Era a primeira vez que Chihiro ouvia sua voz, um calafrio ultrapassou sua espinha.

— Meu nome é Chihiro – ela respondeu trêmula e insegura – Você está na minha casa...

— Por que? – O tom era assustador.

— Eu te encontrei em frente da entrada vermelha – Ela pareceu preocupada com a resposta, sua atenção estava totalmente em Chihiro. Ela não parecia brava mais, parecia alguém assustado que não podia perder a postura, por isso Chihiro prosseguiu desenrolando em falar sem respirar – Você estava com um machucado enorme no estômago, sangrava muito, tinha a perna quebrada e um braço fraturado, você tinha sido atacada por um dragão...

A feiticeira olhou fixamente para o chão, Chihiro ficou em silêncio e observou a mulher. Ela não parecia má, mas sua postura era intimidadora.

— Em que mundo eu estou? – Ela disse suavemente. A pergunta deixara Chihiro confusa, mas soube, por pequenos lapsos de memória que ela queria saber que estava com os humanos.

— Está no mundo dos humanos – Chihiro disse não tão tímida agora – Eu tive que te trazer para cá...

A expressão da feiticeira mudou de séria para confusa. Seus olhos corriam por toda a extensão do quarto, mas não parecia estar vendo o que estava na frente e sim outra dimensão. Passados vários minutos, Chihiro não conseguiu se manter em silêncio, mas estava começando a ficar nervosa e decidiu questioná-la:

— Desculpe – Falou, enquanto a mulher focou o olhar nela – Mas, tem algum problema?

— Sinto muito se pareci grossa – Ela falou com muita calma, mudou o tom para uma voz simpática e preocupada. A frieza se fora e dera lugar a um tom acolhedor – Mas, teoricamente, eu não poderia sair daquele mundo por muito tempo...

— Você é uma guardiã, não? – Chihiro falou, lembrando-se do livro – O que pode acontecer se ficar muito tempo longe?

A garota pareceu surpresa, provavelmente não esperava ouvir aquilo de uma humana, ela se ajeitou no lençol que pegara da cama de Chihiro. Depois de muito tempo de conversa Chihiro percebeu que a jovem estava nua por baixo daquilo.

— Nossa! – Eu disse a assustando – Sua roupa! Sinto muito, ela estava toda rasgada, tive que tirar e acabei tendo de jogar fora, você está na minha casa, se eu lavasse meus pais perguntaria sobre como eu a encontrei, e teria que falar sobre você e...

As sobrancelhas da guardiã se arquearam, Chihiro percebeu que estava nervosa e falava demais, então apressou em ir na direção ao armário e pegar um vestido grande que estava escondido em algum lugar, parecia servir para ela. Chihiro entregou a roupa para a guardiã que agradeceu e se vestiu.

— Você tem algo para comer? - A guardiã falou – Estou faminta...

Chihiro arqueou as sobrancelhas e respondeu logo.

— Claro! Vem comigo...

Desceram então para a cozinha e Chihiro preparou algo para elas, enquanto isso conversaram sobre o que tinha acontecido, a garota ouvia atentamente enquanto Chihiro explicava detalhadamente como fora o encontro entre elas. A feiticeira fazia poucas perguntas e todas podiam ser respondidas curtamente, exceto quando perguntou como Chihiro sabia tanto sobre o outro lado da construção. Devagar a garota explicou tudo o que lhe ocorrera anos antes.

— Então – a guardiã falou – você sabe sobre o mundo dos espíritos, pois esteve lá e conseguiu sair, mas tem vontade de retornar porque acha que deixou algo muito importante lá

Chihiro assentiu.

— Porque não voltou quando ultrapassou o túnel? - Ela perguntou.

Chihiro parou por um momento, pensou em uma resposta que não a fizesse parecer fraca, mas teve que simplesmente admitir.

— Tive medo – falou – de não encontrar o que procurava e não ter chance de retornar...

A garota pensou que a guardiã fosse achá-la uma covarde, mas ao invés disso segurou sua mão e disse:

— Todos temos medo, é algo normal – dizia sorrindo para Chihiro – É preciso ter medo para ter coragem, temos medo da perda, como estou agora quando penso na minha magia. Posso perder tudo por estar aqui. Mas, quando você tem medo, significa que teve coragem de chegar ali.

Chihiro sorriu, se sentiu melhor, se uma poderosa guardiã sentia medo, ela também podia sentir, nessa hora percebeu que ainda não perguntara o nome da garota, então o fez:

— Como você se chama? - Disse

Ela arqueou as sobrancelhas e sorriu, respondeu gentilmente.

— Harumi – Ela fez uma curta reverência para Chihiro, com as mãos posicionadas juntas em sua frente – E agradeço muito pelo que fez por mim.