Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 41
Quarenta e Um




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O trem seguia velozmente passando por aldeias e campos abandonados.

– Veja Hanna. – Lucille apontou para os campos sem cultivo, abandonados. – Com os homens guerreando, tudo fica abandonado. Os campos, as famílias, tudo.

– E tudo isso por causa de um único homem.

– E não é sempre por causa de um homem? – Lucille disse com um ar malicioso.

"A viagem não duraria muito", Lucille pensou preocupada e enquanto Hanna dormia, ela pegou um mapa da região e começou a estudá-lo. O trem faria uma escala em Lyon e depois seguiria até Genebra sem parar. Em Lyon, provavelmente haveria uma barreira alemã. E se elas estivessem sendo procuradas? A polícia alemã entraria no trem e revistaria tudo. Elas teriam que descer antes da estação de Lyon.

O condutor estava passando pelo corredor naquele momento e Lucille o chamou.

– Perdão senhor. Sabe quanto falta para chegarmos a Lyon?

O homem pegou um caderninho do bolso e consultando o relógio lhe respondeu:

– Mais algumas horas, mademoiselle. Passaremos pela cidade de Macôn, e logo estaremos em Lyon.

– Nenhuma outra parada antes de Lyon?

– Não mademoiselle. Nenhuma.

Lucille sorriu para ele.

– Muito obrigada.

O condutor tocou em seu quepe.

– Disponha, mademoiselle.

Agora, elas só tinham duas escolhas: Ou descer com o trem em movimento ou ir até Lyon e rezar para que não haja nenhuma patrulha alemã em Lyon.

Mas em Lyon, elas tiveram sorte e nenhuma patrulha alemã entrou no trem.

Agora estavam se aproximando da fronteira entre a França e a Suíça

– Hanna. Hanna, acorde.

– Hum? Já chegamos? – a jovem pôs-se em alerta.

– Ainda não. Mas logo chegaremos. Temos que decidir o que fazer.

– Você diz quando chegarmos na fronteira?

– Isso. Temos que descer antes.

– Mas não há estações antes da fronteira.

– Eu sei. Teremos que pular do trem.

Hanna empalideceu.

– Não, Lucille! É perigoso demais.

– Mas temos que tentar.

– E se uma dos nós se machucar? Se a quantidade de neve for muito grande e as estradas estiverem intransponíveis? Eu já vivi numa região gelada, Lucille. Esse período é o mais perigoso. As tempestades de neve podem durar horas ou dias. Estaremos condenadas se tentarmos ir a pé até a fronteira.

– Então o que vamos fazer? – ela segurou a cabeça nas mãos, pensativa. De repente , levantou a cabeça com os olhos arregalados e um enorme sorriso no rosto. – É isso!

Ela olhou pela janela. Já passavam pela última cidade antes da fronteira. Logo o trem pararia e seriam obrigados a apresentar documentos. Lucille começou a procurar algo em sua bolsa. Ela pegou um envelope contendo várias fotos.

– Aqui estão algumas fotos da minha família. Você tem uma tesoura ou uma faca?

–Não. Mas talvez no vagão restaurante.

– Certo. Temos que agir rápido. – ela passou a bolsa para Hanna, pegando a maleta dela também. – Venha!

As duas seguiram até o final do trem, onde ficava o vagão de bagagens.

– Procure nossas malas. Dentro você vai encontrar duas perucas. Uma ruiva e outra grisalha.

– Como?! – Hanna espantou-se.

– Precaução e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém, assim dizia minha mãe. Vamos nos disfarçar. Se estiverem procurando duas moças novas, vão encontrar uma idosa e sua acompanhante.

Hanna continuava fitando a amiga como se ela estivesse louca. Lucille viu Hanna paralisada e disse.

– Anda, Hanna. Não temos muito tempo. Como o meu alemão não é tão puro, eu serei a velhinha. Acho que uma acompanhante ruiva chamará muito a atenção. Deixe que eu uso a peruca grisalha. – Ela começou a tirar a roupa. – Use isso aqui. Vai deixar você mais cheinha. Ui que frio! – exclamou a retirar o enchimento. – Vai veste rápido.

As duas se trocaram e enquanto Hanna terminava de se vestir, Lucille colocava a peruca. Começou a imitar uma idosa tal como vira Elise fazer tantas vezes no Le Moulin. Uma saudade apertou seu peito. Como estariam? Mas não era hora de pensar nisso, recriminou-se, tinha algo mais importante a fazer. Sentou-se no chão com as fotos e a tesoura começou a trabalhar.

Quando o trem Lyon – Genebra parou na fronteira, os condutores começaram a percorrer os vagões avisando os passageiros sobre a necessidade de apresentar os documentos. Eles atravessariam a fronteira a pé e tomariam o trem já do lado Suíço. Uma idosa e sua acompanhante eram as últimas a saírem do trem.

A senhora era bastante intratável e depois de vários pedidos de desculpa de sua acompanhante, as duas atravessaram a fronteira suíça.

Mas os condutores que ajudaram a idosa a subir no trem novamente com toda a solicitude, não se lembravam de tê-la visto descer em nenhuma das estações até Genebra. A velhinha e sua acompanhante foram incluídas no rol das histórias mal explicadas que ocorriam naqueles tempos.

***

Lucille e Hanna deixaram seus pertences num hotelzinho de aspecto simpático e se dirigiram à embaixada britânica. O escritório era arejado e bem movimentado. Homens e mulheres andavam de lá para cá carregando papeis. Uma fila de pessoas em um guichê dominava todo o hall de entrada. Elas se dirigiam a uma mesa onde havia um rapaz de aparência simpática.

– Bom dia. – Lucille o cumprimentou em francês. Afinal estavam em Genebra que usava o francês como língua oficial.

– Bom dia, mademoiselles. – ele respondeu. – Em que posso ajudá-las.

– Meu marido nos ajudou a sair da França e disse que viéssemos até aqui e procurássemos o embaixador a pedido de Lorde Archer.

O rapaz as olhou, espantado.

– O que foi que disse, madame?

– Eu disse que meu marido nos ajudou a sair da França ocupada e disse que viéssemos aqui procurar o embaixador a pedido de Lorde Archer.

– E seu marido é?

Monsieur Gerard Vermont. – Lucille respondeu.

O rapaz levantou-se na mesma hora. – Por favor, madame. Por aqui.

Ela e Hanna entreolharam-se. No que Gerard havia se envolvido agora. E no que elas estavam se metendo?

O rapaz as conduziu até o final de um longo corredor onde havia duas portas.

– Aguardem aqui por favor. – ele abriu as portas e entrou.

– Lucille, o que será que está acontecendo? – Hanna perguntou baixinho.

– Eu não sei, Hanna. Mas você viu como ele reagiu quando toquei no nome de Gerard? O que mais meu marido aprontou que ele não me contou?

Nesse momento, o rapaz abriu as portas e as convidou para entrar.

A sala era espaçosa e as janelas abertas deixavam uma brisa entrar. Numa mesa escura de mogno um homem de aparência distinta as aguardava.

– Por favor madame Vermont, e sua acompanhante sentem-se. Sou Sir Harold Gordeon–Bell.

Lucille indicou Hanna.

– Esta é madame Von Gorthel.

– A esposa do comandante Otto Von Gorthel?

– Sim. Ela fugiu da França junto comigo. – Lucille relatou.

Sir Gordeon-Bell pareceu surpreso, mas assentiu com a cabeça.

– Meu secretário me disse que as senhoras vieram me procurar a pedido de Lorde Archer.

– Sim senhor. Assim meu marido me instruiu a dizer.

– Hum. E ele lhe disse quem era Lorde Archer?

– Não.

– Bem. – ele abriu a gaveta e tirou um envelope pardo. Ele o empurrou para ela. – Recebi instruções para entregar esse envelope à madame Vermont. E somente ela falaria de Lorde Archer para mim. Só não esperávamos que ela viesse acompanhada.

Lucille abriu o envelope. Dentro havia um passaporte e alguns documentos e uma pequena fortuna em dinheiro. Ela abriu o passaporte e surpresa viu que ele tinha uma foto sua , mas estava em nome de Lady Lucille Archer.

– O que significa isso?

– Significa, milady, que esses são seus documentos a partir de agora como esposa de Lorde Archer, Conde de Archermont.


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Notas finais do capítulo

Ops! Lucille se transforma em uma condessa da noite para o dia. Acho que Gerard vai ter problemas... Como ele vai se explicar para ela?
Beijinhos com sabor de chocolate suíço para vocês.



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