Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 2
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Ei, mais um capítulo pra vocês. Espero que gostem! ♥



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ACORDEI COM UM SOM DIFERENTE DO HABITUAL.

Na parte debaixo da casa, surpreendentemente estava tocando música. Aquilo era quase raro, já que minha mãe constantemente se queixava das qualidades dos artistas atuais. Presumi que a ideia havia sido de algum dos meus irmãos, e para fazer suas vontades minha mãe acabou cedendo.

Saltei da cama a fim de aproveitar o dia com eles. Não sabia por quanto tempo pretendiam ficar, e também não sabia quando tornaria a vê-los. Tomei um banho, me troquei e decidi descer para tomar café.

Os encontrei sentados na sala, rindo e conversando. Era estranho ver minha mãe tão alegre daquele jeito, eu estava acostumada a vê-la sempre carregando uma carranca e falando com rispidez. Senti aquilo me incomodar em algum lugar no meu íntimo, eu só queria que houvesse paz entre nós.

— Lexi! — Theo exclamou, com um sorriso largo no rosto. — Sente-se aqui, apesar de não parecer, Mike tem algumas histórias hilárias para contar.

— Deixe de bobagem, Theo — replicou Mike, brincando. — Assuma que sempre fui mais divertido que você.

Theo fingiu estar ofendido e se virou para mim.

— Quem você escolhe, Lexi?

Crispei os lábios por um momento e olhei para o teto indicando que estava ponderando a resposta.

— Bem, entre você e o Mike, eu me escolho!

— Sua traidora! — gritou Mike, arremessando uma das almofadas na minha direção.

Desviei e corri para a cozinha. Ainda estava rindo enquanto dispensei Lily e passei a preparar minha própria refeição. O clima leve que se apoderava do ambiente só me fazia desejar ainda mais que meus irmãos continuassem conosco.

Eu gostava de paz, tranquilidade, mas ter alguém para fazer uma bagunça de vez em quando era bom. Apesar de gostar também de ficar reclusa em meu quarto apenas com as minhas histórias, ter Mike e Theo me distraindo com suas piadas parecia quase surreal. Eu sabia que sentiria muita falta deles quando anunciassem que teriam que partir.

Meu pai havia saído bem cedo, trabalhava como advogado e quase não parava em casa. O tempo de Leonard Walcolt era dividido entre seus clientes e nós, mas devo dizer que ficamos apenas com uma pequena parcela.

Sentei-me junto com Mike, Theo e minha mãe para desfrutar um pouco das histórias deles. Theo contava sobre seus experimentos e quase engasguei quando ele contou que uma vez, enquanto trabalhava em uma fórmula nova, conseguiu ficar com as sobrancelhas chamuscadas por misturar os elementos errados.

Minha mãe soltou uma exclamação e levou as mãos ao peito, Mike curvou-se de tanto rir e parecia estar tendo uma convulsão.

— Cara... Eu faria qualquer coisa só para ver esse momento — comentou, ainda rindo.

— Se você estivesse comigo, eu colocaria a sua cara na frente — rebateu Theo.

Lily aproximou-se de onde estávamos timidamente, e colocou os envelopes que havia retirado do correio sobre a mesa de centro.

— Ei, Lily! Sente-se conosco, nós mal a conhecemos — bradou Theo.

O rosto dela ficou vermelho como pimenta, seu olhar pousou rapidamente sobre minha mãe e em seguida ela fitou o chão.

— Desculpe, senhor. Tenho que preparar o almoço.

E sem mais nenhuma palavra se retirou.

Senti pena dela. Lily era uma Seis, e consequentemente dependia demais daquele emprego. Eu não gostava da ideia de ter que mandá-la fazer as coisas, se estivesse ao meu alcance, eu mesmo fazia. E mesmo quando tinha que pedir, a tratava como uma pessoa decente, nunca aos gritos ou rispidamente. Lily era uma boa moça, mas que por determinação das leis tinha que viver naquelas condições.

— Vejam só! — exclamou minha mãe, agitando um envelope diante de nossos olhos.

— O que é isso? — Mike indagou.

Ela virou o envelope para que pudéssemos ver, e senti meu estômago embrulhar ao olhar para o selo de Illéa gravado ali. Mike soltou um assobio baixo e Theo correu para desligar o som. Eu sabia o que estava ali e principalmente o que significava, mas ainda assim a ideia de viver aquilo pessoalmente... Até então tudo o que eu sabia eram apenas histórias.

Minha mãe o abriu e se pôs a ler em voz alta.

— “Confirmamos no último censo que uma mulher solteira entre dezesseis e vinte anos reside atualmente em sua casa. Gostaríamos de informá-los sobre uma oportunidade próxima de honrar a grande nação de Illéa.” — Ela tomou fôlego e prosseguiu. — “Nosso amado príncipe, Nicholas Schreave, atinge a maioridade este mês. Para adentrar esta nova fase de sua vida, ele deseja ter uma companheira a seu lado, uma verdadeira filha de Illéa. Se sua filha, irmã ou protegida elegível estiver interessada na possibilidade de tornar-se a noiva do príncipe Nicholas e a adorada princesa de Illéa, por favor, preencha o formulário anexo e entregue-o no Departamento de Serviços Provinciais da sua localidade. Uma jovem de cada província será escolhida aleatoriamente para encontrar-se com o príncipe. As participantes serão hospedadas no agradável palácio de Illéa, em Angeles, enquanto durar sua estada. A família de cada participante será recompensada generosamente por seu serviço à família real.”

Eu me sentia diminuir a cada palavra que ela lia e quando finalmente virou a folha e encontrou o formulário, parte de mim desejava ser invisível. Nós não precisávamos do dinheiro, tínhamos o suficiente e mais um pouco; o que me assustava era a ideia e o propósito real daquela carta.

Permaneci imóvel, com os olhos fixos em um ponto distante. Desejei que a música continuasse tocando, mas Theo não se moveu para ligar o som novamente. Seguiu-se um momento de silêncio na sala, enquanto as palavras lidas por minha mãe ainda flutuavam.

Eu sabia que não era a única recebendo aquele aviso naquele momento, mas estava assustada demais para conseguir assimilar como deveria ter sido a reação das outras garotas. Não precisei de muito tempo para saber. Na casa da frente, Eve McMiller gritava histericamente e pulava feio uma rã abraçando com força a carta.

Engoli em seco.

— Vai se inscrever? — Mike indagou.

Dei de ombros.

Olhei para minha mãe e notei uma chama diferente em seus olhos. Ela não estava com raiva, ou me recriminando. Aquilo era... Compaixão. Senti um calor se espalhar por todo meu corpo, era a primeira vez que eu a pegava me olhando daquela maneira. Queria registrar o momento.

— Isso parece tão estranho... — comentei. — Como um príncipe poderia conseguir encontrar o amor de sua vida em meio a trinta e cinco estranhas?

— Bem, o rei Maxon conseguiu — respondeu minha mãe. — Veja como hoje é feliz com a rainha America. Às vezes, podemos encontrar amor nos lugares mais improváveis.

Seu olhar ficou vago por um momento e me questionei em que ela estaria pensando.

— Não acho que deva se sentir forçada a ir, faça o que tiver vontade. Se achar que é uma coisa que quer, que vai lhe fazer bem, então vá. A decisão é inteiramente sua, irei respeitá-la — ela disse.

Não sabia o que havia me deixado mais chocada. A carta, aquele olhar ou aquela declaração. Provavelmente poderia atribuir minhas sensações ao conjunto. Não podia notar o quanto minhas mãos estavam trêmulas até estendê-las e pegar o envelope.

— Lexi, podemos conversar um minuto? — chamou Theo.

Assenti e fiquei feliz por poder respirar o ar livre. O jardim da nossa casa era bonito e muito bem cuidado, podia-se dizer que era o xodó da minha mãe. Caminhamos alguns passos e nos sentamos na grama. Eu ainda carregava o envelope.

— Você vai? — ele indagou.

— Eu não sei — admiti. — Essa coisa toda de ter que disputar um cara com outras trinta e quatro garotas me parece meio perigosa.

Ele riu e segurou minha mão.

— Lembra do que me disse ontem à noite? — Perguntou, assenti. — Você disse que a mãe não se orgulhava do que você fazia, e hoje quando ela terminou de ler a carta, havia um brilho diferente no olhar dela. Você poderia finalmente fazer algo por você e por ela ao mesmo tempo.

Pensei a respeito do que ele estava me dizendo. Então não havia sido somente eu a reparar a mudança repentina de nossa mãe. Eu queria poder passar um tempo longe de casa para me conhecer, mas a ideia de fazer isso diante das câmeras me deixava em pânico.

— Sempre quis a oportunidade de me conhecer melhor, descobrir quem eu sou de verdade. Mas fazer isso na Seleção...

— Você não percebe? Pode ser decisivo para você. Quem sabe lá você não descobre um talento novo ou aprimora o seu? Por mais que tenham sempre mil olhos sobre você, é a chance de trilhar o seu próprio caminho. De uma forma ou de outra, isso vai elevar você, as pessoas passarão a te reparar. Se você quiser continuar seu caminho como escritora, a Seleção pode te dar o impulso que necessita.

Às vezes eu queria poder odiar a maneira como as palavras de Theo faziam sentido. Mas também me sentia grata por tê-las inteiramente para mim. Se ele não existisse, eu não saberia a quem recorrer.

— Preciso pensar a respeito — respondi, por fim. — Por mais que eu me inscreva, haverão outras dúzias de garotas concorrendo comigo. Precisarei de sorte. Ou talvez mais que isso.

— Estarei torcendo por você — assegurou ele. — E farei questão de colar um adesivo com seu rosto no meu carro quando você conseguir.

Eu ri.

— Por favor, não me exponha a tanto. Se eu for, escreverei um monte de coisas para você.

— Está vendo — ele frisou. — Você não está pensando na possibilidade de não ir, está começando a pensar positivo. Se você não for, irei respeitar, mas se você conseguir, pode contar com a minha torcida.


***

Aquela noite não conseguia parar quieta na cama. Me virava de um lado para o outro e por fim me pus a observar o teto escuro. Minha cabeça estava cheia demais, meus pensamentos e minhas ideias fundiam-se num turbilhão intenso.

A carta estava posta sobre a escrivaninha e eu tinha a sensação de que ela me chamava. Como se um linha magnética invisível nos conectasse. Não aguentei mais e me levantei. Liguei o abajur e me sentei diante do formulário.

Parei por um momento com a caneta a centímetros do papel. Repassei mentalmente a loucura que aquilo tudo implicava. Repeti para mim mesma que era para o meu próprio bem, aquela era minha chance.

Poucos instantes depois, o formulário estava completamente preenchido.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar o que acharam, amores. ♥