Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Eu não tô "creno" que tá acabando, genteeeeee!
Despedidas apenas no próximo, aproveitem. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/599394/chapter/30

Hero - Skillet

MEU LÁBIO ARDIA E MEU OLHO ESQUERDO LATEJAVA. Luke havia se livrado da minha tiara e segurava o alto dos meus cabelos com firmeza. Seu olhar não me indicava nada mais do que ódio puro, e pela primeira vez senti medo de verdade. Ele em pouco lembrava agora o soldado que eu havia conhecido, aquele que havia ensaiado comigo antes do primeiro baile.

A porta do meu quarto foi aberta de uma vez, e Kaya surgiu. Demorou meio segundo para que ela conseguisse compreender a cena diante dela. Nossos olhares se encontraram, e quando sua boca abriu-se para soltar um grito, Luke disparou contra seu ombro direito e ela tombou para trás, caindo no corredor.

Um grito escapou do meu corpo, e tentei lutar para me desvencilhar dele. Com um puxão forte ele empurrou minha cabeça para trás, e colocou o cano morno da arma contra o meu queixo.

— Hora de dar um passeio.

Fui empurrada em direção ao corredor, tendo que tomar cuidado para não pisar em Kaya. Uma mancha escura se espalhava pelo lado onde ela havia sido ferida; não podia imaginar como o ferimento havia sido, mas ela mantinha os olhos fechados e seu peito subia e descia lentamente.

Luke praticamente me arrastava, mantendo a arma pressionada contra a minha cabeça. Os corredores estavam vazios, já que o foco principal era o Grande Salão, onde o evento iria ocorrer. Presumi que se Kaya havia ido até o meu quarto, isso indicava que estava na hora.

Eu tropeçava nos meus próprios pés, e minha cabeça parecia a ponto de explodir. Meu coração batia acelerado, com medo do que me aguardava. Descemos as escadas e a respiração densa de Luke deixou de ser o único som que eu ouvia.

Os murmúrios dentro do Grande Salão encheram meus ouvidos. Os guardas que estavam postados ao lado de ambas as portas só pareceram perceber tudo quando nos aproximamos. Eles ergueram suas armas e apontaram diretamente para Luke.

— Solte-a, agora! — gritou um deles.

Luke fez com que eu fosse parar na sua frente, envolvendo meu pescoço com um dos braços e pressionou ainda mais a arma contra a lateral da minha cabeça.

— Se não me deixarem passar agora, estourarei os miolos dela aqui mesmo — ameaçou.

Tum... Tum... Tum...

O sangue pulsava em meus ouvidos, a dor em meu rosto era quase suportável. Os guardas hesitaram, e me encararam. Fechei brevemente o olho que ainda se encontrava em bom estado, e assenti para eles.

Quando finalmente passamos por eles, ouvi o clique de suas armas sendo destravadas, e os passos que indicavam que estavam logo atrás de nós. A princípio as luzes fizeram meus olhos doerem e as pessoas estavam tão distraídas que não pareceram notar nossa entrada.

Então, alguém gritou. Um grito tão alto e tão profundo que fez meu coração congelar. Olhei na direção do som.

Lori.

Não consegui discernir muito bem seu rosto, mas ela estava de pé e com o dedo apontando na nossa direção. Cabeças viraram-se automaticamente para nós, e então o burburinho cessou. Cedendo lugar a um silêncio que, aos meus ouvidos, nunca pareceu tão alto.

Os guardas postados de ambos os lados do salão empunharam suas armas, e um calafrio percorreu minha espinha. No cenário a nossa frente o lugar onde o rei iria fazer seu anúncio já havia sido preparado; em um ponto mais distante três cadeiras e uma mesa haviam sido dispostas. Brittany ocupava a da direita e Nicholas deveria estar no centro.

Deveria.

Ele havia se erguido, assim como o rei. E seu olhar corria de Luke para mim, completamente incrédulo; quando ele finalmente me encarou com firmeza, meu corpo automaticamente reagiu, e eu comecei a chorar.

— Olá, amigos! — disse Luke, com um ar tranquilo.

— O que acha que está fazendo? — bradou o rei. — Solte-a imediatamente!

— As coisas não funcionam assim — respondeu. — Eu tenho uma condição.

— Pois então a diga — a voz não saiu do rei, e sim de Nicholas. Quase não a reconheci, estava dura feito pedra e fria.

Luke soltou uma risada, e senti sua respiração no meu ouvido.

— Quero as câmeras ligadas, transmitindo nosso pequeno teatro para todo o país.

Nicholas franziu o cenho, mas com um gesto silencioso indicou que as câmeras fossem ligadas. Relanceei o olhar na direção das outras garotas e olhos arregalados de medo me encararam de volta.

— Está sob a mira de dezenas de soldados, rapaz — disse o rei Maxon. — Acha mesmo que conseguirá qualquer coisa?

Ao ouvirem essas palavras os guardas destravaram suas armas. Meu coração parou por um momento.

— Se fizerem qualquer movimento — avisou Luke. — Estouro a cabeça dela.

Nicholas me encarou e eu sustentei seu olhar; o medo estava evidente em seu rosto, e ele avançou alguns passos em nossa direção.

— Pare onde está — vociferou Luke, ameaçadoramente. E ele parou.

— Deixe-a ir — pediu Nicholas, sua voz tremeu. — Deixe-me trocar de lugar com ela.

— Não! — as palavras escaparam por entre meus lábios, fracas e lembrando a um sussurro. Limpei a garganta. — Não vou deixar que faça isso.

A certeza de que eu jamais permitiria que Nicholas fizesse aquela loucura era bem clara. E ele já estava se arriscando demais ficando exposto daquela maneira. Se Luke fosse rápido o suficiente poderia balear tanto a mim quando a ele.

— Afaste-se — pedi, reprimindo um soluço. — Por favor.

O lábio inferior dele tremeu, e seus olhos brilharam. “Não chore”, pensei. “Ou não serei capaz de aguentar”.

— Isso é realmente encantador — comentou Luke, num falsete. — Nada pode ser mais bonito que o amor.

Meu corpo inteiro tremia, como se de repente nevasse dentro do palácio. Eu sentia o ódio que havia despontado dentro de mim quase me corroer. A sensação de impotência era uma das piores que eu poderia sentir.

— Por que está fazendo isso? — perguntou Nicholas.

Luke me impulsionou para o chão e eu caí de joelhos, meus olhos arregalaram-se e encarei o piso do salão. Ele sempre havia sido tão brilhoso?

O cano da arma estava pressionado contra a parte de trás da minha cabeça. Luke só precisava de um movimento e então não existiria mais eu. Não existiria mais Nicholas. Não existiria mais mundo.

Tudo viraria pó.

— Por que eu estou fazendo isso? — a voz de Luke tremia. — A resposta é simples. Quero deixar uma cicatriz tão grande e tão profunda na história, que ninguém jamais será capaz de esquecer.

Ninguém parecia respirar dentro do Grande Salão, e quando consegui erguer um pouco o olhar, a visão do rosto de Nicholas contorcido de pânico me fez sentir uma pontada no estômago.

— Sabe que se fizer qualquer coisa contra ela não sairá vivo daqui — alertou-lhe o rei.

— Não me importo — respondeu Luke, desdenhosamente. — Não tenho nada a perder mesmo. E agora se me permitem, o assunto já se estendeu muito do que eu pretendia.

Minha respiração se acelerou, passei a soltar o ar pela boca. Lágrimas embaçavam minha visão no olho bom, e pisquei para conseguir enxergar o rosto de Nicholas. Se eu iria morrer ali, ao menos desejava que a última coisa que eu pudesse ver fosse ele.

— Não! — ele gritou, desesperado. — Não!

— Despeça-se — falou Luke para mim.

Solucei tão alto e tão forte que meu peito doeu.

— Eu amo você — a voz soou são tão baixa, que não pude ter a certeza de que ele estava me ouvindo.

Olhei para as câmeras e discerni as luzes vermelhas piscando. Estavam nos vendo, todo o país iria assistir a minha queda. Meus pais, meus irmãos...

Fechei os olhos.

Tentei tornar minha respiração regular e passei a me concentrar nas coisas boas que haviam me acontecido. Muitas vezes eu havia escrito a respeito do que poderia me esperar do outro lado, e talvez fosse a hora descobrir.

Aguardei, sentindo meu coração desacelerar. O clique estalou bem próximo do meu ouvido, e quase pude vislumbrar a bala girando e entrando na linha de lançamento da arma. “Sem dor”, pensei.

Então o tiro veio, alto, estrondoso, fazendo meus ouvidos doerem. E ecoando por todo o salão. Mas ele atingiu o lado errado, não era para ter sido na lateral do meu corpo, era para ter sido na cabeça.

Algo pesado caiu atrás de mim, e finalmente abri os olhos.

Meu corpo parecia pesado e minhas costelas pareciam em chamas. Meu corpo pendeu para o lado, mas Nicholas já estava próximo o suficiente para não deixar o impacto da minha queda ser forte. Gritos ecoavam por todos os lados, desesperados e repletos da pânico. Pessoas corriam.

Virei a cabeça na direção de Luke e o avistei caído de lado, com os olhos abertos. Uma poça de sangue formava-se em torno da sua cabeça. Seus olhos escuros pareciam me encarar, e soltei um grito.

Um grito alto e cortante, que pareceu ecoar por cada uma daquelas paredes. Eu queria me mover, mas a dor era forte demais para permitir. Nicholas virou meu rosto para o seu, e encarei seus olhos.

— Concentre-se na minha voz — pediu. — Não feche os olhos, Alexia.

O ar parecia mais frio e meus dentes batiam uns contra os outros. Queria poder responder Nicholas, mas minha língua parecia grossa e pesada. Comecei a sentir como se meu corpo fosse leve feito uma pluma, e as vozes ao meu redor passaram a se tornar distantes.

Pisquei diversas vezes, mas o rosto de Nicholas parecia apenas um enorme borrão. “Se isso é morrer, fico feliz por poder ter visto seus olhos uma última vez”, pensei. A mão dele estava agarrada a minha, enquanto com a outra apoiava minha cabeça sobre seu colo.



De repente ouvi a voz da minha mãe, e ela estava cantando. Na minha visão estávamos no meu quarto, a decoração ainda era a mesma de quando eu possuía sete anos. Ela estava sentada abraçada com um travesseiro. Seus olhos ergueram-se para mim como se a primeira vez que me visse.

— O que faz aqui? — perguntou.

— Estou morrendo — respondi, minha voz soou aguda e tranquila.

Ela balançou a cabeça.

— Você ainda é nova, querida — respondeu. — O mundo é seu, não é sua hora.

— Mas, mamãe...

Ela se levantou e avançou na minha direção, esperei que ela me tocasse, mas ela não o fez.

— Não é sua hora — repetiu.

— Alexia! — alguém berrava. — Alexia, volte!

Abri os olhos, puxando o ar com força para os meus pulmões. O rosto banhado de lágrimas de Nicholas me encarou de cima.

Não tive tempo de lhe dizer nada, então, apaguei de novo.

***

Face The Sun - James Blunt

Quando abri meus olhos estava encarando o teto da ala hospitalar. Estava escuro, e tudo estava mergulhado no silêncio. Levei minha mão até o ponto onde havia levado o tiro e senti um curativo espesso sobre o local.

Meu olho esquerdo estava um pouco mais aberto, e o latejar em meus lábios havia diminuído. Virei meu rosto para o lado e avistei Nicholas. Sua cabeça pendia sobre um dos ombros, e seu rosto parecia quase angelical enquanto ele dormia.

A lembrança do que havia acontecido me inundou e começou a me puxar, como se eu mergulhasse em um pesadelo. Soltei um soluço e apertei o lençol entre meus dedos. Os olhos de Nicholas abriram-se imediatamente.

— Não queria acordá-lo — minha voz falhou.

— Graças a Deus! — disse ele, parecendo aliviado. Inclinou-se apoiado na beirada da cama e beijou minha testa.

— O que aconteceu? — perguntei, entrelaçando meus dedos nos dele.

— Luke ia atirar em você, mas dois soldados tiveram a brilhante ideia de tentar acertá-lo antes — ele beijou a ponta dos meus dedos. — Mas um deles errou, e acabou acertando você.

— Ponha-o de castigo — falei, dando um sorriso fraco.

Nicholas deu uma risada baixa.

— Como se sente?

— Viva — respondi. — Por um momento achei que nunca mais iria existir.

A mão dele apertou a minha, e eu retribuí.

— Eu não aceitaria viver em um mundo no qual você não existisse.

Me questionei se ele chegou a se dar conta de que por alguns segundos isso aconteceu.

— Que tipo de mágica o Dr. Garvin fez? — indaguei.

— Você passou por uma cirurgia, e ele conseguiu remover a bala. Se demorasse mais um pouco...

Ele não completou a frase, e boa parte minha ficou aliviada por isso.

— Por quanto tempo terei que ficar aqui? — desconversei. — Esse lugar é tão... vazio.

— Kaya está duas camas depois de você — comentou ele.

Kaya... Quase havia me esquecido dela, mas se ela estava a duas camas de distância, então presumi que deveria estar bem.

— Tente convencê-los a me levar para um dos outros quartos — pedi.

— Posso pedir a eles para colocarem você no meu — sugeriu.

— Nicholas, contenha-se, estou baleada — brinquei.

Ele riu, e eu fiz uma careta ao tentar fazer o mesmo.

— Eles precisam começar a se acostumar com a ideia, afinal, isso será bem comum quando nos casarmos.

Ergui as sobrancelhas ao encará-lo, e permitindo-se soltar minha mão por alguns instantes, observei-o vasculhar o bolso esquerdo do terno. Dali retirou uma pequena caixa azul marinho, abriu-a delicadamente e exibiu um pequeno anel de brilhantes.

— Me imaginei fazendo isso de uma maneira mais romântica, não em uma aula hospitalar, mas... — ele pigarreou e olhou no fundo dos meus olhos. — Depois que você surgiu em minha vida, com esse seu jeito inteligente e amável, tudo mudou. Eu mudei. Procurei ser melhor, e procurei dar o meu máximo em tudo. Não sei como as coisas serão daqui em diante, mas sei que podemos começar a traçá-las agora. Por isso, Alexia, aceita se casar comigo?

Enxuguei os olhos com as costas da mão, como costumava fazer quando era criança. Nicholas retirou o anel de dentro da caixa e segurou-o sob a luz. Ramos de oliveira desenhavam as laterais e observei que a pedra localizada no centro havia sido milimetricamente moldada.

Ele desejava a minha resposta, eu via o anseio em seus olhos. Uma vida inteira ao seu lado... Construir uma família...

As palavras, que sempre estiveram escondidas em algum lugar dentro de mim, surgiram com facilidade, parecendo ecoar pelas paredes.

— Sim — respondi. — E se serve de consolo, essa foi a coisa mais romântica que já aconteceu comigo.

Ele deslizou o anel pelo meu dedo, e observei que sua mão tremia. Inclinando-se com cuidado sobre mim, ele me beijou.

— Sr. e Sra. Complicados — recordou.

Sorri diante da lembrança, como se ela tivesse acontecido em outra vida. Beijei Nicholas novamente, apoiando minha mão contra sua bochecha.

— Nunca tive certeza do meu amor por alguém tanto quanto tenho por você — ele sussurrou, com o rosto ainda próximo do meu.

Segurei sua mão, observando o brilho do anel sobre meu dedo. Ergui os olhos para ele, me permitindo mergulhar na imensidão de seu olhar.

— Nicholas Schreave, eu amo você. Com todo o meu amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!