Os Guardiões do Véu escrita por Moonchan


Capítulo 7
Seis - Quem quer brincar?


Notas iniciais do capítulo

There's a room where the light won't find you
Holding hands while the walls come tumbling down
When they do I'll be right behind you
So glad we've almost made it
So sad we had to fade it
Everybody wants to rule the world
Everybody Wants To Rule The World-Tears For Fears



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Seis

Ally

Quem quer brincar?

Em um minuto estava pulando e no outro, batendo com tudo no chão. A última coisa que vi foi a cabeça enorme da cobra.

"A morte doía", foi a primeira coisa que pensei. Mas quando fui capaz de abrir os olhos outra vez, percebi que não, que ainda estava viva e talvez com uma costela quebrada. Quando olhei novamente, a porta já estava fechada.

Respirei fundo, tentando ignorar a dor que me atingiu nas costas e tentando não gritar. Agora que todo o medo e a adrenalina haviam começado a ir embora eu me sentia TODA mole.

– Você está bem? – perguntou Ethan ao meu lado.

– Não muito – respondi mal-humorada.

Tentei levantar, mas a vertigem me atingiu. Deitei novamente e dessa vez sentei devagar, colocando a cabeça entre as pernas para tentar respirar melhor. Fiquei assim por uns cinco minutos.

Ethan me deixou por um minuto, indo até o canto mais afastado onde a sósia da Megan Fox estava. Eles conversam por alguns segundos, ela no chão parecendo tão ruim quanto eu ou até pior e por isso a achei fresca e cheia de “não me toques”.

Engraçado como as coisas mudam.

Todos os outros estavam me encarando. Instintivamente eu corei e abaixei a cabeça. Ethan voltou para o meu lado e me ofereceu a mão para tentar levantar, me segurando e impedindo que eu caísse. Sem me soltar, me examinou minuciosamente, me deixando ainda mais vermelha e sem coragem de encara-lo.

– Você vai sobreviver – falou bagunçando meu cabelo.

Levantei o olhar para as pessoas ao meu redor, elas ainda me encaravam preocupadas.

– Fico feliz que esteja bem – falou a sósia, se aproximando de nós.

– Hã... Obrigada – disse eu, achando sua aproximação estranha.

– Eu sou Havena – ela sorriu, já sem sombras da garota acabada que eu vira. Senti-me nauseada e injustiçada com a sua visão de perto. – Como esse idiota não quis te apresentar, cá estou eu! – disse bagunçando o cabelo de Ethan e rindo. Eu senti todas as minhas possíveis esperanças românticas com Ethan indo para o ralo.

Eu não me apaixonei por ele assim, mas ele me atraiu. Eu realmente tinha gostado dele.

– Olhem lá – falou um dos garotos, que usava uma blusa do Pink floyd, apontando para a segunda porta, ao lado da primeira.

Havena, se afastou de nós, correndo até lá. A pintura no quadro apareceu: era uma imagem verde. Eu não reconhecia direito o que era, mas havia um item completamente vermelho, o único ponto com cor diferente. A porta destrancou com um click.

– Isso! – disse eu com uma falsa animação. – Vamos pegar mais chaves!

– Antes disso... – falou o garoto da camisa do star wars. – Eu sou o Malcon. Quem são vocês? – ele tinha o rosto ossudo, olhos escondidos pelos óculos, o cabelo preto curto.

– Eu sou Havena. É um prazer combater com vocês.

– Meu nome é Mellane – disse a garota mais velha, abraçando o namorado. Ela tinha o cabelo loiro platinado com um corte channel e grandes olhos verdes.

– Eu sou o Steven – falou o namorado, passando os braços ao redor dos ombros de Mellane. Ele era alto e musculoso, tinha o cabelo raspado e cara de poucos amigos.

– Ethan – disse sorrindo. – E, Steven, a parte do cutelo foi demais.

– Caso precise de alguém para acertar as coisas, eu sou o cara – falou rindo.

– Nathaniel – disse o garoto ruivo. Ele era baixo, gordinho e usava um desses suéteres de tricô.

– Eu sou Samuel – disse o último garoto, com a blusa do Pink floyd. Ele parecia um pouco constrangido, era muito alto e magro, sua pele contornava perfeitamente os ossos, seus olhos eram verdes e seu cabelo loiro ensebado.

– As damas primeiro – disse Malcon fazendo uma reverência.

Havena riu, uma risada melodiosa que me fez imaginar vários animaisinhos da floresta saindo e todo mundo começando a cantar.

– Por que homem só é cavalheiro quando convém? – então balançou a cabeça negativamente. – Eu entro.

Enquanto encarávamos a porta que se abrira, a que tínhamos acabado de sair desapareceu.

No que eu fui me meter? perguntei a mim mesma enquanto me abraçava para afastar o medo. Eu odiava admitir, mas estava um pouco assustada. Uma parte de mim, a parte que cresceu com demônios, dizia que tudo aquilo era real e que eu não me deixasse levar. Mas eu a ignorei, como sempre fazia, porque eu era a garota louca.

Havena respirou fundo e segurou a maçaneta da porta, decidindo se a abria ou não. Então, com um longo suspiro, abriu e entrou.

– Caso eu não sobreviva... – disse Malcon. - ... foi bom conhecer vocês! – e entrou logo atrás dela.

Eu e Ethan nos entreolhamos, não queríamos ser os últimos a entrar. Ser o último nunca dava em boa coisa – mais sabedoria adquirida com filmes de terror – e eu não queria perder – em mais alguma coisa – para Havena. Ele pegou minha mão e me arrastou para dentro da sala; em outro caso eu teria corado, mas meu nível de nervosismo estava alto demais para me importar.

A sala estava completamente escura, eu não conseguia enxergar nada. O chão rangia sob nossos pés e havia aquele silêncio devastador. Ouvi os passos dos últimos entrando e então a porta se fechou num baque ensurdecedor.

Senti alguém agarrar meu braço assustado e então voltar a me largar, provavelmente Nathaniel ou Samuel. Soltei um risinho baixo. Ethan felizmente ainda segurava minha mão se não provavelmente eu teria tropeçado ou caído milhões de vezes.

– Já está com medo? – perguntou sussurrando no meu ouvido, gerando um calafrio na minha espinha.

Eu revirei os olhos, mas no escuro ele provavelmente não poderia enxergar – o que era bom ou ele veria como sou covarde – então me dei ao trabalho de responder.

– Quando me ver correndo e gritando você me pergunta isso – o escuro era muito bom, assim ele não veria também a grande mentirosa que sou.

Ele riu, mas não disse nada. MEU DEUS, será que ele só sabe rir da minha cara? Eu sou tão patética assim?

Nós andamos mais um pouco e quando chegamos perto do fim do corredor, as luzes começaram a piscar e se acenderam.

– O meu deus – resmunguei olhando a sala.

Várias, várias e várias estantes em cada parede estavam abarrotadas de bonecas. Não o tipo Barbie, nem o tipo bebezão – não – fofo. Nope, nenhum desses tipos. Eram aquelas bonecas de porcelana, tão perfeitas que seus olhos pintados parecem te seguir, todas elas em suas roupas de época parecendo com damas, com aqueles longos cachos caindo sobre suas cinturas e seus olhos azuis nos observando.

Três palavras: eu odiava bonecas.

Tive uma experiência ruim com elas; alguns traumas nós nunca superamos, como altura. Eu não chego a morrer de medo de uma boneca, certo? Afinal elas são seres inanimados....

– Isso é tão assustador – disse Malcon olhando desesperadamente para os lados. – Daqui a pouco o Chuck aparece.

A luz finalmente se estabilizou, ficando num tom meio amarelado. No final do corredor havia uma escada, todos paramos em frente a ela.

– Aqui vou eu de novo – murmurou Havena, descendo lentamente a escada.

Estávamos todos indo atrás dela, como num voto de solidariedade.

As luzes do lugar se acenderam, eram vermelhas como as de uma sala de revelação de fotografia. Havia mais bonecas e uma mesa com braços, pernas e cabeças de porcelana espalhadas. No fundo da sala havia um caixão em pé com uma boneca do tamanho de uma pessoa dentro, ela tinha o cabelo preto todo ondulado, pele branca de porcelana, boca toda bem feita e vermelha. Os olhos eram heterocromáticos: um verde e outro vermelho e estava nos encarando. Eu tinha certeza.

Olhei para seu corpo: usava um vestido roxo curto e cheio de rendas, na mão havia um cutelo, a visão me dava arrepios.

– Malcon, eu acho que você se enganou. Essa é a filha do Chuck! – eu disse.

Resolvi me afastar um pouco daquela parte e de todos, indo até um corredor para observar alguma coisa que pudesse ser a chave. Escutei um grito e voltei para perto de todos, procurando pelo quarto a fonte dos gritos. Eu senti meu coração preso na garganta quando finalmente achei a origem.

Eu provavelmente estava ficando louca, porque vi a boneca levantar do caixão e se espreguiçar. Dei alguns passos pra trás instintivamente e não fui a única; um dos nerds tinha se agarrado ao meu braço e eu resisti a vontade de me agarrar ao dele também.

– Ohayo Minna-san! – falou a boneca sorrindo docemente. – Vocês demoraram! Pensei que tinham morrido na outra sala e me deixado sem diversão – disse inflando as bochechas, saindo do caixão. – Eu sou a Amaya, mas podem me chamar de Maya-chan – o timbre da boneca era como de uma criança infantil e doce, por algum motivo isso só me fazia ter mais medo dela, além, é claro, do fato dela ser uma boneca que andava com um cutelo – Serei eu que farei vocês se arrependerem de ter nascido, né? – perguntou, tombando a cabeça e sorrindo tanto que seus olhos se fecharam. Deu um passo a frente e colocou a mão sobre o olho vermelho. – Eu serei boazinha com vocês e lhes darei uma pista! – então fincou os dedos na sua órbita e tirou o olho. – Essa é a chave que vocês têm que pegar!

Malcon apertou ainda mais meu braço. Eu estava um pouco aterrorizada, só um pouco. Ethan voltou a se aproximar e dessa vez ele não riu, ficou encarando a boneca sério. Pelo menos eu ainda não havia gritado e feito papel de trouxa – ainda –. Eu permanecia na aposta.

Eu e minhas apostas... Ainda acabaria me ferrando por culpa delas.

A boneca colocou o olho de volta e levantou um pouco o cutelo que estava manchado de sangue seco. Então colocou a outra mão na cintura e sorriu.

– Vamos começar! Eu quero brincar! Estava aqui tão entediada... Não tinha nenhuma cabeça pra arrancar! – então ela sorriu novamente como uma criança na manhã de natal. – Eu tive uma idéia melhor! Fe... – começou a dizer, mas Havena foi mais rápida, tentando dar um chute na boneca.

Fiquei impressionada por alguns segundos, mas a boneca apenas deu um passo pro lado como se não fosse nada. Havena "caiu", mas aproveitou a oportunidade para contra-atacar, apoiando uma mão no chão e aplicando uma rasteira na boneca, que simplesmente pulou e inflou as bochechas novamente.

– Que garota mais chata! – disse indo em direção a Havena.

Havena desviou, apoiando seu peso nas mãos, pondo-se de pé e se afastando da boneca. Eu estava um pouco admirada, na hora quis saber fazer algo assim. Vê-la fazendo aquilo me deu náuseas: eu podia ver porque Ethan estava interessado nela.

Eu não sabia o preço que fazer aquilo tinha.

– Quando você vai entender? Você não pode me tocar – ela buscou pela sala e olhou no fundo dos meus olhos , sorrindo. Esticou a mão, abrindo e fechando como uma criança pequena, enquanto murmurava “vermelho”. Virou-se para Havena. – A única que pode é ela! – disse apontando para mim.

Por que nada dava errado para a garota bonita?

Eu quis gritar quando todos me encararam. Malcon rapidamente se afastou de mim.

– Vamos, querida! Não se acanhe, eu juro que serei boazinha! – falou a boneca para mim.

Ethan a olhou mal-humorado, então voltou-se para mim:

– Não precisa fazer nada, Ally, eu cuido de tudo, ok? – disse segurando meu rosto e me dando um beijo na testa.

Corei um pouco e prestei atenção na cena a seguir: Havena veio até mim, parecendo um pouco desanimada.

– Desculpe por isso, se não fosse por mim talvez ela não notasse a sua existência.

– Ah, não, tudo bem, não é culpa sua – disse a ela.

Por mais que quisesse dizer que não, que ela era uma vadia, eu não podia... Era verdade, isso tudo era culpa da minha total e completa falta de sorte.

Observei Ethan indo em direção à boneca.

– Ah, mas que chato! Por que vocês, caçadores, não me deixam em paz? – falou inflando as bochechas novamente. – Eu já disse: só a garota pode me tocar!

Ele apenas ignorou o que ela disse, mirando um soco no meio do seu rosto. A boneca se abaixou, mas isso fazia parte do plano, pois ele lhe desferiu uma joelhada no estômago, derrubando a boneca.

Sorriu.

– O que você disse?

A boneca retribuiu o sorriso.

– Nada mal, mas eu não quero você, seu maldito! – a boneca levantou o rosto e choramingou, fazendo beicinho. – Bozo!! Creepy!

No início nada aconteceu, mas todos na sala ficaram tensos esperando pelo pior, quando do corredor próximo ao caixão aparecem dois palhaços.

Eu sou a única pessoa que acha palhaços assustadores?

Nathaniel caiu no chão e começou a gemer. Antes que pudéssemos fazer alguma coisa, seu rosto ficou branco como o dos palhaços e um sorriso tão grande, que parecia ser cortado nas laterais da boca, brotou em sua face, enquanto ele gritava de agonia.

– Por deus, o que está acontecendo aqui? – perguntou Steven, encarando a cena.

Os palhaços foram pra perto do novo integrante e o levantaram. Pela primeira vez percebi os detalhes: todos tinham o cabelo laranja escuro – o de Nathaniel começava a ficar –, calvo no meio e enrolado nas laterais, a pele deles era branca, mas não parecia com tinta, era como se a própria pele fosse algo fantasmagórico. O sorriso vermelho, que pintava suas faces, não ajudava muito, era só uma alegre mancha vermelho sangue no meio de toda aquela brancura e, claro, em alguns lugares parecia que eles tinham comido carne crua, o sangue se derramava de suas bocas.

Os dois palhaços originais tinham blusa listrada e um largo macacão, usavam sapatos de bico grandes. Nathaniel continuava com suas roupas normais, seus olhos não eram mais humanos, eram negros da íris a retina. O segundo palhaço tinha os dois olhos assim também e o terceiro, que tinha o sorriso mais diabólico de todos, não tinha olhos, eles eram costurados.

O palhaço sem olhos foi até a boneca e a levantou. Ela sorriu.

– Obrigada, Bozo. Por favor, mantenha eles ocupados enquanto eu cuido da garota!

O palhaço se virou para nós e sorriu, partindo-se ao meio duas vezes, criando cópias iguais a ele – quatro para ser exata –, então encostou-se em um canto. A boneca foi até ele e lhe deu um longo e babado beijo, deixando sua boca toda suja de tinta e sangue.

– Podem começar, meus queridos! – cantarolou. – Só se lembrem que a ruiva é minha! Neeeé, Ally? - falou ela, se aproximando.

Ethan se jogou na frente, mas um dos palhaços fez a mesma coisa, impedindo-o de passar. Não sei como, mas ele colocou sua mão no topo da cabeça do palhaço e puxou com força, arrancando-a do corpo.

A boneca rosnou.

– Menino mau! Bozo!!!! – gritou de novo, chamando o palhaço sem olhos, que se dividiu em mais quatro e suas cópias cercaram Ethan.

Ela passou por ele e veio até mim, balançando seu cutelo. Quando eu olhei em seus olhos, foi como se entrasse em transe, sequer pude me mexer. Ela era minha senhora.

Amaya aproximou-se, me fazendo recuar até a mesa. Então chegou mais perto e disse, me encarando com aqueles olhos hipnóticos e voz melódica:

– Eu vou arrancar seu coração.

Vi ela levantar o cutelo e se preparar para afundá-lo no meu peito. Foi nessa hora que o efeito do transe acabou; eu não iria ser morta por um projeto de Barbie super crescido, isso eu poderia lhe garantir. Abaixei-me e o cutelo ficou preso na mesa.

A boneca me olhou surpresa, mas não deixei que ela se recuperasse, juntei todas as minhas forças e a empurrei no chão. Ela se agarrou em mim, me levando junto. Ficamos rolando como duas crianças, a boneca sorria como uma maníaca.

Ally-chan, isso é tão divertido! Deixe-me arrancar seu coração e poderemos ser amigas para sempre! Faremos isso todos os dias!

– Obrigada, mas eu nunca gostei de bonecas – retomei o controle e subi em cima dela, uma mão no seu pescoço e outra no seu rosto, tentando arrancar o olho!

– Ally-chan é tão má! – disse com cara de choro, jogando-me em direção a uma estante.

Enquanto eu “voava” tentei me agarrar em qualquer coisa que pudesse, mas isso acaba sendo uma má ideia. Segurei um dos palhaços que lutavam com Havena – a louca ainda sorriu e me agradeceu –,o empurrei para trás de mim e caí forte em cima dele, que se desfez, virando um monte de fumaça preta. Levantei-me desnorteada, encontrando os olhos de Ethan preocupados comigo, mas ele não poderia vir até mim, pois quanto mais palhaços ele destruía, mais apareciam.

Malcon estava lidando bem com o dele, ele tinha afundado uma boneca na cabeça do palhaço. Aquele garoto tinha o meu respeito. Steven e Mellane, também pareciam bem, havia cinco palhaços ao redor deles, mas nada apavorante. Havena... Bom, preferia nem comentar: a garota parecia estar se divertindo, havia partido um ao meio, puxando seus cabelos. Samuel estava levando uma sura de “Nathaniel”, mas todos estávamos ocupados para tentar ajudar, a cada palhaço que sumia, apareciam mais dois no lugar.

– Ally-chan – falou a boneca, reaparecendo atrás de mim e me tirando das minhas preocupações com os outros. – Eu ainda quero brincar! – disse dando um sorriso psicótico.

Joguei-me no chão antes que seu cutelo me cortasse e fui rolando até o outro lado da sala, para a mesa onde estavam partes de bonecas. Depois me levantei desajeitada e comecei a correr dando voltas na mesa.

– Que divertido! – disse a boneca correndo atrás de mim, então choramingou. – Ally-chan, me espera!!!

– Claro que sim. No dia que a porra do inferno congelar! – gritei correndo ainda mais.

Eu olhei pra trás, Maya-chan já não estava mais lá. Ouvi um baque e olhei pra cima, ela acabara de pular em cima da mesa, então caminhou sorrindo até o lugar onde eu estava.

– Que bom! Amaya alcançou a Ally-chan! – disse saltitante, então pulou no chão a poucos centímetros de mim. – Você quer voltar a brincar, Ally-chan? – disse com um sorriso sarcástico e a sobrancelha erguida.

Virei e lhe dei um chute no estômago, não era hora de começar a gritar para ver se o mocinho me salvava. Ela caiu no chão desorientada e começou a rir.

– Obrigada pela diversão!

Olhei de forma descrente pra boneca.

– Morra vadia! – gritei correndo enquanto pensava no que poderia usar para matar a boneca – como raios se mata uma boneca? –.

– Olha a boca, Ally! Assim o moço bonito te larga! – gritou a boneca, correndo atrás de mim com o cutelo.

Eu a olhei assustada.

– Vá pro inferno, seu projeto de Barbie que deu errado!

A observei por um momento: ela nem sequer estava cansada.

– Não me compara àquela boneca superficial, por favor! – disse inflando as bochechas. – Assim você fere meus sentimentos!

– E desde quando bonecas têm sentimentos? – gritei voltando a correr.

Isso, Ally, digo a mim mesma com sarcasmo, continue desse jeito que você não morre logo.

Eu senti um calafrio, então me virei: a boneca já não estava lá. Suspirei, então voltei a olhar pra frente.

Amaya estava na minha frente com um sorriso psicopata no rosto, a cabeça abaixada fazia com que a franja tapasse seus olhos, mostrando apenas o sorriso e o líquido preto que saía dele.

– Tem razã, bonecas não têm sentimentos! – disse com a voz gelada, dando um golpe rápido com o cutelo em mim.

Eu teria me machucado, mas percebi a oportunidade: peguei um dos “bozos” de Ethan – que pareciam fazer fila para enfrenta-lo – e jogando na minha frente. A boneca atravessou seu cutelo nele e não no meu peito, felizmente.

– Que garota baixa, você, Ally! Usando os outros pra se salvar.

– Você usa o que pode, boneca – disse voltando a correr.

Por Deus, não era medrosa desse jeito, então por que eu não conseguia parar de correr?

Voltei para a mesa e peguei uma perna grande de boneca para usar como arma. Um cutelo x perna de porcelana... Como a Sra. B disse uma vez, eu não costumo ter boas ideias.

– Ally! Eu estou cansada de correr! Unf! Deixe-me te pegar logo, deixa! Deixa!

Por que essas coisas só aconteciam comigo? Não via bonecas levantando dos túmulos e vindo atrás de Norah ou Annabelle.

Que se dane, eu pensei, se eu ia ser morta por uma boneca, não ia ser porque fiquei correndo por aí e ela conseguiu me pegar. Virei-me para ela, agarrada a perna, e comecei a correr em sua direção enquanto gritava – por algum motivo desconhecido sempre que as pessoas iriam contra-atacar elas gritavam –. A boneca parou um pouco surpresa, então sorriu.

– Isso, boa menina! – falou parada me esperando com o cutelo apontado na minha direção.

Coloquei a perna na direção do cutelo e bati a perna nele, evitando que ele me cortasse, jogando-o longe com toda a minha força. A perna havia sido quebrada no processo.

– Chegamos a um impasse, Barbie! – disse me jogando sobre ela enquanto ainda estava desorientada, tentando arrancar seu olho.

– Ally-chan!!! Isso não vale! – disse segurando meus braços.

Amaya se recuperou, me jogando longe. Caí destruindo uma prateleira, várias bonecas caíram em cima de mim. Afastei-me do local rastejando com o olhar das minis-Amayas sobre mim. Eu provavelmente nunca mais entraria numa loja de brinquedos.

– O que foi, Ally-chan? Se cansou de brincar?

Poderia não dar certo, mas eu estava a ponto de pegar uma estaca e tentar enfiar no coração dela.

Levantei-me, Amaya vinha lentamente na minha direção, andando em círculos, como se eu fosse a presa e ela estivesse brincando comigo. O que provavelmente era o caso.

– Oh, Ally, eu vou devorar o seu espírito e tomar cada gota do seu sangue, enquanto eu faço um churrasco da sua carne, então por que você só não fica aí quietinha? Eu prometo ser rápida!

Segurei o que restou da prateleira e empurrei na direção de Amaya, que foi ao chão junto com alguns de seus palhaços. Coloquei as mãos nos joelhos e respirei profundamente.

Ethan olhou pra mim, eu podia ver que ele ainda estava preocupado: fora atingido algumas vezes, provavelmente por isso. Decidi me afastar para que ele – e os outros – pudessem se concentrar.

Entrei em um dos corredores. Era tão escuro, aquela luz vermelha mal mostrava algo. Tateava as prateleiras em busca de apoio, sem enxergar direito por onde ia, só ouvindo o som de passos – talvez fossem os meus próprios, não importava –, eu precisava dar um fim naquela boneca dos infernos. Eu só... Não sabia como.

Perto do fim do milionésimo corredor ouvi um barulho, como engrenagens... Talvez fosse o painel de controle? Se fosse, eu poderia nos libertar! Talvez de toda a casa louca. Corri até o local e me deparei com um beco sem saída. A luz era mais clara e eu consegui enxergar o lugar melhor.

As paredes eram completamente brancas, havia várias bonecas em cima de mesas montando um cenário enquanto cantavam com suas vozes mecânicas.

– Me siga e acabe como eu! Me siga e acabe como eu!

A primeira mesa era como uma maquete do parque, várias bonecas imitando pessoas, mas uma me chamou a atenção: ela tinha o cabelo azul e usava óculos, ao seu lado havia uma boneca vestida de lolita, elas estavam lá como se esperassem alguém. Na segunda cena havia uma boneca de cabelo vermelho quase dando um soco, num boneco. Engoli em seco, até as roupas eram as mesmas.

A terceira cena era uma montanha russa, na cabine mais alta havia uma boneca colada ao vidro, como se estivesse com medo. Na quarta, a boneca ruiva estava escondida atrás das barraquinhas, com um grande monstro atrás, do outro lado do parque.

A próxima cena, mostrava a recepção do castelo, quando eu disse que era a noite. Olhei bem de perto para o boneco do apresentador... Ele era idêntico, até aqueles incríveis olhos verdes. Depois olhei para a próxima cena, mostrava o carrinho parando e nós escolhendo a porta. A outra maquete me mostrava entrando na sala de vidro e então surtando até que a música passasse.

Me mostrava jogada no corredor, com Ethan me ajudando a levantar, então entravamos na sala das bonecas. Mostrou no início quando entramos, com mais mini bonecas sobre mini estantes, mostrou uma mini-Amaya saindo do caixão, então mostrou sua luta comigo. Me mostrou correndo pelos corredores e então a última maquete. Mostrava-me observando uma maquete, que observava uma maquete e então atrás da boneca de cabelo ruivo havia outra boneca, seus olhos estavam encobertos pela franja e seu sorriso mais aberto que o do coringa.

Andei pra trás, então senti uma mão gelada no meu ombro.

– Peguei você.


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Notas finais do capítulo

http://letras.mus.br/tears-for-fears/39669/
Postei rapido dessa vez, porque tenho a esperança de que vocês sejam legais e comentem ♥ (E eu to falando serio, fico tão feliz quando vocês comentam :') )
Espero que tenham gostado, eu particularmente tenho um pouco medo desse final, fiquei olhando pra trás ver se tinha alguma coisa atrás de mim enquanto escrevia -q (sou cagona sim, 2bjs)
Obrigada a todos por lerem, e até a proxíma!



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