A Fantástica Fábrica é invadida. escrita por dayane


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Vim aqui jogar o capítulo e sair correndo pra não apanhar.



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– Como aquela aberraçãozinha (Tevee) não viu?

Era a quinta ou sexta vez que Lane escutou aquele resmungar de Willy. Era fascinante a forma como o chocolateiro mudava de uma personalidade adulta para uma infantil e birrenta, mas vê-lo tão perdido era, para Lane, entediante.

Fora bem fácil, para ela, adentrar o sistema da fábrica. Fácil demais, como já tinha revelado aos donos. O que ela ainda não tinha contado era que, tudo começou, seis meses antes de anunciarem que teriam uma nova visita à fábrica.

Naquela época, quando estavam no finalzinho do verão e prontos para abraçarem o outono, a Kenneth estava cansada de ver a vida tomando as rédeas de seu destino e traçar o caminho que bem entendesse. Estava completando um mês que os pais dela haviam falecido e ela não teve tempo de se despedir.

Não tinha irmãos. Não conhecia outros parentes. Não tinha nada a perder, se fosse pega invadindo a fábrica de Willy Wonka.

Ela começou a conhecer o sistema, que o chocolateiro usava, através de computadores públicos. No começo, apenas visitava a construção do site, entendia a língua e descobriu uma ou duas coisas que não estavam em ordem.

Quase um mês depois, ela passou a infiltrar-se no site da fábrica. E foi então, em uma tarde ensolarada, que ela percebeu uma porta aberta. O site estava sendo atualizado. Atualizado antes do tempo necessário. E além da atualização antecipada, veio o insight de onde poderia entrar.

Fora como um convite. Só podia ser um convite. Alguém do outro lado lhe chamando para espiar e conhecer aquele mundo que tanto amava. O anfitrião desconhecido abriu a porta, encostou-a e nem mesmo colocou uma placa de não perturbe.

Lane Kenneth, naquele exato momento, sentiu o prazer escorrendo pela espinha dorsal.

Dali em diante, ela teve passe livre para o servidor de Wonka e conheceu quase toda a fábrica sem sair do sofá de casa. Viciou-se naquele lugar. Naqueles códigos emaranhado em erros.

Lane passou a visitar os sistemas da fábrica de forma regular. Haviam tantas falhas bobas, que ela não conseguia deixar de reparar. Como recompensa, foi a primeira a saber da promoção que Wonka lançaria. Estava programado para aparecer no site na mesma manhã em que sairia nos jornais. E ela soube uma semana antes de todos os outros consumidores.

Quando percebeu o vício, já era tarde demais para abdicar do plano de invadir a fábrica no dia da visita. Não que ela não desejasse invadir a fábrica, ela apenas abraçou a oportunidade que lhe sorria como uma amiga confidente e lhe sussurrava o quão fácil seria aquilo.

Parecia até que era o pagamento que a fábrica lhe dava por todos os serviços prestados.

Willy Wonka não acreditou naquela história, nem mesmo quando Lane a repetiu quatro vezes sem esquecer uma vírgula que fosse.

– Ninguém faria isto de graça.

– Ela não fez de graça, Willy. - Charlie rebateu pela primeira vez, cansado demais de escutar a mesma história. Estava sentado no chão empoeirado, com as pernas esticadas e as mãos descansando sobre elas. - Ela ganhou a oportunidade de invadir a fábrica. Soube da visita antes de todo mundo.

– E como não conseguiu saber em quais kits estavam os bilhetes?

– Quem disse que eu não soube? - A mulher soltou com petulância.

Diante da pergunta ousada, os chocolateiros encararam, abismados, a visitante.

– Eu escolhi o meio mais difícil. Não tenho nada a perder e já disse isto.

Willy Wonka engoliu a saliva e conteve o sorriso que quis se formar. Aquela mulher desprezível, e repugnante, tinha um ar de ousadia que a deixava quase aceitável. Ele gostava daquele ar. Daquele desafio e confiança que poucos possuem.

Acima de tudo, gostava de pessoas que não se importavam em arriscar. Ele mesmo era uma dessas pessoas. Largou a família para ir atrás dos doces. Amou uma criança e forçou-se a amar a família dela para não perder um herdeiro – e, neste caso, ele só tinha a sanidade para perder.

Entretanto, a invasora colocou na cabeça que não tinha nada a perder ao decidir invadir a fábrica e ela tinha muita coisa a perder. Podia ser presa, ter se perdendo em algum corredor e morrido de inanição. Poderia ter sido pega e ido parar no calabouço (opa, isso aconteceu!) ou ter levado umas porradas de Willy (se não me engano, algo parecido aconteceu). Sempre há, na visão de Willy Wonka, algo precioso a perder ou abdicar. Algo que os tolos fazem para realizarem os desejos mais profundos e que ele mesmo fez quando quis ser chocolateiro.

Abdicar.

Desprender-se.

Deixar.

– Sempre há algo a se perder. - Charlie soltou.

Era um herdeiro genuíno. Pensava igual ao tutor, amava a fábrica com a mesma intensidade. E ainda, para mostrar que ninguém poderia tomar-lhe o lugar de herdeiro, consegue entender as pessoas, os Oompa Loompas e os inimigos.

Charlie Bucket conseguia fazer o coração de Willy Wonka bater com alegria e emoção. A mesma forma com que o coração de um pai ou uma mãe bateria ao ver o filho se tornar um mestre no que fazia.

– Mas as vezes vale a pena. - Lane adicionou.

Ela definitivamente estava conquistando Willy Wonka.

– O que as câmeras têm a ver com isto? - Charlie perguntou.

Lane olhou para o herdeiro como se o acusasse de ser idiota.

– Quem são os olhos da fábrica?

– As câmeras - o pupilo respondeu à invasora.

Mas pelo tom de voz que usou, não viu nada de errado.

– E as gravações ficam impecavelmente protegidas. - Wonka adicionou. - Constantemente vigiadas pelos Oompa Loompas.

– Por detrás das telas, há muita coisa escondida. - Ousou a mulher. - Quem protege os sistemas das câmeras?

Willy sentiu o corpo esfriar. Ele queria sentar, mas sabia que precisava continuar vestindo a máscara de confiança. Queria cair sobre o chão, aninhar-se sob os cobertores da cama, ir para qualquer canto que não houvesse nenhuma preocupação.

Forçou-se a ficar em pé. E tudo por conta da maldita máscara de confiança. Ficou ali, parado, encarando a invasora e obrigando o corpo a regular-se.

– É impossível. - Charlie soltou.

– Dizem que os anjos podem entender os humanos, pelo simples fato de olhá-los.

– Nunca ouvi isto. - O Bucket disse.

– Mas já escutou que, os olhos, são as janelas da alma.

Charlie olhou para o chocolateiro mais velho, tentando captar se ele acreditava naquilo. Willy lhe devolveu um olhar apreensivo e dilatou as narinas. Estava passando mal.

E se Wonka estava tão mal...

– Um anjo conhece a mente humana e pelos olhos chega até a alma. Eu fiz o mesmo, mas a fábrica me contou que tinha um buraco para os ratos. Ou uma porta aberta, se preferirem.

Pelo site, Lane conheceu o servidor. Ela mergulhou em uma área que poucos sabiam da existência e por lá descobriu a falha. Reparou o que deu, espremeu-se pela fraca proteção da ala de captura das câmeras, colocou uma tampa que escondia a fragilidade da ala esburacada e saboreou a fábrica. Saboreou a fábrica o máximo que pode, como se fosse um pedaço de chocolate Wonka derretendo sobre a língua e inundando a boca como se fosse um mar de chocolate ao leite.

Eles tinham protegido as gravações, mas não pensaram que alguém usaria o programa de captura como aliado. Ninguém, nunca, pensava.

Wonka caminhou até a invasora, deu um passo para o lado e sentou-se na cama. O perfume se desprendeu do chocolateiro e acariciou as narinas de Lane. Ela não conseguiu correr os olhos dele e sentia que infartaria se o coração continuasse batendo tão forte.

– Willy? - Charlie estava apavorado por ver o tutor tão apavorado.

– Precisarmos averiguar - O chocolateiro sussurrou. - até onde este conto é verdade.

Se for verdade, Willy pensou, então tiveram mais do que sorte.






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