Zodíaco escrita por Milka


Capítulo 14
A princesa e o plebeu




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—E o que você pode fazer? – Benedict se intrometeu entre as duas.

— Eu não vou mostrar nada para você, Benedict. Talvez eu mostre para essa ai

— Ela não é “ essa ai” Ela tem nome e muito mais educação que você.

— Educação? Eu não tenho que ter educação com a plebe.

Benedict se virou para a Cassie.

— Teremos que aguentá-la mesmo? Se por acaso ela desaparecer ou morrer não será nossa culpa não é?

— Na teoria não. – respondeu Cassie.

— Ótimo. Me contento com a teoria. Seja lá o que a senhorita Martin espera dessa missão, isso não nos importa. Vamos continuar como estávamos. E a ignorem.

— Me ignorar? Tente.

Benedict começou a ignora-la.

— Precisamos saber para onde iremos. Vinir é uma cidade movimentada, procurem qualquer tipo de rumor, lenda ou mesmo fofoca. Precisamos decidir a nossa direção.

— Certo, podemos nos encontrar aqui daqui duas horas? – Perguntou Cassie.

— Sim, Billo e Donar, cuidem das bagagens. Sidney cuide do Alex. E você Allen da Raíssa. Eu vou com a senhorita Faber procurar pistas e um lugar para dormimos.

— E eu? – Perguntou Justice.

— Vocês ouviram alguma coisa? Alguma mosca chata? Não? Então vamos logo.

Eles saíram e a deixaram reclamando sozinha. Ela estava em um lugar desconhecido e ninguém queria ajudá-la. Justice estava frustrada.

Ela decidiu vir quando ouviu sobre as coisas que aconteceram no castelo. Ela ficou muito curiosa e queria conhecer alguém igual a ela, mas parece que todos estavam contra ela. Ela não poderia fazer nada quanto a ser mais bonita mais rica e mais inteligente que todos eles. Quem eles procuravam estava bem a sua frente, mas eles nem tentavam entendê-la.

— Não importa. Seja como for, eu não vou contar a eles. Eles terão que descobrir sozinhos e implorarem por minha ajuda! - Ela disse já sozinha.

Justice nunca havia estado tanto entre os plebeus. No banheiro na rodoviária ela trocou de roupa. Tirou o vestido e as joias e vestiu algo que não chamasse tanta atenção. Ela vestiu suas roupas de montaria, eram as roupas menos glamourosas que ela possuía. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo alto. Ao sair do banheiro ela notou que as suas malas não estavam mais lá.

— Muito engraçado. Eu quero minhas malas agora.

Ela disse para multidão que a ignorava. Assim caiu a ficha do que havia acontecido.

— É isso que plebeus fazem não é? Roubam!

Ela estava furiosa. A quem ela podia recorrer? Benedict riria dela. Disso ela tinha certeza. E recorrer a seu pai era impensável. Só restava a mala de mão. Com algumas poucas joias que ela usava mais o vestido. “O que eu faço só com isso?”.

—Eles estarão de volta em duas horas. Tenho que encontrar quem roubou as minhas coisas. – Justice falou sozinha para quem quisesse ouvir.

Vinir era uma cidade de porte médio, com construções assimétricas ela foi um campo de batalha há 300 anos, dizem que ela nunca se recuperou totalmente. Marcas da batalha ainda eram vista em algumas construções.

Justice havia ficado sem dinheiro. Ela andou até uma feira de antiguidades. Várias lembranças da grande batalha eram vendidas. De longe ela enxergou alguma coisa familiar. Uma pulseira que ela conhecia muito bem.

— Vocês são rápidos. Devolvam-me agora minhas coisas! - Ela falou para uma mulher , que era muito mais alto que ela e possuía uma cicatriz que atravessava o seu rosto, de uma barraca de bijuterias.

— Suas coisas? Docinho acho que você está no lugar errado.

— Lugar errado? Roubaram-me essa pulseira há pouco tempo. Se não acredita veja o entalhe no interior. Está escrito Justice Martin.

A vendedora a obedeceu e leu.

— Isso não importa aqui. Eu comprei isso de um grupo de garotos. Eu não te devolverei a menos que você compre. Isso custa 100 gens

— 100 gens? È até engraçado. Isso nem paga as abotoaduras dela.

— É mesmo? Então vendo para você por 2000 gens!

— Tenho que aprender a ser menos sincera... Como eram os garotos que te venderam isso?

— Ah, querida. Eu não sou dedo-duro.

Justice tirou um anel da bolsa.

— Está vendo isso? Isso é uma safira. Vale no mínimo 5000 gens, só a pedra. Se você me der um nome ou localização. Isso aqui vai ser seu. E eu nem vou tentar comprar de volta.

— Travessa dos gatunos. Procure por Lemon, ele é um informante. Ele vai saber como ajudar.

— Transferindo a responsabilidade para outro? Não é assim que funciona. Eu não vou te dar o anel, e você vai me devolver a pulseira.

— Eu te falei um nome e uma localização, cumpra sua parte do acordo! – A moça disse se exaltando.

— A plebe é tão facilmente enganada? Eu não vou te dar nada e você vai ficar quieta sobre isso.

— Não me faça rir, você é apenas uma burguesinha.

— Burguesia? Não me ofenda assim.

A mulher não percebeu a quantidade de animais que estavam se reunindo ao redor. Cães de rua, gatos vira-latas e uma quantidade considerável de pombos e corvos.

Todos foram de uma vez em direção à moça, deixando toda a feira uma confusão.

Justice havia se cansado de discutir com aquela mulher. Ela já tinha um endereço e já tinha um nome. Aquela conversa era desnecessária. E assim ela saiu de lá levando suas joias e deixando a mulher confusa e perdida com toda aquela confusão.

— Travessa dos gatunos? Isso não parece ser um nome oficial.

Justice tinha mania de pensar em voz alta.

— Travessa dos gatunos? O que uma garotinha como você quer em um lugar como esse? – Um senhor que estava sentado na calçada perguntou.

— Negócios.

— Uma beldade como você em negócios com aqueles caras? Não me faça rir.

— Estou com cara de quem está brincando?

— Hum, posso até te contar onde fica, mas o que eu ganho em troca?

— Virni é a cidade dos malandros e de ladrões? Por que eu tinha que vir para cá? Não poderia ser em uma cidade praiana ou com pelo menos um pouco mais de classe?

— Do que é que você está falando?

— Isso não importa mais. Só me diga, onde fica isso. Sabe eu sou bem persuasiva quando eu quero.

O homem olhou para ela em dúvida. O que ela queria dizer com isso?

— Fica naquela direção, desça a ladeira, você vai ver uma placa de um gato é só entrar no beco.

— Muito obrigada senhor.

Justice viu de cara a placa de um gato preto. Ela entrou sem medo naquele beco úmido. Passou por vários homens e mulheres fazendo coisas ilícitas.

— O que o benzinho perdeu por aqui? – Falou um bêbado

— Não encostem em mim! – Ela afirmou, e todos olharam para ela. Eram mais de 15 pessoas.

—Não me faça rir princesa, o que você quer por aqui. – Um garoto loiro e apático de aparência nojenta como todos os outros que estavam ali ,disse.

— Eu estou procurando o Lemon.

— Lemon? Aquele sacana? Hahaha. Eu não sabia que ele estava envolvido com garotas de tanta classe. Me siga princesa, vou te levar até ele.

Justice não tinha medo. Ela sabia se cuidar. Mas ela foi meio desconfiada. Marcando bem os pontos de referência para não se perder.

Chegaram a um prédio antigo. Metade dele estava destruído, a outra Justice não entendia como continuava em pé.

Eles entraram e seguiram até uma sala com porta de ferro. Parecia muito forte, mas quando o loiro empurrou, Justice ouviu o ranger e notou a ferrugem.

— Lemon, eu trouxe a sua garota. Por que você não me contou sobre ela? Agora você vai ter que dividi-la comigo.

— Que garota? Eu não me lembro de ter nenhuma garota em Vinir.

— Deixa de ser mentiroso. Quem é essa gracinha e como ela sabe o seu nome.

Ele não era como ela esperava. Seu cabelo era de um tom de castanho claro, ele possuía um topete que combinava com o ambiente, mas os seus olhos eram verdes, bem claros. Ele era bronzeado e não tinha nenhum pouco do sotaque do sul. Vestia roupas simples, mas limpas.

— Veja só. Você me trouxe uma gata.

— Eu te trouxe? Se ela não é sua, eu a quero para mim.

O garoto sugeriu tocar em Jus.

— Se você encostar essa mão sebosa em um fio de cabelo meu, eu juro que arrancarei todos os seus dedos e darei de comer aos cachorros.

— A gata tem garras. Deixe-nos a sós, Mercúrio.

— Ah, que estraga prazer você é! Vai ficar com ela só para você?

— Acho que ela é uma cliente.

— Cliente? Seus clientes não são um pouco mais perigosos.

— Vá logo! – Falou Lemon

O garoto saiu em protesto.

— Sente-se.

Não havia nada além de um caixote de madeira. Justice reparou em todo o ambiente. A mesa era feita de tijolos. A cadeira dele era uma mistura de pneus. A tinta da parede estava descascando.

— Aqui?

— Só se a senhorita quiser sentar no chão.

Justice se sentou.

— O que você deseja? – Ele perguntou com um sotaque que ela nunca tinha ouvido.

— Me sugeriram o seu nome. Me roubaram e preciso encontrar as minha coisas.

— Humm então você quer a suas coisas? O que te roubaram a final?

Justice explicou para ele tudo o que havia acontecido. E ele começou a rir.

— Não vejo graça nisso.

— Só uma riquinha que não sabe nada da vida, deixaria suas coisas sem supervisão em uma rodoviária.

— Eu não tinha ideia que essa cidade era formada por malandros e ladrões.

— Princesa, não sei de que mundo você veio. Mas as pessoas não se importam, elas só querem prazer, poder e dinheiro. Então digamos que isso não é exclusivo de Vinir.

Justice ficou com a cara emburrada. Ela sabia como o mundo era. Ela já tinha presenciado muita coisa, mas acontecendo com ela era a primeira vez.

— Quanto vai ser para você recuperar as minhas coisas?

— Eu? Hahaha. Eu só sou um informante. Eu posso até te dizer onde essas coisas estão, mas você terá que recuperá-las sozinhas.

— Ok, tudo bem. Diga-me onde estão.

— Você vai mesmo?

— Claro que vou. Eu não tenho tempo para conseguir ajuda, então terei que sujar as minhas mãos.

— Você diz isso como se fosse fácil.

— E não é?

— Essa eu não perco por nada. Vou te levar até eles.

Lemon a levou em um lugar estranho, mais estranho que a travessa do gatuno. Era uma espécie de ferro velho. Ele ficou de longe e ela tinha que falar com aqueles homens.

Lemon disse que quem havia a roubado fazia parte de uma gangue. E ela teria que pedir para que eles vendessem a suas próprias coisas a ela. Justice não tinha dinheiro para isso. Eles haviam roubado, ela teria que apelar para outra opção.

— Olá. Então eu soube que vocês encontraram as minhas coisas. Eu ficaria muito feliz se você me devolvesse.

O homem era alto. Tinha a pele bem morena e não tinha cabelo. Ele tinha uma cicatriz no olho esquerdo. Ele estava sentado em um carro velho.

— Uau. Uma gostosa. O que a lindeza quer aqui?

— Você não ouviu? Eu quero as minhas coisas.

— Coisas?

De repente mais pessoas apareceram. Pelo menos meia dúzia.

— Sim, soube que vocês as encontraram na rodoviária.

— Aquelas joias? E aqueles vestidos de burguês? Você por acaso não teria mais nada assim?

— Claro que eu tenho! Eu não sou uma pobre.

— Ah, isso é bom de saber. Peguem-na

Justice estava realmente cansada de tudo aquilo.

— Isso vai ser muito nojento, mas vocês não me dão opção.

A quantidade de ratos ali era muito grande. Justice nunca tinha se conectado com uma quantidade tão absurda.

— Isso vai ser um banho de sangue. Talvez seja divertido olhar. – Ela disse na direção do grupo.

— Do que a vagabunda está falando?

Ratos e mais ratos surgiram daquela montanha de sucata. Alguns cachorros e urubus apareceram também. Eles ficaram cercados por todos os lados.

— Que merda está acontecendo? – Ele perguntou.

— Ataquem. – Justice disse em alto e bom som.

Os gritos eram ensurdecedores. Não houve chance para nenhum deles. Era uma montanha de ratos em cima de cada um deles. O sangue caiu negro. E o cheiro era insuportável.

Quando os gritos pararam Justice mandou todos os animais voltarem e assim examinou de perto o que havia acontecido.

— Arg. Isso sempre é nojento. Lemon me ajude aqui.

O garoto apareceu, ele estava com os olhos vidrados de medo.

— Por favor, não faça nada comigo.

— Eu não vou fazer nada! Me ajude a achar a minha coisas.

As coisas estavam em uma caixa de madeira nos fundo do terreno.

— A maioria das coisas não está aqui... –Falou Justice.

— Se você quiser, nós encontramos!! – Disse o menino um pouco transtornado.

— Isso não importa! Achei o colar da minha mãe. Isso já valeu a pena. Já não tenho mais tempo para procurar.

Eles seguiram para fora do terreno.

— Ah, não conte isso para ninguém.

— Não se preocupe, apesar da minha fama. Eu prometo. – Ele disse apreensivo

— Relaxa! Eu não vou te matar!

— Mesmo?

— Sim, mesmo!

— Ufa, eu não consigo mais guardar tantos segredos.

— Segredos?

— Sim. Eu encontrei com uma pessoa parecida com você. Acho que posso falar sobre isso com você não é?

—Claro. Somos uma organização afinal. – Disse ela para fazê-lo falar mais.

— Em Letin. Fale para o garoto que eu guardei segredo até agora.

— Letin?

— Sim a ilha.

— Ótimo, eu direi a ele.

Justice se despediu do garoto, ela tinha a sensação que iria encontra-lo novamente.

Chegando ao ponto de encontro, todos estavam já reunidos.

— O que houve com a senhorita Martin? Ela está com cheiro de cachorro.

— Agora você está falando comigo, Benedict?

— Ah, é eu tenho que ignora-la. Obrigada por me lembrar. Alguém descobriu alguma coisa?

Ninguém se pronunciou.

— Então teremos que seguir um daqueles rumores do norte...

Justice começou a rir.

— Do que a senhorita Martin está rindo.

— Sabe, Benedict, eu nem procurei nada . E tenho mais informações que você!

— O que você quer dizer com isso?

— Letin! Temos que ir para a ilha de Letin!


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Notas finais do capítulo

Acabei me empolgado nesse capítulo. Acabou sendo o maior que eu já escrevi.