Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 5
Capítulo 05


Notas iniciais do capítulo

Olá, pimpolhos! Acho que já ficou claro que eu tenho uma certa indecisão com as capas, né? UAHAUAZHSAUS Bem, mas essa vai ficar agora. É sério!
Espero que vocês gostem do capítulo e em breve tem mais. Beijos! ♥



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It's Time - Imagine Dragons

— TENTE MANTER-SE INTACTA, sem ferimentos, sem arranhões... Você sabe, a pele de uma verdadeira dama deve estar sempre impecável.

Eu não conseguia me lembrar qual das inúmeras mulheres que haviam passado pela minha casa havia me dado aquela dica. Mas quem quer que tenha sido, bem, não havia surtido muito efeito sobre mim.

Depois do furacão que havia sido a minha semana após o anúncio das Selecionadas, lá estava eu, enfurnada no único cômodo da casa que ninguém ousava invadir, encolhida sobre a cama e roendo fervorosamente a unha.

Meu estômago se contorcia só de pensar que apenas algumas horas me separavam de estar no palácio. Lily havia me ajudado com a mala, e apesar de não dizer, eu sabia o quão empolgada por mim ela estava.

Ficar deitada era como uma tortura, me levantei e me sentei diante da escrivaninha. Me questionei se no palácio eu teria algum tempo livre para escrever; eu precisava distrair a minha mente com algo, grande parte das outras garotas estaria disputando a atenção do príncipe com unhas e dentes, era bem provável que eu tivesse bons momentos a sós.

Havia recebido tantas visitas que ficava até mesmo difícil conseguir me lembrar de todas. Clientes do meu pai, colegas e conhecidos da minha mãe, além de funcionários do palácio. Tive até mesmo que assinar um termo de compromisso para com a Seleção, o que me pareceu ao mesmo tempo um exagero e completamente patético.

Fitei os papéis em branco a minha frente e agarrei a caneta. Leve como uma pluma, ela deslizava com suavidade, fazendo leves ruídos que tinham o poder milagroso de me acalmar. As palavras começaram a surgir na folha como num passe de mágica.

Acredito que tudo na vida tem um propósito, sei que às vezes ele demora a surgir, ou que por vezes se esconde por muito, muito tempo, mas de algum modo ele sempre está lá. Não sei como o dia de amanhã será, não posso prever o que o futuro me reserva... Acho que eu deveria me importar mais com isso, mas a única coisa que consigo esperar é que seja bom. Não consigo ter certeza de nada, pelo menos não agora. Não tenho certeza nem de quem eu realmente sou!

Alexia Walcolt, dezessete anos, uma Selecionada! Com certeza isso deveria exercer um efeito muito maior do que o que de fato causa. Eu deveria estar pulando pelo quarto? Deveria estar cantarolando por aí sobre o quanto a vida é bela? Hum... Acho que sim. Pelo menos isso é o que as outras trinta e quatro garotas devem estar fazendo.

Meus pais pela primeira vez parecem empolgados, digo, empolgados de verdade! Não consigo me lembrar da última vez que os vi dessa maneira. De toda forma, isso ainda me incomoda. Não queria que me reconhecessem por eu ser famosa, queria que me dessem valor pela filha que eu sou.

Famosa... Ainda é difícil escrever ou falar disso e notar que agora isso é parte de mim.

Não sei como as coisas serão no palácio, não sei nem se o príncipe gostará de mim! Ou, espere! Essa coisa está realmente mexendo com a minha cabeça.

Não estou estou indo pela coroa. Não estou indo para entrar numa guerra pelo coração de um homem. Estou indo por mim, completa e inteiramente por mim. Pode soar egoísta, mas não é. Na vida às vezes precisamos de um momento apenas nosso.

Apenas nós e nós mesmos...

Parei de escrever no exato momento que a porta do meu quarto se abriu e Theo surgiu no pequeno vão. Senti um alívio repentino me inundar por dentro, era realmente bom vê-lo e principalmente saber que agora ele estava ali.

Enfiei o papel recém-rabiscado embaixo de outra pilha de papéis limpos e me levantei para abraçá-lo.

— Finalmente — murmurei, com meu rosto afundado contra o peito dele. — Achei que você não viria mais.

— Desculpe só ter aparecido hoje, eu recebi a dispensa como te falei, mas surgiu um imprevisto e eles precisaram de mim.

— Tudo bem — respondi, me afastei e sentei sobre a cama, apoiando a testa sobre as mãos. — Estou feliz que esteja aqui agora.

— Então — ele jogou-se preguiçosamente sobre a minha cama. — Qual o motivo da preocupação?

Soltei uma risada áspera.

— Bem, existem vários, mas acho que o que está me deixando mais aflita é essa fé que as pessoas estão depositando em mim.

— Isso é uma coisa boa...

— Eu não quero ter que decepcioná-las, Theo. Estou cansada de decepcionar as pessoas.

Ele ergueu-se de um pulo, o rosto profundamente sério. Suas mãos me seguraram e me fizeram ficar frente a frente com ele.

— Não diga uma coisa dessas, pelo menos não para mim. Não pode deixar que uma ideia como essa abale você. Se estão depositando fé em você, é sinal de que confiam na sua capacidade, que reconhecem o quão boa você é e... Ah, Lexi, pare de chorar!

Não que eu quisesse, mas não houve como segurar. No instante que ele começou a falar, senti meus olhos marejarem. Pela primeira vez eu senti e vi tudo o que estava deixando. Não haveria mais o conforto e a comodidade do meu quarto, não haveria mais como ver Theo durante as folgas dele e eu não teria mais Lily para poder puxar uma conversa.

Eu estava sofrendo de saudade antecipada.

Theo estava com os braços a minha volta, eu deveria parar de chorar, mas não conseguia. Um nó havia se formado na minha garganta e precisava colocá-lo para fora. Durante muito tempo eu havia me privado daquela regalia. Nem mesmo quando me desentendia com a minha mãe eu me permitia chorar, e fazer aquilo naquele momento era como se estivesse lavando a minha alma.

— Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem... — disse Theo, com o queixo apoiado no topo da minha cabeça.

Concordei lentamente.

Sim”, pensei. “Vai ficar tudo bem.”

***

O carro que me conduziria até a Praça Central de Columbia chegou exatamente no horário. Enquanto meu pai dirigia-se para fora com a minha mala, Lily deu uma última ajeitada na flor que pendia arrumada com cuidado na lateral do meu cabelo.

Eu vestia uma calça preta e uma camiseta branca, e ao me olhar no espelho do corredor antes de sair, não pude deixar de me questionar quando eu me veria daquela maneira novamente.

— Senhorita Alexia — chamou uma voz da porta, o motorista.

Respirei fundo e finalmente saí. Ao alcançar os jardins avistei Nora e Eve paradas na varanda de sua casa, desde o anúncio no Jornal Oficial elas haviam deixado de falar conosco. Como se nos culpassem por algo do qual não tínhamos culpa de ter acontecido. De certa forma, suas expressões carrancudas eram impagáveis e eu vi um certo brilho malicioso nos olhos da minha mãe quando ela acenou para elas.

Lily estava parada ao lado do carro, hesitante, talvez esperando que alguém lhe indagasse o que diabos ela estava fazendo ali. Mas a um pedido meu, ela iria junto com a minha família até o lugar da minha despedida. Se haviam sido contras, pelo menos meus pais não se deram ao trabalho de travar uma guerra.

— Entre, Lily — disse.

E ela entrou. Antes de entrar atrás dela olhei novamente para minhas vizinhas que me odiavam mortalmente naquele momento, não havia nada a perder mesmo. Abri meu melhor sorriso, acenei.

Pouco tempo depois já começávamos a nos afastar. Olhei para trás uma última vez e avistei os jardins bem cuidados se perderem de vista.

Senti um frio repentino percorrer minha espinha quando escutei o rugido da multidão. Parecia que todas as pessoas de Columbia estavam se acotovelando naquela Praça para me ver. O carro passou por um caminho serpenteante entre eles, e por medidas de segurança, os vidros do carro permaneceram fechados.

Os carros de Mike e Theo que haviam ficado em um perímetro específico agora nos seguiam devagar. Um palanque havia sido montado e a família do prefeito e ele estavam lá. Guardas do palácio montavam sentinela diante do palanque, como mais uma garantia de que eu ficaria bem.

Era óbvio que apesar dos grandes avanços que havíamos sofrido desde que o rei Maxon assumira o trono, que os rebeldes não desistiriam de conquistar o que quer que desejassem. Era comum que ouvíssemos histórias dos ataques que eles efetuavam contra o palácio.

Já havia pensado naquilo também, o fato de saber que a qualquer momento poderíamos ser atacados me causava um certo pânico, ainda assim eu sabia que havia um grande número de guardas bem treinados para nos manter a salvo.

Meus pais desceram primeiro, depois Lily e por último eu. Quando despontei fora do carro e comecei a subir a pequena escada, gritos e palmas encheram o ar. Me virei para olhar a multidão e me contive para não deixar meu queixo cair. Era impossível saber ao certo quantas pessoas estavam ali. Haviam inúmeros cartazes, crianças sentadas nos ombros de seus pais, outras garotas que haviam se inscrito, mas que ainda assim estavam orgulhosas por mim. Tudo era muito surreal.

As equipes do Jornal Oficial faziam uma ronda completa no lugar. Captavam a reação dos presentes, focavam em mim e na minha família e tentavam pegar de tudo um pouco ao mesmo tempo.

Senti quando duas mãos me levaram para um determinado ponto no palanque e me fizeram endireitar a postura. O prefeito, Jeffrey Monroe, começou um discurso sobre as infindáveis qualidades de Columbia e sobre o quão bem representados todos eles se sentiam.

Enquanto isso, sabendo que era a única coisa que me restava a fazer, eu sorria e acenava para as pessoas. Garotinhas que não deveriam ter mais do que nove anos agarravam-se a grade e mandavam beijos, desenhavam corações no ar e gritavam que eu era linda.

— Senhorita Alexia — Jeffrey dirigiu-se a mim. Balancei a cabeça, tentando me concentrar. — Quer dizer alguma coisa para nós?

Engoli em seco.

Atrás de mim Theo sorria abertamente, Mike me lançou uma piscadela discreta, Lily mantinha as mãos apertadas sobre o peito e meus pais não conseguiam esconder o orgulho em seus rostos.

Diga alguma coisa, diga alguma coisa!”, repeti para mim mesmo.

Me aproximei devagar do microfone, olhei para ele como se fosse um monstro prestes a me atacar. Eu era boa com as palavras, no entanto, minha especialidade era com papel e caneta.

Tomei fôlego.

— Sou péssima para falar em público, então... Quero agradecer a cada um de vocês por tudo isso — fiz um gesto, indicando tudo ao meu redor. — Não tenho nem palavras para dizer o quanto isso tudo me impressiona, então acho que já posso finalizar dizendo que farei o possível para mantê-los orgulhosos. Obrigada.

A multidão bradou ainda mais alto.

— Temos certeza de que fará isso — completou Jeffrey. — Agora é hora de darmos tchau a nossa querida senhorita Alexia. Desejamos toda a sorte do mundo!

Agradeci com um sorriso e um breve aceno de cabeça. Era hora de dizer tchau.

Abracei primeiro os meus irmãos, ambos pularam sobre mim como ursos e me apertaram forte. Eles diziam palavras de incentivo e demonstravam o quão empolgados estavam.

— E vocês dois, seus cabeças de bagre, comportem-se enquanto eu estiver fora — falei, mordendo o lábio para segurar as lágrimas.

— Como quiser, Alteza! — brincou Mike, fazendo uma breve reverência.

— Não deixe de escrever — pediu Theo.

— Pode deixar! — garanti.

Chegou a vez de Lily.

— É muito desrespeitoso dizer que sentirei sua falta? — murmurou ela, com o rosto enterrado nos meus cabelos.

Soltei uma risada.

— Eu não me importo! — me afastei e a segurei pelos ombros. — Sabe que pode escrever para mim quando quiser, caso fique envergonhada de falar com os meus pais, peça aos meus irmãos. Tudo bem?

— Certo.

Então foi a vez dos meus pais.

Eles me olhavam parecendo aflitos, atônitos. Os olhares indo rapidamente para as câmeras que captavam toda a movimentação no palanque. A atitude deveria partir da minha parte, eu sabia que eles não conseguiam mover um músculo sequer.

Abracei primeiro meu pai, um abraço terno e breve. Com ele segurando em seguida meu rosto entre as mãos e balbuciando que estava orgulhoso. Logo foi a vez da minha mãe.

Quando havia sido a última vez que havíamos nos abraçado? Eu não sabia.

— Comporte-se bem — ela disse, baixo o suficiente para que apenas eu escutasse. — Nos orgulhe.

E foi apenas isso. Nem um “vou sentir sua falta”, um “eu te amo” ou qualquer coisa do gênero. Nos soltamos e ela tornou a segurar o braço do meu pai.

Não tive tempo de demonstrar minha chateação. Era hora de partir, dali em diante eu seguiria sozinha.

Desci as escadas em direção ao carro que já me aguardava e me virei uma última vez para a minha família. Acenei para eles e para a multidão, logo depois entrei no carro.

Um avião nos aguardava e dali se trilharia um caminho do qual não havia mais volta.

Nos orgulhe”, minha mãe dissera.

Orgulho era o que toda Columbia também esperava que eu desse a eles.

E enquanto fitava a estrada, decidi que era exatamente aquilo que faria.


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