A Fantástica Fábrica é invadida. escrita por dayane


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Hey :)
Surgi das cinzas para explicar que: a demora na postagem do capítulo surgiu porque eu comecei a reler a fic. E ai, eu vi que deixei uma ponta solta e que ela estenderá a história um pouquinho...

Uma outra nota rápida: eu amo este capítulo. Amo pelo simples fato de que me coloquei na pele de Willy Wonka e senti a mesma dor que ele deve ter sentido. Então, coloque uma música triste e chore junto comigo.

Obrigada por não me matar e por não desistir da fic. :*



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O psicólogo arrumou os óculos e olhou para Dóris. A Oompa Loompa, então, explicou:

– Matias pediu que eu cuidasse de algumas coisas enquanto ele se ausentava para ir ao banheiro...

É que Matias tinha comido algo que não lhe fez bem e passaria uma temporada fazendo amizade com a privada mais próxima. Enquanto isto, ele deixou um manual de como Dóris deveria fazer para manter a atualização do sistema. Foi neste dia que, muito espertamente, Dóris aprendeu os princípios daquele sistema complexo.

Ela era uma ótima recepcionista, ótima administradora e excelente contadora. Descobriu, naquele dia, que era muito boa com códigos de sistemas.

– E por qual motivo você chamou o meu psicólogo? - Willy questionou com a voz aguda. Estava incomodado. Desconfiado e pronto para atacar. A Oompa Loompa sabia que tinha que ter cuidado.

Charlie já tinha visto aquele Oompa Loompa caminhando pela fábrica e sempre quis saber o motivo dele ele usar terno, carregar um bloco de anotações e sempre parar para escutar um ou outro Oompa Loompa. Agora ele entendia. A fábrica tinha um psicólogo.

– Você faz terapia? - Charlie questionou ao chocolateiro.

– Não mais. - Willy respondeu com uma carranca. “Como você não sabia disso?” Willy lhe questionava com a carranca. - Quando encontrei meu fio branco, meu primeiro fio de cabelo branco, precisei urgente de alguém para me escutar. - A carranca de Willy sumiu. “Ah é, você ainda não estava na fábrica”, ele lembrou-se. - Esta criaturinha foi muito útil, principalmente quando você negou a fábrica.

O psicólogo balançou a cabeça de forma calma e paciente, concordando com o que Willy tinha acabado de contar.

– Eu o trouxe, - Dóris começou a explicar - porque ele me contou que você precisa de algum desafio em sua vida. Está ficando paranoico com a idade e só o Charlie não vai te fazer tão bem. As pessoas precisam de outras pessoas para evoluírem. Um dia, vocês dois vão estagnar.

A cara de nojo que Willy Wonka fez, foi digna de ser fotografada. A boca escorregou para baixo, formando um “u” invertido e deixando que parte dos dentes superiores fossem vistos. A bochecha esgueirou-se para baixo, como se quisesse ultrapassar a boca e ficar pendurada para que o vento a balançasse. As sobrancelhas quase deram as mãos e os olhos imitaram os lábios, formando uma fenda em “u” invertido, que descarregava o mais puro dos nojos.

Mas, mesmo que Willy balançasse a cabeça em negativa, nenhuma palavra saiu. Mesmo que ele estivesse pronto para debater, dizer que era mentira, loucura, blasfêmia e qualquer outro adjetivo que alguém conseguisse colocar naquele momento para dizer o quão errado era aquela afirmação, a mente só conseguiu pensar na palavra não.

Não.

Não. Não.

Não. Não, mesmo (houve uma breve evolução).

Não. Não. Não e não!

Ou sim?

Nããão! (Nem toda evolução dura uma eternidade).

– Estagnar? - Charlie questionou, salvando Willy de seu mantra infinito. Ele já conhecia Willy e sabia que nada sairia naquele momento.

– Sim. - Dóris olhou para o Oompa Loompa psicólogo, que confirmou o ato com a cabeça. - Você aprende rápido, Charlie. Mas Willy viveu com outros funcionários, aprendeu com concorrentes e ladrões e fez negociações fora da fábrica.

– Eu já saí da fábrica. - Replicou o pupilo.

Willy sacudiu a cabeça concordando com o pupilo e arregalou os olhos enquanto arrebitava uma das extremidades do lábio superior, como se falasse “E aí, o que achou disso?”.

– Algumas vezes. - Dóris treplicou. - Antes de nos salvar, Willy vivia fora da fábrica. Ele começou por baixo e precisou das pessoas. Fechou a fábrica, porque foi traído. Nos conheceu. Reabriu a fábrica sem contar a ninguém e isolou-se do mundo. Não se pode ser traído, se não confiar em alguém. Não se pode confiar sem doar um pouquinho de amor.

Willy estava sério.

E mudo.

Charlie estava sério.

E igualmente mudo.

Dóris cruzou as perninhas e se ajeitou na cadeira. Era uma mulher sábia. Tão sábia quanto uma mãe.

– Algum tempo depois, Matias voltou a passar mal...

Ele parecia ter comido alguma outra coisa que o fez ficar fora dos sistemas e pediu que Dóris tomasse conta do serviço. Como ela estava com seus próprios trabalhos adiantados, ficou no lugar do amigo. Não precisava fazer nenhuma atualização, nenhuma varredura e nem verificar os acessos ao site. Mas fez uma contagem de quantas pessoas tinham visitado o domínio Wonka.

Quando visualizou os números, sentiu uma atração maior por um determinado ponto. Era um lugar próximo, que tivera diversas visitas e tinha muitas pessoas acessando naquele momento. Seu instinto feminino entrou em ação e não estaria errado.

Ainda sem conseguir tirar os olhos daquela área, escutou um pássaro pousar no parapeito da janela e piar animadamente. Um bater de asas e logo depois surgiu um novo bater, como se um passarinho tivesse passado pela área e chamado o outro, que tinha parado, para voltar a brincar.

A Oompa Loompa entendeu o recado quando o perfume da fábrica se ergueu sem motivo algum. Um cheiro doce e suave, que lhe convida para saborear algo novo ou algo que você não gostou de comer. Um cheiro capaz de fazer seu coração disparar energizado pelo prazer de ver algo bom, mesmo que nada demais tenha acontecido.

A fábrica lhe pedia: atualize o sistema.

E foi assim que a Oompa Loompa soube o que tinha que fazer. Soube o que tinha que deixar de fazer e soube quando fazer o convite para a invasora.

– Quantas vezes o Matias passou mal? - Charlie questionou preocupado com a saúde do Oompa Loompa.

– Umas quatro vezes. - Ela respondeu com desleixo.

– O que ele comeu? - Charlie.

– O mesmo que todos os Oompa Loompas.

– Foi a fábrica. - Willy sussurrou. - Minha amada. Minha fábrica.

Minha vida.

Charlie sentiu o mundo desabar. Não por nunca ter entendido a fábrica ou por acreditar que ela nunca falava com ele. Nem mesmo por saber que a fábrica poderia desejar ser invadida e ainda ter guiado toda a invasão.

O chão de Charlie Bucket Wonka caiu, quando viu uma pequena lágrima transbordar das amêndoas de Willy Wonka, acariciar a bochecha pálida do fundador da maior e mais fantástica fábrica e falecer sobre o chão lustrado da sala de reuniões.

Willy Wonka nunca chorou em toda a sua vida de chocolateiro.

Esperneou. Destruiu coisas. Berrou e quase cometeu assassinatos. Mas o herdeiro não conseguia lembrar, de um único dia em que o chocolateiro tinha chorado. Da amargura de sentir uma dor tão grande, que fosse capaz de fazê-lo chorar.

A garganta ardia, a respiração estava em um ritmo errado, as juntas do corpo doíam como se estivesse com alguma febre alta, o corpo estava quente nas extremidades e dolorosamente frio no restante da carne. O sangue corria ardendo, como se tivessem trocado-o por algo corrosivo e cada mínima batida de seu coração, ejetava e intensificava as sensações descritas.

Ele sentia que desmaiaria, mas nem mesmo isto seu corpo tinha capacidade de fazer. O cérebro jogou os braços para cima e tirou uma folga. Os olhos choraram. As lágrimas tornando-se comuns e incontáveis, quentes e desbravadoras de novos caminhos. Escorriam pelo pescoço, molhavam a gola da camisa de seda que usava e marcava a veracidade daquele momento.

Fora traído. Pela própria fábrica.

Incompreensivamente, uma risada curta escapou do chocolateiro. Saiu pelas narinas e expeliu algumas lágrimas que tentaram sair por ali.

– Fui traído pela minha própria fábrica.




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