A Cor Púrpura De Teus Cabelos escrita por Letícia


Capítulo 55
Brincando Com Fogo




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O corredor do colégio estava cheio de alunos ainda alvoraçados devido ao término do intervalo. A menina dos cabelos cor de púrpura, estava em frente ao seu armário onde guardava seus livros escolares, no momento, ela estava tentando colocar o grosso e pesado livro de história do lugar que havia tirada, pois o livro que usaria seria o de química e a menina havia pego o errado. Quando finalmente conseguiu obter o que queria, levou as mãos à porta do armário e quando iria fechá-lo se surpreendeu com alguém fazendo antes dela.
– Ora, quem está apressada para a aula...
Lola levou um susto e percebeu pela sonoridade e acidez na voz com um leve toque de sarcasmo que era Anna, sua antiga inimiga e atual confidente de uma tarde um tanto quando inesperada para ambas em outro dia.
– Ah, é você... - disse ela com desdém.
– Nossa, também adorei revê-la. - zombou Anna.
Lola havia perdido as primeiras aulas que ocorreram antes do intervalo, então as duas não haviam se visto. Quando Lola chegou em casa, após ter se refugiado no apartamento de Miranda, Lúcio, o pai da menina, havia conversado com ela por um bom tempo. Para surpresa do próprio pai, ela não se alterou ou brigou com ele. Ambos conversaram civilizadamente e Lola logo foi para o seu quarto mas, ao contrário do que aparentava, a menina não estava nada bem. Chorou a noite toda antes de dormir e só foi pegar no sono pela madrugada, isto explica o fato de ter se atrasado e perdido as primeiras aulas daquela manhã na escola.
– O que você quer, Anna?
A loira, antes de dizer algo, fulminou a menina com seus olhos e cruzou os braços em desagrado.
– Nada, apenas senti sua falta na sala de aula e quando a vi resolvi lhe dar bom dia mas vejo que não está bem e nada receptiva.
– Nossa, não parece que você tenha percebido que eu não estou ''nada receptiva'' - Lola ironizou a garota enquanto enfatizava e imitava as palavras ditas por ela.
– Já entendi, então vai ser assim não é mesmo?
A menina rebelde trancou o próprio armário com cadeado e mirou a loira antes de tentar ir embora mas a mesma a impediu, colocando o braço na frente da direção em que ela iria.
Lola suspirou fundo e fechou os olhos enquanto segurava seu livro de química nos braços.
– Posso saber o que você quer de mim?
Os olhos de Anna, a filha do diretor, faiscaram de desejo lascívo enquanto umedecia os lábios com a língua.
– Não se faça de boba, você sabe muito bem o que eu quero... - disse Anna.
– Não, eu não sei e nem quero saber. Agora, saía da minha frente pois eu tenho que...
– Shiu! - Anna se aproximou de Lola e com seu dedo indicador calou a menina - Você realmente vai se fazer de desentendida?
A loira levou uma das mãos ao cabelo roxo de Lola e enrolou uma mecha entre os dedos fazendo com que a menina se irritasse e se afastasse dela.
– Eu quero deixar claro que, aquilo que houve entre nós, naquela maldita tarde em sua casa, não significou nada. Vamos fingir que aquilo nunca aconteceu!
– Aquilo pode não ter significado nada para você, mas para mim significou tudo.
Aquelas palavras atingiram Lola em cheio e a fez engolir em seco, quando ela estava dando o primeiro passo para deixar a filha do diretor sozinha com o armário ela ouviu Anna dizer:
– Você não sabe com quem está brincando, Lola...
– O que você quer dizer com isso? - levantou uma sobrancelha.
– Quero dizer, que... - ela se aproximou da outra e ambas ficaram cara a cara e dava para ouvirem a respiração ofegante da outra - Ninguém entra na minha vida de repente e simplesmente me abandona. Você sabe que eu não sei lidar com isso... já basta a minha mãe.
Lola se enfureceu e resolveu dizer, como sempre fazia, umas verdades.
– Eu não sou sua mãe e você tem que entender isso. Não adianta forçar, aquilo que houve foi uma erro. Um erro! - gritou a menina sem se importar com os outros alunos que estavam perto- E é melhor você esquecer aquilo de uma vez por todas.
Primeiro a face de Anna ficou entristecida, depois ela tomou a forma de raiva e seu rosto corou conforme forma-se uma carranca em sua face. Anna pegou no braço de Lola e sussurrou, contra a sua vontade, em seu ouvido.
– Menina, você não sabe com quem está se metendo. Quando eu quero algo eu vou até o fim do mundo para conseguir. - disse enquanto soltava uma risada abafada cheia de maldade e rancor.
– Eu fiquei com nojo de ter te beijado. - Lola sussurrou no ouvido dela de volta.
Lola se soltou do braço dela e apressou o passo, seguindo caminho para longe da menina, mas olhou para trás quando ela disse co raiva e gritando em plenos pulmões:
– Você vai se arrepender disso!
Um frio na espinha de Lola percorreu seu corpo enquanto tal frase ecoava em sua mente.
Enquanto seguia caminho para a sala de aula e seus pensamentos vagavam para o dia em que havia beijado Anna, ela analisava tudo o que estava acontecendo. Lola havia confirmado o que temia, naquela tarde na casa de Anna: ela gostava de meninas. Em toda sua vida juvenil, ao decorrer de seus 17 anos, ela tinha saído com meninos como qualquer menina ''normal'' faria, pelo menos era o que a sociedade espera das jovens moças que estão na época da descoberta de sua vida sentimental e sexual. Para ela, sair com meninos e beijá-los sem compromisso algum era normal. Já havia até mesmo beijado Erick, seu amigo de infância, mas sabia que apenas da parte dele havia algo a mais, pela parte dela havia apenas amizade. Eram como irmãos, pelo menos era isso que Lola esperava. Agora, a questão de sair com pessoas do mesmo sexo, era completamente uma novidade na vida da jovem. No início do ano, havia se surpreendido pelo fato do destino, Universo ou seja lá o que for, ter colocado Miranda, a professora de português, em sua vida e mal sabia a menina que isto à levaria a descoberta de coisas inimagináveis. Ela jamais havia pensado que iria beijar a professora e muito menos em conhecer seu íntimo e estar apaixonada por ela. Lola tinha má fama entre todos os professores, era a típica garota rebelde da turma que não queria nada além de diversão, fugia de responsabilidades e diversas vezes quase repetiu de ano mas os professores e a bancada acadêmica e a gestão do colégio, acreditava que seu comportamento agressivo e irresponsável era proveniente do fato da ausência de uma figura materna em sua vida, então os mestres e o próprio diretor sempre davam ''uma chance'' para ela para que seguisse em frente e concluísse o ensino médio. Lola jamais imaginaria que tomaria apresso por uma professora, mas ela sabia que Miranda não era apenas uma professora qualquer, era a professora que despertou dentro dela sentimentos nunca antes provados por ela. Depois dos acontecimentos de ontem e de toda a sua desilusão com o próprio pai, ela percebeu que estava completamente apaixonada por Miranda e que apesar de ter beijado Anna, nada mudaria isso. O que sentia por Miranda era única e a cada vez que estava em sua presença ela confirmava algo que havia temido: estava amando Miranda com todo o seu coração.
Ainda perdida em pensamentos, assim que estava prestes a entrar na sala de aula, alguém a impediu.
– Ei, por onde a senhorita pensa que vai?


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