentando dormir e pensando no futuro próximo, uma enfermeira entra. A mesma que um dia atendeu Will em sua primeira “visita” ao hospital. Ela veio para perto de mim sorrindo. Meus pais haviam saído para trazer minhas coisas.

–Oi – disse ela calmamente sussurrando.

Apenas sorrio. Não dizia nada.

–Como você está? –pergunta ela.

Eu olhava fixamente para a cama com a cabeça baixa, simplesmente sem reação. Respirei fundo e respondi.

–Nada bem... meu mundo caiu.

–Você quer vê-lo?

Levanto a cabeça com o susto e olho profundamente em seus olhos.

–O que? –gaguejo.

–William... Seu namorado, Elena. Você quer vê-lo?

–Ele... ele... está vivo?

–Bom, para ser sincera, ele não está muito bem e a qualquer momento pode... Você sabe, mas seu coração ainda bate.

Choro mais uma vez, mas dessa vez de alegria e esboço um sorriso. Aquela foi a melhor notícia de todas. Limpo as lágrimas do rosto. Mal posso esperar para vê-lo.


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Notas finais do capítulo

A felicidade de ver alguém que você ama vivo, não tem palavras no universo inteiro para descrever tal sentimento...



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