Os Guardiões do Véu escrita por Moonchan


Capítulo 6
Cinco – Porque as pessoas não devem assistir Jogos Mortais


Notas iniciais do capítulo

Denn du bist was du isst
Und ihr wisst was es ist
Mein Teil (Nein)
Mein Teil (Nein)
Denn das ist Mein Teil (Nein)
Mein Teil (Nein)

Por que você é, o que você come
E você sabe, que é o que ele é
É minha parte (não)
Minha parte (não)
esta é minha parte (não)
Minha parte (não)

Die stumpfe Klinge gut und recht
Ich blute stark und mir ist schlecht
Muss ich auch mit der Ohnmacht kämpfen
Ich esse weiter unter Krämpfen

O corte parece certo e bom
Eu sangro demais e passo mal
também tenho que lutar contra o desmaio
continuarei comendo mesmo sob espasmos
Mein Teil -Rammstein



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Cada pessoa no cômodo prendeu a respiração. Eu comecei a repensar meus conceitos sobre a casa.

Com certeza não fora uma boa ideia vir para um lugar que realmente me dava medo, enquanto eu tentava impressionar o cara dos meus sonhos. Claro, e eu já mencionei topar com a Megan Fox? Quer dizer, não a verdadeira, mas tão bonita quanto... Com tudo aquilo de olhos azuis e cabelo preto perfeito... E então eles ficarem trocando olhares? Quer dizer, eu queria sair de lá, naquele mesmo instante, e escorregar para os meus pijamas quentinhos, enquanto assistia ao Dean e o Sam se fodendo de algum jeito.

– Olhem aquilo – disse um nerd de óculos, que havia vindo conosco, acenando em direção a um quadro.

Fomos até lá. A imagem no quadro era uma sala como um consultório médico. Tentei abrir a porta e dessa vez ela cedeu com um clique.

– Como vocês podem ver... – disse a voz. – Não há saída. Então explicarei as regras. Todas as portas estão trancadas, menos essa. O quadro ao lado de cada porta terá uma dica do que os aguarda e o que têm que achar para destrancar a seguinte. Não há outra maneira de destrancá-las. Quando vocês abrirem todas as quatro, a quinta e última porta será aberta. Se conseguirem passar por ela, terão a liberdade de vocês – ficamos em silêncio, por alguns minutos. – Espero que consigam completar a tempo. Todos devem entrar na sala, nenhum fica no corredor ou vai me encontrar pessoalmente – finalizou rindo.

A Megan jogou seu lindo cabelo para trás, revirou os olhos e então escancarou a porta.

– Eu não quero ficar aqui para sempre – disse ela entrando e nos deixando para trás.

Sem pensar muito sobre o quão burra tinha sido a minha atitude, eu entrei, imitando a pose de destemida da garota, para que ninguém visse o quão assustada eu estava. Em momento algum eu perderia para aquela garota.

Ethan, veio logo atrás de mim.

A sala tinha um cheiro de sangue, fortíssimo, chegava até a causar enjôo, eles certamente não haviam economizado no sangue naquele lugar, porque parecia estar impregnado em cada canto da casa. Das pessoas que haviam entrando conosco na porta de madeira, duas eram um casal mais “velho” e quatro eram garotos da nossa idade mais ou menos, com caras de nerds. Eles nos seguiram e quando o último entrou, a porta se fechou. Nem nos demos o trabalho de tentar abri-la outra vez, sabíamos o que ia acontecer.

As luzes se acenderam novamente.

Duas palavras pra você: Jogos Mortais.

A sala era grande, as paredes repletas de instrumentos de tortura cobertos de sangue seco, no meio da sala havia uma daquelas camas de hospitais com amarras; estava forrada e parecia haver um corpo lá, com uma enorme mancha vermelha. Ao lado da cama, havia uma mesinha com mais objetos de tortura: um bisturi, um alicate, um cutelo e, pendurados no teto, um gancho, uma coleira de espinhos e algumas daquelas armadilhas de urso.

O chão era bem claro, coberto com – mais sangue – pedaços de vidro e chaves, muitas, muitas chaves, de todos os tipos e tamanhos.

Megan perambulava pela sala, sem parecer se importar, avaliando tudo, pegando os objetos de tortura. A temperatura começou a ficar mais quente e ouvimos um estalo. A origem do barulho? O chão, que tinha começado a rachar diante dos nossos olhos.

– Eles realmente investiram nos efeitos – murmuro.

O piso parecia uma espécie de gelo, não vidro como tinha pensado no inicio e sabe qual a melhor parte? O que estava embaixo do gelo era um penhasco. P-e-n-h-a-s-c-o. E não era um qualquer; nas laterais dele havia aqueles grandes espetos de gelo e nesses espetos havia corpos. Corpos arroxeados... E muito humanos, dando a impressão que alguém realmente tinha caído lá embaixo. Lá no fundo, podia se ver uma jaula, como se para um animal gigante de zoológico. Eu nem queria imaginar o orçamento da casa.

Novamente tudo ficou mais quente e, tentando se afastar do meio da sala, que dava direto para a jaula, um dos garotos cortou a mão em um bisturi.

– De-desculpe – murmurou com a voz esganiçada. O garoto era rechonchudo, com enorme cachos dourados e usava uma blusa do homem-aranha.

Então uma TV apareceu do nada sobre a parede e ligou sozinha.

– Olá! – disse a voz, mas dessa vez ela surgiu no monitor usando uma máscara do Hannibal! Dr. Hannibal Lecter. Muito original! Pelo menos a voz tinha um rosto agora, só esperava que isso não quisesse dizer que ele queria nos comer. - Vou ser breve sobre as regras da primeira sala. Vocês têm trinta minutos para achar a chave que os levará para fora daqui; a porta se abrirá assim que encontrarem a certa ou o chão vai rachar e vocês todos vão despencar! – falou gargalhando. – Só lembrem-se: quanto mais chaves erradas vocês pegarem, mais rápido o clima esquentará e o chão se quebrará – a tela ficou preta e então azul.

Começou a tocar uma daquelas músicas irritantes de espera de ligação, aquela do Beethoven que sempre estava em caixas de música.

Ethan se aproximou de mim.

– Já vai gritar agora?

Olhei pra ele carrancuda, quase o mandando falar com a sua nova amiguinha.

– Acha que vou gritar tão fácil assim?

Ele deu de ombros.

– Talvez – respondeu, olhando no fundo da minha alma, com aqueles incríveis olhos castanhos.

Antes que eu pudesse me recompor e pensar numa resposta esperta, um dos nerds me interrompeu:

– O que exatamente estamos procurando?

– Uma chave – respondeu o cara mais velho, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Eu sei, mas que tipo de chave? – disse envergonhado, olhando para o chão.

O ar fica mais quente novamente nos lembrando que tínhamos trabalho a fazer.

Fui para perto da parede olhando os instrumentos de tortura, que não fazia ideia do nome, tentando ficar o mais longe possível da origem do som; meus ouvidos chegavam a doer. Suspirei aliviada quando a música pareceu chegar ao fim, mas então ela recomeçou, duas vezes mais alta. Eu quis que o chão se abrisse para poder me jogar nele. Bem, talvez nem tanto.

– Vamos procurar – disse alto, por cima da música. – Antes que eu fique louca.

Ethan deu um meio sorriso e me seguiu até o outro canto da sala.

– De novo: o que estamos procurando exatamente? – perguntou.

– Não tenho a mínima ideia – disse pegando um bisturi da parede. Vi o gelo derreter mais um pouco enquanto o ar ficava mais quente; retirei a blusa de Ethan e a amarrei na cintura. – Desculpem-me! – murmurei envergonhada quando percebi que estava sendo encarada e que a mudança súbita de temperatura foi minha culpa.

A sala tinha um padrão: cada vez que a música parava, quando recomeçava, dobrava o volume e a temperatura aumentava outra vez, fazendo as poças crescerem cada vez mais.

– Será que alguém pode achar essa droga de chave antes que eu pegue um desses ganchos e me espete? Por favor? – disse A garota, parecendo esgotada.

Mesmo contrariada eu tinha que admitir – apesar de não querer ter nada em comum com ela – que, com toda certeza, eu estaria logo atrás dela.

O chão derreteu mais um pouco, formando enormes poças de água. Ficamos mais preocupados. Eu podia sentir que o piso estava começando a ceder, não queria acreditar nisso, mas eu poderia apostar que ele se despedaçaria mesmo.

– Uma chave. Talvez seja tão óbvio quanto parece! – disse um garoto usando uma camiseta com um Stormtrooper , se abaixando e começando a procurar.

Todos nós fizemos o mesmo enquanto olhávamos desesperadamente para a parede para ver se a porta voltava a abrir. O calor aumentou, mas o chão havia parado de derreter.

Eu comecei a procurar no chão e alguns cortes começaram a surgir nas minha mãos: elas estavam tão frias e geladas que mal respondiam aos meus comandos. Eu não era uma garota do frio, sério, minha pele... TUDO parecia ser extrassensível ao gelo.

O barulho se tornava cada vez mais alto e irritante, fazia com que eu tampasse meus ouvidos com tanta força que tinha impressão que logo eles afundariam até meu cérebro. Onde estava aquela maldita chave? Perdi a conta do tempo, naquela sala ele parecia não passar. A blusa de Ethan, amarrada na minha cintura, estava tão suja, que o único jeito seria lhe dando uma nova.

A música aumentou novamente, o casal parecia pior que todos nós. O homem teve um surto, gritou e pegou o cutelo em cima da mesa, mirando na caixa de som, que foi partida ao meio soltando um monte de fagulhas. A música parou e por alguns poucos minutos houve um silêncio tranquilizador.

– Vocês acharam que seria tão fácil? – disse a voz gargalhando.

Um dos alto falantes caiu no chão e a música recomeçou mais alta. Meu cérebro ficou em piloto automático; não conseguia pensar, tudo era só “eu preciso achar a chave, eu preciso achar a porcaria da chave”.

– Vocês já pararam para pensar que ela pode estar aí na cama? – disse fazendo uma careta. Nos encaramos, vendo quem teria coragem de tirar o lençol da cama. – Alguém quer pegar? – perguntei depois de um longo silêncio. Era a única possibilidade que eu conseguia pensar.

– Eu vou – disse Ethan, revirando os olhos para a nossa covardia.

Ele foi até lá e puxou o lençol de uma vez: um cadáver estava na mesa. Os pés tinham sido arrancados, o maxilar estava aberto, como o da “múmia”, não havia muita pele no corpo, mas uma pequena chave estava pendurada no pescoço. Ethan rapidamente a tirou e deu de ombros quando nada aconteceu, mas quando ele se afastou a coisa se levantou e sentou repentinamente na cama, segurando o seu pulso. A múmia tentou morde-lo, eu pulei com o susto, mas Ethan tinha bons reflexos: sua outra mão pegou o cutelo ao lado e ele cortou a cabeça do esqueleto, soltando seu pulso, enquanto os restos do corpo caíam no chão. Ele sorriu para nós vitorioso.

Mas não houve muito tempo para comemorar.

Primeiro a música parou. Depois ouvimos o barulho da jaula ser aberta. E então a porta. Os membros foram para longe com o impacto que o bicho criou ao sair da prisão. Era uma cobra. Uma cobra gigante. Ela olhou pra nós e, por alguns segundos, permaneceu quieta fazendo aquele assustador barulho com a língua.

Como se alguém tivesse dado o tiro de largada, começamos a correr, todos ao mesmo tempo. Quando me dei conta, era a única que restava – é isso que eu ganhava por matar aula de Ed. Física – ainda dentro sala. Por um momento, podia jurar que a cobra olhava nos meus olhos, vendo dentro de mim. Eu não era o Harry Potter ou Voldemort, mas sabia o que aquele olhar significava: ela viria por mim. Pela minha alma.

Corri o mais rápido que pude, algo difícil de fazer com as minhas pernas moles e queimando, mas sabia que não daria tempo de sair da sala. Então fiz a única coisa que me veio em mente, peguei impulso e pulei no instante em que a cobra quebrou a fina superfície de gelo que restava.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leram, espero que estejam gostando, e qualquer review é bem vindo



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