A Fantástica Fábrica é invadida. escrita por dayane


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Estamos adiantados aqui!!
Depois de demorar um mês para postar um capítulo, devo dizer que enlouqueci! Tenho os melhores leitores do mundo, que sabem como injetar criatividade em minha mente e alegria em meu coração.
Vocês são demais.
Então, veio sussurrar que estou postando este capítulo, mas que o outro já está quase pronto e já tenho o desfecho da fic na cachola (o que, também, é triste. Não queria largar o tio Willy.)
Então, bora pro que interessa!



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Dóris viu o Oompa Loompa responsável pelas câmeras caminhar apressadamente pelos corredores da fábrica. Pelo caminho que ele fazia e pela tensão no rosto dele, Willy Wonka o tinha chamado para alguma reunião importante e séria.

Unir Willy, reunião e a palavra séria na mesma frase era algo raro e perigoso. Raro, porque Wonka sempre se reunia com Charlie e através de conversas informais os dois conseguiam resolver os problemas da fábrica. Perigoso, porque todas as vezes que Willy Wonka ou Charlie Bucket ficaram sérios, algo ruim aconteceu ou aconteceria.

A Ommpa Loompa já tinha visto o herdeiro irritado. Uma vez, apenas uma vez. E lembrava de como ele saía remugando pela fábrica, como quebrou dois flip-charts e logo depois entrou em uma onda de depressão, que quase ninguém conseguiu tirá-lo.

Ela também já presenciou mais de uma discussão entre Charlie e Willy. E se julgava uma Loompa de sorte por ter sobrevivido.

Ignorando a curiosidade, Dóris seguiu seu caminho, indo para a tarefa que lhe era designada.

Ϣ.Ϣ.

Willy Wonka bebeu o quinto chá de camomila que o senhor Bucket tinha preparado. Ele só não lembrava mais se era a quinta garrafa ou xícara. Charlie degustava uma barra clássica de chocolate Delícia Derrete Derrete Wonka e parecia uma criança tranquila e alheia aos problemas adultos.

Deveria aprender com ele, Willy pensou. Aprender a ficar calmo e enxergar a tormenta (ou dificuldade) como um quadro complexo e que só os adultos entendem.

– E se, só se, ela estiver falando a verdade?

Se não fosse treinado, Willy não teria escutado o pupilo lançar um questionamento tão simples.

– Nada nesta fábrica é simples. - Willy encheu uma nova xícara. - A fábrica tem personalidade, só deixa entrar quem quer, só sai quem quer. Foi muita sorte ela te amar.

O pupilo desviou os olhos da janela e os depositou sobre a barra Wonka. Estava sobre a mesa branca que havia na sala de reuniões – sala que raramente usavam – e parecia relaxado. Na verdade, perdera tanto tempo pensando em tudo o que tinha acontecido, pensando nas palavras de Lane e como ela parecia falar a mais líquida verdade, que não conseguia mais se surpreender com nada daquela história.

– Ela não me fofoca nada. - Charlie sussurrou.

– É sempre assim. - Willy retrucou pacientemente, como se fosse um pai explicando ao filho que as falhas são os tijolos do sucesso – Não dá para notar o que a fábrica te conta, até ter escutado o bastante.

– Acha que ela fala comigo?

Os olhinhos de Charlie Bucket brilhavam como no dia em que ele viu os portões pela primeira vez. Brilhavam como quando experimentou o chocolate da cachoeira. Brilhavam exatamente igual ao momento em que descobriu que a fábrica seria sua. Brilhavam como brilharam no dia em criou seu primeiro doce.

Era impossível dizer não.

– É o que acho. - Willy lhe sorriu.

No dia em que conheceu seu herdeiro, viu aquelas amêndoas crispando de felicidade e não pode negar que, revelar que o garoto teria que viver sem os familiares que tanto amava, lhe quebrou um pedaço do coração. Era cruel apagar aquela genuína alegria.

Naquela época conseguiu. Sabia ser cruel e vivia sozinho a tantos anos, desacreditados nos humanos que viviam fora de sua fábrica e lhe entupia de dinheiro, que um ato simples como dizer “não” a uma criança até lhe agradou. Mas agora, anos depois, Charlie tornou-se importante demais para ser triste. Importante demais para ser quebrado. Amado demais para que a fábrica não o amasse.

E ela o amava. O pupilo só não estava conseguindo escutá-la.

A porta cantarolou toc! toc! e logo foi aberta. A pequena criaturinha entrou por ela, fechou-a e aguardou.

– Hey, Matias, como vai?

Charlie saltou da mesa e viu Willy se aproximar do Oompa Loompa. O pequeno estava tremendo, amedrontado com a ideia de ter uma reunião com Willy Wonka e apavorado com a falta de informações sobre o motivo daquela reunião.

Ainda que fosse um assunto sério e que aquela criaturinha pudesse ser a causadora de uma grande confusão, Wonka não conseguia tratá-los com raiva. Amava-os, pois foram sua família durante anos. Ensinaram incontáveis coisas que nenhum humano lhe ensinou e acima de tudo, amaram seu sonho.

A criaturinha gesticulou algumas coisas. Devia ser um dos mais velhos, pois conseguia entender Willy, mas não falar a língua do chocolateiro.

– Ah, então você entendeu o motivo de estar aqui? - Willy puxou uma cadeira e se sentou.

Matias gesticulou os braços. Mexeu a cabeça e pareceu dançar macarena.

– Desculpe por aquilo. Eu estava bem nervoso.

Provavelmente, pensou Charlie, a criaturinha tinha dito que apagou da mente o momento em que Willy invadiu a sala de vídeos e jogou a cadeira para longe.

Ele mexeu os braços como se dissesse “Que é isso, eu entendo. Em que posso ajudar?”.

– Bom...

A voz de Willy falhou.

– Invadiram a fábrica.

Matias mexeu os braços.

– Há um bom tempo, na verdade. - Willy gemeu. - Acho bom se sentar. A história é longa.

A criaturinha escutou as palavras de Willy e saltou para uma cadeira. Charlie se aproximou da janela e observou o clima externo. O dia estava nublado, meio cinza, meio morto.

E enquanto olhava a cidade, o herdeiro viu o próprio reflexo no espelho. Os olhos brilhando pela luz parca que invadia o vidro e as pupilas dilatadas.

As janelas da alma. A pupila dilatada comprimiu-se um pouco e quando o Bucket mordeu o último pedaço da barra Wonka, voltaram a se dilatar. Ele acompanhou o prazer fazendo-a aumentar como se quisesse saborear mais daquele momento.

Os olhos são, as janelas da alma. Nem sempre precisa ser um anjo, para ler o que a alma canta pelos olhos. Basta saber interpretar.

Com tais pensamentos e enquanto Wonka explicava a invasão que ocorreu, Charlie soube que Lane Kenneth estava falando a verdade. Ela fora convidada para entrar na fábrica. Só precisavam saber se a própria fábrica lhe chamou ou se tinha o dedo de alguém mais.

– Peça para ela vir aqui, sim?

Charlie olhou por cima do ombro. Quem Willy tinha chamado?

– Willy? - O herdeiro tentou formular alguma pergunta, mas não sabia o que deveria ser formulado. - Algum problema?

Havia tristeza em Willy. Os olhos ciscavam o chão em busca de algo, mas quando se ergueram para o pupilo, foi como vê-los jorrarem decepção.

Não estava tudo bem. Não estava e Willy Wonka queria berrar aquilo para Charlie, mas se fizesse sabia que choraria. Matias devia estar errado. Precisava estar errado, tinha que ter tomado o momento para fazer uma brincadeira de mau gosto! O chocolateiro gemeu uma resposta ao pupilo e suspirou. Batucou os dedos sobre o tampo da mesa branca e fez a única coisa que poderia fazer: Esperar.

Charlie caminhou até o chocolateiro, sentou-se na cadeira que o Oompa Loompa ocupava e tomou uma das mão de Willy por entre as suas. Sem tirar a luva do tutor, massageou-a com calma e precisão, fazendo-o olhar de forma curiosa e envergonhada.

Willy Wonka, sobre todas as coisas existentes na terra, nunca conseguia manter-se bem quando estava em contato direto com outras pessoas. Charlie era uma exceção à regra, mas em raros casos e em determinados contatos. Já tinha aninhado-o até que ele pegasse no sono, tinha acariciado o rosto dele, lhe dado alguns abraços...

Mas nunca recebeu uma massagem. Em toda a sua vida, a única forma de relaxar que existia na vida de Willy Wonka, era um belo banho quente de banheira.

– Charlie?

O sussurro envergonhado que soltou lhe fez ficar mais envergonhado.

– Para um cozinheiro, as mãos são as maiores preciosidades. - Charlie suspirou, soltou a mão que massageava e tomou a outra. - Aprendi isso ao longo da minha vida e também aprendi que você valoriza a suas mãos, mais do que qualquer outra parte de seu corpo.

Era verdade. Pensou Willy.

– Então, nada melhor para relaxar do que massageá-las. - Charlie lhe ofertou um dos sorrisos mais reconfortantes que alguém poderia esculpir.

Willy mordeu os próprios lábios. Meio agradecido pela massagem, meio desconfortável com o toque.

E foi esta cena que Dóris viu ao entrar na sala sem bater à porta. Esta cena, que poderia ser interpretada erroneamente e que ela interpretou da forma certa. Willy puxou a mão com força e rapidez e as bochechas brancas ganharam um toque rubi.

– Bata na maldita porta, mulher!

Os nervos do chocolateiro estavam destruídos, pensou a Oompa Loompa.

– Você mexeu nos sistemas da fábrica?

Ela confirmou com a cabeça.

E Charlie entendeu o que tinha deixado Willy tão magoado, triste e desesperado. Dóris era, de longe, a sua favorita – pelo menos foi o que se tornou quando o favorito de Willy tomou o refrigerante que levita e sumiu janela afora. E ela parecia ter sido pega mexendo nos sistemas da fábrica e tomando conta das câmeras de segurança.

Um Oompa Loompa, normalmente, não esqueciam. Podia guardar informações com riqueza de detalhes por anos. Era muito comum eles relatarem tudo o que ocorreu durante dois anos, quase conseguindo precisar as horas em que as coisas ocorreram. Então, se Matias disse que na época em que Lane conseguiu acesso à fábrica, Dóris tinha mexido nos sistemas, era verdade.

– Meses antes de lançarmos a promoção de ontem?

Ela confirmou.

– Você deixou que invadissem a fábrica? - Willy quase implorava para que ela negasse.

Dóris travou.

Se falasse que sim, Willy enlouqueceria. Se tentasse explicar, ele enlouqueceria já entendo a resposta. Se negasse, mentiria e ninguém mentia naquela fábrica. A pequena criatura ergueu o dedo indicador da mão esquerda – era canhota – e correu para longe da fábrica.

Charlie já tinha entendido a resposta. Willy, por outro lado, não queria entender.


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