Os Guardiões do Véu escrita por Moonchan


Capítulo 3
Dois – We need to talk about Annabelle


Notas iniciais do capítulo

Well, I... I set my sights on you
(and no one else will do)
And I, I've got to have my way now, baby
All I know is that to me
You look like you're havin' fun
Open up your lovin' arms
Watch out, here I come
You spin me round – Dead or Alive



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Dois

Norah

We need to talk about Annabelle

Well, I... I set my sights on you
(and no one else will do)
And I, I've got to have my way now, baby
All I know is that to me
You look like you're havin' fun
Open up your lovin' arms
Watch out, here I come

– You spin me round - Dead or Alive

Ela estava parada, encostada em um poste, seus cabelos azuis brilhando contra a lua. Então seus olhos se encontraram.

Eu estava te esperando, preciso falar com você.

E o que nós temos pra falar? Lembra? Você deixou isso bem claro!

Eu quero que você pare de infernizar a minha vida. Agora.

E desde quando você tem vida? Você é só uma guardiã.

Cale a boca, Dylan. Você também é um guardião, por que você faz isso? Por quê?

Seus olhos se encheram de raiva e ele segurou a garota pelos pulsos, pressionando-a contra o poste.

Você não sabe mesmo? – perguntou com raiva.

Então o garoto se abaixou e a beijou violentamente.

Não, ela havia dito diversas vezes. Não havia espaço para ele em sua vida, promessas infantis ou entre famílias não valiam nada. Ela devia se concentrar, era por um bem maior que lutava, uma existência maior que a sua.

Mas ela não fez isso, tudo que ela conseguia pensar era na boca do bonito caçador na sua, consumindo-a, abaixando suas defesas de gelo. Passou a mão pelo seu cabelo e o trouxe mais pra perto, quis fazer isso por tanto tempo, mas tinha medo... Medo de não se conter.

Ele se afastou, pondo um fim naquele beijo; aquela fina conexão entre eles quebrada em mil pedaços.

Agora você sabe – disse virando-se, indo para a rua de sua casa.

Ela o observou, seus cabelos negros e encaracolados, o corpo alto e musculoso se afastando.

O que eu farei agora? Perguntou a si mesma.

Ally

– Explique de novo, por que eu vou concordar com isso? – esperei You spin me round começar a tocar no Just Dance de Norah.

“Yeah, I, I got to know your name Well, and I, could trace your private number baby.”

– Liberte a sua diva interior, Ally! – disse ela enquanto ignorava minha pergunta.

– Eu vou libertá-la na sua cara se não começar a falar – girei 360° para ganhar um mísero OK.

– Poxa! Até a Norah concorda e você não?

– Bom, isso porque, provavelmente, você drogou a bebida dela enquanto ela estava distraída.

Annabelle cruzou os braços e fez um beicinho adorável.

– Por favor!

Ela estava vestindo um vestido rosa, fofinho e rendado, enquanto fazia carinha de piedade. Era quase como dizer não à uma criança.

– Você sabe que eu odeio encontros arranjados.

– Aceite logo – disse Norah, aparecendo na porta com uma bandeja com sanduíches. – Ou ela jamais te deixará em paz.

– Tudo bem – disse com um suspiro. Lá se foram meus planos de passar uma noite feliz de garotas, com meus pijamas quentinhos e feios, enquanto assistimos filmes e dançamos até não aguentarmos mais, no quarto foda de Norah.

– Agora termine essa música e vá tomar banho, aproveite e lave esse cabelo direito. Temos que te deixar bonita!

– Isso vai ser uma missão impossível – disse eu quando minhas cinco estrelas aparecem na tela. Era uma das únicas músicas que eu conseguia dançar certo.

– Sorte sua que eu sou o Ethan Hunt.

– Certo – peguei um sanduíche.

O quarto de Norah era maravilhoso, mas não podia se esperar menos, já que a família dela era podre de rica – o pai tinha uma empresa de softwares e a mãe era médica –. As paredes eram azuis e o chão de madeira escura, uma cama de casal estava na lateral alta e você tinha que subir alguns degraus para chegar até ela. Ao lado tinha um desses acentos de janela e no meio do quarto havia uma mesa de centro com dois sofás coloridos e dois pufs rosas. Na parede uma TV enorme, com um Xbox em cima de uma cômoda branca. A entrada para o closet era enorme e havia um banheiro escondido dentro dele.

– Você sente falta de casa? – perguntei a Norah enquanto beliscava outro sanduíche, ignorando uma Annabelle impaciente.

– Eu sinto um pouco de saudades de vocês. Bem pouco – disse brincando. – Mas lá é legal, temos aulas o dia inteiro e eu ainda não tenho uma colega de quarto – deu de ombros.

St. Valence funcionava como um internato, tinha pessoas de vários lugares do país e do mundo estudando lá; aqueles que moravam por perto tinham permissão de voltar pra casa nos fins de semana e algumas vezes depois das aulas, mas havia dormitórios, porque a escola era bem longe da cidade. Raramente víamos um aluno de lá perambulando por aqui.

– Certo, agora vá, Ally! – disse Annabelle.

– Mas...

– Vá logo. Eu vou escolher uma roupa pra você.

Eu senti um frio na espinha, Norah me deu um olhar divertido. Annabelle era uma Lolita, então você podia imaginar que tipo de roupas separaria para mim.

Peguei minha toalha e um peça de roupas limpas e fui para o banheiro chiquérrimo de Norah, demorei no banho tanto quanto pude, lavando cuidadosamente meu cabelo e desembaraçando, com medo do que Annabelle guardava para mim essa noite. E meu problema não era só pela roupa. Sequei a mim e aos meus cabelos: eles estavam mais macios e bonitos depois que eu desembaracei, caindo em um liso meio ondulado até o meio das minhas costas. Vesti minha roupa e saí de lá, para encontrar as duas me avaliando dos pés a cabeça.

– Parece que teremos muito trabalho hoje – disse Annabelle, pegando "A" maleta.

*********

Duas horas se passaram até que elas se dessem por satisfeitas. Felizmente Norah estava lá e não deixava que Annabelle fizesse algo de extravagante, mas estava distraída, o tempo todo tínhamos que chamar sua atenção para que ela focasse em nós. Naquela tarde me dei conta do quanto sentia falta dela e de como ela havia mudado. Agora seus cabelos, antes loiros, estavam em um bonito azul celeste e parecia que ela havia emagrecido e ganhado músculos, além de estar ainda mais séria e segura de si; ela sempre foi um pouco assim e por isso nós a apelidamos de rainha do gelo. Minha melhor amiga era a pessoa mais fria que eu conhecia.

Depois de me maquiar Annabelle foi se arrumar, deixando-me sozinha com Norah.

– O que ela usou para te fazer concordar com isso? – perguntei à ela enquanto olho o que Annabelle havia separado. Gemi baixinho ao ver um vestido preto, cheio de rendas, me esperando. Ignorei o vestido e procurei algo nas minhas próprias roupas.

– Não sei – disse tirando os óculos e revelando dois bonitos olhos azuis. – Tem muito tempo que não vejo vocês e, se é isso que ela quer, como dizer não? Ninguém nunca consegue, na verdade.

– Ela parece um demônio – eu disse rindo.

– Vista isso – disse me dando uma calça jeans azul marinho justa e uma blusa minha do Batman, que eu havia esquecido lá há um tempo. – Ela vai te matar se usar sua calça de rapper.

Fiz o que ela disse e, pra completar, peguei a minha jaqueta jeans no mesmo tom. Vesti meus coturnos surrados e então fui para o espelho junto à Norah para me avaliar: ainda parecia magra demais, se quer saber, reta e reta, mas Annabelle havia feito um bom trabalho com meu rosto, tinha escondido quase todas as sardas e o machucado na minha bochecha e, tirando todos os quilos de maquiagem que ela havia usado para fazer isso, não havia exagerado muito; apenas um traço de delineador, muito rímel e um batom incolor.

Soltei o coque em que meu cabelo estava preso e ele caiu em pseudo-ondas nas minhas costas. Tinha que admitir, eu estava apresentável, quase bonita ousava dizer, mas então me virei para encarar Norah e Annabelle e me senti desistir um pouco da ideia. Norah usava uma calça jeans preta e uma blusa branca simples com detalhes de renda na barra junto com um colete preto, os cabelos azuis ondulados estavam graciosamente arrumados indo até um pouco abaixo do peito e ela havia abandonado os óculos, mostrando os olhos azuis bem maquiados e a boca coberta por um batom vermelho. Annabelle parecia uma boneca de 1,60, o cabelo loiro morango indo até as costas com cachos grossos nas pontas e um vestido claro e delicado com estampa de florzinhas. Ela era descendente de asiáticos então tinha olhos pequenos, castanhos e puxados, que fazia questão de puxar ainda mais com um delineador. Elas eram absurdamente lindas.

Annabelle fez uma careta vendo minha roupa.

– Não sei por que ainda tive a ilusão que ia se vestir com a roupa que eu separei.

– Você gosta de sonhar.

– Pelo menos não está indo de moletons, com essa roupa você até parece uma garota.

– Eu sou uma garota.

– Não age como uma na maioria das vezes.

Semicerrei os olhos e a encarei mal humorada.

– Eu ainda posso desistir.

– Pode – disse fazendo beicinho. – Mas não vai.

– Deus, como eu te odeio.

Ela me deu uma piscadela.

– Eu também amo você.

– Muito amor, certo – disse Norah balançando as chaves do carro. – Mas vamos logo?

Nós entramos no carro, não me pergunte a cor ou modelo, a única coisa que sabia é que era um sedã preto e bonito. Não demorou muito para que chegássemos lá, Norah corria como uma louca. Como era de se esperar, o parque estava lotado. Ficava no píer da praia; eu não era muito fã de água, mas adorava a brisa do mar, me fazia sentir acordada. O parque me deixava tonta e eletrizada, tantas corres e luzes, era tão bonito e enorme, a maioria dos brinquedos eram em cores vivas e chamativas, como vermelho e azul. Meus brinquedos preferidos eram os de velocidade, eu ADORAVA ir rápido, sentindo algo me consumir, adrenalina correr pelas minhas veias. E, claro, como todo bom parque, tinha muitas pessoas em um só lugar e muitos demônios para me infernizar.

Por alguma razão eles sumiam quando Norah estava por perto. Só conseguia essa paz com outra pessoa: meu pai, mas ele nunca estava por perto. Houve só outro momento que os demônios se afastaram. Com ele.

– Então – disse Norah depois que saímos do carro. – Onde ele vai nos encontrar?

– Combinamos perto do carrossel – disse Annabelle com um sorriso que tocava os olhos.

Tudo que podia fazer era me sentir feliz por ela e engolir meu mau humor. A vadiazinha sabia que eu faria tudo por ela e abusava disso. Nós andamos através da multidão e eu fiquei feliz por ter Norah por perto: normalmente lugares com muitas pessoas eram cheios de demônios, com ela, eles simplesmente não me incomodavam; como se eu fosse uma adolescente sem toda essa merda, que o único problema era ter uma amiga diabólica.

A brisa trazia o cheiro de comida e o que fazer se eu simplesmente amava porcarias?

Assim que chegamos, vimos Eric e um amigo. Annabelle foi correndo até ele e ele a abraçou e girou como se ela fosse uma princesa, então lhe deu um beijo terno.

Eu não conseguia evitar sorrir.

Norah, eu e o amigo de Eric ficamos nos encarando sem graça quando eles não se soltaram. Norah pigarreou tentando chamar a atenção do casal e eles voltaram a atenção para ela um pouco constrangidos.

– Que tal pararem de se agarrar um pouco? – disse erguendo as sobrancelhas.

– Norah esse aqui é o Tyler – Eric apresentou ruborizando. – E Ally, o Ethan já vem vindo, ele teve um imprevisto.

– Tudo bem – disse sorrindo, apesar do medo de acabar ficando de vela.

Quando Tyler e Norah trocaram aquele profundo olhar de quem acabou de ter uma conexão, eu sabia que precisava arrumar algo para fazer, mas não a culpava, ele era um rapaz até bonito: tinha a pele café com leite, cabelos pretos e lisos, olhos castanhos puxados, além de ser mais alto que ela, o que queria dizer que provavelmente tinha 1,80 ou mais. Ele era lindo, com traços indígenas.

– Vou comprar um refrigerante – disse, mas eles nem se importaram muito.

Saí para enfrentar uma fila enorme para o refrigerante e quando chegou a minha maldita vez, o atendente parecia ainda mais mal humorado que eu. Simplesmente não achava que isso fosse possível, mas senti como se estivesse perto de uma alma irmã e acho que ele pensou o mesmo, pois me deu um sorriso complacente e me desejou boa sorte. Ou ele sabia da situação fodida em que me encontrava ou achou que pela minha cara estava com alguma doença em estado terminal. Acho que foi a segunda opção, o que não deixava de ser mentira apesar de tudo, afinal eu podia aparecer morta a qualquer momento, certo? Caminhei de volta até meus amigos e me preparei para ouvir que meu “encontro” não vinha enquanto dou pequenos goles no meu refrigerante.

– Me dá um pouco? – pediu Norah quando cheguei.

Passei-lhe o copo tamanho L, quando ouvi uma voz atrás de mim.

– Me desculpem o atraso – falou sem fôlego. – Eu tive um pequeno contratempo.

Eu me virei e lá estava ele.

– Você! – foi a última coisa que disse antes de me preparar para lhe dar um soco.


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Notas finais do capítulo

Bom, leitores que eu tenho (ou não), espero que estejam gostando! AGORA sim as coisas vão realmente se agitar, o próximo capitulo será narrado pelo Ethan, então espero que gostem desse e deixem comentários, o que me fará feliz e querer postar logo