Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 3
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Hey, meus amores. Mais um capítulo para vocês, espero que gostem. ♥



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MEUS IRMÃOS PARTIRAM DEPOIS DO ALMOÇO.

Parte de mim desejava que eles ficassem mais, mas eu sabia que eles tinham compromisso e já haviam feito muito em deixarem para ir durante a tarde. Mike tinha seus pacientes e um plantão para cobrir, e Theo precisava dar apoio a sua equipe no laboratório.

— Lembre-se, Lexi — ele disse, antes de ir. — O mundo é seu!

Mike colocou a cabeça para fora da janela de seu carro e acenou para mim.

— Nos vemos quando você for Selecionada!

Eu ri mais para disfarçar meu nervosismo, do que por achar graça. O peso daquele formulário preenchido ainda me afetava. Era como mais um problema que havia se acumulado sobre meus ombros. Na manhã seguinte seria efetuada a entrega dos formulários, e eu ainda não havia me decidido.

Assim que os carros viraram a esquina e sumiram de vista, nossa vizinha, Nora, resolveu que era hora de se vangloriar pela filha. Correu de seu jardim completamente esbaforida e parou com um sorriso de orelha a orelha diante de mim e da minha mãe.

— Judy, Alexia — ela cumprimentou, ofegante. — Então, preparada para amanhã?

Eu a observei. Seu rosto exalava ansiedade, e eu sabia que as palavras estavam agarradas em sua garganta. Sua maior vontade não era saber se eu iria, e sim contar vantagem sobre a própria filha.

— Ainda estou decidindo — respondi, por fim.

— Como assim? — ela indagou, surpresa. — Querida, grande parte das garotas da província estarão se inscrevendo.

Dei de ombros.

— Esse é um dos motivos, seria um saco ir até o Departamento de Serviços Provinciais à toa. São muitas concorrentes para desbancar.

Seu sorriso estava tão forçado que lutei contra o impulso de lhe dizer que já podia parar de fingir. Antes disso, porém, ela virou-se para minha mãe.

— Eve está tão empolgada — falou. — E eu também, é claro. Não posso imaginar destino melhor para ela...

Aquela foi a deixa que eu precisava. Me esgueirei pela porta e corri para o meu quarto. Encontrei Lily terminando de polir a minha escrivaninha, cumprindo a um pedido meu, ela não havia retirado meus papéis da ordem; observei-a por um momento e quando ela estava prestes a sair a chamei novamente, de algum modo eu precisava conversar com alguém. Lily parecia a pessoa certa.

— Sim, senhorita? — ela disse, prontamente.

Fechei a porta e me sentei sobre a cama.

— Sente-se, Lily — indiquei a cadeira atrás dela. Ela pareceu relutante, ainda assim se sentou. — Não vou dar nenhuma bronca em você, pode relaxar. Só preciso de alguém com quem conversar.

— Perdão, senhorita?

— Me chame de Alexia, por favor. — Suspirei. — Lily, você acha que eu deveria entregar o formulário amanhã?

Ela pareceu completamente surpresa. Eu tinha certeza que nunca nenhuma das pessoas que a contratara lhe tratava daquela maneira. Senti orgulho de mim mesma.

— Senhori... Alexia, acho que seria uma ótima oportunidade — ela respondeu, timidamente.

— Porque você não se inscreveu também? — indaguei. — Parece que atualmente a Seleção está sendo muito mais receptiva do que era antes.

Lily deu de ombros.

— Que chance eu teria? Sou uma Seis! Me contento com o que tenho.

Notei o tom de tristeza em sua voz, e me senti mal por dentro. Observei-a com mais atenção. Só a havia visto sem uniforme apenas uma vez, quando ela viera até nossa casa para ser contratada. Ainda assim, ela era uma garota bonita; os cabelos negros ficavam sempre presos em um coque apertado, mas eu sabia que eles eram longos e ondulados, seus olhos eram grandes e escuros, e ficava implícito neles o quanto ela possuía esperança. Ela deveria ser um ou dois anos mais velha que eu, mas certamente já havia vivido muito mais do que eu podia imaginar.

— Você é uma garota bonita, Lily — comentei. — Não deveria se deixar abalar por ser uma Seis. É apenas um número!

Assim que proferi aquelas palavras eu sabia que era naquilo que eu acreditava. Não conseguia engolir a ideia de um número definir quem você era e o que poderia ou não fazer. Eu achava muito bem que uma garota como Lily poderia viver como eu. Eu não era melhor que ela!

— Ainda assim, a Seleção é mais do que eu poderia querer. Se minha opinião serve de algo, você deveria ao menos tentar. É uma das melhores pessoas que tive o prazer de conhecer, sei que se for sorteada pode ser uma pedra no sapato de suas concorrentes. — Ela se permitiu um risinho. — Acredito no seu potencial.

Senti algo se iluminar dentro de mim. Saber que uma pessoa além dos meus irmãos também tinha aquela crença me fez sentir especial.

— Não é à toa que Theo acha você interessante — soltei.

Os olhos dela se arregalaram e seu rosto ficou vermelho feito um pimentão. Ela começou a retorcer as mãos nervosamente sobre o colo e não pude esconder um sorriso.

— Lily? — chamei.

— Desculpe — ela murmurou. — Faça a inscrição, Alexia. Preciso voltar ao trabalho.

Antes que eu pudesse lhe agradecer por ter me ouvido, ela levantou-se e saiu às pressas. Ainda olhava para a cadeira em que ela estivera, quando me recordei das palavras de Theo.

Realmente ele havia dito que a achava interessante, mas eu não havia conseguido captar o real sentido das palavras dele. Se houvesse algum interesse a mais dele nela, bem, eu não me importava. Lily era uma boa garota.

Me deixei cair de costas na cama e refleti sobre as palavras dela. Poucas, mas suficientes para me fazer pensar. “Sei que se for sorteada pode ser uma pedra no sapato de suas concorrentes...”

Pensei em Nora contando vantagem a respeito de Eve, pensei em minha mãe dizendo que eu não precisava me sentir forçada, pensei em Theo me dizendo que aquela era a minha chance. De repente, a certeza estava lá. Brilhando em letras douradas diante dos meus olhos.

Eu iria me inscrever.

***

Tive que forçar o café da manhã garganta a baixo enquanto os minutos pareciam se arrastar. Havia anunciado na noite passada durante o jantar que iria me inscrever e observei as distintas reações que se sucederam.

Minha mãe assentiu em silêncio, como se já conhecesse minha decisão até antes de mim mesma. Meu pai pareceu surpreso, e logo começou um monólogo sobre a vida na monarquia. Lily piscou para mim discretamente e me lançou um sorriso rápido. Ótimo, até então tudo estava nos conformes.

Passei a noite toda pensando que aquilo era uma boa ideia, que de fato poderia dar certo, mas conforme passamos a nos dirigir para o centro de Columbia, eu sentia tudo o que eu havia comido se revirar em meu estômago.

— Tente não vomitar — murmurou minha mãe, quando descemos do carro. — Apenas precisará entregar o formulário e tirar a foto.

— Foto? — minha voz soou mais aguda que o normal.

Minha mãe me olhou como se fosse óbvio.

— Você já sabia a respeito disso!

Assenti lentamente e começamos a nos encaminhar para a imensa fila que se estendia até perder de vista. Centenas de garotas tagarelavam e contavam o quanto estavam ansiosas. Elas estavam tão arrumadas que já pareciam prontas para irem para o Palácio. Desejei naquele momento estar um pouco mais arrumada, não vestindo jeans, tênis e uma camisa de botões.

Talvez eu tivesse que decepcionar Lily e Theo daquela vez.

Permaneci em silêncio durante todo o trajeto que me conduzia até o interior do Departamento. Inúmeros toldos haviam sido montados, de modo que aquilo agilizava um pouco as coisas. Conforme me aproximei para entregar o meu formulário, avistei Eve ao longe. Ela estava radiante quando o fotógrafo pediu para que ela sorrisse.

Tentei calcular em minha mente a probabilidade das minhas chances.

— Senhorita — disse o fotógrafo, tirando-me de meus devaneios. — Não se preocupe, será uma coisa bem breve.

Entreguei a ele meu formulário e me sentei. Meus olhos involuntariamente pescavam todos os movimentos do ambiente. Os flashes pipocavam por todos os lados.

— Parece tensa, precisa relaxar — ele comentou.

— É um pouco assustador.

Ele riu.

— Isso é só o começo, no entanto, preciso que esqueça toda essa loucura a nossa volta. Concentre-se em coisas boas, pense em sua família, seus amigos e me conceda seu melhor sorriso.

Pensei em Mike e Theo, Lily, meus rascunhos e tudo o mais de bom que me cercava. Foquei meu olhar na lente daquela câmera e sim, dei meu melhor sorriso para aquele fotógrafo. O flash quase me cegou, mas de algum modo não me incomodei.

Estava feito. Não havia mais como voltar atrás.


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