Zodíaco escrita por Milka


Capítulo 11
Escadaria




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Benedict se impressionou com o garoto. Ele parecia uma criança, mas não agia e nem demonstrava ser uma.

Ele usava uma bermuda de algodão e estava descalço. Suas feições não demonstravam qualquer tipo de emoção, era possível sentir uma leve indiferença da parte do garoto.

— Podemos conversar com ele? – Benedict perguntou ao guerreiro.

— Se é o que vocês querem. Depois não nos culpe por qualquer coisa que ele fizer.

— Iremos conversar aqui no escuro?

— Ele não pode ser abençoado com a graça do Deus Sol. Ele é um demônio.

A fé do Deus Sol era um enigma para Benedict. E ele tinha crescido em um meio parecido, só que diferente dessa religião do Sul, a do Leste era muito mais aberta e receptiva mas o fanatismo era bem parecido.

— OK, já que não podemos ser agraciados com o Sol. Pelo menos podemos ficar com essa lamparina?

O guerreiro os deixou sozinhos com o garoto estranho.

Raíssa viu a aura do garoto. Ela se impressionou com a luz que ela emitia, era uma cor branca quase prateada. Era como se o branco fosse a única cor que importava. A escuridão que o rodeava não conseguia o atingir. Ela sorriu para ele. Mas ele não retribuiu.

— O senhor poderia me dizer o seu nome? – Perguntou Benedict.

— Quem são vocês? Você não é um monge!

— Sim, acho que não sou. Desculpe-me por parecer um herege aos seus olhos.

O garoto se aproximou. Ele se moveu rápido e ficou encarando Benedict.

— Você não parece ser muito inteligente.

— Eu não pareço ser muito o quê? – Benedict se ofendeu

— Sim, você veio aqui mesmo com todos dizendo que eu sou um demônio.

— Você não me parece um demônio. Não é Raíssa?

— Não. Ele tem uma aura branca e brilhante. – Ela disse sorrindo.

— Aura?

— Acho que o senhor nunca ouviu esse termo. Aura é o que nos faz existir. Vocês da religião do Deus Sol acham isso uma heresia.

Benedict percebeu que o garoto não parava de olhar para a Raíssa.

— Raíssa mostre o que pode fazer. Temos que fazê-lo acreditar antes.

— Mas e se ele não for um...

— Não temos muito tempo. Eu ouvi alguns passos, aquele guerreiro está voltando.

— Como está de dia. Eu ficarei muito exausta se fizer isso com muitas coisas. Você garoto, você tem qualquer objeto com você?

— Meu nome é Alex. Alex Alvarez.

— Para ela você diz seu nome... Reclamou Benedict

Para Alex aquelas pessoas eram um enigma. O homem falava com muito entusiasmo mesmo estando naquela escuridão com ele . E a garota era um mistério maior, ele se sentia bem perto dela. Ele se sentiu como aquela vez que viu o sol pela primeira vez.

— Eu não tenho nada, assim. Tenho apenas pratos e um lençol.

— Serve. Você pode me trazer?

Alex obedeceu a garota.

Ele pegou o lençol. Seu único lençol.

Ao entregar para ela, seus dedos roçaram levemente nos dela. Alex nunca teve muito contato com as pessoas. Desde que ele se lembra os monges só tocaram nele para impedir sua fuga e para proporcionar dor. Ele sentiu uma sensação entranha ao tocar na garota.

Raíssa olhou para o garoto, apesar de ser um pouco mais baixo que ela, ele agia como uma pessoa grande. Seus passos eram pesados e seu toque um pouco bruto.

Raíssa pegou o lenço que acordou e pediu. “Enrole o garoto”

Como era de se esperar o lençol a obedeceu.

Alex olhou para aquilo horrorizado. O que havia acontecido? Era pior que o que ele podia fazer. O lençol se entrelaçou ao seu corpo. Ele ficou imóvel enquanto aquilo acontecia. Ele se sentiu perdido.

Ele olhou para a garota que sorriu para ele.

— Me deixem em paz. Vão embora. – Alex tentou se desvincular no lençol.

A reação do garoto foi pior do que Benedict imaginava.

— Espere, temos que conversar, tenho que te contar uma coisa.

— Não!

Benedict ficava impressionado com a falta de expressão do garoto. Mesmo parecendo não ter se importado com tudo aquilo, as força das suas palavras diziam o contrário.

— Vamos Raíssa. Temos que esperar o senhor Alvarez se acalmar.

Eles se foram e deixaram as portas abertas. Ninguém veio fechá-las. Tinha alguma coisa errada- pensou Alex.

Já era possível ver o sinal dos raios de sol pelas frestas de algumas paredes, quando eles estavam na metade do caminho.

— Eu ouvi passos, mas eles não chegaram até nós. Eles são muito desconfiados. Não nos deixariam sozinhos. – Falou Benedict a Raíssa.

Seus amigos ficaram perdidos nas escadarias do subterrâneo. Disse um monge a Allen.

— Perdidos? Da para ficar perdido em uma escada?

— As nossas escadarias são como labirintos elas percorrem toda a cidade até o rio. Já perdemos alguns pupilos assim. Normalmente evitamos que qualquer um vá lá, mas seu amigo insistiu tanto.

Allen não podia acreditar.

— Vamos procurá-los!

— Não podemos arriscar assim. Esse é o fim para os seus amigos.

— Não. Isso não pode acontecer. Você sabe quem é aquele homem? Ele é ministro de relações internacionais. Uma pessoa muito valiosa para o nosso reino. – Falou Cassie já transtornada.

— A única coisa preciosa é o nosso Sol. Nada além disso.

— Isso não vai ficar assim. Não importa o que vocês dizem nós iremos procurá-los. Todo o destino do nosso reino está nas mãos daquele homem.

O monge chamou os guerreiros do Sol que expulsaram todos do templo.

Allen tentou lutar, mas Cassie o desencorajou.

— Somos poucos. Eles têm uma cidade inteiro sob suas ordens.

— Mas o que faremos agora? – Perguntou Billo

— Eu não sei. Eu não sei o que fazer agora.

Allen olhou para o rosto daquelas pessoas. Todas exceto Donar estavam o encarando. Eles queriam que ele tomasse uma posição, sem o Benedict ele teria que fazer alguma coisa. Ele não deixaria que isso acabasse assim.

— Ele disseram que as escadarias vão até o rio. Deve existir alguma outra passagem. Vamos nos separar. Sidney e Donar vão até o rio. Cassie e Billo vão atrás de informações com os cidadãos, e eu vou ficar aqui. Eu vou vigiá-los.

Ao chegar perto do fim das escadas Benedict viu que a saída estava bloqueada.

— Esses monges, filhos de uma puta! Me desculpe pelo linguajar senhorita Hyori mas eu estou muito puto com tudo isso.

— Não precisa se segurar só por minha causa.

— Ótimo isso é bom, mas não vou mais ferir seus ouvidos com essas palavras tão chulas.

— Mas o que faremos? O que está acontecendo com Allen e os outros?

— Espero que eles estejam bem. Eu não aprendo nunca. Nunca confie em monges do Templo do Sol!

Alex subiu alguns degraus. Fazia anos que ele não via a luz do dia. O que será que aconteceu? Por que aquelas pessoas vieram o ver. E como aquela garota pode fazer isso? Será que ela é como ele? Existiam pessoas como ele? Apesar do receio ele queria saber. Ele não poderia mais viver na escuridão. Ele queria sentir aquilo de novo.

— Quanto tempo passou? - Perguntou Benedict a Raíssa.

—Acho que nem uma hora.

— Tudo isso? Eu não aguento mais. Já estou morrendo de fome.

Benedict bateu algumas vezes no bloqueio.

— É assim? Vocês vão nos deixar morrer de fome?

— Mas comemos assim que saímos do ônibus...

—Não me contradiga Raíssa. Faça como eu bata nesse bloqueio e reclame de alguma coisa.

Raíssa o obedeceu.

— Abram eu preciso ir ao banheiro!!

Benedict se virou para ela.

— Se você quiser. Pode descer alguns degraus. Eu prometo que não vou olhar.

Ela ficou vermelha.

— Não! Eu não estou com vontade. Você disse para nós reclamarmos de alguma coisa.

— Ah sim. Mas se você quiser ir...

— Não!

Alex os ouvia gritar e bater em alguma coisa. Ele sabia, a saída estava bloqueada. O que os monges queriam com aquelas pessoas. A garota! Eles iriam fazer com ela o que fizeram com ele.

Benedict percebeu a presença de Alex. Ele estava perto. Ele estava observando.

— Senhor Alvarez, ser quiser nos ajudar. Eu ficarei eternamente agradecido.

— Como sabiam que era eu?

— Acho que não há ninguém mais nesse labirinto de escadas além de nós três.

— Sim, às vezes eu esqueço que estou sozinho.

— Você conhece alguma saída?

— Não. Há apenas essa. As outras estão bloqueadas. Acredite, eu já tentei.

Alex estava se solidarizando com aquelas pessoas. Elas não pareciam ser demônios. Elas eram como ele. Apenas pessoas perdidas.

— Eu não sei o que eles vão fazer com vocês. Mas não tenho um pressentimento bom sobre isso. Eu posso ajudá-los a saírem daqui.

— Como?

— Eu sou como você. Eu sou uma pessoa amaldiçoada. Esperem aqui eu vou buscar alguns pratos.

E Alex desceu as escadas. Indo o mais rápido que ele podia.

— Acho que não tem como irmos para outro lugar de qualquer forma - Falou Benedict

Alex voltou. Ele havia pego alguns pratos de vidro que ele guardava quando os monges levavam comida para ele.

— Você vai tacar isso no bloqueio? Eles são feitos com algum tipo de material super resistente?

— Não.

E Alex jogou todos os pratos no chão. Cerca de 20 pratos se estilhaçaram

—Espero que seja suficiente.

Alex se curvou e mentalizou os pratos como estavam antes de serem quebrados. Uma luz envolveu os cacos quebrados. E os pratos ficaram inteiros de novo

Benedict olhou para aquilo.

— Te encontramos!

Alex não soube interpretar aquilo muito bem.

Alex se aproximou do bloqueio e o tocou.

Tudo se quebrou e os raios de sol invadiram o local.

E eles deram de cara com um exército de guerreiros do Sol.


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