Os Guardiões do Véu escrita por Moonchan


Capítulo 17
Quatorze - Como a minha vida ficou mais bagunçada que o meu quarto


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo vai pra todos que estão lendo e não desistiram da história (mais ainda pra minha beta linda, que betou no mesmo dia em que eu escrevi... IDOSA, EU TE AMO ♥). Principalmente pra vocês que comentam, obrigada por ler isso, e eu sinto muito pela demora pra responder os comentários e pro capítulo novo, a verdade é que eu estava cheia de problemas pessoais, e sem cabeça pra Nyah, mas agora estou de volta, e muito obrigada por não abandonarem a história, e eu prometo que responderei cada um dos meus comentários, então não precisa ter medo de levar um vácuo./Enfim, obrigada.
Aqui vai uma dos capítulos que vocês mais esperaram por (em todos os sentidos).



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I like smoke and lightning
Heavy metal thunder
Racin' with the wind
And the feelin' that I'm under
Yeah Darlin' go make it happen
Take the world in a love embrace
Fire all of your guns at once
And explode into space

Like a true nature's child
We were born, born to be wild
We can climb so high
I never wanna die

Born to be wild
Born to be wild

Steppenwolf - Born to be wild

A Sra. B vivia me dizendo que eu nunca tomava boas decisões; de certa forma, naquele dia eu concordei com ela em gênero, numero e grau. Sendo sincera, as minhas lembranças daquele dia são quase como um borrão: tudo muito rápido e distante, como se eu estivesse lá, mas ao mesmo tempo não.

Quando Michi desligou, eu não estava mais em mim, o desespero havia tomado conta. Lembro de ter deixado Ethan sozinho e começado a correr, segurando as lágrimas e lutando com as minhas pernas trêmulas de terror, com um único pensamento: "Por favor, meu Mikael não". Eu tinha de sair dali e logo.

– O que aconteceu, Ally? – perguntou Ethan, segurando meus pulsos.

– Eu preciso ir – disse, tentando me desprender dele a qualquer custo, mas seu aperto era de aço. – Me solte! – Eu grito.

– Não vou te soltar! Não te deixarei ir até me dizer o que está acontecendo!

– Meu irmão! – Eu gritei me debatendo miseravelmente. – Ele está em perigo, eu preciso ir!

– Ele também consegue ver o que você vê? – Ethan perguntou, seus olhos castanhos acessando o fundo da minha alma.

Naquele momento eu só congelei, sem fazer ideia do que falar.

– Como... Você... – Comecei a dizer atônita, mas ele me interrompeu com um sorriso mórbido.

– Você não é louca, Ally, mas talvez seria melhor se fosse... – Ele disse a última parte com um suspiro, então afrouxou o aperto em meu pulso e me guiou de volta a sala de treino. – Venha, eu vou te ajudar a salvar o seu irmão.

Na sala encontramos Havena surrando um saco de pancadas, com Willian deitado em um colchonete a observando preguiçosamente.

– Will... Nós precisamos de um portal.

O garoto sorriu, levantando-se em um pulo.

– Ethan... Por favor... Eu preciso ir.

Ele me ignorou.

– Ela é uma de nós? – perguntou Havena.

– Ao que tudo indica, ela e o irmão... – A cada palavra que eles diziam eu entendia menos e o meu desespero aumentava. – Que, a propósito, estamos indo salvar.

Ele terminou de dizer enquanto me arrastava para fora da sala, com Havena e Will atrás de nós. Ethan só me soltou quando chegamos até uma área deserta da escola. Formamos uma espécie de roda; esperei que a qualquer momento tentassem fazer uma espécie de ritual satânico, tendo a mim como sacrifício.

– Onde seu irmão estuda? – perguntou Will, completando ao ver que eu não diria nada. – Preciso saber se quiser chegar lá rápido.

– Waynflete... – disse suspirando.

Ele acenou pra mim, então uma cratera se abriu no espaço entre nós. Uma cratera. Aparecida do N-A-D-A.

– Pule – ordenou Ethan.

– Eu não vou pular nisso! – gritei dando dois passos pra trás.

– Ally, você confia em mim?

– Não! – falei, recusando a mão que ele me oferecia.

Ele me olhou ofendido.

– Ally... – começou, mas Havena o interrompeu com um suspiro entediado.

– Quer salvar seu irmão, não quer? – disse me empurrando cratera abaixo, junto com Ethan.

Quando eu percebi já estava gritando, sem saber se o desespero que sentia era pela minha situação ou a do Mikael – provavelmente, pelas duas. Ethan me puxou para seu peito, me abraçando e dizendo qualquer coisa, que não consegui ouvir por causa dos meus gritos e da velocidade, mas, de algum jeito, me senti um pouco mais tranquila com o jesto.

De repente estava em pé, em terra firme. Meus pés estavam moles e Ethan precisou me segurar. Vi de relance a escola, pensando que Michi estava ali, em perigo, sozinho e com medo.

– Você não é louca, Ally – disse Ethan, afagando a minha cabeça. – Vai ficar tudo bem, vamos pegar seu irmão.

Havena saiu do buraco, soltando suas pulseiras. Dois Sai surgem no lugar delas. Ela olhou para nós.

– Vamos nos dividir – disse. – Quem achar o garoto primeiro dá um jeito de mandar um sinal.

– Certo – respondeu Ethan.

Nós fomos para o lado oposto: o buraco havia nos deixado dentro do terreno da escola, atrás do ginásio.

– Vamos até o prédio das salas, ele deve estar lá.

– Ok. – Ele disse.

Andamos silenciosamente pelo gramado até chegarmos em uma construção de três andares, verde e de madeira. Rodeamos o prédio até encontrarmos uma janela pela qual pudéssemos entrar sem alertar o que quer que estivesse ali dentro.

Ethan entrou, tentando me ajudar a subir e foi seu aperto que me impediu de cair. Minhas pernas ficaram moles – ainda que tivessem recuperado a firmeza pouco tempo antes – por um momento esqueci como me manter de pé. Havia algo ali, eu tinha sentido aquilo muitas vezes, mas naquela intensidade era a primeira.

Senti medo, estava a beira do desespero. Michi era tudo que eu tinha. Por incontáveis vezes pensei em desistir de lutar contra aquelas coisas, mas então o que ele faria sem mim? Como eu poderia deixá-lo sozinho, quando tudo que tínhamos era um ao outro? Eu não teria motivos para viver sem ele, se algo acontecesse seria o meu fim... Eu não teria mais nada.

Respirei fundo, juntando toda a coragem que ainda tinha, e segui Ethan, sem perguntar nada. Ele era a minha melhor chance de salvar meu irmão e se tinha algo que eu pudesse fazer por Mikael, eu faria. Sem sombra de dúvida.

– Você não está mais com medo de mim... – Ethan começou, olhando para mim. – ... e nem me enchendo de perguntas. Por quê?

– Eu não acho que você vá responder qualquer uma delas agora – respondi. – E nós temos que salvar meu irmão. Se você pode salvá-lo, eu posso confiar em você. Qualquer pergunta que eu tiver, posso fazer quando ele estiver seguro.

Ele sorriu para mim, pegando o colar de seu pescoço e puxando-o, uma espada gigante, que ia da sua virilha até alguns centímetros acima da sua cabeça, surgiu. Como se um muro em minha mente fosse derrubado, uma sensação de déjà vu surgiu ao ver aquela espada; junto com ela veio a lembrança de uma sala cheia de água e Ethan matando uma aranha gigante... Mas apenas o segui pelo corredor, acrescentando as espadas que surgiam do nada na minha lista de bizarrices do dia.

*****

Acho que dizer que aquele dia mudou a minha vida seria mais que eufemismo. Vocês provavelmente querem saber se eu achei meu irmão. Bem, eu achei. E nesse ponto precisam saber uma coisa sobre o Mikael, para entender o que aconteceu depois.

Eu nunca tinha o visto chorar. Nunca. Ele sempre foi tão... Forte. Às vezes até maduro demais pra idade, eu diria.

Quando eu finalmente o achei, estava escondido atrás de uma estante na biblioteca. Meu coração se partiu. Nunca senti tanto ódio quanto naquele momento: ninguém podia fazer meu irmão ficar daquele jeito. Ninguém!

– Está tudo bem agora, Michi. – Eu disse e o abracei, me jogando no chão onde ele estava.

Ele retribuiu o abraço, o alívio evidente em sua face.

– Você me achou, Ally – disse me abraçando mais forte. – Nós temos que sair daqui, logo... A coisa está vindo.

– O que está vindo? – Ethan perguntou, finalmente se manifestando.

Ele olhou para o Ethan com uma sobrancelha erguida e então voltou-se para mim.

– Quem é o Samurai ali?

– Está tudo bem, pode confiar nele. É um... Amigo.

Michi revirou os olhos.

– Eu não sei exatamente o que é... – começou com a expressão vidrada. – Mas, o que quer que seja, cheira como a morte. Parece uma mulher normal de costas, quer dizer, eu não sei com o que se parece, mas ela... "Aquilo" não tem olhos e os dentes são tão afiados e longos que parecem dentes de um tubarão... Os braços parecem que foram substituídos por duas espadas. E repetia uma frase... Qualquer coisa sobre o gosto que a minha carne deve ter e algo sobre uma benção... Eu não sei, não fiquei muito perto daquilo, apenas corri para a biblioteca, porque achei que seria bom para me esconder e caso precisasse fugir teria várias saídas.

Como se estivesse esperando a deixa, um barulho ensurdecedor começou., parecia com estantes caindo. Eu me levantei de um pulo, levando Michi comigo, correndo para perto de Ethan, que parecia concentrado em algo.

– Vamos sair daqui.

Começamos a andar, mas o barulho se repetia, cada vez com mais frequência e mais alto.

– Rápido!

Quando saímos do meio de algumas estantes e corremos pela porta, já quase fora da sala, um forte deslocamento de ar ocorreu: eu não tinha visto aquilo chegando, mas quando me dei conta, um barulho de metal se chocando tomava conta do lugar. Ethan estava de costas para nós, sua espada travando os braços do monstro, que estava com o rosto a centímetros do dele.

Eu não pude evitar congelar olhando para a coisa, ela era ainda pior que a descrição de Mikael. A pele pálida parecia úmida e os dentes formavam um sorriso macabro; conseguia imaginar facilmente aquela boca na jugular de alguém, pronta para arrancar a cabeça fora.

– Vocês finalmente chegaram – disse o monstro. – Eu estava esperando você, Ally. Mal consigo acreditar que fui a primeira a encontrar a Blessed. Que emoção! – a criatura continuou rindo. Então, dirigiu seu “olhar” para Ethan. – Você é só um pequeno imprevisto.

O monstro sumiu, com uma espécie de ultravelocidade, e voltou a aparecer com as espadas/braços prontos para acertar Ethan, que no último segundo defendeu, usando as duas mãos para aguentar o impacto do golpe.

– Corra, Ally! – Ele gritou. – Saia daqui! Ache Havena.

Sua voz me tirou do meu torpor e fiz exatamente o que ele disse, corri para bem longe dali, com meu irmão logo atrás de mim.

Nós fomos para o andar inferior. Meu plano era achar Havena, algo me dizia que seria mais seguro perto dela, mas um barulho vindo do outro andar me fez mudar de ideia: um som parecido como um corpo sendo arremessado na parede. Logo pensei que talvez – só talvez – nossa melhor opção no momento seria nos esconder. Nos esconder e começar a rezar.

Entramos no que parecia ser um laboratório de química, não havia um lugar que coubesse nós dois juntos, então Michi se escondeu embaixo de uma das bancadas e eu atrás de um armário; qualquer coisa eu poderia quebrá-lo, havia um Becker de ácido fluorantimônico trancado lá.

Foram os minutos mais longos da minha vida, eu podia ouvir os passos da coisa caminhando em direção a sala que estávamos, mas eu não sabia se ela entraria ou não. Michi estava de olhos fechados, como quem implora por um milagre, mas lá no fundo eu sabia: não existem milagres.

O monstro entrou na nossa sala, meu coração gelou quando ouvi ele empurrar a porta. Tentei me manter calma e não fazer nenhum barulho, mas então eu vi o monstro sorrindo.

– Achei você. – Ele disse, caminhando lentamente.

Até onde Michi estava.

Fiz o que qualquer boa irmã faria: soquei a minha mão no vidro do armário e peguei o Becker, enquanto o barulho de vidro quebrando preenchia a sala, eu já havia pulado, me colocando entre meu irmão e o monstro.

– Você não vai passar! – gritei.

A criatura me olhou com deboche.

– E como vai me impedir, garotinha? Você é inútil! – disse, caminhando até mim, o sorriso cínico cada vez maior.

Então foi isso.

Eu bati o recorde das minhas ideias nada boas. Joguei o Becker de ácido no monstro que me perseguia.

– Corre, Mikael! – gritei mais uma vez.

Meu irmão rapidamente me alcançou, passamos juntos pelo monstro que se contorcia no chão. Corremos com todas as nossas forças, quase perdendo a batalha contra o nosso sedentarismo.

Descemos até o primeiro andar. Eu tinha quase certeza que Havena estaria perto do ginásio.

– Ally? – Ouvi a sua voz me chamar e nunca senti tanto alívio na vida. –Onde está Ethan?

– Havena! Eu não sei! – respondi. – Ele parou para lutar com um monstro e nos mandou fugir... Houve um barulho e então o monstro começou a nos perseguir...

– Cuidado! – Ela gritou, nos jogando para trás e partindo para cima da coisa.

Havena deu um pulo e atacou usando seus Sai, mas o monstro defendeu com os braços de lâminas.

– Saia daqui! – gritou Havena. – Ache o Will! Ele vai tirar vocês daqui!

O monstro começou a congelar, mas o efeito não durou mais que 10 segundos. Ele voltou a se mover e a atacar Havena. Não fiquei para ver o desenrolar da luta, meu único objetivo era manter meu irmão seguro.

Corremos para fora dali, o barulho de aço se chocando ficando nas nossas costas. Jurei que se sobrevivêssemos, começaria a fazer mais exercícios, porque minhas pernas estavam me matando.

Por um momento, achei que conseguiríamos achar Will e ir embora, sãos e salvos. Mas quando foi que as coisas aconteceram do jeito fácil pra mim?

Tudo aconteceu rápido demais. Como um borrão.

Quando estávamos perto do ginásio, o monstro nos achou e com a sua velocidade, já havia me arremessado para longe antes mesmo que eu percebesse. Minhas costas bateram na parede do ginásio, o impacto me tirou o ar, não conseguia me mover. Tentei debilmente respirar, mas sem sucesso.

– Eu não vou matar você! – gritou a coisa, com o rosto ainda mais deformado, alguns pedaços de carne caiam enquanto ela falava. – Eu vou te machucar. Machucar muito e então eu vou te matar, mas só quando você estiver implorando por isso.

O monstro começou a caminhar na minha direção, lentamente, com um sorriso deformado no rosto, como se saboreando o momento. Em alguns pedaços da sua bochecha não havia mais pele e você podia ver a arcada dentária.

– Ally! – ouvi Michi gritar.

– Saia daqui! – gritei de volta e vi, pela segunda vez no mesmo dia, Michi chorando.

Até que algo muda, como se ele fosse possuído por uma onda de ódio. A voz de Michi é tudo que consigo ouvir: ela é fria, firme e cheia de raiva.

– Pare! – gritou e o monstro o olhou com deboche. – Você não vai encostar um dedo na minha irmã!

E, por incrível que pareça, o monstro obedeceu, como se tivesse sido congelado pela voz de Michi. Não havia mais deboche, parecia que mal podia se mexer. Como se estivesse em um estado catatônico.


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Notas finais do capítulo

Como vocês estão depois desse capítulo?
Me perdoam?
Vão me deixar comentários, pls? :'D



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