Os Guardiões do Véu escrita por Moonchan


Capítulo 10
Oito – Dungeons & Dragons


Notas iniciais do capítulo

Afraid to lose control
And caught up in this world
I've wasted time, I've wasted breath
I think I've thought myself to death
I was born without this fear
Now only this seems clear
I need to move, I need to fight
I need to lose myself tonight

Come with me now
I'm gonna take you down
Come with me now
I'm gonna show you how
http://letras.mus.br/kongos/come-with-me-now/traducao.html
Capítulo dedicado a Mrs Fanfiction (você foi muito amorzinho, viu? Aquele dia acabei ganhando a semana inteira *¬*), e obrigada a todos vocês que comentaram no último capítulo, vocês me deixaram muito feliz!



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Oito

Ally

Mazes & Dragons

Eu nunca fui muito corajosa, devo dizer, e a essa altura você já deve ter percebido isso. Também nunca fui medrosa, aprendi que ter medo é algo normal: o que nos torna covardes é a maneira como lidamos com nosso medo. Desde que eu não estivesse sozinha era mais fácil enfrentar meus demônios.

Então perder meu Sancho Pansa não foi lá muito legal, principalmente quando a quarta porta se abriu.

Sem quadro com pistas. Sem uma luz para saber com o que estávamos nos metendo, só o barulho dos passos mais perto. Todos entraram na sala escura sem demora, ouvimos a porta se fechar e, finalmente, as luzes se acenderam.

Provavelmente você já viu algum filme de labirinto: O Labirinto do Fauno, Escorpião Rei 2, Harry Potter; eles sempre estão presente e são bem legais. Até você estar em um.

Pavor era a única palavra que eu conseguia pensar para descrever como me sentia. As luzes ficavam piscando e, pelo pouco que eu conseguia ver, as paredes eram azulejadas e cheias de manchas de sangue.

Então a TV apareceu.

– Meus amiguinhos, estou tão orgulhoso de terem chegado aqui... vivos. Receio que esse status não ficará assim por muito tempo. Nesse labirinto existem três coisas para matar vocês. Eu estou falando das que REALMENTE vão matar vocês, não porque alguém foi estúpido e caiu numa armadilha. Talvez encontrem alguém do outro grupo no labirinto... De qualquer jeito, boa s... Quer saber? Vocês que se fodam.

Ouvimos o barulho de uma segunda porta se abrindo e por um momento nossas espinhas gelaram. Pensávamos no que poderia ser, mas logo vimos o que restou do outro grupo.

"Resto" era exatamente a palavra certa para eles. Eu nunca tinha visto tanto sangue saindo de alguém antes. Havia uma garota com o namorado apoiado no ombro, os dois cobertos de sangue e você só saberia dizer que quem estava mais machucado era o garoto porque ele estava mancando. Era uma visão assustadora no meio daquelas luzes. Um terceiro garoto segurava um gancho pingando sangue, desses que se usam em frigoríficos para pendurar a carne, e ele tremia tanto que parecia a ponto de desmaiar. Eles lembravam zumbis.

Mais uma vez me arrependi de ter entrado nessa maldita casa.

O casal sentou no chão e o garoto olhou para nós com um olhar vago, como se estivesse delirando e murmurou:

– Ele esta vindo – disse e começou a rir histericamente. – Nós todos vamos morrer – de risos passou para lágrimas. – Eu prometi para ela que eu voltaria... Eu prometi...

– Quem? – perguntei, mas algo me disse que não queria saber.

– A minha garota.

– Não... Quem vem nos pegar? – perguntou Malcon, tomando meu lugar.

Os três deram de ombros.

Ele anda como a morte e ele fala como a morte. Ele te pega e faz você sangrar, porque o sangue purifica a alma. Ele te mata aos poucos ou rápido demais... Eu prometi a ela...

– Nós temos que sair daqui – eu disse tremendo, porque algo me dizia que eu sabia exatamente o que era.

– Não diga, capitã óbvio – disse a garota ensanguentada.

Havena revirou os olhos.

– Vocês podem continuar com a discussão ou podemos dar o fora daqui. Estamos em oito agora e acho que, para o bem de todos nós, deveríamos ficar juntos – disse pegando um elástico do braço e prendendo o cabelo. – Estamos num lugar desconhecido e seremos abatidos facilmente separados. Vocês veem algo que possa servir de arma? Vamos, qualquer coisa: um pedaço de madeira, uma vassoura...

Steven tinha um facão. Quando nos viu encarando-o simplesmente disse:

– Eu estive no Afeganistão.

Malcon tinha um canivete.

O resto de nós rapidamente começou a procurar algo. Eu peguei um pedaço de madeira, era um pouco rude, mas bom o suficiente para me defender. Mellane e as novas aquisições fizeram como eu.

Havena nos encarou.

– Ótimo, agora vamos fazer uma formação. Eu vou na frente com a Ally, Malcon fica no lado direito enquanto a garota machucada e o namorado ficam no centro e a Mellane no lado esquerdo. Atrás, Steven e o outro garoto.

Ninguém disse nada. Havena era uma líder nata. Por um momento, antes que a realidade da situação me atingisse, eu senti inveja dela com toda aquela segurança enquanto eu nem podia falar com um garoto direito.

Nós começamos a andar.

– Se tiverem seus celulares usem-nos para iluminar.

Foi o que fizemos.

Eu não queria olhar para trás ou para os lados ou para frente, o labirinto tinha vida própria e ficava mudando de repente. Algumas vezes parecia com um hospício: as paredes eram acolchoadas e manchadas de sangue, com camisas de força largadas. Ouvíamos barulhos como gritos, choros de crianças e algo como grunhidos.

– Não olhe para os lados – disse Havena.

– Por quê? – perguntei.

– Se você os encarar, eles podem encarar você de volta. E você não quer isso.

– Entendo... – disse, apesar de não entender nada. Pensei em perguntar como ela sabia, mas percebi que não me importava desde que saísse de lá. E, não menos importante, eu veria Ethan outra vez?

– Ele vai voltar – disse ela e eu a olhei confusa. – Se existe alguém que conseguiria derrotar aquela coisa, esse alguém é ele.

– Como você sabia que eu estava pensando nele?

Ela deu um meio sorriso debochado.

– Eu conheço a expressão que você fez muito bem.

Senti uma pontada me atingir bem no peito e decidi focar novamente no labirinto. Estava tranquilo demais na minha opinião.

– Nós estudamos juntos – disse sorrindo e voltando a puxar assunto. – Eu fiquei um pouco surpresa de encontra-lo aqui, principalmente com uma garota. Ele NUNCA sai com garotas, nunca.

– Uns amigos arranjaram isso, eles me disseram a mesma coisa.

Ela sorriu.

Então as coisas começaram a ir de mal a pior.

Primeiro veio uma espécie de rugido. Depois o grito. Vários gritos seguiram o primeiro. Então a correria. O grupo tinha se desfeito e eu estava sozinha.

Segurei meu pedaço de madeira em uma mão e meu celular na outra. Não sei o que é pior: ver quase nada ou não ver, sempre tinha a impressão de ver alguma coisa na minha visão periférica, mas não olhava diretamente. Havena passou um ar de quem sabia o que está fazendo e aquela formação teria sido útil, SE aquilo não tivesse acontecido.

Escutei um barulho, como um gerador ligando, e as luzes começaram a piscar. Piscavam tanto que minhas vistas tornaram-se cada vez mais embaçadas e doíam. Senti algo me observando e, quando finalmente olhei para o lado, havia uma pequena garotinha loira encolhida em um canto, usando uma camisola suja e com folhas no cabelo. Estava em posição fetal, murmurando algo como Onde esta a mamãe? Onde está a mamãe? enquanto segurava um ursinho de pelúcia, parecido com a Chepa da Lilo. Ela levantou os olhos para mim... Exceto que ela não tinha olhos, eles haviam sido arrancados e a sua boca parecia ter sido costurada e solta. Em seus lábios, um sorriso macabro.

– Você vai me ajudar a encontrar minha mãe? – disse ela, levantando-se e tombando a cabeça de lado enquanto ria.

As primeiras palavras que vieram em minha mente foram "Run, bitch, run for your life" . E eu corri. Corri loucamente enquanto a garotinha macabra levitava e vinha em meu encalço, rindo como uma bruxa má.

– Eu vou te pegar garotinha.

Era um pouco irônico uma criança me chamar de garotinha, mas a partir do momento em que ela estava me perseguindo no ar, como uma mini versão loira e diabólica da Jean Gray, preferia não fazer algum comentário.

Vinha dançando em minha direção, mas consegui esquivar e ela desapareceu. Desacelerei um pouco o passo, pensando estar a salvo, o caminho havia mudado outra vez; mas a pequena Jean "capirótica" brotou literalmente do chão na minha frente e me atacou. Voltei a correr por onde havia saído e ela continuava dizendo algo sobre a mãe. Uma hora ou outra me atacava de novo, eu tentava desesperadamente me esquivar e ela ria.

Até que depois da última esquiva ela realmente sumiu e eu entrei mais profundamente no labirinto: algumas vezes um manicômio, outras, uma floresta.

Alguns passos a frente, escutei um choro. Estava tentada a ignorar e pegar outro caminho... Você sabe, depois da pequena Jean Gray eu não estava com muita vontade de apostar em barulhos inocentes. Mas, nesse momento, a parede atrás de mim se fechou e, bom, eu fui direto para o barulho.

O caminho me levou até uma clareira, um lugar bem bonito até: grama, sem luzes, pois havia o que parecia ser um grande céu estrelado e uma grande floresta à frente.

Então eu vi e engoli em seco. Jurei que nunca mais, nunca mais mesmo, entrarei em algum lugar que se pareça remotamente com uma casa mal assombrada.

Encontrei aquele casal do segundo grupo, deitado na grama: a garota chorando com a cabeça do seu namorado no colo. Eu não sabia muito sobre amor e nem imaginava o que a garota sentia, mas meu coração se partiu ao ver o seu desolamento. Ele estava morto, o corpo deitado numa poça do próprio sangue, com cortes tão fundos que eu via os ossos.

– Não. Não. Não – ela murmurava tremendo sem parar.

Eu me aproximei dela e toquei seu ombro.

– Escuta – disse a ela. – É perigoso continuar aqui, a coisa que fez isso pode voltar.

– Eu não vou deixa-lo – disse e chorou ainda mais.

Eu ouvi outra risada macabra ecoando pelos corredores. Estava próxima.

– Temos que sair logo, ela está chegando – disse olhando para as saídas desesperadamente.

– Ele morreu pra me defender – ela abraça a cabeça sem vida do garoto. – E se é pra viver sem ele, eu prefiro morrer. Vá, salve a si mesma.

Olhei pra ela hesitante, mas minha pequena Jean apareceu e não havia nada que eu pudesse fazer, então corri com os gritos de agonia da garota atrás de mim.

Eu não sou uma mártir, sei que não poderia ter levado a garota a força por muito tempo e por mais que eu me arrependa de não ter tentado mais, não vou me culpar.

Passei por corredores e mais corredores, quando ouvi novos passos. Segurei meu pedaço de madeira como a um bastão e, quando ataquei, alguém o segurou.

– É bom te ver também, Ally.

– Oh meu Deus, Ethan! – eu disse e o abracei. Meu coração errou uma batida ao vê-lo, parece que estávamos há dias juntos. – Você está vivo! E bem! – olhei suas roupas encharcadas. – Ou quase.

Ele bagunçou meu cabelo.

– É a segunda vez, só hoje, que você tenta me acertar – ele disse rindo.

– E se não começarmos a correr, você vai ser acertado uma terceira vez.

Retomei minha corrida, só que dessa vez Ethan estava atrás de mim, meu bom e fiel Sancho Pansa. Ele me dava uma sensação de paz, como se pela primeira vez não tivesse o que temer. O que é engraçado, já que nesse lugar eu devia temer até minha própria sombra.

O cenário voltou a mudar. Dessa vez nossa única opção era entrar em um grande arco de madeira, todo trabalhado, com a pequena Jean Gray rindo atrás de nós.

Por dentro era uma igreja antiga: bancos de madeira, ambiente iluminado por velas, teto pintado com anjos, dragões e morte. Nas paredes havia altares foliados a ouro e cavaleiros matando monstros.

– Ally, você confia em mim?

Ethan/Yan

Ela o encarou por alguns segundos, desconfiada.

– Confio – disse e completou baixinho. – Eu acho.

Ethan assentiu e a pôs atrás dele, encostando suas costas nas dela.

– Cuidado onde pisa, cada número é um túmulo. Pise onde eu pisar, só olhe para a frente e os seus lados. Se vir alguma coisa, me avise – calou-se por um momento. – Só mais uma coisa: tente não olhar para o chão.

Eles foram andando calmamente, costa contra costa. Ethan sentia que alguma coisa ia acontecer e queria saber o que fazer com a garota quando começasse. Ele já até havia desistido de reclamar da sua tão sonhada folga.

Ethan sentiu a mão dos mortos em seu tornozelo, mas eles não podiam fazer nada, pois seus túmulos não haviam sido profanados.

Eles foram andando calmamente até um parador de vento. De certa forma ele estava feliz por ser a ruiva que estivesse com ele – claro que ela não era Havena e se houvesse uma luta não seria tão útil, mas... – : ela não dava escândalos e mesmo com medo se forçava a seguir em frente.

Uma coisa estranha era que o demônio havia parado de os seguir e tudo estava muito calmo, ela provavelmente teria partido para a próxima vítima. Normalmente igrejas eram territórios santos, mas só havia uma saída e, apesar de tudo, o demônio ainda podia estar lá; por mais que o tempo passasse lentamente naquele lugar uma hora iria acabar. Eles não tinham tempo para esperar, sem contar que cedo ou tarde alguém pisaria em falso.

Ele avistou em um canto da parede, escrito no idioma morto, uma pequena frase.

Não é por ser santo

Que estarás a salvo

Não é por ter a luz

Que deverás ter esperança

Não é por se estar seguro

Que não deverás correr

A suposta paz acabou. Escadas surgiram e delas desceu um dragão chinês. O corpo enorme não era visto por inteiro, as escamas eram em tons de vermelho e amarelo. Era um animal magnífico e tão perigoso quanto belo, mas, por sorte, ainda não os tinha visto, graças a um rápido movimento de Ethan que havia os escondido atrás de uma pilastra.

Eu achava que eles estavam extintos. Disse Ethan a Yan enquanto avaliava a fera.

Eu também. Respondeu sorrindo. Mas sempre quis a cabeça de um na minha parede.

Ethan riu da falta de bom senso do companheiro e respirou fundo.

– Ally... Lembra quando eu disse para tomar cuidado com o piso? – disse ele sussurrando.

– Sim... – respondeu mais baixo ainda.

– Você pode esquecer aquilo.

– Mas...

– Só corra... Saia daqui o mais rápido que conseguir. Os mortos são sua última preocupação agora.

– E a pequena Jean Gray?

Ethan ergueu uma sobrancelha.

– Você dá conta dela, jovem gafanhoto.

Aposto que ela vai morrer, disse Yan.

– AGORA! – Ethan gritou enquanto o dragão aparecia ao seu lado e cuspia fogo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada mais uma vez aqueles que comentaram, ao pessoal novo que está acompanhando, e também aos que favoritaram (por que não dão um oi aqui? Eu não mordo ;u; e respondo todo mundo)
Espero que tenham gostado xD
Até o próximo.



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