Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

100 comentários, vocês nem imaginam o quanto eu fiquei feliz por atingir essa meta, sério! Vocês são incríveis!
Blood Royal é um grande projeto que eu estou me empenhando de verdade para fornecer a vocês. Espero poder estar a altura, e continuar fazendo com que vocês se apaixonem cada vez mais. ♥



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ERA ESTRANHO NÃO ESCUTAR MAIS o ruído de inúmeras conversas e passos pelos corredores. Não ter mais tantas garotas vivendo sob o mesmo teto trazia para o palácio uma aura tão serena, silenciosa. A rotina continuava a mesma, a diferença estava em nós.

Passávamos mais tempo no Salão das Mulheres do que de costume. Eu costumava me sentar perto de uma janela com vista para o jardim, lia livros e escrevia algumas poucas coisas. A falta que Lori me fazia ainda era grande, mas eu estava lidando melhor com a situação.

Amber havia se aproximado de Rowena e Anne, e as três passavam grande parte do tempo juntas. O controle para o que seria assistido na televisão pertencia a elas, e por esse e outros motivos eu preferia manter distância. Brittany e Miranda pareciam cada vez mais próximas, e a única que parecia não se importar com divisão de grupos e vivia de um lado para outro era Felicity.

— Será que eles nunca irão parar? — ouvi Brittany indagar.

Levantei os olhos do meu caderno de anotações e segui seu olhar até a televisão. Uma nota rápida a respeito dos rebeldes estava sendo transmitida, e pelo olhar de frustração que Rowena lançava para a tevê, presumi que aquilo estava em todos os canais.

Deslizei do lugar onde estava até o lado dela e prestei atenção no que estava sendo exibido. Aquilo era um boletim rápido e direto sobre as ações dos rebeldes nas últimas semanas. Ataques a prefeituras, carros incendiados e inúmeras maneiras grosseiras de ofender ao reino. Uma gravação da prefeitura de Windleton foi exibida, e arregalei os olhos para a destruição parcial do lugar. Um rombo havia sido aberto em uma das paredes, e uma fumaça negra e espessa ia em direção ao céu.

— Depois de tanto tempo... — murmurei.

Eu sabia muito bem que aquela questão era antiga, mas achava que um dia as coisas pudessem se acertar. Pelo o que ouvia dizer, no passado as coisas eram ainda piores, no entanto, ainda ter que conviver com aquilo não tinha explicação. Conhecia as histórias sobre tudo o que já haviam feito para tentar derrubar o reino, aquilo eram coisas essenciais para se aprender na escola. Eu sabia sobre o que haviam feito durante a Seleção da rainha America, e as outras garotas também. De um modo geral, o que havia ali era o temor de que aquilo pudesse ocorrer conosco.

— Acredito que o rei e o príncipe estejam pensando na melhor forma de resolver isso — soltou Felicity.

Amber soltou uma risada.

— Depois de tanto tempo acho que teremos que lidar muito com isso ainda — falou.

— Da maneira que fala parece que não tem confiança — rebateu Brittany. — Pode ser difícil, mas não impossível.

Amber revirou os olhos.

— Me poupe, Brittany.

— Se caso se casar com o príncipe, é isso que dirá para ele? — Miranda retrucou.

— É — concordei. — É com esse otimismo todo que pretende incentivá-lo?

Ela estava prestes a rebater quando Kaya adentrou o salão. Ela sorriu satisfeita por nos encontrar reunidas, e pelo visto não notou a tensão evidente entre nós. Apertando as mãos num gesto ansioso, ela postou-se diante de nós, tampando o programa de moda que havia acabado de voltar a ser exibido.

— Tenho boas notícias, queridas — definitivamente ela estava empolgada. — Bem, daqui a alguns dias teremos uma grande festa de Halloween aqui no palácio, com muitas pessoas importantes como convidadas.

Ela fez uma pausa e nós aguardamos ansiosas para que ela continuasse, seu olhar entregava que havia mais.

— Creio que essa parte fará vocês deixarem essas carinhas para trás: suas famílias também serão convidadas. Elas serão trazidas e hospedadas aqui no palácio, e vocês poderão matar a saudade.

Eu já estava com um sorriso gigante rasgando meu rosto antes do fim da frase. E a mesma coisa acontecia com as outras garotas. A simples ideia de poder rever minha família parecia fantástica demais em meio a todo aquele furacão.

Theo. Mike. Meu pai. Minha mãe.

— Recomendo que comecem a planejar suas fantasias — Kaya frisou. — A rainha já está encarregada pelos preparativos, e promete ser uma grande festa.

Lembrei-me do que a irmã da rainha, May, havia me dito sobre a festa Halloween. Poder festejar, e ao lado de pessoas que eu gostava, me fazia sentir como se eu fosse capaz de voar. Assim que ela nos deixou corri para o meu quarto.

— Tenho uma missão para vocês — anunciei para as minhas criadas, que terminavam de organizar alguns dos meus vestidos. — Possuem alguma ideia para confeccionar uma fantasia?

***

Depois de recebermos a notícia de Kaya, fomos comunicadas durante o jantar de que teríamos que posar com Nicholas para um artigo que seria exibido por uma revista. De acordo com o que havíamos ficado sabendo, seria uma coisa rápida e da qual seríamos liberadas logo.

No entanto, assim que atravessei as portas do Grande Salão na manhã seguinte, deparei-me com uma quantidade exagerada de pessoas. Câmeras circulavam de um lado para outro, um sofá vermelho havia sido disposto numa posição estratégica no salão. Painéis para regular a luminosidade haviam sido montados e um fotógrafo ansioso indicava onde cada um deveria ficar.

Felicity foi a primeira de nós a ser fotografada. Estava vestindo um vestido verde claro, e quando apoiou-se no braço de Nicholas e sorriu para a câmera, só consegui pensar em “fantástica” para descrevê-la.

Os minutos que transcorreram enquanto eu aguardava a minha vez, foram preenchidos por uma série de cliques e poses. Me vi na obrigação de ter que admitir que Rowena era mesmo fotogênica, como se cada flash tivesse sido feito propriamente para ela.

— Senhorita Alexia — chamou o fotógrafo.

Nicholas sorriu e estendeu a mão para mim quando me aproximei.

— Como se sente? — perguntou.

Responder melhor agora seria muito atiramento?”, pensei.

— Ótima — respondi, por fim.

— Muito bem, muito bem — falou o fotógrafo. — Podemos começar com os dois sentados no sofá.

Fizemos o que ele disse e precisei de um pouco mais de instrução para adequar minha posição. Nicholas tinha experiência para aquele tipo de coisa, por isso sua postura já era considerada quase perfeita.

Trevor, como vim a descobrir que se chamava o fotógrafo, corrigia a posição dos meus ombros com dedos longos e finos.

— Na primeira foto vocês precisam parecer centrados, maduros... — explicou.

Mesmo durante o dia o flash da câmera quase me cegou, e por um momento tudo o que consegui enxergar foi uma grande mancha branca. Mal tive tempo de me recuperar e já estávamos trocando as posições; agora podendo relaxar, os braços de Nicholas envolveram meus ombros e ambos sorrimos para a câmera.

— Muito bem, agora de pé.

Nos levantamos assim como Trevor queria, e assumindo uma postura altiva, enrosquei meu braço no de Nicholas e resolvi brincar de ser rainha. Assumi um meio sorriso e ergui uma das sobrancelhas, num tom desafiador. Quando a foto foi tirada e Trevor indicou que já havia acabado, pisquei diversas vezes para expulsar os pontos que dançavam na frente dos meus olhos.

— Se saiu bem — comentou Nicholas.

Soltei uma risada.

— Só espero que dessa vez não tenham faixas pretas sobre meus lindos olhos — brinquei.

— Seria um grande desperdício não mostrá-los — piscou.

Apertei os lábios num sorriso e me afastei para dar lugar a Amber.

***

Seven Devils - Florence and The Machine

Passava das nove e o jantar já havia sido servido. Eu estava sentada na sacada, com um livro fechado na minha frente e uma xícara de chá fumegante entre as mãos. Faltava menos do que quatro dias para a festa, e minha ansiedade para poder ver minha família era gigantesca.

A noite estava calma e silenciosa, não havia nenhuma estrela no céu de Angeles e tudo parecia apenas uma vasta imensidão azul escuro. Levantei-me sem a menor preocupação e puxei um pouco mais o roupão; as camisolas do palácio tinham a infelicidade de serem finas demais.

Fitei os jardins e a orla escura da floresta, e foi então que notei uma movimentação diferente. Não conseguia discernir muito bem as coisas de longe, mas não havia vento algum para que os galhos pudessem balançar.

Estreitei os olhos para tentar ver melhor, e então um grupo de pessoas deslocou-se da mata, gritando e brandindo objetos que não fui capaz de identificar. Alguns traziam, e não havia como errar, tochas flamejantes.

Soltei a alça da minha xícara e ela espatifou-se com estrépito contra o chão. A porta do meu quarto abriu-se imediatamente e o soldado Duncan, que já havia retomado o serviço, me encarou.

— Há rebeldes no palácio — falei, saltando sobre os cacos no chão.

Levou uma fração de segundos para que ele pudesse compreender o que eu havia falado. A sirene soou, e não me lembrei nem de calçar as pantufas. Saí para o corredor ao mesmo tempo que as demais garotas, exceto Rowena não se encontrava entre nós.

Os olhos de Anne estavam arregalados, e suas mãos tremiam.

— Levarei as senhoritas para o abrigo, me sigam — Duncan disparou pelos corredores e começamos a segui-lo.

Antes que pudéssemos fazer uma curva, no entanto, reparei que Brittany não se encontrava mais atrás de mim. Olhei por cima do ombro para o corredor mergulhado na penumbra e vislumbrei o vulto de sua camisola ao entrar no quarto.

Demorei um, dois, três segundos e fui atrás dela.

— O que está fazendo? — perguntei, adentrando rapidamente o quarto.

— Preciso pegar algo — respondeu, sem erguer os olhos. Ela vasculhava as gavetas com pressa, jogando os itens ao chão. — Onde será que Tina guardou?

— Brittany precisamos ir! — alertei.

Escutei o som de vidros sendo quebrados ao longe, e tiros sendo disparados.

— Não pedi para que voltasse — rebateu. — Vá!

Revirei os olhos e avancei em direção a ela, segurando seu pulso.

— Não vou deixar que tenha atitudes suicidas, estamos sob ataque agora. Precisamos sair daqui!

Ela me encarou com tanta dureza, tanta seriedade, que eu mesma não a reconheci por um momento. Em seguida, arrumando a postura, desvencilhou-se da minha mão com força e passou direto por mim. Fitei o espaço onde ela se encontrara segundos antes e balancei a cabeça.

Saí para o corredor e corri na direção que Duncan havia seguido. Dobrei o corredor e trombei em cheio com um guarda; minha boca chocou-se contra seu ombro e meus dentes fincaram-se com força contra meus lábios, fazendo com que imediatamente um gosto de sangue se espalhasse pela minha língua.

— O que está fazendo fora do abrigo? — perguntou.

Ergui os olhos e avistei o rosto do soldado Harrison contorcido numa careta. Não consegui pensar numa resposta convincente a tempo, um grito de gelar o coração ecoou e me virei a tempo de ver uma sombra deslocar-se correndo na nossa direção.

Minha pulsação acelerou consideravelmente, e meu coração parecia prestes a me sair pela garganta.

O vulto reduziu a velocidade e parou de correr abruptamente, mas sua atitude não parecia ser por conta da arma do soldado. Não. Os olhos ferozes daquele homem estavam fixos em mim. E passaram a correr entre Luke e eu; um sorriso malicioso surgiu em seu rosto.

— Se afaste — murmurou Luke, me empurrando para trás dele.

Os olhos do homem continuaram em mim, mesmo enquanto o caminho entre nós era bloqueado. Minha boca estava seca e o corte em meu lábio inferior ardia, minhas mãos suavam.

— Você... — falou ele, salivando. — Você... Será você...

Ele puxou uma faca do cinto, mas antes que pudesse dar qualquer passo em nossa direção, atrás de mim três tiros foram disparados e pousaram diretamente no peito do homem. Gritei e tropecei nos meus próprios pés, enquanto recuava.

Duncan segurou meus braços e me impediu de cair.

— Nunca mais hesite quando a segurança de uma delas estiver em risco — vociferou para Luke. — Conversaremos sobre isso depois.

Desci as escadas para o abrigo não tendo nem consciência de quem eu era. A imagem dos tiros no peito daquele homem estava gravada na minha retina; as palavras dele eram repetidas na minha cabeça. A consciência do que ele teria feito comigo se eu estivesse sozinha era pesada demais.

Ele teria me matado.

Duncan me deixou e foi se juntar aos demais soldados que montavam a segurança do abrigo; Nicholas surgiu entre eles logo assim que apareci, e um alívio tão grande tomou conta de seu rosto que foi impossível não notar.

Não me movi, e nem disse uma palavra.

— Um rebelde iria atacá-la, alteza — Duncan manifestou-se. — Tive que matá-lo.

Os olhos de Nicholas estavam agarrados aos meus, e engoli em seco ao ouvir a palavra “matá-lo”. Não foi preciso mais nada para que ele compreendesse. Nicholas avançou na minha direção e me abraçou com tanta força, com tanta vontade, que me senti agradecida.

— Sinto muito — sussurrou, afagando meu cabelo. — Sinto muito que tenha visto...

O apertei ainda mais forte.

— Ele ia me ferir — falei, minha voz soando rouca. — Ele ia...

Shhh! — Nicholas segurou meu rosto entre suas mãos, e crispou os lábios ao notar meu corte. — Não pense nisso, está segura agora.

Me acomodei perto de Miranda e Brittany, e enquanto as pessoas começavam a se acalmar, Brittany finalmente se manifestou:

— Sinto muito, sabe, não queria parecer rude...

Apenas assenti, sem lhe responder mais nada. Corri os olhos pelo abrigo e vi Anne sentada entre Amber e agora, Rowena. Haviam lágrimas ainda rolando por seus olhos. Felicity estava em um lugar perto de onde o rei e a rainha se encontravam; Miranda me lançou um meio sorriso e recostou-se contra a parede de braços cruzados.

Mas era Brittany quem havia me surpreendido aquela noite. E um pensamento incômodo a respeito dela me dominava. A maneira como ela havia agido quando voltei para buscá-la, a dureza em seu olhar... Mais do que ninguém Brittany vivia aquela competição, eu era sua adversária, e gostasse ou não, talvez sua adversária mais poderosa.

Enquanto tomava nota dos acontecimentos que haviam acontecido aquela noite, tive a certeza de que numa situação oposta, Brittany não voltaria por mim.





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Notas finais do capítulo

A música da Florence escolhida, que por sinal é maravilhosa, tem a ver com o que a Alexia acaba por perceber. E se vocês conseguirem captar essa intensidade na letra da música, saberão que os Seven Devils mencionados são as pessoas que nos cercam; pessoas que por vezes esperam um momento de fraqueza seu para atacar.
Eu achei que essa seria uma grande música para esse momento, espero que gostem. Beijos e até o próximo!