Os Guardiões do Véu escrita por Moonchan


Capítulo 15
Doze - Como não abordar uma garota.


Notas iniciais do capítulo

Bem, primeiramente, hoje eu dedico esse capítulo a minha (idosa) beta ♥ linda e maravilhosa, vocês deviam agradecer a ela também, porque esse ser divoso é o responsável por me fazer enxergar todos os furos e mancadas no meu plot -q, ou seja: Essa história só é o que é por sua causa idosa ♥
Em segundo, eu devo admitir que adoro o nome desse capítulo HSAUDHAUSDHUDHUA... Vocês gostaram também? :v
Quero todos vocês declarando seu amor por mim nesses comentários, principalmente por ser uma autora tão maravilhosa, que mesmo sem tempo da um jeito de escrever e postar semanalmente (E CARALHO, -- que capítulo foda -q -- QUE CAPÍTULO E-N-O-R-ME). Ainda não fiz o tumblr ou o questionário btw, fico me perguntando se não seria melhor criar um grupo, e interagir com todo mundo, postar previews, principalmente porque sei que a maioria tem face (mas não sei se tenho leitores o bastante pra isso :'D)... O que vocês acham? NÃO ME IGNOREM EU ODEIO SER IGNORADA, VOCÊS JÁ FAZEM ISSO DEMAIS QUANDO NÃO COMENTAM NEM UM "GOSTEI, CONTINUA" (Eu posso ver vocês, sabiam?)
Pra quem não descobriu até hoje quem era aquele casal... Bem... acho que dessa vez vocês não tem outra escolha além de perceber :v
O que eu posso dizer? Se esse for o capítulo que vocês estavam esperando eu vou ganhar reviews? ♥ Porque eu tenho quase certeza que é ele.
E GENTE, TEM UMA MÚSICA NO MEIO DO CAPÍTULO, AI TEM O LINK DE UMA MÚSICA, PONHAM PRA TOCAR E VOLTEM A LER COM ELA!!!
(BTW, A música do capítulo de hoje, não tem tanto a ver com o capítulo, mas ela me lembra o Yan, então acho que vale a pena ouvir, e ela vai estar nas notas finais com a tradução porque isso aqui ta enorme.)
https://www.youtube.com/watch?v=4pWO9F4eyzY



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NÃO PASSEM RETO PELAS NOTAS INICIAIS, EU ESTOU VENDO VOCÊ FAZER ISSO! NÃO ME DEIXEM FALANDO SOZINHA, SEUS PUTOS! E LEIAM TUDO, TEM ALGO IMPORTANTE LÁ!

Doze

Como (não) abordar uma garota.

I heard the news, baby
All about your disease
Yeah, you may have all you want, baby
But I got somethin' you need, oh, yeah!
Ain't talkin' 'bout love
My love is rotten to the core
Ain't talkin' 'bout love
Just like I told you before. Yeah, before

You know, you're semi-good lookin'
And on the streets again
Oh, yeah, you think you're really cookin' baby
You better find yourself a friend, my friend

Ain't talkin' 'bout love

Os restos dos youkais viraram uma massa negra e fedida, enquanto Will e Yan se ocupavam em tentar tirar os humanos dos ganchos no teto. Era uma sensação estranha: humanos sendo servidos como carne no abate. O predador se tornando a presa. A maioria estava morta e os que não estavam mortos não tinham esperança. Apenas uma coisa poderia salvá-los: "A marca"; mas ninguém ali poderia completar o sacrifício.

Algumas vezes era assim, algumas vezes as pessoas simplesmente morriam.

–Vamos atrás da Havena, ela ainda não voltou – falou William com uma preocupação mal disfarçada na voz. – Depois colocamos fogo em tudo.

Yan acenou concordando. Cinco minutos não seria muito tempo para outra pessoa, mas para Havena... Cinco minutos era uma eternidade.

Os dois não tiveram que andar muito para achá-la em frente ao galpão. Na praia, sentada na areia com uma cara atônita, estava Havena. Will, ao vê-la, começou a correr; a areia formava redemoinhos por onde passava, deixando evidente sua preocupação.

– O que houve? – perguntou encarando-a, quase desesperado.

– Ele fugiu – ela respondeu, suspirando frustrada. Seu orgulho provavelmente ferido por ter deixado um inimigo escapar. Então levantou-se, ainda sem encarar os garotos. – Bom, ainda dá tempo de ir trabalhar.

– Havena... – chamou Will.

– Vamos logo com isso – disse, cortando-o.

Yan e Will entreolharam-se, o primeiro dando de ombros.

– Podemos ir com você?

– Você assediaria nossas clientes, Yan. E empregadas. E qualquer uma que tivesse peitos.

– Nenhuma delas reclamaria.

A morena revirou os olhos.

– Vamos logo com isso.

– Como a senhora quiser! – disse Yan abrindo um sorriso e piscando o olho para a morena, que apenas balançou a cabeça em negação.

Voltaram para o galpão, empilharam os corpos e jogaram a gasolina que haviam roubado de alguns carros parados no estacionamento da praia. Então saíram rapidamente do lugar, deixando um galpão em chamas para trás.

– Certo, Will, quer fazer as honras? – perguntou Havena, observando o lugar queimar.

Ele fez uma reverência cheia de floreios e um buraco surgiu no chão.

– Lá vamos nós outra vez – ela disse, fechando os olhos e pulando.

Yan, na verdade, não conseguia se sentir seguro em um portal feito por outro elemento, por mais que confiasse em Will. Se William quisesse, poderia esmagá-los como se fossem moscas.

Mas mais uma vez a terra os cuspiu para fora sem grandes casualidades.

Havena trabalhava, desde que eles se conheciam, em um lugar chamado “sótão”, o que era irônico, pois o lugar era em um porão.

– Eu vou me trocar. Lembrem-se: bebam bastante e deem uma boa gorjeta pra garçonete aqui – falou enquanto caminhava para a entrada dos empregados. – Mais uma coisa... Boa sorte com as garotas! E Yan, use camisinha!

Ele riu. Pegou o sobretudo preto, sujo de sangue e rasgado, e jogou-o numa lixeira ao lado, revelando uma jaqueta de frio preta e uma blusa cinza comum. Will fez a mesma coisa, mas por baixo vestia uma blusa social branca amarrotada.

Yan pôs os braços no pescoço do amigo e guiou-o para dentro, mostrando as identidades falsas pro segurança na porta e entrando com facilidade no lugar.

– Vamos achar uma garota pra você, Will! Havena não é o único par de olhos azuis por aí. Não pareça tão deprimido, você devia ser mais como eu!

– Agarrando garotas em becos e levando tapas por aí? – perguntou erguendo uma sobrancelha.

– Eu já disse que isso foi um caso isolado! – disse, claramente mal-humorado. Aquele assunto havia se tornado seu ponto fraco.

– Você não entende, Yan – disse Will, rindo e desviando da multidão de pessoas. Foi até o bar com o amigo em seu encalço. – Mas um dia vai, quando uma garota finalmente capturar seu coração.

Yan fez uma careta de nojo.

– Isso foi muito gay.

– O amor é gay.

– Isso foi mais gay ainda.

– Mudando o assunto para a sua agressora... O Ethan me contou que ela era aquela garota de ontem, a ruiva – comentou rindo.

– Por que todo mundo acha graça disso? – perguntou aborrecido.

– Nunca pensei que você, que mata youkais de 15 metros e que é tão dedicado aos treinamentos, fosse apanhar de uma garota de 1,65m e com 56 quilos – falou Will, mordendo o lábio para não rir, enquanto seus ombros davam pequenas tremidas.

– E nunca achamos que existiria uma garota pra te por no seu devido lugar. Não você, o todo poderoso Yan, o perigote das mulheres, o nosso Don Juan residente – disse Havena passando por eles com uma garrafa de cerveja e lhes dando uma piscadela.

Will parou para observá-la. Era algo involuntário: parecia que quando ela passava, seu corpo parava automaticamente o que estivesse fazendo para lhe dar atenção.

Yan tinha que admitir, Havena era uma mulher muito bonita e aquele uniforme realçava todas as curvas do seu corpo. As pernas definidas e torneadas graças a horas de treinos pesados eram destacadas pela calça justa preta; usava uma regata branca e um colete preto que marcava a sua cintura fina, o cabelo preto preso em um coque exibindo a nuca. Seria perfeito, mas havia um pequeno detalhe que Yan não sabia se Will notara: "A marca" estava crescendo.

Yan pegou um guardanapo e entregou ao amigo, que o olhou sem entender.

– É pra você secar a baba.

Will jogou o guardanapo na cara de Yan, que riu, feliz pelo seu recente fiasco ter sido esquecido.

– O que vão querer, rapazes? – perguntou Alissa, a melhor amiga de Havena.

Alissa tinha a pele dourada, os olhos castanhos claro, assim como seus cabelos, que eram longos e com pontas rosadas. Usava piercing no septo e trabalhava com uma maquiagem pesada, vestindo o mesmo uniforme de Havena, mas sem o colete. Yan a achava bonita, mas ele tinha se imposto a regra de nunca dormir com alguém que lhe servia a bebida... Não que isso o impedisse de flertar um pouco.

– Duas cervejas – pediu e a morena serviu-lhes rapidamente. – Obrigado.

– Não me agradeça, me dê gorjeta – ela disse brincando.

Ele deu um sorriso malicioso.

– De que tipo?

Ela devolveu o sorriso.

– Você sabe de que tipo – então saiu, dando-lhe uma piscadela e indo atender o próximo cliente.

– Você atira para todos os lados, hein, Yan? – perguntou Will bebendo um gole de sua cerveja.

– I’m a Love Hunter, baby, sneaking up on you – cantarolou ao som da música que a banda tocava.

– Realmente. Acho que essa música foi feita pra você...

Então Will começou a rir, compulsivamente.

– Yan, vamos fazer o seguinte – começou, secando as lágrimas que brotavam no canto dos seus olhos. – Olhe discretamente para trás.

– O quê? – perguntou sem entender.

– Sua ruiva violenta – Will disse apontando com a cabeça – Ela está ali.

Ele se virou. O amigo tinha razão, afinal. Lá estava ela.

Ela estava com uma roupa tão simples que deixava claro que não queria estar ali: calças jeans, tênis sujos, blusa de uma banda chamada America e um casaco preto longo. Yan deu um grande gole em sua cerveja e sorriu, na primeira oportunidade iria lá infernizar sua pequena Ariel. Aquela garota ia lhe pagar!

– Querem mais alguma coisa, rapazes? – perguntou Havena, aparecendo por detrás do balcão.

– Como eu estou, Havena? – perguntou Yan.

Nem pense nisso, advertiu Ethan.

Yan conseguia sentir a raiva crescendo dentro do companheiro, mas ele não conseguia evitar simplesmente a vontade de fazer exatamente o oposto.

Relaxa, Ethan, não vai acontecer nada que sua irmãzinha não queira.

Havena olhou-o de um jeito estranho.

– Por quê?

– Diga logo!

Ela revirou os olhos.

– Está irresistível – disse dando-lhe um tapa nas bochechas de leve. – Com essa cara de cafajeste é quase impossível resistir a você, colega – pegou mais uma cerveja para Will, mesmo sem que esse pedisse. – Achou seu alvo, Yan?

– Com certeza – ele respondeu.

Eu estou te avisando, Yan!

Ethan ganhou apenas risadas de escárnio do outro em resposta.

Com a autoestima renovada, Yan virou sua cerveja de uma vez, levantou-se arrumando o cabelo e decidindo observar a garota mais de perto, mas não conseguiu evitar flagrar uma cena entre os dois amigos:

– E eu? Como estou Havena? – perguntou Will, encarando-a com aqueles olhos verdes, com um olhar de cachorro sem dono.

A garota parou o que estava fazendo e abaixou-se para ficar na altura de Will, encarou-o com um meio sorriso melancólico.

– Deslumbrante – respondeu ela com a voz vacilante, estudando-o com expectativa. Arrependeu-se quase que instantaneamente por ter usado uma piada interna dos dois pra tentar dizer algo que sentia, mas já que tinha começado não desistiria agora: esse era um dos raros momentos onde ela não seria contida. – Completamente deslumbrante. A você, Will... É impossível resistir.

Ela repetiu quase as mesmas palavras que havia dito a Yan, mas dessa vez, para Will, nunca havia dito algo tão certo: era completamente incapaz de resistir a ele. Sua única saída era ir embora dali, antes que fosse consumida por aqueles expressivos olhos verdes, antes que ele a segurasse e dissesse as palavras que ela tanto temia.

Havena se afastou antes que Will pudesse dizer qualquer coisa. Ele observou as costas da garota a medida que ela se afastava, com um olhar desolado. Imaginando todos os possíveis “E se?”. E se ela realmente quisesse? E se ele não fosse quem era? Quando ela desapareceu do seu campo de visão, William levantou-se pronto para ir embora, com suas ilusões e minúsculas esperanças, para um lugar onde ele pudesse ficar sozinho. Um lugar onde a presença dela não fosse uma dor avassaladora – embora ele suspeitasse que para isso deveria ser uma de suas vítimas e perder completamente a memória ou talvez nem mesmo assim –.

Antes que ele pudesse sair, seus olhos se encontraram com os de Yan. Will deu-lhe um sorriso morto antes de sair pela porta. Era isso. Era esse o fim. Eles eram a prova viva que às vezes não importa o quanto duas pessoas se amem, elas não vão ficar juntas e não há nada que alguém possa fazer sobre isso. Por esse motivo Yan não acreditava em amor, era algo que apenas servia para te enfraquecer e causar dor. “O amor cura, o amor salva, o amor redime”. Bobagem! O amor mata aos poucos.

Ele desviou seus pensamentos da situação penosa de seus amigos – era algo que estava além de seu poder – e voltou a atenção para a ruiva.

Ela estava sentada com os amigos da noite anterior, mas dessa vez sem Ethan – obviamente – e o par da garota de cabelos azuis. A carranca que ela fazia comprovava sua teoria: ela estava ali obrigada.

Ele tinha que reconhecer, a garota provavelmente seria uma mulher atraente algum dia, mas agora era apenas uma adolescente magrela, desajeitada e ossuda. Longos cabelos ruivos e ondulados emolduravam um rosto branco, muito branco, com olheiras escuras e com algumas sardas nas bochechas, além dos olhos mais estranhos que ele já vira: eram cor de carvão, um preto opaco, prontos para serem incendiados.

Yan queria brincar com ela um pouco. Ela merecia por ter lhe feito fazer papel de ridículo. E, claro, ele queria confirmar uma pequena suspeita.

A garota de cabelos azuis e a ruiva se levantaram e foram até o meio da pista de dança. Yan observou enquanto elas dançavam ao som de Take Me Out: a ruiva tentava não pisar no pé de ninguém e por isso não se mexia muito, já a amiga deixava-se levar pela música e logo foi surpreendida com a chegada do garoto da noite anterior. Tylor era o nome dele – ou algo assim –, era um dos amiguinhos idiotas de Ethan. O garoto rapidamente a tirou para dançar, enquanto a ruiva – que ele não conseguia se lembrar de jeito nenhum do nome – ficou parada alguns segundos tentando se decidir entre voltar para a mesa e ficar de vela ou continuar na pista e ficar de vela.

Ele bagunçou o cabelo escuro e, com seu melhor sorriso de cafajeste, foi se aproximando da presa. Colocou seu braço no ombro da garota e sussurrou em seu ouvido:

– E aí, pequena sereia?

Primeiro ela sorriu.

– Ethan! – então fechou a cara e começou a se afastar. – Você não é o Ethan.

– Bem observado, Ariel, mas é quase a mesma coisa – disse puxando-a cada vez pra mais longe de onde estava dançando, enquanto a garota resmungava e esperneava.

– Eu não danço com pervertidos.

– Ah, sim – disse ele enfatizando, enquanto continuava a guiar a garota pra longe, para impedir que suas amigas ouvissem seus gritos e viessem ao seu socorro. – Você vai!

Ele foi para a parte de trás do palco arrastando a garota, que tinha os gritos abafados pelo som da música, e saiu por uma porta escondida, que poucas pessoas sabiam da existência, levando a garota para um beco, com algumas latas de lixo.

– Você gosta mesmo de becos, não é? – ela perguntou olhando-o mal-humorada. – O que vai fazer agora? Me estuprar? Esquartejar?

– Quanto carinho e confiança. Primeiro: eu já disse e vou repetir, você não faz o meu tipo, talvez em alguns anos; agora eu só tentaria algo com você se curtisse pedofilia. Segundo: eu não tenho algo para te esquartejar. Relaxe.

Era uma mentira, mas ele jamais usaria Diana ou Elecktra em um humano. Não queria sujar suas espadas com esse tipo de sangue.

A garota encarou-o nervosa, mas ele sorrateiramente a empurrou contra a parede, pressionando seu corpo ao dela e encarando-a com o que Havena chamaria de “olhar do cafajeste”.

Yan, solte-a agora! Eu não estou pedindo!

Vai fazer o que capitão? Me matar? Espera! Eu sou você!

Ela não quer ficar perto de você.

Você sabe que eu não estou colocando tanta força assim. Se ela quisesse realmente fugir, já teria ido.

– Agora, qual é mesmo o seu nome?

– Não falo meu nome para estranhos.

– Não sabia que isso era um nome.

– Você é quase um assassino em potencial, sabia?

– E você me seguiu como um cordeirinho.

Ela desviou o olhar, corando.

Vê?

– Você é mais forte que eu – resmungou.

– Vai me dizer o seu nome então?

– Ally... Quer dizer, meus amigos costumam me chamar assim, mas pra você é Allicia – respondeu com um sorriso cínico.

Ela está apenas se fazendo de difícil. Ela quer tanto ficar perto de mim quanto qualquer uma das garotas que eu já levei pra cama.

Ele sorriu ao ver a raiva de Ethan crescendo a cada segundo.

Mas ela não, Yan! Ela não é para o seu bico.

Por que você se preocupa tanto, Ethan? Você não quis nada com ela, além de ficar comparando com a sua irmã...

Exatamente por isso você não vai chegar perto dela.

Não sabia que você curtia um incesto, como você é nojento, Ethan!

Faça um favor: fique longe dela! Tem muitas garotas que você acha mais atraente por aí. Deixe essa em paz.

Ele soltou os braços da garota e se afastou alguns centímetros. Ally cruzou os braços e o encarou fixamente com raiva.

Isso, Yan, não seja um babaca completo.

O outro não conseguiu evitar rir, a garota continuava ali o encarando aborrecida e ele sabia exatamente o que fazer para pôr um sorriso naquela boca.

Talvez ele fosse um pouco babaca.

Na verdade, ele era muito babaca.

Encarou a garota com aqueles irresistíveis olhos azuis e sorriu para ela, que corou e desviou o olhar.

– O que você quer? Diga logo – disse ela, ainda vermelha.

– Eu quero muitas coisas – respondeu, antes de segurar no braço da garota e a puxar para perto dele, terminando de aproximar seus lábios, beijando-a.

A garota ficou tão surpresa que congelou no lugar por alguns segundos. Ele afastou-se, olhando para a face atônita dela, que instantaneamente levantou o braço, pronta pra lhe acertar de novo. Yan foi mais rápido e apenas segurou a mão da ruiva, dando-lhe uma piscadela e um sorriso cínico.

– Hoje não, querida.

O próprio Ethan estava tão surpreso que não conseguiu dizer uma palavra.

– Allicia... Não, Ally. Nós podemos conversar agora? Já não somos mais estranhos – disse com uma voz simpática.

– Qual o seu problema? – gritou. – O que te faz achar que tem o direito de beijar alguém quando bem entende?

– Sempre querem que eu as beije. Não precisa fingir que não.

– Eu não queria!

– Será que não, Ally? – disse com a voz baixa, encarando-a com as sobrancelhas erguidas. – Por que me seguiu tão facilmente até aqui? Nós dois sabemos que você poderia ter tentado mais.

A garota o encarou boquiaberta.

Não vai dizer nada, irmãozão?

Você é um filho da puta.

Cuidado, somos filhos da mesma mãe.

–Mudando de assunto, Allicia – disse fazendo uma careta, enquanto pensava em como começar, decidindo-se por ir direto ao assunto. – Então, Allicia, hã.. Você vê coisas?

A garota o encarou, parecendo não conseguir organizar os pensamentos ainda.

– Não foi uma pergunta difícil, vamos lá, Ally.

– Não. A única pessoa que curte atividades ilegais aqui é você – respondeu esfregando a boca com as mãos.

– Pelo amor de deus, foi só um beijo! – resmungou. – E do que você está falando? Você nem deveria estar aqui! Com certeza não tem 21!

– Cale a boca!

– Responda à minha pergunta!

A garota revirou os olhos.

– Que tipo de coisas?

– Coisas que você não deveria ver.

A garota não admitiria. Ela não cederia. Principalmente não a Yan. Anos em uma cadeira de psiquiatra tinham lhe ensinado a mentir e mentir muito bem. Claro, Yan não sabia disso, mas tinha um palpite.

– Então, seu maníaco, você se droga? Heroína, coca, maconha... Alguns becks? – perguntou, mesmo apavorada, tentando fazer piada.

Yan revirou os olhos.

– Você sabe do que estou falando – disse ele, sondando.

– Olha, essa conversa está muito interessante e tudo o mais, mas eu tenho que voltar pra dentro. Então tchau e espero não te ver de novo nunca mais – disse se afastando e tentando voltar pela porta.

Deixe-a em paz, Yan! Disse Ethan sonolento em sua mente. Já conseguiu me irritar o suficiente hoje. Não está satisfeito?

Quando eles usavam tanto poder em tão pouco tempo, às vezes a outra alma ficava em um estado onde era difícil se manter acordado.

Fique quietinho, Ethan, apenas observe como abordar uma garota.

Por que não só a deixa em paz?

Yan puxou a garota pelo braço e a fez olhar diretamente pra ele. Dentro daqueles incríveis olhos azuis, onde, ele sabia, nenhuma garota poderia resistir. Até então, nenhuma tinha ao menos tentado.

– Não minta para o Tio Yan.

– Achei que não gostasse de pedofilia. Você realmente parece um pedófilo agora e com um quê de assassino em potencial. Não estou mentindo. Não ouse aproximar essa coisa asquerosa que você chama de boca perto de mim outra vez ou vai ficar sem ela.

– E como pensa tirá-la? – ele disse piscando. – Agora responda, princesa.

A garota revirou os olhos.

– Não, tio Yan. Porque, ao contrário de você, eu me mantenho longe das drogas. Por que não vai achar outra garota pra amolar?

– No momento só quero amolar você, princesa – então ele se aproximou dela e sussurrou perto do seu ouvido, causando um arrepio por todo o corpo da garota. – Considere isso uma vingança pelo tapa.

– C-certo. Agora dá pra sair de cima de mim?

– Você está me respondendo a verdade?

– Se eu disser que sim, vai me deixar em paz?

– Só se eu acreditar.

– Sim – ela disse, revirando os olhos e procurando outra desculpa, mas não foi preciso.

Ele estava quase convencido de estar errado sobre seu palpite, quando sentiu a presença antes dele realmente chegar. Soltou o braço da garota, dando-se momentaneamente por vencido.

– Saia daqui! – gritou, empurrando-a para longe e para trás, para perto da porta.

Yan não soube se ela conseguiu entrar, esperava que sim, pois o que ele viu correndo praticamente pelas parede, sem diminuir a velocidade na curva, vindo em sua direção, não era algo muito aconselhado para humanos: um youkai em forma de lobo gigante. Ele odiava lobos por um fato: lobos sempre andavam em matilhas.

Ele puxou os braceletes que davam acesso a suas armas e as deixou preparadas, saltando no momento em que o demônio abocanhou o lugar onde ele estava. Yan pousou na testa do youkai, que enlouquecido começou a pular para todos os lados, tentando tirar o caçador de cima da cabeça. Com um golpe, ele fez com que Yan caísse, indo de encontro a parede. O caçador perdeu o ar por alguns segundos.

Tinha de admitir, estava cansado. Usou muito de seu poder, mas tinha que dar um jeito de acabar com o youkai; seria perigoso para as pessoas dentro do bar se ele sobrevivesse.. E pra ele... Bem, se o youkai sobrevivesse queria dizer que o damned havia falhado. E estaria muito morto, provavelmente.

Pensou em deixar o demônio que corria em sua direção bater com a cara na parede, mas isso fazeria com que a parede desabasse e gente inocente morresse. Yan não podia suportar mais mortes, não naquele fim de semana, não se ele pudesse evitar.

Esperou o lobo vir rosnando em sua direção e, quando estava perto o bastante, pulou para cima de seu focinho. O animal enlouqueceu, abria e fechava a boca sem parar, balançando a cabeça. Yan pegou suas espadas e as enfiou uma em cada olho do youkai, concentrando-se para que aumentassem de tamanho. Cortou em linha reta o espaço entre os olhos do animal, perfurando a caixa craniana e atingindo seu cérebro. O lobo uivou de dor e, nos seus últimos segundos de vida, derrubou Yan com toda força, fazendo com que ele voasse, caindo de costas no chão duro.

– Você está bem? – perguntou uma voz vinda do fundo do beco.

Ele se virou e lá estava a garota. Com a prova que ele queria.

Ally segurava um pedaço de madeira, que provavelmente teria achado no lixo que havia no beco, com as duas mãos, como se fosse uma espada. Como se aquilo pudesse ser útil. Como se aquilo pudesse disfarças suas pernas que tremiam tanto a ponto de parecer que ela desabaria a qualquer momento.

Antes que Yan pudesse abrir a boca, ele sentiu o que tanto temia. Não houve tempo para mandá-la correr e ao ver os três lobos ele soube que não poderia enfrentá-los todos juntos, principalmente naquele estado. E, como se não bastasse, percebeu que os lobos olhavam diretamente para a ruiva. Ela era o alvo, seria estraçalhada, esquartejada.

Ele poderia fugir enquanto os demônios brigavam por ela...

Yan riu do pensamento, tudo parecia se mover em câmera lenta.

Ele levantou-se e, mesmo achando que não conseguiria, resolveu tentar uma última vez. Yan não era covarde, jamais deixaria alguém para que pudesse escapar e a ruiva com certeza não seria a primeira. Não antes que ele descobrisse por que, pela primeira vez, o alvo não era ele.

Focou nos três lobos a sua frente, sem fazer a mínima ideia do que fazer para salva-lá: estava esgotado e os lobos estavam cada vez mais perto, até conseguia sentir o hálito fedido dos demônios. Yan preparou-se mentalmente para pedir desculpas a Ethan e a garota por tê-la colocado nisso.

Fechou os olhos e começou a correr para perto dos youkais, para impedir que eles ganhassem mais terreno e se aproximassem da garota. O garoto juntou as duas espadas em uma, formando uma espécie de espada de duas lâminas. Cortou uma das patas do lobo que estava na frente, que perdeu o equilíbrio e caiu, fazendo com que os outros tropeçassem.

Agora toda a atenção estava nele.

Ele quis que Will não tivesse ido embora ou que Havena conseguisse sentir youkais em uma distância maior.

Ele correu para baixo de um dos lobos para evitar ser engolido vivo: agora que tinham-no considerado um impedimento, o liquidariam antes de partir para o verdadeiro alvo. O lobo que ele conseguiu ferir a pata estava mancando e esperava pacientemente que ele saísse debaixo do companheiro; o terceiro lobo abaixou-se e colocou seu focinho perto de Yan, rosnando. O caçador rapidamente acertou-lhe um golpe com sua espada, fazendo com que a área ao redor do nariz sangrasse e o animal se afastasse rosnando de raiva e dor. Antes que o lobo onde ele se escondia decidisse se afastar, ele pulou, mirando o peito, bem na região onde sabia que estava o coração. Fincou sua espada e a forçou para frente, abrindo, aos poucos, um corte cada vez maior, com os gritos do lobo ao fundo.

Um a menos, ele pensou aliviado, enquanto o lobo tombava. Ele não viu os outros lobos, sua atenção já havia sido desviada para a ruiva. Os dois animais corriam em direção a ela à todo vapor. Yan não era tão rápido quanto os youkais, então ele pegou sua espada e mirou em um ponto atrás na cabeça de um dos lobos, onde sabia que penetraria no cérebro. Ele arremessou a arma, matando o lobo manco.

O último lobo parou e encarou-o friamente, mas ao ver o garoto desarmado preferiu seguir em direção a ruiva. Yan suspirou, não queria ser obrigado a usar aquilo de novo, não sabia qual seria a reação do seu corpo. Ele abriu a mão e a fechou, com toda a força que conseguiu juntar.

O youkai explodiu, sujando o garoto por completo. Ele sentiu uma incontrolável vontade de tossir e, ao pôr a mão na boca, viu-a se tornar vermelha. Dessa vez era o seu sangue. Ele engoliu em seco, ignorando a dor que começava a vir sorrateiramente e caminhou em direção a garota.

Ele abriu um sorriso meio zombeteiro, meio vitorioso e apontou um dedo para a garota ruiva, que estava horrorizada.

– Eu sabia que você conseguia ver! – disse gargalhando. – Agora você vem comigo, querida! – tentou pegar o braço da menina.

– Eu não irei com você a lugar algum! – disse a garota, antes de acertá-lo com uma paulada bem no meio das costelas.

– Por que você fez isso? – gritou, caindo no chão com a dor que já sentia sendo intensificada.

– Eu não confio em você e muito menos irei a algum lugar contigo.

– Não seja burra! – murmurou entre dentes.

A garota o encarou e começou a ir até a porta com a intenção de chamar ajuda, mas uma voz vinda do início do beco a congelou.

– Yan?

Ela se virou e viu, a distância, um par de olhos verdes. Seus instintos diziam apenas uma coisa: saia daí. E assim ela fez.

Yan olhou com alívio para Will.

– Você está atrasado.

– Quando os senti já estava longe. O que houve aqui, Yan?

– A garota, Will. Ela vê. E aqueles youkais estavam atrás dela. Eu nunca vi um demônio ir com tanta sede atrás de alguém antes – disse, mas é interrompido pela tosse.

O olhar de Will para na mão ensanguentada do amigo.

– Sempre apanhando de garotas, hein, Yan? – disse Will com uma piscadela, confirmando que havia visto tudo. – Vamos te tirar daqui antes que você piore, depois encontramos sua garota. Ela deve estar longe a essa hora.

Foi a última coisa que William disse antes de apoiar Yan no ombro e criar um portal no chão, para que eles voltassem à academia, antes que algo pior acontecesse com seu amigo.


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Notas finais do capítulo

That's all folks!
Como está o forninho de vocês? :v
EU GANHO MEUS REVIEWS?
https://www.youtube.com/watch?v=4pWO9F4eyzY
Eu soube das notícias, querida
Tudo sobre sua doença
É, você pode ter tudo que quiser, querida
Mas eu tenho algo que você precisa, oh, sim
Não estou falando de amor
Meu amor é estragado até o miolo
Não estou falando de amor
Bem como eu lhe disse antes. Sim, antes

Voce sabe, você é meio bonita
E está na rua de novo
Oh, sim, você pensa que está detonando, querida
É melhor voce procurar um amigo, minha amiga



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