Os Guardiões do Véu escrita por Moonchan


Capítulo 21
Azul não é a cor mais quente


Notas iniciais do capítulo

Chegue um pouco mais perto, então você verá
Vamos lá, vamos lá, vamos lá
As coisas nem sempre são o que parecem ser
Vamos lá, vamos lá, vamos lá
Você entende as coisas que vê aqui?
Vamos lá, vamos lá, vamos lá
Você entende as coisas que você tem sonhado?
Chegue um pouco, então você verá!

Mágoas, que me fazem descansar em seu ombro
Será que nós vamos queimar ou apenas arder?
De alguma maneira eu sei que eu te encontrei lá
Ooh, quero ver se você pode mudar isso
Ainda assim, eu sei, eu vejo você lá
Esse capítulo marca o fim da primeira parte da história.
Obrigada a todos vocês que estão comentando, vocês quem me motivam a escrever e postar aqui.
Esse capítulo vai pra vocês!
Muito obrigada.



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(POR FAVOR, LEIAM A TRADUÇÃO NO INÍCIO)

Come a little closer, then you'll see
Come on, come on, come on
Things aren't always what they seem to be
Come on, come on, come on
Do you understand the things that you would see here
Come on, come on, come on
Do you understand the things that you've been dreaming
Come a little closer, then you'll see

Heartbreaks, that have me rest upon your shoulders
Will we burn or we just smolder?
Somehow I know I found you there

Come a Little Closer

Havena estava com as mãos protetoramente nos meus ombros, como se me consolasse, quando saímos da sala de Micaela. Tudo que eu tinha acreditado a minha vida toda havia mudado em menos de uma hora.

Eu me aproximei de Ethan, colocando a mão em seu ombro, pensando nas várias perguntas que queria que ele me respondesse. Mas ele se afastou do meu toque, nossos olhos se encontraram e ficamos lá nos encarado como se não estivéssemos parados no meio do corredor, com Michi, Havena e Will nos olhando. Nos olhos de Ethan havia uma escuridão que eu nunca tinha percebido antes.

Então ele quebrou o nosso pequeno contato e suspirou.

            – Agora não, Ally, agora não.

Ele virou-se e foi embora, deixando-me frustrada e com mil perguntas passando pela cabeça, enquanto o observava.

            – Eu sinto muito pelo Ethan – disse Will, parecendo constrangido com o clima que ficara no corredor. Ele se despediu com um aceno logo depois e correu atrás do amigo.

Fiquei lá, encarando o nada e me perguntando o que exatamente deveria fazer agora.

            – Vocês podem vir comigo... – sugeriu Havena, sorrindo sem graça. – Parece que ganhei novos colegas de quarto!

Eu lhe dei um sorriso forçado e a segui pelo corredor junto de Michi, que parecia estar aceitando os fatos muito melhor do que eu.

Nós saímos do prédio onde ficava a sala de Micaela e atravessamos o gramado, até chegarmos em uma construção enorme de pedra com quatro andares; o quarto de Havena ficava no último e não existiam elevadores. Na entrada estava uma mulher na faixa dos 40 observando o movimento: Havena nos contou que seu nome era Evylin e ela era a nossa monitora, encarregada de não deixar ninguém sair ou entrar depois do horário.

Arrastei-me pelos lances de escadas. Havena explicou que em cada andar havia uma sala comunal onde as meninas poderiam interagir umas com as outras, mas isso não acontecia com frequência, porque quase todas as meninas se odiavam.

No quarto andar nós passamos por inúmeros corredores: as paredes eram marrons e o chão era forrado por um longo e felpudo tapete vermelho. Por fim chegamos em um quarto ao final do corredor; os quartos mais próximos pareciam vazios e o lugar era mais gelado e escuro que os outros por onde passamos para chegar até ali.

Havena suspirou em frente a porta de madeira antiga.

            – Se eu soubesse que ganharia colegas de quarto teria arrumado isso.

            – Está tudo bem! – disse a ela.

Realmente estava, eu tão pouco era muito organizada.

Ela abriu a porta e nos deparamos com um quarto muito bagunçado. As paredes brancas estavam cobertas com posters e cortinas de papel que a própria Havena parecia ter feito. Havia duas grandes camas de solteiro, uma desforrada e a outra cheia de roupas em cima, e ao lado delas ficavam escrivaninhas brancas, que contrastavam com o piso de madeira. Algumas estantes estavam presas à parede: reconheci alguns livros que gostava e percebi que podia não ser tão ruim ter uma colega de quarto.

Havena apontou o guarda-roupa branco enorme embutido na parede.

            – Nós vamos dividir o guarda roupa assim que você pegar as suas coisas. – Ela disse, parecendo envergonhada. – A porta do meio dá para o nosso banheiro particular... Mas cada andar tem um comunitário para o caso de sua colega de quarto demorar muito. Eu particularmente não gosto deles, são muito antigos e sinistros.

            – Ok... Obrigada – respondi enquanto ela recolhia as coisas do que seria a minha cama.

            – Disponha... Eu sei como é difícil ter seu mundo virado de cabeça para baixo assim... O que eu puder fazer para ajudá-la, Ally, pode contar comigo!

            – Obrigada, Havena...

Ela sorriu, jogando as roupas que estavam na minha cama em cima de sua escrivaninha.

            – Vocês querem tomar um banho? Eu tenho algumas toalhas aqui.

            – Adoraríamos – respondeu Michi, parecendo exausto.

            – Você pode ir primeiro – disse a ele, que apenas concordou pegando a toalha de Havena e correndo para o banheiro.

Eu me joguei na cama e fiquei olhando para o teto do quarto. Era completamente azul.

Azul como os cabelos de Norah.

Me levantei em um pulo.

            – Havena, todas as pessoas nessa escola podem ver através do véu?

            – Sim... – Ela respondeu hesitante. – Esse é o objetivo da escola.

            – Você conhece uma garota de cabelos azuis? Ela se chama Norah.

            – A Wood? – perguntou Havena, parecendo assustada.

            – Ela mesma.

            – Ally... Ela é uma sangue-puro.

Me senti tonta assim que ouvi sua resposta, como se estivesse prestes a desmaiar.

            – Qual o quarto dela, Havena?

            – Eu não sei se posso te dizer isso.

            – Por favor, Havena. Ela é... era minha amiga.

            – Quarto 505ª. – Ela disse em um suspiro. – Nesse andar mesmo.

            – Obrigada.

Saí do quarto desesperada, não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Não entrava na minha cabeça que uma das minhas melhores amigas pudesse participar desse mundo. E pior: saber a verdade sobre mim e nunca ter dito absolutamente nada.

Depois de alguns minutos perambulando, consegui achar o bendito quarto. Bati com toda a força que pude até ela abrir a porta. Os cabelos azuis estavam bagunçados, ainda usava o pijama e estava sem os óculos.

Aquela foi a primeira vez na vida que eu consegui surpreender Norah.

            – Ally? O que você faz aqui? – disse hesitante.

            – Você sabia o que eu era esse tempo todo? – perguntei com a voz mais calma que pude, embora na verdade quisesse gritar e explodir.

            – Sim. – Ela disse, já recomposta.

Não consegui identificar nenhuma emoção em seu rosto.

            – Por que, Norah? Por quê?

Então comecei a rir. Gargalhar. Eu estava histérica.

            – Você sabia de tudo! – exclamei em uma mistura de emoções que não conseguiria definir. – Todos os pesadelos! Os comprimidos, as consultas! Você poderia ter me salvado! Todas as vezes que eu achei que estava enlouquecendo, você poderia ter me salvado! Norah, você era a minha melhor amiga!

            – Eu não podia, Ally. Eu tinha feito um juramento.

            – Para quem? – gritei.

            – Eu não posso dizer, sinto muito. Mas eu prometo que vou te proteger, como sempre fiz.

Gargalhei mais, sentindo a garganta reclamar.

            – Que ótimo trabalho você tem feito, Norah – disse sarcasticamente e continuei, séria. – Eu não quero você perto de mim; meu irmão quase morreu hoje e isso não teria acontecido se você tivesse feito algo.

Não esperei por sua resposta, virei as costas e fui embora, tentando enxergar através das lágrimas nos meus olhos. Corri sem rumo, a raiva estava me cegando. E mais do que raiva, uma decepção tão grande que me consumia. Foi quando eu olhei para baixo.

Minhas mãos estavam pegando fogo e o pior: eu não sentia nada.

Eu não sabia o que fazer, o pânico havia tomado conta de mim. Apenas corri para onde lembrava ser o banheiro comunitário e rezei pra que ele estivesse vazio. Ele estava.

Entrei e me tranquei dentro de um dos boxes. Abri a torneira com a boca e deixei a água do chuveiro cair sobre mim, de roupa e tudo, na esperança que aquilo apagasse as chamas. E apagou, junto com o meu ânimo.

Não sei exatamente quanto tempo levei para sair dali, só sabia que estava ensopada até a alma e meus braços estavam dormentes.

*****

Na lista das piores noites da minha vida, aquela certamente estaria no topo. Mas, de certa forma, havia sido bom, pois aquela noite havia me feito não me preocupar mais com a escolha de Micaela como colega de quarto.

Quando eu cheguei no quarto, Michi tinha adormecido na cadeira enquanto me esperava voltar, mas Havena ainda estava acordada. Ela não perguntou como tinha sido nem se eu estava bem. Não perguntou nada e, o mais importante, não falou nada a ninguém. Gostei ainda mais dela por isso.

Ela me entregou uma toalha e um pijama e colocou as mãos nos meus ombros.

            – Vocês vão ficar bem agora, Ally. Eu prometo, nós protegeremos você... E um dia você vai poder proteger a si mesma.

Eu acenei para ela e fui tomar um banho. Um de verdade.

*****

No dia seguinte acordei esgotada e sem um pingo de vontade de levantar, nem a empolgação de Michi foi capaz de me contagiar. Eu queria ficar na cama e afundar na depressão, mas nem tudo que nós queremos, podemos ter, certo?

Com muito custo me levantei e fui em direção ao banheiro; Havena estava se arrumando e Michi já estava pronto. Depois de um longo banho quente, eu me peguei olhando no espelho enquanto escorriam gotas de água pelo vidro embaçado.

Me arrependi de ter olhado.

Nas histórias com personagens ruivas, elas sempre são simplesmente lindas ou são simplesmente lindas e não sabem disso, mas a vida real não era bem assim. Eu tinha esperança de ser apenas uma fase, como uma puberdade retardatária. Meus olhos estavam fundos, com grandes olheiras, parecia ainda mais magra do que já era, o que realçava meu rosto ossudo e aquele dia, definitivamente, não era o melhor dia para o meu cabelo. Quem poderia culpá-lo? Depois de rolar no chão, ser molhado, secado e molhado de novo... Prendi-o em um coque firme e rezei pra que ele ficasse lá.

E nem queria olhar para todos os novos hematomas que estariam reluzindo na minha pele.

Com um suspiro, terminei de vestir o uniforme que Havena me emprestou e saí do quarto. Ela precisou me emprestar até mesmo os sapatos. Eu com certeza precisava voltar em casa.

            – Vamos logo! – Ela disse. – Ou não pegaremos o café.

Meu irmão concordou imediatamente e eu os segui.

Quando chegamos a saída do dormitório feminino encontramos com o Ethan.

Sabe aquelas cenas clichês de filmes onde os olhos dos protagonistas se encontram e ABRACADABRA todos estão apaixonados? Então... Foi exatamente isso que aconteceu! Er... não exatamente, mas quase.

Nossos olhos se encontraram e eu pensei:"Caramba, como esse cara é bonito. Sabe ser um completo cuzão? Sabe e como sabe! Mas é tão lindo". Congelei na porta sem saber exatamente o que fazer enquanto o sol batia contra os olhos dele, fazendo que ele os apertasse e isso o deixava com um olhar fofo e todas as viadagens do tipo. E ele realmente ficava bem naquele uniforme branco e vermelho.

Eu quis me chutar por esses pensamentos.

Quer dizer, ele tinha sido um idiota comigo ontem, a minha noite tinha sido péssima e lá estava eu, parecendo uma protagonista de romance adolescente. É incrível o que um cara por quem temos uma crush pode fazer conosco.

            – Eu acho que vocês têm que conversar – disse Havena sorrindo. – Eu levo o Michi para a aula, não se preocupe.

Meu irmão deu-lhe um pequeno olhar mal-humorado, mas concordou. Eu o abracei antes que ele partisse com Havena e disse que o amava. Os recentes acontecimentos haviam me deixado muito sentimental.

Ethan saiu de perto da árvore que estava encostado e veio até mim.

            – Olá... – Ele disse, parecendo estar sem jeito.

            – Oi... – respondi sem encará-lo.

            – O uniforme ficou bem em você.

Eu quase revirei os olhos.

            – Belo jeito de puxar assunto.

            – Eu tinha que começar de algum lugar.

            – Um ponto pela criatividade.

            – Mas eu realmente acho que ficou bem em você.

            – Certo.

A grande verdade era que eu nem tinha me olhado no espelho com o novo uniforme. Não tinha um pingo de vontade de me ver em uma saia xadrez vermelha.

            – Eu queria me desculpar por ontem... Sei que pode parecer incompreensível a minha atitude... Eu só... Eu estava assustado, Ally.

            – Por minha causa? Ethan, eu não faria mal a uma mosca.

Mas lembrei dos meus braços pegando fogo e do pequeno youkai que eu tinha incendiado no quarto de Norah e então eu já não estava tão certa disso.

            – Não por sua causa, mas pelo que você representa. Eu nunca achei que fossem te encontrar, Ally. Você me completa, você é o meu oposto.

Provavelmente como eu, vocês levaram isso para o lado romântico.

            – É como se você amenizasse a minha maldição, Ally. Você torna as coisas mais fáceis. São poucos os damneds que encontram um blessed. Você consegue sentir essa ligação entre a gente? – Ele disse se aproximando de mim.

Pensei que ele fosse fazer alguma coisa do tipo me segurar e me beijar, então rolaria toda aquela história das línguas dançantes/guerreiras e eu pensaria em como a boca dele era mais macia do que parecia.

            – Eu sinto como se você fosse uma parte importante da minha família, Ally. Eu vou te proteger, porque é essa a minha missão como damned. Mas não quero fazer isso só por ser minha missão. Você me faz bem, eu realmente gosto de você e quero ser seu amigo.

            – Eu não sei o que dizer... – respondi. – É tudo muito novo para mim.

            – Eu entendo, Ally. – Ele sorriu e passou a mão pelo meu ombro, num gesto tão fraternal que doeu. – Mas saiba que eu vou estar aqui para te ajudar em tudo que precisar e responder todas as perguntas que eu conseguir.

            – Eu posso fazer uma pergunta então?

            – Sim.

            – O que é essa coisa de maldição? Qual a sua maldição? O que isso significa?

            – Quantas perguntas... – Ele disse rindo.

Eu ergui a sobrancelha e ele parou de rir.

            – Tudo bem... Mas, por favor, não me odeie.

            – Eu não vou te odiar por algo que você não escolheu e nem pode mudar.

Ele sorriu para mim.

            – Obrigado... Eu vou te contar tudo sobre os malditos e as maldições... A minha história tem outro protagonista e o nome dele é Yan.

Naquele dia ele realmente me contou tudo. Eu aprendi sobre as treze famílias, sobre o sistema e como era injusto e sobre Yan, a segunda alma que vivia no corpo de Ethan e que podia assumir o controle em momentos aleatórios.

Depois dessa conversa eu finalmente entendi a ligação que ele e Micaela tinham dito. Era um sentimento de familiaridade. Eu sentia que podia confiar nele.

Depois disso ele virou meu amigo, às vezes eu sentia como se fosse até mais do que isso. Ethan se tornou meu melhor amigo. E eu realmente comecei a confiar nele.


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Notas finais do capítulo

Será que vocês poderiam comentar?Eu vejo os views e é tão triste saber que tão pouca gente comenta :c
Eu não mordo!
Quando eu me empolgo com os reviews a história até sai mais rápido :c



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